29 de julho de 2013

Requerimento de Cópia de Prontuário Médico: tudo sobre...


por Cariny Cielo

Pegando carona na campanha lançada pela Gabi Sabit, do Dadadá, resolvi reunir informações acerca do direito à cópia do prontuário médico a que todo paciente tem direito E, especificamente no nosso caso, a que toda mulher recém parida ou recém operada tem direito!

Aqui você encontra:

1. Um artigo para você que, como eu, não tinha dado muita bola pra isso e nem sabia que era seu direito, explicando tudo sobre o Prontuário Médico.

2. Uma reunião com as principais normas que regulam a confecção, manutenção e sigilo do Prontuário Médico, lembrando que ele deve ser mantido por 20 anos!

3. Um modelo para você protocolar e requerer o seu!

Vamos lá:


REQUERIMENTO DE CÓPIA DE PRONTUÁRIO MÉDICO: Tudo sobre.

A Resolução 1638/2002 do Conselho Federal de Medicina diz que prontuário médico é "o documento único constituído de um conjunto de informações, sinais e imagens registradas, geradas a partir de fatos, acontecimentos e situações sobre a saúde do paciente e a assistência a ele prestada, de caráter legal, sigiloso e científico, que possibilita a comunicação entre membros da equipe multiprofissional e a continuidade da assistência prestada ao indivíduo."

O prontuário do paciente é o documento único constituído de um conjunto de informações, sinais e imagens registradas, geradas a partir de fatos, acontecimentos e situações sobre a saúde do paciente e a assistência a ele prestada, de caráter legal, sigiloso e científico, que possibilita a comunicação entre membros da equipe multiprofissional e a continuidade da assistência prestada ao indivíduo. O prontuário do paciente (e não do médico, como erroneamente é chamado) é o documento que deverá ser utilizado como prova para instruir processos disciplinares e judiciais, visando identificar as ações ou omissões da equipe multiprofissional e a responsabilidade (ou não) da instituição onde o atendimento ocorreu. Ou seja, se o prontuário estiver mal feito, a defesa ficará prejudicada ou a acusação será facilitada.

Por determinação do Código de Ética Médica (CEM), o médico tem o dever de criar o prontuário antes de iniciar a anamnese, sob pena de processo ético-disciplinar perante o Conselho Regional de Medicina (CRM).

Ao médico é proibido receitar ou atestar de forma secreta ou ilegível. O bom senso indica que o prontuário deve ser elaborado de maneira completa e com letra legível, sob pena de sanções disciplinares perante o CRM, em razão de transgressão do CEM.


Conteúdo: Deverão constar obrigatoriamente do prontuário:

1. Identificação completa do paciente, sexo, nome dos pais, naturalidade e endereço.

2. Anamnese, exames físicos e complementares e seus respectivos resultados, hipóteses diagnósticas, diagnóstico definitivo e tratamento efetuado.

3. Evolução clínica diária, discriminação dos procedimentos, prescrições e identificação dos profissionais que os realizaram, com data, hora, nome e número de inscrição no respectivo conselho de classe.

4. Tipo de alta.


Responsabilidade: A responsabilidade pelo prontuário do paciente cabe:

1. Ao médico assistente e aos demais profissionais que compartilham do atendimento.

2. À hierarquia médica da instituição, nas suas respectivas áreas de atuação, que tem como dever zelar pela qualidade da prática médica ali desenvolvida.

3. À hierarquia médica constituída pelas chefias de equipe, chefias da clínica, do setor até o diretor da divisão médica e/ou ao diretor técnico.

Comissões: Resoluções do Conselho Federal de Medicina (CFM) determinam que são obrigatórias a criação da Comissão de Revisão de Prontuários e a implantação da Comissão Permanente de Avaliação de Documentos nos locais onde se presta assistência médica.


A quem pertence?

Paciente: O paciente é o alvo dos serviços prestados pelos profissionais e pela instituição. No prontuário constam informações sobre sua saúde, seu corpo, sua intimidade física, emocional, mental e até sobre sua vida social e privada.

Médico: O prontuário retrata a atividade profissional desempenhada pelo médico e pelos demais componentes da equipe multidisciplinar que atenderam o paciente.

