22 de julho de 2014

Relato de parto da Juliana: parto normal hospitalar em Porto Velho

O relato de hoje traz, na verdade, a história de dois partos. Juliana tinha uma ideia fixa: queria parto normal. Da área da saúde e filha de médica obstetra, ela insistia que queria viver o nascimento dos filhos o mais naturalmente possível, mesmo com a fama de que talvez não aguentaria as famosas dores do parto!

Ela recebeu as dores com alegria, como se fossem anúncios de que seu tão amado filho estava chegando! Isso acabou transformando as dores em incentivo e ela se fortalecia a cada contração. Além disto, Juliana é mais um exemplo de o quanto informar-se sobre parto e contar com o apoio irrestrito do marido faz diferença! 

Vamos às histórias:



Meu nome é Juliana e tenho dois filhos. Sempre que pensava em ser mãe me deparava com a questão do momento do nascimento do meu filho, desde sempre não queria passar pela cesariana, ao mesmo tempo temia um pouco o parto normal. Minha mãe é ginecologista/obstetra e, sendo da área da saúde, já assisti algumas cesarianas e partos normais, então conversei muito com ela a respeito, que sempre falou que eu poderia ter um parto normal, apesar de achar que eu não suportaria a dor, afinal sempre fui “fraca” para aguentar dores. Quando engravidei do meu primeiro filho tive a certeza que faria um parto normal! Sempre fui a favor. Minha irmã teve sua primeira filha por parto normal e isso me animou muito.


Primeiro parto:

Meu primeiro filho nasceu em 2011. Com sete meses comecei a entrar em trabalho de parto e fui para maternidade. Descobriram uma infecção de urina, fiquei internada por quatro dias aguardando que a infecção fosse controlada para evitar um parto prematuro. Depois destes quatro dias, fui liberada, porém, tive que ficar em repouso total. Com 36 semanas paramos as medicações e ficamos aguardando a chegada do Gabriel.

Com 39 semanas entrei em trabalho de parto, passei o dia com contrações a cada 40 minutos, porém sem dores. Por volta das 23 horas, senti uma dor forte e as contrações já estavam a cada 7 minutos. Ligamos para a médica que me indicou ir para a maternidade. Chegando lá eu estava com 5 cm de dilatação.
Me aplicaram ocitocina e, às 4:10 da manhã, Gabriel nasceu!
Ele foi colocado em meus braços e, assim que chegamos no quarto, pude amamentá-lo. Apesar de ter realizado minha vontade em ter um parto normal, as dores me assustaram um pouco, cheguei a pensar que não ia conseguir. Foram longas horas de fortes emoções, com meu esposo ao meu lado o tempo todo.


Tive a bênção de contar com uma enfermeira sensacional ao meu lado naquela madrugada, não me recordo o nome dela, mas foi de fundamental importância no processo, sempre me acalmando, me falando palavras de incentivo. Agradeço a Deus por isto.


Segundo parto:

Na segunda gestação eu já estava mais que certa que novamente passaria pelo parto normal. Após o nascimento do meu primeiro filho, comecei a ler mais sobre o parto normal, e a ter mais informação.

Confesso que depois das 30 semanas ficava cada dia mais ansiosa para passar novamente por aquele momento do parto, onde passam tantas coisas em nossa mente. Pensava que tudo seria como no primeiro, mas eu estava enganada! Com 37 semanas a médica fez o toque e verificou que eu estava com 3 cm de dilatação. Nesse dia eu fiquei muito ansiosa, pois estava sentindo algumas contrações porém eram pontuais, não estavam se repetindo.

