4 de novembro de 2017

Relato de parto da Daieny: parto normal hospitalar em Porto Velho com doula



Eu sou a Daieny Bisinella e sempre tive um grande desejo de ser mãe, desde a infância. Quero ser a melhor mãe possível e isso inclui o parto também. Meu relato é grande! Mas a empreitada também foi... e tudo valeu a pena! ❤️❤️

Quando descobri que estava grávida fiquei atônita. Não acreditei que havia chegado o momento que sempre esperei, o momento tão sonhado. Sabia que dali pra frente começaria a grande aventura de ser mãe.

Passado o primeiro impacto, fui à obstetra para dar início ao pré-natal. Desde essa primeira consulta, meu marido, Bruno, sempre esteve junto. Na segunda consulta, comecei o assunto sobre meu desejo de ter parto normal, pois na minha cabeça sempre foi natural a ideia de que meu(s) parto(s) seria(m) normal(is).

Bom, prontamente a GO que me acompanhava disse que realizava sim e era super a favor, mas seria normal SE eu estivesse bem até lá e que eu não fizesse terror de cesárea, porque hoje em dia ela era ótima, TÃO boa quanto o normal, ela mesma teve cesárea e voltou a trabalhar após 7 dias!!!!! E isso, na opinião dela, era maravilhoso. Saí de lá com o alerta laranja ligado!

Depois disso, as próximas consultas, foram, no mínimo, negligentes, ao ponto de eu ter ficado sem consulta do quarto mês e recorrer à maternidade municipal para não ficar sem o acompanhamento adequado. Nesse período, eu já havia me informado melhor sobre gestação e parto.


No começo, as pessoas me perguntavam se realmente eu tinha coragem para me submeter a um parto normal, e o comentário clichê se repetia abundantemente: "Nossa! Como você é corajosa!". Confesso que esses pouco me abalavam, porque eu tinha muito mais medo de uma cirurgia do que da dor que todos falavam do parto normal.

Mas comecei alucinadamente a me informar e ler e pesquisar sobre parto. Uma grande amiga serviu de inspiração, pois além de me incentivar, me dar dicas sobre a importância do empoderamento da mulher, teve um parto normal humanizado após uma cesárea. Então busquei! O começo foi assistir os documentários "O Renascimento do Parto" e "Violência Obstétrica".


O primeiro me mostrou como um parto poderia ser lindo e o segundo o como poderia ser horrível. Meu marido assistiu comigo os dois, sempre achei que deveria envolvê-lo, pois com ele ao meu lado tudo seria mais fácil e, afinal, foi pra isso que nos casamos, para ficarmos unidos, principalmente nos grandes momentos.

Participamos de rodas de conversa e orientação sobre parto, conhecemos e conversamos com doulas e descobrimos o parto domiciliar, o qual criou raízes no meu coração, pois enxerguei nele a forma mais adequada de uma mulher parir e a maneira de fugir dos profissionais desumanizados do sistema.

Foi aí que decidi mudar de GO. O meu marido mesmo falava que a que eu estava ia me induzir a uma "desnecesárea". Então fomos para o segundo GO, o qual era referência em parto normal na cidade, mas confesso que, desde a primeira consulta, coisas me deram sinais de que ele não era tudo isso que falavam, mas era o que conhecia de melhor.

Comecei nessa época, por volta de 27 semanas, a fazer fisioterapia obstétrica, com a Camila Patriota Ferreira: uma maravilha! Foi de várias maneiras importante para a construção do meu empoderamento.

O tempo passava e eu me informava e aprendia cada vez mais e aumentava a minha confiança em mim mesma. Foi quando, com cerca de 32 semanas, veio a notícia de que eu não poderia parir em casa, pois, por motivos alheios a minha gestação, a empresa que realiza o parto em casa não poderia me atender. No começo tive medo. Sabia o que acontecia a muitas mulheres nos hospitais. Mas então aceitei essa mudança como parte da história da minha gestação e do meu processo de nascer como mãe, e passei a tomar as providências que eu podia para assegurar que minha filha viesse ao mundo da melhor maneira.

No sétimo mês de gestação mudei novamente de GO, por indicação. Foi ótimo, me senti mais segura. Por fim, resolvi procurar também um pediatra que fosse humanizado para acompanhar o parto.
Do oitavo mês em diante, eu já estava me sentindo completamente confiante com relação a parir. Sabia, no meu íntimo, que pariria minha filha em qualquer lugar e com qualquer profissional que fosse acompanhando. Eu tinha o poder de parir e isso não dependia de mais ninguém. Eu gostaria que tudo fosse o mais harmônico e suave possível, mas eu tinha plena convicção da minha capacidade, entendi, então, o que era o famoso "empoderamento da mulher".

Com 38 semanas e tudo ótimo, sabia que dali em diante qualquer hora poderia ser a hora, porém sempre me esforcei para controlar a ansiedade. E chegou a DPP, 24/06 e nada. Fiquei com receio, mas ainda restavam duas semanas para esperar. Quando cheguei a 41 semanas, meu receio aumentou ainda mais, pois não queria me submeter a uma cirurgia, além de ter muita vontade de viver a experiência de parir e sentir trazer minha filha ao mundo. Entretanto, também me esforçava para me preparar psicologicamente para uma possível real indicação de cesárea ou indução.

Eis que após duas semanas de pródromos, muitos alarmes falsos e muita expectativa, às 2hs da madrugada do dia 03/07/17, começo a sentir contrações. Esperei pra ver se elas cederiam e após algum tempo avisei as doulas. Eu duvidava, mas a Talita Silveira Santana, doula, parece que sentiu que a hora havia chegado, e mesmo eu dizendo pra aguardar para termos certeza, ela se pôs a caminho da minha casa e quando eu avisei que achava que ela deveria vir mesmo, ela já estava na minha porta.