Instituição: O prontuário comprova a efetiva prestação de serviços pela instituição e seus prepostos, servindo, inclusive, como base para elaboração do faturamento. Ele é guardado sob a custódia da instituição de saúde. Quem desejar e possuir legitimidade, poderá solicitar cópia dele, que não poderá ser negada pela instituição.

Sigilo: O prontuário é secreto e protegido pelo segredo profissional. É proibida a divulgação de fatos conhecidos no desempenho da profissão e cuja revelação acarretaria danos à reputação, à honra, à vida privada e aos interesses moral ou econômico do paciente ou de seus familiares. Seu conteúdo não pode ser revelado sem autorização escrita do paciente, sob pena de cometimento de crime, infração ético-disciplinar e de responsabilização civil.

Cópias:

Paciente: Obviamente que o próprio paciente pode obter cópia do seu prontuário. Basta solicitar por escrito. Porém, se o conteúdo do prontuário colocar a saúde do paciente em risco, deve-se substituir sua cópia por um laudo que contenha informações genéricas sobre sua saúde e as providências que deverão ser adotadas. Cabe aos Diretores Clínicos e Técnicos ou à Comissão de Ética Médica analisar os prontuários e fazer este exercício de inteligência e de interpretação das informações contidas no prontuário.

Familiares: O sigilo da relação médico/paciente impede que qualquer familiar tenha acesso ao prontuário. Isso somente será possível se o paciente autorizar por escrito. Se o paciente for menor de idade ou incapaz, o acesso deve ser permitido ao seu representante legal, desde que provada tal condição documentalmente. Na hipótese de o paciente estar inconsciente ou ter ido a óbito, as informações devem ser passadas pelo médico sob a forma de laudo.

Convênios: O prontuário não pode sair das dependências físicas da instituição de saúde. O convênio ou seguradora deverão identificar profissional médico para lá se dirigir a fim de auditar, conferir ou analisá-lo, desde que haja autorização escrita do paciente. Na prática, porém, sabemos que os hospitais mandam cópia do prontuário para os convênios. Quem age assim deve suportar os riscos de eventual vazamento de informação pessoal do paciente e responder por processo em que se questionar eventual dano, material ou moral.

Autoridades: O ofício de autoridade policial ou judiciária deve ser encarado da mesma forma que o de outras pessoas, pois, nesse assunto, delegados e juízes não têm prerrogativas e nem há normas específicas nesse sentido, mesmo que eles pensem de forma diferente. A postura a ser adotada é a mesma: requerer a nomeação de perito médico para que vá até a instituição de saúde e colha a informação que a autoridade desejar, pois, enquanto médico, ele também está obrigado ao compromisso do segredo profissional. Isso é burocrático e nem sempre as autoridades agem assim. Todavia, é o que a legislação manda fazer, cabendo aos cidadãos cumpri-la e ao Judiciário fazer que ela seja cumprida, inclusive quando lhe disser respeito. Se a legislação é burocrática, o problema é do Poder Legislativo e não do hospital. Caberá ao advogado do médico ou da instituição de saúde explicar por escrito os motivos pelos quais não se cumprirá a ordem de encaminhar cópia do prontuário quando não houver autorização escrita do paciente.


Prazo de arquivamento

Papel: O prazo para arquivamento dos prontuários em papel é vinte anos. Decorrido esse prazo e colhidos pareceres escritos das comissões acima mencionadas, os prontuários em papel que contiverem informações relevantes dos pontos de vista médico-científico, histórico, epidemiológico, social ou legal devem continuar arquivados definitiva-mente.
Os que não forem assim classificados, mediante critérios de amostragem predefinidos pelas comissões, e transcorridos vinte anos, poderão ser destruídos, eliminados ou incinerados.

O prazo de vinte anos é maior que os previstos em outras normas legais, devendo ele ser observado como regra geral para manutenção em arquivo dos prontuários em papel. À medida que a instituição passar a utilizar meios eletrônicos de arquivo, o que não é obrigatório e dependerá do seu fôlego financeiro, ela poderá destruir os respectivos prontuários em papel.

Meio eletrônico: Os prontuários que já foram transformados em meio eletrônico, óptico ou magnético (digitalização, microfilmagem etc.), e os que assim já foram diretamente criados, sem utilização de papel e desde que respeitada a rigorosa legislação arquivística, deverão ser guardados de forma definitiva e ininterrupta pela instituição. Mais, aqui.