Eu andava pelo shopping para ajudar na dilatação, uma vez ou outra sentia uma dor mais forte, mas depois não sentia mais nada. Uma semana depois retornei ao consultório e havia dilatado 1 cm, confesso que pensei que não conseguiria, afinal depois de uma semana não ter dilatado mais que 1 cm me deixou um pouco desanimada.
Decidi então não mais me preocupar e segui minha vida normal, voltei a dirigir, segui minha rotina normalmente. Alguns dias depois recebi uma mensagem da minha médica avisando que precisaria viajar dentro de alguns dias e voltaria uma semana depois e me pediu que fosse ao consultório no dia seguinte para um novo exame para verificar a dilatação. Chegando lá, conversamos, pois ela sabia que eu queria um parto normal, e se preocupava, afinal não tem muitos obstetras que aceitam atender tal procedimento. Ela sugeriu induzir no dia seguinte, eu meu esposo ficamos receosos, pois queríamos que tudo ocorresse naturalmente, mas quando ela fez o toque eu estava com 6 cm de dilatação, e me animou ao falar que durante o dia provavelmente iria evoluir.
Minha felicidade havia voltado, afinal conseguiria ter meu filho novamente por parto normal. Voltamos para casa animados. Quando fui levar Gabriel na escola senti uma dor forte, fiquei feliz mesmo sentindo dor! Estava chegando o momento!
A noite acompanhei meu esposo até o clube do condomínio onde moramos, caminhei e comecei a sentir as contrações leves, que estavam a cada 20 minutos. Fui dormir e, por volta das 22:00, fui acordada com uma forte contração, às 01:30 da manhã. Esperei e com 10 minutos novamente outra contração forte. Me levantei e sentei na bola de pilates e novamente (!) veio outra contração.
Acordei meu esposo e fomos para a maternidade, chegando lá para minha surpresa, a enfermeira me falou que eu estava com 9 cm, e já ligou para médica e para o pediatra. Quando a medica chegou me examinou novamente e me disse que já estava com dilatação total, mas a bolsa não havia rompido. Ela rompeu a bolsa e fui levada a para a sala. Ao chegar lá foram 10 minutos até eu ter meu pequeno Henderson Júnior nos braços!!!
Foi um parto rápido, sem episiotomia. Assim que nasceu, meu filho foi colocado em meus braços. Ele chorava, mas ao encostar seu rosto ao meu consegui acalmá-lo imediatamente, e ele parou de chorar.
Depois de alguns minutos o pediatra o levou, meu esposo o acompanhou, e, em seguida, me levaram para o quarto e meu esposo com nosso filho nos braços foi junto. Consegui amamentá-lo na primeira hora de vida.


Nas duas gestações tive o incentivo do meu esposo e da médica que me assistiu, sempre me deixando à vontade e incentivando o parto normal. Meu esposo ao meu lado durante todo o tempo me deu mais segurança, e tornou o nascimento dos nossos filhos ainda mais emocionante.

A experiência de "parir" - sim, hoje acho lindo essa palavra - é inexplicável. Eu, como mulher, me senti muito mais capaz e forte. É mesmo uma sensação inexplicável, a emoção é muito grande.

Me perguntam se eu chorei, mas a resposta é não! E explico: sempre que você passa de uma sensação de dor à felicidade em segundos, te deixando extasiada, de repente tudo passa! E você tem em seus braços uma vida que você já amava desde o primeiro minuto que descobre a gravidez. Eu, nos dois filhos, fiquei sem ação... só queria olhar e cheirar meus amores, mesmo cansada (os dois nasceram de madrugada) não conseguia dormir, somente ficar admirando meus filhos e passava um filme em minha cabeça.

Em ambas experiências, assim que me senti melhor, me levantei tomei banho e não sentia mais nada. Muitas mulheres dizem que o parto normal na verdade é anormal, eu considero o nome normal, pois depois que parimos tudo está tão “normal”, que nem parece que passamos por horas de trabalho de parto. Tudo vale ao saber que você foi capaz de parir seu filho, que tudo depende de você para trazê-lo ao mundo, tudo vale quando você olha nos olhos dele e consegue ver um amor maior que tudo.

Minha esperança é que muito em breve cada vez mais mulheres se informem e passem por essa incrível experiência, e que a estrutura dos serviços de saúde se adequem e se preparem para receber nós mulheres que desejamos parir!

Juliana tem 29 anos, é Biomédica especialista em Citologia Oncótica e 
Endócrina e Mestre em Biologia Odontológica. Mora em Porto Velho.


21 de julho de 2014

EVENTO: Ciclo de palestras Parto Humanizado e o SUS em Cacoal


Em março deste ano, a Parto do Princípio protocolou um documento junto a Promotoria de Justiça de Cacoal propondo, entre outras ações, a exibição gratuita do filme "O Renascimento do Parto", na sede do órgão, com a ideia de suscitar discussões e debates acerca do tema 'parto humanizado' e 'violência obstétrica'.

O Promotor Dandy Borges, percebendo a dimensão do tema, foi além! Aproveitou para criar um formato de seminário com vagas para várias áreas do conhecimento e convidar profissionais da região para apresentar, pela primeira vez no Estado, um tema como Violência Obstétrica, entre outros.

Assim nasceu o evento que eu trago aqui!

Sob a coordenação do Promotor de Justiça Dandy Jesus Leite Borges, o evento discutirá:

1. “Humanização do Parto e do Nascimento”, em palestra a ser proferida pela psicóloga Patrícia Nienow, que é apoiadora ministerial da humanização para os estados do Acre e Rondônia.