Na primeira hora de contrações eu ainda duvidava de que fosse trabalho de parto, tinha receio de que elas passassem. Mas quando percebi que era de verdade, me alegrei e senti muita gratidão, tinha muita confiança que dali em diante tudo daria certo. O Bruno logo colocou as malas no carro e deixou tudo certo para nossa saída para o hospital e depois de algum tempo foi dormir para poder ficar bem durante o dia.

Foi a madrugada mais maravilhosa da minha vida, tudo muito natural, tranquilo. Passei quase todo o tempo sentada na bola, fazendo os movimentos para relaxar entre uma contratação e outra e os exercícios pra TP que aprendi na fisioterapia. A Talita esquentava uma bolsa de sementes e fazia compressas na minha lombar e pelve, e durante cada contração eu vocalizava e relaxava meu corpo, para que ele pudesse trazer minha filha a esse mundo. Conscientemente eu vivia cada contração com amor e alegria desse trabalho de parto tão desejado. Por volta de 5:30h resolvi comer algo, pois queria ficar preparada para um possível TP demorado, então pensei que seria melhor manter minhas energias carregadas.

Por volta de 6:30h o Bruno acordou. Eu estava na sala, apoiada no sofá, tirando cochilos entre uma contração e outra, por conselho da Talita (e eu cochilei mesmo!) Esperai até 7h para ligar e avisar a família que a Maria Clara estava a caminho. Depois disso, após a insistência da Talita, fui para o chuveiro quente com a bola (eu enxergava na água quente a minha maior cartada contra as dores das contrações, e como sentia pouca dor, resistia a ir para o chuveiro pois achava que ainda ia piorar muito. Mas a Talita conseguiu me convencer quando me lembrou que a água quente apressava a dilatação).

Daí em diante, logo entrei na partolândia e foi lindo. O Bruno veio ficar comigo, Talita apagou a luz, colocou um aromatizador, acendeu uma vela e nos deixou a sós. Conversávamos como dois amigos, dois namorados, e foi nosso último momento de casal antes da nossa filha. A minha impressão é de que já havia se passado muito tempo, as contrações começaram a ficar mais intensas e mais próximas.

Avisamos o GO, que disse que em breve iria a nossa casa para me avaliar. Porém, depois de pouco tempo, a Talita avisou que não havia mais tempo pra esperar, já que as contrações estavam muito próximas e que deveríamos ir até o GO logo. Eu resisti a sair do chuveiro. Estava imersa naquele momento, mas cedi e avisei, enquanto me vestia, que se eles não queriam que ela nascesse em casa, eles deveriam se apressar. Senti que minha filha estava chegando.

Entramos no carro e fomos para o hospital, vocalizei em cada contração e me agarrava ao ombro do Bruno, ele era tudo que eu queria, tudo que eu procurava naquela hora. Quando chegamos, da entrada até o consultório do GO tive duas contrações na recepção e já estava sangrando. Após a avaliação, o GO informa que eu estou com dilatação total e que, de agora em diante, deveria mudar meu padrão de respiração para fazer força.

Lembrei da fisioterapia e de como fazer a força no expulsivo. Cheguei no quarto e assim que vi a escadinha de subir na maca, instintivamente me agarrei a ela e fiquei em 4 apoios, ninguém me tirava mais dali. Bruno correu no carro para buscar a bola e o tapete de EVA, o qual foi colocado sob meus joelhos. Mandei que apagassem a luz. Daí em diante eu não vi mais nada, só Bruno do meu lado esquerdo, cuja mão eu segurei quase o tempo todo, e a Talita, que estava do outro lado e me encorajava quando eu pedia e socorro.

Após algumas contrações senti que precisava mudar de posição para que minha filha pudesse sair, então estiquei a parte de baixo das pernas e na próxima contração senti o círculo de fogo, logo após o que a cabeça da Maria Clara saiu, juntamente com um braço, na mesma posição que sempre esteve durante a gestação.

A contração passou... eu respirei... esperei... e logo veio mais uma contração e com a pouca força que eu fiz, ela nasceu! Chorou imediatamente, um choro lindo. Bruno a pegou, eu me sentei e encostei na parede e pedi minha filha. Ela veio pro meu colo, olhei-a sem acreditar. Choramos juntos, eu e Bruno, sem palavras pra expressar.



Tudo foi ótimo. Nem ela, nem eu, passamos por qualquer procedimento desnecessário: não houve corte prematuro do cordão umbilical, não foi aplicado nitrato de prata, não houve episiotomia e, ao final de tudo, períneo íntegro. Em todos os momentos ela ficou comigo ou com o pai, onde deveria ficar.

Nisso, minha noção de tempo estava completamente alterada mas, descobri depois, que chegamos ao hospital às 9:15h e a Maria Clara nasceu às 10:10h. Tudo foi muito rápido. Todos os profissionais que estiveram envolvidos foram muito respeitosos e humanizados. Me senti absolutamente dona do meu corpo e feliz por conseguir que minha filha chegasse a esse mundo com amor e respeito, no tempo dela, do jeito dela. Agradeço a Deus por essa oportunidade, ao meu marido e companheiro, Bruno, ao nosso obstetra, ao nosso pediatra e à doula querida, Talita.

Amei meu parto e foi a coisa mais forte e mais intensa que eu já vivi em minha vida, trouxe um amor que eu só imaginava que existisse.




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