Obrigações: São (algumas) obrigações dos médicos:

1. Elaborar prontuário para cada paciente que atender.

2. Fornecer cópia do prontuário, desde que solicitado pelo paciente ou requisitado pelo CFM ou CRM.

3. Fornecer cópia do prontuário às autoridades, desde que autorizado por escrito pelo paciente.

4. Disponibilizar o prontuário ao perito que for nomeado por autoridade para nele realizar perícia, que deve se restringir aos fatos em questionamento.

5. Apresentar o prontuário em juízo para elaboração de sua defesa, devendo requerer que a matéria seja mantida em segredo de justiça.

6. Consultar o CRM por escrito sobre a postura a ser por ele adotada nos casos não previstos na lei e resoluções.

7. Comunicar compulsoriamente casos de doença, quando a lei assim determinar, não podendo ser enviada cópia do prontuário.


Proibições: É proibido ao médico, dentre outras ações:

1. Revelar fato de que tenha conhecimento em virtude do exercício de sua profissão, salvo por justa causa, dever legal ou autorização escrita do paciente.

2. Revelar informações confidenciais obtidas quando do exame de trabalhadores, mesmo que exigida pelos dirigentes de empresas ou instituições, salvo se o silêncio puser em risco a saúde dos empregados ou da comunidade.

3. Revelar segredo que possa expor o paciente a processo criminal.

4. Deixar de orientar seus auxiliares e de zelar para que respeitem o segredo profissional a que estão obrigados por lei.

5. Facilitar o manuseio e conhecimento dos prontuários por pessoas que não estão obrigadas ao compromisso do segredo profissional.

Daqui. 


NORMAS

1) Resolução da Diretoria Colegia, ou RDC, n. 63/2011


Seção IV: Do Prontuário do Paciente

Art. 24 A responsabilidade pelo registro em prontuário cabe aos profissionais de saúde que prestam o atendimento.

Art. 25 A guarda do prontuário é de responsabilidade do serviço de saúde devendo obedecer às normas vigentes.
§ 1º O serviço de saúde deve assegurar a guarda dos prontuários no que se refere à confidencialidade e integridade.
§ 2º O serviço de saúde deve manter os prontuários em local seguro, em boas condições de conservação e organização, permitindo o seu acesso sempre que necessário.

Art. 26 O serviço de saúde deve garantir que o prontuário contenha registros relativos à identificação e a todos os procedimentos prestados ao paciente.

Art. 27 O serviço de saúde deve garantir que o prontuário seja preenchido de forma legível por todos os profissionais envolvidos diretamente na assistência ao paciente, com aposição de assinatura e carimbo em caso de prontuário em meio físico.

Art. 28 Os dados que compõem o prontuário pertencem ao paciente e devem estar permanentemente disponíveis aos mesmos ou aos seus representantes legais e à autoridade sanitária, quando necessário.


2) Código de Ética Médica

Capítulo X: DOCUMENTOS MÉDICOS

É vedado ao médico:

Art. 80. Expedir documento médico sem ter praticado ato profissional que o justifique, que seja tendencioso ou que não corresponda à verdade.

Art. 81. Atestar como forma de obter vantagens.

Art. 82. Usar formulários de instituições públicas para prescrever ou atestar fatos verificados na clínica privada.

Art. 83. Atestar óbito quando não o tenha verificado pessoalmente, ou quando não tenha prestado assistência ao paciente, salvo, no último caso, se o fizer como plantonista, médico substituto ou em caso de necropsia e verificação médico-legal.

Art. 84. Deixar de atestar óbito de paciente ao qual vinha prestando assistência, exceto quando houver indícios de morte violenta.

Art. 85. Permitir o manuseio e o conhecimento dos prontuários por pessoas não obrigadas ao sigilo profissional quando sob sua responsabilidade.

Art. 86. Deixar de fornecer laudo médico ao paciente ou a seu representante legal quando aquele for encaminhado ou transferido para continuação do tratamento ou em caso de solicitação de alta.