2. "Violência obstétrica" com a advogada, doula e educadora perinatal Cariny Cielo.

3. “A Rede Cegonha e sua Implantação no Estado e Região de Cacoal” serão os temas abordados na palestra da enfermeira Susana Cecagno.

4. Já os médicos Flávio Pierette Ferrari e Delano Evangelista falarão sobre a “Visão Clínica quanto ao Futuro da Obstetrícia”.

À tarde, às 14:00 horas, haverá exibição do filme "O Renascimento do Parto" com entrada gratuita.

8 de julho de 2014

Projeto para Doulas Voluntárias

Desenho de Teresa Lucena para as 
Doulas Independente, daqui

por Cariny Cielo

Anos com a ideia na cabeça, meses com a ideia no papel... agora, nasceu! Nasceu aqui em Cacoal um projeto que permite o trabalho de Doulas voluntárias na maternidade pública e deixo aqui de sugestão o interior teor do trabalho para que outras doulas, se assim quiserem, possam dar entrada em outras maternidades pelo país afora. Em Cacoal, interior de Rondônia, o projeto foi aprovado pelo Conselho Municipal de Saúde, recebeu revisões da Direção Clínica e, agora, segue para implantação.

O projeto consiste, basicamente, em um hospital ou maternidade permitir a presença e o trabalho de doulas voluntárias nos plantões obstétricos dos profissionais que aderirem ao projeto.

O serviço voluntário é legítimo, amparado por lei e costuma ser excelente ferramenta de melhorias. Em se tratando do trabalho de doulas, ainda pouco comum no brasil, o serviço voluntário ganha aspectos positivos com relação à mutualidade, ou seja, benefícios para ambas as partes. Ganha a doula com experiência e vivências únicas relacionadas à realidade obstétrica do local e ganha a unidade de saúde e, mais ainda, as usuárias do serviço de saúde por poderem dispor de um serviço da mais alta qualidade e com resultados comprovadamente positivos.

Projeto sendo apresentado na Reunião do 
Conselho Municipal de Saúde de Cacoal, Rondônia


O roteiro que sugiro para a implantação, pela experiência que vivenciamos aqui em Cacoal, seria o seguinte:

1º . Confecção do projeto com todos os anexos, analisando as peculiaridades locais. O projeto deve ter um responsável, que é o relator ou relatora. No entanto, a ação pode/deve ser mobilizada por várias pessoas, todas as doulas da região, por exemplo.

2º. Com o projeto em mãos, marcar uma reunião com algum conselheiro municipal de saúde para apresentar a proposta e pedir para ser incluída em pauta da próxima reunião.

3º. Na reunião do conselho municipal de saúde, participar em peso, quanto mais interessados melhor, demonstrando o projeto e apontando o que é doula e quais os benefícios do serviço de uma na unidade de saúde. Aqui, fomos eu e a Doula Suélen da Luz do Nascer, pois somos as únicas doulas de Cacoal.

4º. Dependendo do local, a Direção Clínica poderá desejar participar da confecção do projeto para ajustes, aprimoramentos. É a fase de ajustes, discussão etc... Aqui, contamos com a análise do Diretor Clínico à época, que é medico pediatra e da apoiadora Rede Cegonha para a região, que é enfermeira obstétrica.

5º. Após todos os ajustes, alterações, enfim, quando tudo estiver prontinho para dar início, é hora de submeter o projeto à Direção Administrativa da unidade, conforme requerimento que fecha este texto.


Longe deste trabalho ser um fim em si mesmo, acredito, inclusive, que com a implantação formal ele sofrerá ajustes, adaptações, melhorias. Um projeto é algo vivo, que nasce, cresce, vai se desenvolvendo...

Aqui eu trouxe sugestão de peças que integram o projeto para replicação em todo o país. Imagino que também irão surgir melhorias e espero que essa melhoria possa chegar até aqui, na forma de comentários, para que possamos aprimorar o trabalho... sempre!


PROJETO:

PROJETO-PILOTO

“Doulas voluntárias no atendimento materno infantil” 
(aqui dê nome ao seu projeto)


IDENTIFICAÇÃO DO RESPONSÁVEL PELO PROJETO:
(Aqui coloque o nome da responsável pela elaboração do projeto)

Nome: ..............................................
Formação: ................................................
E-mail:.....................................................
Telefone para Contato: ..........................................