Art. 87. Deixar de elaborar prontuário legível para cada paciente.
§ 1º O prontuário deve conter os dados clínicos necessários para a boa condução do caso, sendo preenchido, em cada avaliação, em ordem cronológica com data, hora, assinatura e número de registro do médico no Conselho Regional de Medicina.
§ 2º O prontuário estará sob a guarda do médico ou da instituição que assiste o paciente.

Art. 88. Negar, ao paciente, acesso a seu prontuário, deixar de lhe fornecer cópia quando solicitada, bem como deixar de lhe dar explicações necessárias à sua compreensão, salvo quando ocasionarem riscos ao próprio paciente ou a terceiros.


3) RESOLUÇÃO Conselho Federal de Medicina nº 1.605/2000

Art. 1º - O médico não pode, sem o consentimento do paciente, revelar o conteúdo do prontuário ou ficha médica.

Art. 2º - Nos casos do art. 269 do Código Penal, onde a comunicação de doença é compulsória, o dever do médico restringe-se exclusivamente a comunicar tal fato à autoridade competente, sendo proibida a remessa do prontuário médico do paciente.

Art. 3º - Na investigação da hipótese de cometimento de crime o médico está impedido de revelar segredo que possa expor o paciente a processo criminal.

Art. 4º - Se na instrução de processo criminal for requisitada, por autoridade judiciária competente, a apresentação do conteúdo do prontuário ou da ficha médica, o médico disponibilizará os documentos ao perito nomeado pelo juiz, para que neles seja realizada perícia restrita aos fatos em questionamento.

Art. 5º - Se houver autorização expressa do paciente, tanto na solicitação como em documento diverso, o médico poderá encaminhar a ficha ou prontuário médico diretamente à autoridade requisitante.

Art. 6º - O médico deverá fornecer cópia da ficha ou do prontuário médico desde que solicitado pelo paciente ou requisitado pelos Conselhos Federal ou Regional de Medicina.

Art. 7º - Para sua defesa judicial, o médico poderá apresentar a ficha ou prontuário médico à autoridade competente, solicitando que a matéria seja mantida em segredo de justiça.

Art. 8º - Nos casos não previstos nesta resolução e sempre que houver conflito no tocante à remessa ou não dos documentos à autoridade requisitante, o médico deverá consultar o Conselho de Medicina, onde mantém sua inscrição, quanto ao procedimento a ser adotado.

Art. 9º - Ficam revogadas as disposições em contrário, em especial a Resolução CFM nº 999/80.

Mais normas aqui.





******MODELO DE REQUERIMENTO DE CÓPIA DE PRONTUÁRIO MÉDICO******


Ilustríssimo Senhor Diretor do Hospital ou Unidade de saúde .............




Assunto: Requer cópia de Prontuário Médico.


FULANA DA SILVA SAURO, brasileira, casada/solteira, portadora do CPF tal e do RG tal, residente e domiciliada à Rua tal, no município tal, vem à presença de vossa senhoria expor QUE foi paciente do médico tal, e, em tal dia, foi submetida a procedimento cirúrgico cesariana OU foi assistida em parto normal no Hospital/Maternidade tal. Assim, por motivo de foro íntimo (ou se quiser colocar motivo) REQUER:

1. Cópia do Prontuário Médico do referido procedimento, conforme previsão legal dos artigos 87 e 88 do Código de Ética Médica e artigo 6º da Resolução 1602/2000; fazendo constar os exames complementares solicitados, no período, se houver. (OU cópia do Prontuário Médico desde a primeira consulta, em ...... até a última, em .............).

Local, data.

Assinatura 
Fulana da Silva Sauro
Requerente




*imprimir em duas vias, juntar cópia de documentos, se quiser, exemplo: carteirinha da gestante, cartão do SUS, enfim... e protocolar no setor administrativo do hospital ou maternidade.


Ah, e se você chegou até aqui (já é vitorioso!), se pegou o modelinho acima, se protocolou o requerimento, se recebeu seu prontuário, não deixe de compartilhar! Eu vou lá pedir os meus...



24 de julho de 2013

Vinte passos para destruir um parto.


por Cariny Cielo

Simplesmente porque tem momentos em que acredito que um Conselho Nacional Anti-Mulher se reuniu por aí no passado e decidiu destruir o parto, resolvi imaginar como teria sido esta reunião e quais tópicos teriam sido discutidos. O mote seria: Relacionar tudo que de pior pode ser feito à mulher para humilhá-la, desrespeitá-la e fazê-la sentir-se vulnerável física e emocionalmente e como abusar da tecnologia e dos avanços da medicina em prejuízo da fisiologia. Vale tudo para prejudicar o decurso do trabalho de parto.