Palavras-Chave: DOULAS / PARTO HUMANIZADO / APOIO CONTÍNUO

Resumo: Atendimento voluntário de profissionais Doulas, juntamente com a equipe médica e de enfermagem responsável, a parturientes que procurarem os serviços de saúde do Hospital Materno Infantil de Cacoal.

Órgãos Envolvidos: Hospital ..... , Secretaria de Saúde do Município........ e Conselho Municipal de Saúde

Execução: Doulas para apoio contínuo à parturiente, em apoio à equipe médica e de enfermagem responsável.

Executores: Doulas cadastradas, conforme formulário próprio (Anexo I).

Localização: (Endereço completo da ou das unidades de saúde)

Público-Alvo: Usuárias do serviço público de saúde. Gestantes, parturientes e puérperas.

Duração: 1 ano de projeto piloto, com possibilidade de prorrogação. (ou conforme entendimento).

Justificativa: (apresentar o índice de nascimentos por cirurgia, conforme pesquisa no DATASUS e apontar que está bem abaixo do recomendado pela OMS.)
O Estado ou Município tal ....... possui índices de nascimentos por cirurgia em .....
Fonte: DATA SUS:
http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?idb2011/f08.def
http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?sinasc/cnv/nvuf.def

Tal índice está muito acima do recomendado pela Organização Mundial de Saúde (que é de 10-15%). Conforme recomendação da Organização Mundial de Saúde e Ministério da Saúde os partos normais deve ser atendidos com o mínimo de intervenção e sem procedimentos realizados de rotina.
Fonte: Guia da Organização Mundial de Saúde no atendimento ao parto normal http://www.bionascimento.com/index2.php?option=com_content&do_pdf=1&id=19

Pesquisas realizadas na última década demonstraram que, sob a supervisão de uma Doula, o parto evolui com maior tranqüilidade e rapidez e com menos dor e complicações tanto maternas como fetais.

Doulas são mulheres que trabalham dando assistência a mulheres em trabalho de parto e oferecendo informação durante a gestação e pós-parto.

Com a difusão da nova profissão, poderá também ocorrer uma substancial redução de custos para os sistemas de saúde, graças à redução do número de intervenções médicas e do tempo de internação de mães e bebês.

Trata-se de um recurso com eficácia comprovada por evidências científicas. O trabalho das Doulas em apoio contínuo durante o trabalho de parto tem reflexos positivos nestas duas situações: a) excesso de cesarianas e b) partos normais com intervenções desnecessárias.

Em 2012, Hodnett et al. publicou uma revisão atualizada em Cochrane sobre o uso contínuo de apoio para mulheres durante o parto. Eles juntaram resultados de 22 estudos que incluíam mais de 15 mil mulheres. Essas mulheres foram randomizadas para receber apoio contínuo individual durante o parto.
Quando o suporte de trabalho contínuo foi fornecido por uma Doula, foram estes os resultados:
1. Diminuição de 31 % na utilização de oxitocina
2. Diminuição de 28 % no risco de cesárea
3. Aumento de 12% na probabilidade de um parto vaginal espontâneo
4. 9 % de redução no uso de qualquer medicação para o alívio da dor
5. Diminuição de 14 % no risco de recém-nascidos a ser internado em um berçário de cuidados especiais
6. 34 % de redução no risco de estar insatisfeita com a experiência do nascimento

Referencias:
1. Caton, D., M. P. Corry, et al. (2002). “The nature and management of labor pain: executive summary.” Am J Obstet Gynecol 186(5 Suppl Nature): S1-15.
2. Declercq ER, Sakala C, Corry MP, Applebaum S. (2007). “Listening to mothers II: Report of the second national U.S. survey of women’s childbearing experiences.” The Journal of Perinatal Education 16:9-14.
3. Hodnett, E. D. (2002). “Pain and women’s satisfaction with the experience of childbirth: a systematic review.” Am J Obstet Gynecol 186(5 Suppl Nature): S160-172.
4. Hodnett, E. D., S. Gates, et al. (2012). “Continuous support for women during childbirth.” Cochrane database of systematic reviews: CD003766.
5. Hofmeyr, G. J., V. C. Nikodem, et al. (1991). “Companionship to modify the clinical birth environment: effects on progress and perceptions of labour, and breastfeeding.” British journal of obstetrics and gynaecology 98(8): 756-764.
Fonte: http://evidencebasedbirth.com/the-evidence-for-Doulas/

Objetivos gerais: melhorar a experiência de parto através de apoio físico e emocional e por meio de métodos não farmacológicos de alívio da dor; reduzir as intervenções no parto normal através do suporte contínuo durante o trabalho de parto e parto; melhorar as condições de nascimento do neonato por meio do estímulo ao parto ativo e não medicalizado; melhorar o vínculo mãe-bebê por meio do estímulo à amamentação na primeira hora e da vivência positiva do parto.

Objetivos específicos: oferecer apoio contínuo à mulher em trabalho de parto e pós-parto; orientar gestantes e família sobre melhores condições de parto e amamentação.

Metodologia:
1. Acompanhamento de plantões obstétricos, voluntariamente, por parte de profissionais Doulas no Hospital ............................., sob supervisão dos médicos e/ou enfermeiros plantonistas
2. As Doulas interessadas deverão fazer cadastro através de formulário próprio (Anexo I) e firmar Termo de Consentimento e Responsabilidade (Anexo III). Assim que tiverem o cadastro aprovado pela Direção Clínica, terão acesso ao Hospital ........................., área pré-parto, bloco cirúrgico e pós-parto, durante os plantões dos médicos que aderirem ao projeto piloto, para permanência durante o período matutino, vespertino ou noturno.
As Doulas poderão ser contatadas em outros horários pela equipe médica ou de enfermagem e poderão apresentar-se, de acordo com disponibilidade.

3. O serviço consiste em atendimento de apoio contínuo, sustentado pelos protocolos da Organização Mundial de Saúde no atendimento ao parto normal, às parturientes que manifestarem interesse em ser acompanhadas por uma Doula, nos plantões dos profissionais médicos obstetras que optarem por participar do projeto-piloto e assinarem o Termo de Adesão junto à Direção Clínica.

4. Após o atendimento, a parturiente será abordada para preencher a Pesquisa de Satisfação (anexo II), para que seja possível avaliar os resultados do projeto.

5. Fluxo de atendimento:
I) A parturiente chega até a unidade de saúde e é avaliada pelos profissionais plantonistas.
Se estiver em franco trabalho de parto e apresentar boas condições de saúde, é consultada acerca do interesse em usufruir do serviço de Doulas na maternidade. Isso deverá ser anotado em seu prontuário médico.
A parturiente ficará em contato permanente com a Doula, recebendo o monitoramento da equipe médica e de enfermagem, conforme protocolo da unidade.
II) A parturiente chega até a unidade de saúde e é avaliada pelos profissionais plantonistas.
Se estiver em pródomos, poderá ser encaminhada à Doula que estiver no plantão para se informar acerca da dinâmica do trabalho de parto e poderá escolher entre retornar pra casa ou internar e receber os serviços de Doulagem.

Em qualquer situação, a atuação das Doulas ficará a critério do interesse da parturiente e conforme aval do profissional médico ou enfermeiro plantonista. A parturiente será informada de que poderá, a qualquer momento, dispensar os serviços da Doula.

Recursos materiais: Pode ser usado: bola suíça, chuveiro quente, massageadores, banheira inflável, rebozo, banqueta, aparelho de som, óleo vegetal. Além de outros utensílios reconhecidamente aptos a melhorar as condições do trabalho de parto.
Pode incluir: massagens, deambulação, relaxamento, encorajamento, sugestão de posturas, sugestão de atividades, informação, acupressão.

Legalidade e competências para o projeto: Doula é uma ocupação oficialmente reconhecida pelo Ministério do Trabalho, código nº 3221-35, desde Janeiro de 2013.
Cabe a Doula oferecer à parturiente, apoio físico e emocional durante o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato. Ela utiliza métodos não farmacológicos de alívio da dor como massagens, compressas, utilização de bola de ginástica, banqueta de parto, técnicas de respiração, movimentos corporais e posições para ajudar na descida do bebê através do canal pélvico, utilização da água morna, através de banho no chuveiro ou banheira. Usa também técnicas de relaxamento e oferece, sempre que possível, um ambiente acolhedor, com iluminação reduzida e música, se a parturiente desejar.

A Doula incentiva a mulher a ser protagonista do nascimento do seu filho. Orienta e informa acerca das etapas do trabalho de parto, do pós-parto e incentiva a amamentação, tudo conforme é preconizado no documento da Organização Mundial de Saúde: Boas Práticas de Atenção ao Parto e Nascimento.

A Doula não realiza procedimentos técnicos ou médicos como ausculta fetal, exame de toque. Sua função é dar apoio emocional, encorajamento e suporte com informações a respeito da gestação, parto e pós-parto/amamentação.

Avaliação: Serão realizados relatórios ao final de cada semestre para análise dos resultados obtidos, dificuldades surgidas, obstáculos superados. Os relatórios serão entregas ao Conselho Municipal de Saúde para acompanhamento.