Foi assim que surgiu o Protocolo de Atendimento à Mulher para Destruir o Parto, ou #P.A.M.D.P..

Normas de base:

1. Luz na sala de parto! Muita luz, daquelas brancas e que mostram tudo, perfeitas para fazer sutura.

2. Frio! Quanto mais desconfortável a temperatura, melhor. Nada de calor quentinho, não! Vamos congelar essas mulheres.

3. Sentir fome e sede também ajuda bastante. Jejum obrigatório e de rotina!

4. Assim que ela entrar no hospital, coloquem-na logo num soro, na veia, pra ela achar que está doente e/ou que pode ficar a qualquer momento.

5. A melhor roupa é aquela que mostra a bunda e a melhor cor é a verde água. Assim que ela der entrada, faça-a vestir a roupa do hospital.

6. Raspem os pelos dela às pressas e reclamando que ela bem poderia ter feito isso em casa.

7. Para deixar o trabalho de parto bem desconfortável, façam lavagem intestinal. Será terrível ela sentir os puxos e ter receio de fazer cocô no próprio filho.

8. Aproveitem a oportunidade para liberarem todos os seus demônios. Vai ser divertido fazer gozação, chacota, chamar a atenção, repreender. As melhores frases são (anotem aí pra não esquecer): "Pra fazer você não gritou assim!". "Mãezinha, cala a boca".
9. Só pode entrar sozinha. Ou vocês querem testemunhas do nosso sadismo? O pai, a doula, o escambau... ficam do lado de fora!
10. Toques, toques e mais toques. Sempre com pessoas diferentes. Aproveitem qualquer estagiário ou residente para fazer toques. A melhor forma é a seguinte: toquem, olhem por teto, depois pro infinito e saiam sem dar informação.

11. Deitada, de barriga pra cima e pernas nos estribos é a melhor e mais feladaputa posição para a contração doer e causar sofrimento fetal. Adotem-na com suas pacientes, em todos os atendimentos.

12. Estourem a bolsa sem consulta prévia e logo no início do trabalho de parto que é para as contrações ficarem bastante dolorosas e aumentar o risco de infecções.
13. Monitorem os batimentos fetais sempre com ar de preocupação e, ao final, façam comentários entre os colegas usando termos técnicos.

14. Usem ocitocina sintética e digam que é só um remedinho pra apressar o nascimento. Se tivermos sorte, as contrações ficarão tão insuportáveis que ela vai implorar por uma cirurgia.

15. Usem anestesia – ou qualquer outro meio de alívio farmacológico da dor – com o intuito de destruir a auto-estima dela e mostrá-la que ela não dá conta das contrações. Melhor ainda é fazer isto seguido do comentário: ‘eu sabia que você ia implorar por uma peridural’.

16. Ela está cansada e sem forças na hora do expulsivo? Peçam que alguém suba na barriga dela e realize a manobra de kristeller. É proibido em alguns países e não recomendado pela OMS, mas se a ideia é destruir o parto, essa é uma boa opção.

17. Se ainda assim, com todas essas manobras desgraçadas, o trabalho de parto progredir e aquela gestante tiver a petulância de estar caminhando tranquila para um parto normal, não a deixem sair ilesa! Marquem-na, eternamente, cortando-lhe o sexo, para que se lembre que só pariu por meio de nós (by Ric Jones). Sim, usem o 'pique' rotineiramente, ignorando o que recomenda a Organização Mundial de Saúde.

18. Nascido o bebê, cortem imediatamente o cordão umbilical e privem-no do sangue que era dele por direito, a despeito do que recomenda a Sociedade Brasileira de Pediatria desde março de 2011. Cortando abruptamente o suprimento de oxigênio, ele dará um grito numa tentativa desesperada para respirar e, assim, o que poderia ser uma transição suave e fisiológica, será traumática e dolorosa.