ANEXO I: Ficha de Cadastro de Doula
(Qualquer doula interessada poderá preencher o cadastro e submeter à Direção do hospital, juntando cópia de documentos pessoais e do certificado de formação)




ANEXO II: Pesquisa de satisfação para coleta de resultados
(Aqui criamos esta pesquisa pós serviço, para avaliarmos e termos condições de acompanhar os resultados do trabalho da doula. A ideia é a pesquisa ser feita sem identificação, no dia posterior ao parto, antes da alta da parturiente)




ANEXO III: Termo de Consentimento e Responsabilidade
(Alguns hospitais usam termos como este e é interessante para respaldo jurídico, de ambas as partes. Este é inspirado no utilizado pela Prefeitura do Rio de Janeiro. Com algumas adaptações, basicamente o texto tem a mesma finalidade)

TERMO DE CONSENTIMENTO E RESPONSABILIDADE DE ASSISTÊNCIA FÍSICA E EMOCIONAL AO PARTO NO .......................................................... (anexar à Ficha de Cadastro da Doula)



Eu, .............................................................. Doula regularmente cadastrada neste Hospital conforme Anexo I do Projeto Doulas no ........................., DECLARO, para os devidos fins de fato e de direito QUE:

1.Prestarei assistência física e emocional voluntária e, portanto, sem fins lucrativos, durante o parto das pacientes internadas no Hospital ................................................... que, após conheceram meu trabalho, manifestarem interesse em receber os serviços de uma doula.

2. Prestarei assistência física e emocional à parturiente, ficando vedada qualquer atividade e/ou conduta que interfira no atendimento médico-hospitalar durante o pré-parto, o parto ou o pós-parto.

3. As atividades e funções por mim exercidas se restringirão à assistência física e emocional da parturiente, ficando vedados atos médicos ou de enfermagem (ainda que eu tenha formação para tal), tais como, mas não só: indicar ou realizar exames e/ou manobras médicas, utilizar ou manusear equipamentos médicos, cirúrgicos, de monitoramento, enfermagem e/ou ministrar medicamentos. Responsabilizo-me integralmente pelas atividades e funções exercidas na assistência ao parto, isentando o hospital, médicos e equipe de enfermagem, quanto à conduta por mim praticada.

4. Seguirei as recomendações da equipe médica, hospitalar e de enfermagem, comprometendo-me a garantir a segurança e o bem-estar da parturiente e do recém-nascido e a contribuir para o perfeito atendimento à parturiente.

5. Obtive expressamente o consentimento do médico obstetra da parturiente para ingresso na sala de parto, conforme adesão ao projeto.

6. Tenho ciência e concordo que ficará a critério exclusivo da equipe médica e de enfermagem autorizar a entrada, na sala de parto, de equipamentos, aparelhos, utensílio por mim levados, devendo para tanto dar ciência plena à equipe médica e de enfermagem quanto a estes. Comprometo-me, ainda, a suspender a qualquer momento, atividades que não estejam contribuindo para o parto, atendendo a solicitação da equipe médica ou de enfermagem.

7. Tenho ciência e concordo que em havendo a necessidade de intervenção cirúrgica de qualquer ordem na parturiente e/ou recém-nascido, bem como em caso de intercorrência médica, estarei proibida de fazer ou continuar a assistência ao parto, devendo para tanto me retirar do recinto.

8. Tenho ciência e concordo que a ofensa a qualquer destas condições implicará em descumprimento das condições do termo, podendo ser suspenso o cadastro para a atividade de doula perante o hospital, sem prejuízo das sanções cíveis e criminais.

Local, data ......../........./........

Assinatura da Doula


ANEXO IV: Consentimento da parturiente e do obstetra e acompanhamento da doula
(É importante dispor, expressamente, do consentimento da parturiente e do médico obstetra e também acompanhar com registros tudo que está sendo feito com aquele atendimento)




REQUERIMENTO À DIREÇÃO ADMINISTRATIVA DO HOSPITAL:
(Com tudo pronto, imprimir este requerimento e protocolar na Direção administrativa do hospital)


ILUSTRÍSSIMO(A) SENHOR(A) DIRETOR(A) ADMINISTRATIVO(A) DO HOSPITAL ......................................................................, FULANO(A) DE TAL





Fulana de tal (qualificação civil completa da responsável pelo projeto), vem à presença de vossa senhoria apresentar a versão final e revisada do Projeto-Piloto “Doulas no Hospital ........................" e expor, conforme abaixo:

1. Em reunião do Conselho Municipal de Saúde deste município ocorrida em ...................do ano em curso, o presente projeto foi apresentado e aprovado para implantação neste município.