19. Aspirem o bebê, mesmo que não seja recomendado para os nascidos de parto normal. Pinguem colírio de nitrato de prata presumindo que a gestante seja portadora de gonorréia e apliquem vitamina K injetável, mesmo havendo a opção da vitamina ser ministrada via oral. Façam tudo isso antes mesmo de entregá-lo para a mãe e aproveitem para manipulá-lo das mais infinitas formas para medir, pesar, esfregar, e toda sorte de procedimentos duvidosamente necessários para serem feitos imediatamente após o nascimento.

20. Não o deixe que mame. A amamentação na primeira hora deve ser evitada a todo custo e o melhor lugar pro bebê ficar é longe da mãe.

Feito isso, sintam-se vitoriosos! Vocês acabam de destruir o mais sublime evento feminino e o maior milagre na perpetuação da humanidade. Ela não vai odiar vocês, pois vai estar muito encantada com o filho recém chegado. E tem mais, ela ouvirá que não tem o direito de se sentir frustrada ou triste, afinal, o bebê nasceu, está com saúde e ela não morreu!

*Atenção para post fazendo piada de assunto sério.

Para mais, conheça o Dr. Frotinha.



Mapa da Violência Obstétrica no Brasil, aqui.

Participe da pesquisa "Desrespeito e Violência no parto", aqui.

Relatório Final da CPMI da Violência contra a Mulher, aqui

Perguntas frequentes sobre Violência Obstétrica, aqui.



16 de julho de 2013

Relato: A história da Clara e de uma dor que não foi em vão...


A Clara Crispim chegou até mim assim, numa mensagem:

“Cariny, tava no site da Rede Parto do Princípio e escolhi, aleatoriamente, um depoimento de parto pra ler. Li o seu! Queria te agradecer só pelas suas palavras. TUDO que você disse naquele texto retrata o que estou passando. E quando vi que você teve seu bebê em Porto Velho, me senti mais amparada ainda! Tento perder todas as inseguranças que implantaram em minha cabeça no decorrer de todos esses anos. E palavras como a sua me dão a nítida certeza de que agora quem vai decidir como meu bebê virá ao mundo sou eu. Tenho 2 cesáreas (contra minha vontade) e tinha muito medo de ‘estourar meu útero’ numa tentativa de parto normal. Mas NADA mais me assusta! Estudei, me informei e vejo histórias de mulheres como você que mudaram toda minha concepção a respeito do assunto e do mundo! OBRIGADA!”

Eu comemorei! Afinal, era mais uma mulher saindo da matrix!

Esquecemos uma da outra e, meses depois, fiquei seduzida pela estória dela quando li um pequeno relato que ela escreveu assim que seu terceiro menino nasceu. Inundada com a revolução que vem junto com as chegadas e partidas da vida, ela fez um texto corajoso – de gente grande, como se diz por aí – assumindo suas escolhas, lamentando perdas e comemorando vitórias!

Vitória por ter sido protagonista da própria estória e não mera observadora. Vitória por ter se empoderado e feitos escolhas corajosas, escolhas verdadeiras e não se permitir levar pela maré do falso. Vitória por ser adulta e assumir a parte que lhe cabe em cada um dos desfechos que viveu na estória da chegada do seu caçula. Vitória por inspirar outras mulheres a sair da artificialidade e buscar a carne, o sangue, o suor e as lágrimas, em trocar de conhecer a verdade. Vitória por promover o homem, chamar o companheiro e dar o poder, também a ele, de apostar na vida. Vitória por ter coragem de tirar a venda dos olhos e olhar a luz para, assim, desejar dar à luz.

Poderia ter doído menos, Clara. Sim! Você poderia ter ouvido, friamente, as palavras de fora que te insistiam em dizer que a cirurgia é a melhor escolha da mulher. Sim, você teria sentido menos dor. Mas não porque doa menos, mas porque agir contrário aos nossos sentimentos internos nos entorpece, nos deixa anestesiadas... e a dor surgiria depois, disfarçada em alguma das inúmeras fantasias que criamos para nossas dores internas mal curadas. É preciso coragem para enfrentar os próprios fantasmas...
Muitos podem analisar os fatos como uma tentativa em vão... como uma perda. Mas só os sábios tiram proveito da dor. Enquanto caminhamos feito zumbis, ora fugindo da dor, ora perseguindo o prazer, há quem escolha a dor como caminho e os ganhos com esse auto conhecimento são verdadeiros tesouros!