2. Com as revisões devidas e acrescidos os anexos necessários ao aperfeiçoamento, o projeto encontra-se pronto para implantação.

Assim, é o presente para apresentar o projeto finalizado ao arbítrio da Direção Administrativa e REQUERER que vossa senhoria autorize o início da implantação, cuja íntegra segue em anexo.

Nestes termos, aguarda deferimento.

Local, data.

Assinatura


3 de julho de 2014

Abortos: A morte quando se espera a vida...


por Cariny Cielo

Ela chegou até mim e me deu uma carta... antes de terminar de ler, eu já chorava assim como choram mesmo, todas as mulheres, ao encontro da dor da outra. No mesmo dia, à noite, recebo uma mensagem no celular: "terceiro, amiga, perdi o terceiro...".
Duas amigas vivendo luto e dor e eu chorei o choro que choramos todas por receber a morte, quando se espera a vida...

Lembrei-me imediatamente de uma música de Rosa Zaragoza, chamada 'La muerte cuando esperas vida' que foi inspirada da carta de uma mulher que viveu uma experiência inigualável de fé ao deparar-se com a morte. A música e, em seguida, a carta (em tradução livre) estão no fim deste texto...

Sinto que existe uma banalização em nossa sociedade relacionada a abortos espontâneos no primeiro trimestre. Os médicos dizem às mulheres ser normal, e as mulheres se sentem na obrigação de não sofrer, de não viver o luto. Muitos dizem 'logo, logo você engravida novamente', em total desrespeito àquele momento e ao sentimento de quem perdeu. E a mulher que perdeu não quer pensar em desejar outro! Não, naquele momento... naquele momento, ela queria aquele filho!

Jamais permita que banalizem a tua dor, que te façam engolir um luto. Não toque a vida, desmerecendo a vivência, a julgando ordinária, comum... só você conhece a dor de ter perdido um filho ainda no ventre. Cada qual na sua fé, na sua cultura, permita-se viver o processo com respeito por si mesma... escreva uma carta, uma música, pinte uma tela, plante uma árvore, ofereça uma oração, um serviço... de alguma maneira, simples ou cerimoniosa, pesada ou leve, contando que seja da sua essência, carregue o seu significado...

Neste mergulho da dor da outra, findei conhecendo um blog chamado La Vida Intrauterina de Lídia Estany Estany que vale a leitura e traz muito do que já estudei em Ciência do Início da Vida, explicando que nossas experiências iniciais durante a concepção, a vida pré-natal, nascimento e período neonatal fazem parte do nosso ser e marcam profundamente quem seremos. Nele há a indicação de um livro chamado "Abrazar la muerte cuando se espera la vida", escrito por María Jesús Blázquez que conta que pariu quatro filhos, dois vivos e dois natimortos e que esta experiência a marcou tanto que, desde então, tem vivido para o tema nascimento e maternidade. O livro pode ser baixado aqui.





Achei também:
Grupo Casulo: Associação Brasileira de Apoio ao Luto
Aborto espontâneo, quebrando tabus. Texto do blog Desabafo de mãe.
O drama do aborto espontâneo que indica o livro Maternidade Interrompida: o drama da perda gestacional
Depoimento no Vila Mamífera: Uma breve gestação



E já que este é um ambiente de relatos... vamos às vivências!



Esta é a carta que minha amiga dividiu comigo:

Meu Filho,

Lamento se, de alguma forma, contribui para que você fosse embora tão cedo... com apenas 8 semanas de vida. Eu te queria muito e só percebi efetivamente o quanto, quando te perdi.
Acredito na perfeição do Universo e sinto, de verdade, que não era para você vir, e ser meu filho agora.
Espero que você esteja bem, no plano espiritual que estiver, e que se for o seu desejo possa reencarnar numa família que te ame.
Tivemos, mesmo que por pouco tempo, a relação mais profunda que o ser humano pode ter: o vínculo de mãe e filho.
Sinto muito que tenha sido tão breve, mas quando eu conversava contigo em minha barriga, eu já procurava demonstrar todo o meu amor, fosse com palavras ou cuidados de saúde e alimentação.
Te amo e te liberto! Peço que me libertes também.
Com amor,

Tua mãe.




A carta abaixo é parte integrante do CD 'Nascer, Renascer' da artista Rosa Zaragoza, que muito gentilmente me permitiu traduzir e tornar pública aqui:





Eu sabia que o parto iria nos levar ao nascimento da morte. Receberia meus dois filhos para perdê-los em um curto espaço de tempo, talvez ficariam apenas alguns minutos conosco. Depois de tantos meses de planos, mergulhando dentro de mim, banhando-me em minha ilusão... só alguns minutos! 

No começo eu estava tão assustada que não conseguia ver nada. Foram vinte horas de contrações secas. Mas, ao final, a luz chegou aos meus olhos. A comunicação com eles fluiu e me permiti escutar o que queriam me dizer: que as suas vidas haveriam de ser esta e nenhuma outra. 
Que aquilo que me parecia uma existência curta, mesquinha, pobre e desafortunada, na realidade, era tão longa quanto eterna, era generosa e era iluminada.

E eu entendi que amor significa aceitar...
Que me desapegar, lançar-me ao vazio, seria a minha salvação.

Entregando-me assim, finalmente, as portas do meu corpo puderam se abrir. E o vulcão pôs-se em erupção. Parecia que me quebrava e me partia em dois pedaços.

Mas não, não era nada disso! A carne viva, sem falsas ajudas, me deu a vida e a morte.
E como que guiada por mãos divinas, eu não duvidava mais de nada.

Meu estado era, enfim, sereno. Não havia nada, além de pulsão instintiva. Não faltava falar nada, nem pensar, a mente se perdeu. O tempo também... o que pareciam instantes foram horas e o que pareciam horas foram instantes.

Os gritos eram como uivos, desde muito, contidos. A dor foi entregue e eu, com eles, nascia.
Deixava de ser filha, unicamente filha, para ser mãe, para ser mulher. Mulher inteira. Finalmente, a mulher que me tornei. 

E a voz... ah, a voz! Eu a sentia como se fosse de uma besta, feroz e muito potente. E me dei conta de que eu nunca havia ouvido, verdadeiramente, a minha própria voz. Minha própria essência. Consciência plena, instinto absoluto.

Nossa experiência se converteu em um Ato Sagrado. Ritual de iniciação. Renascimento, depois de trinta anos que eu havia nascido. E as duas crianças ali doando-se, em oferenda...

Nas mãos de seu pai, lhes dissemos adeus, com o silêncio nos lábios e os olhos cheios do mesmo amor que eles nos estavam presenteando. O amor que nos tem mantido fortes e firmes, seguros e unidos até o final... e até aqui.

Durante as semanas seguintes estive chorando tanto que meus olhos secaram e as pálpebras enrugaram, parecendo que nunca mais seriam como as pálpebras de uma mulher jovem.
Eu chorei de manhã, à noite e em todas as horas. Chorei andando pelo pasto, andando pelas ruas, chorei junto à praia, estando sozinha ou acompanhada, comendo e até em sonho, eu chorava. 

Mas foi com a cabeça erguida. Eu me senti tão digna que honrava meus filhos, minha maternidade, o meu homem e minha vida. Honrava a vida que eu amo, que me representa e que tem me mostrado quem sou. Sentia uma gratidão imensa.

Desde então, eu sei quem eu sou e a força que carrego em mim. Desde então, minha voz fala por mim e desde o mais profundo de mim. 

Obrigada, Marcel, obrigada Alber, por nascerem e fazerem nascer.
Eu, para merecer este presente, farei com que nada disso morra.

Anna, novembro de 2004





Música do CD 'Nascer, 'Renascer'

La muerte cuando esperas vida 
(para ouvir, clique aqui)


Te caes, mi ángel. Vacía queda mi alma.
La vida que esperé desalentada.
Te vas tan pronto, hay leche para ti
y todo mi cariño te aguardaba.
Extiendo un manto de rosas y jazmines,
te arropo en tu viaje por las nubes;
te doy mis besos, te envío mis caricias
en este viento tibio de la tarde.

Siempre estará tu recuerdo.
No olvidaremos tu nombre.
Aquí quedamos los tuyos
con los ojos bien abiertos
y la conciencia más fina
para escuchar tu silencio
y reconocer qué nos quieres decir.

Te doy las gracias por este corto tiempo
tan mágico llevándote conmigo,
por tanta luz como has dejado en mi.
Yo sé que continuas tu camino
Extiendo un manto…

Siempre estará tu recuerdo.
No olvidaremos tu nombre.
Aquí quedamos los tuyos
con los ojos bien abiertos
y la conciencia más fina
para escuchar tu silencio

y reconocer qué nos quieres decir:
Quizá, que amémos la vida como es,
con todo el entusiasmo y la alegría.

Letra: Rosa Zaragoza Música: Mordekhai Zeira





Em respeito... 



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