Não é difícil imaginar porque razão uma mulher, quando for ter seu primeiro filho, não queira sentir dor. Passou anos recebendo mensagens fortíssimas de que dor não é bom, dor não serve para nada, dor é inútil, dor deve ser combatida. Então, como encarar um rito de passagem como o parto que tem a fama de ter a 'pior dor do mundo'? Ficou todos os anos de seus ciclos menstruais sentindo cólicas e tomando analgésicos para elas, sem contudo procurar descobrir porque seu útero gritava mês a mês. Assim faziam sua mãe, suas tias, suas amigas. Quando a enxaqueca a acometia, corria para a farmácia e não para dentro de si. Porque razão esta mulher iria aceitar a dor do parto? "Não! De jeito nenhum, isto é grotesco, selvagem, animal... eu quero parto sem dor, quero filho sem dor". Ledo engano; o filho doerá de qualquer jeito, pois nossos filhos nos jogam na cara tudo aquilo que somos e o que não somos. A dor é inevitável, o sofrimento é que é opcional. Vai doer, é o ônus assumido por estarmos aqui, mas nós podemos escolher se queremos ou não sofrer com esta dor.

No livro ‘Quando o corpo consente’, há um trecho que me tocou profundamente e que ilustra a escolha da Clara. Diz lá que a dor do parto é a dor que carregamos dentro de nós. Sim, eu mesma já cheguei às portas da maternidade com muitas dores, cicatrizes mal curadas, e tudo aquilo viria a mim, de qualquer jeito, de uma forma ou de outra. Foi então que eu pensei: se a dor é minha, então ela é minha parceira de vida, vou trazê-la, vou exorcizá-la, vou vomitá-la... e assim, eu recebi a dor como uma dádiva de Deus, uma ferramenta esplêndida da natureza. Ela veio e depois se foi... dois anos depois, pari sem dor, meu terceiro menino. A Clara também chamou para si a sua dor e, assim, fez-se mais sábia! Caminhou radiante na transposição do rio de sua vida...

Vamos de Clara agora. Se você se apaixonar pelas palavras desta mulher que abre o coração com simplicidade e paixão, espere até ver as fotos...


1º ATO: “Eu adoraria ter ido até o fim, mas tudo acontece na melhor das formas.”




As pessoas têm me perguntado como foi meu parto, se foi normal como eu queria, se eu consegui... Eu consegui! Consegui entender o poder de uma mulher, sua autonomia, sua soberania. Consegui sentir o poder da decisão, o poder/querer. Levantei dia 24/12 às 6 horas da manhã impulsionada pela primeira contração. E eu não tinha dúvida, o show estava começando. O meu show. O show da vida. Fui à maternidade às 9hr, já com dores imensas e encontrei meu primeiro obstáculo. O médico que me atendeu disse que só esperaria até as 11 horas, caso eu não tivesse a dilatação necessária, ele me operaria. Bem, essa decisão era minha, não dele.

Voltei pra casa e lá fiquei até às 19 horas. Foram as MINHAS horas. Foram insuportáveis e deliciosas horas.... era eu e meu bebê numa comunicação intensa... era a magia da dor de ser mãe... era ISSO que eu queria.

Sentir a vida se expressar pelo meu corpo. Tive o privilégio de ter três excelentes profissionais me acompanhando (eterna gratidão). E mais três pessoas que nunca mais serão as mesmas na minha vida... Quando a dor me venceu, foram eles que me lembraram que havia mais que dor naquele momento... minha mãe, meu marido e a madrinha do Henrico.

Estas pessoas foram reposicionadas nos meus sentimentos... Tive muita energia positiva jorrada em cima de mim o dia todo... pessoas rezavam, firmavam, mentalizavam, cuidavam e esperavam.. comigo, por mim e para que meu sonho fosse realizado. Nem consigo expressar o meu afeto por todas estas pessoas que se permitiram sonhar comigo. Mesmo com seus receios, suas crenças, suas experiências. Mesmo com os “nãos” estas pessoas andaram de mãos dadas comigo, e energizaram meu dia... São pessoas de LUZ.

Às 19 horas voltei à maternidade. Neste momento eu fui vencida. Pelo medo. O outro médico que me consultou mediu 8 cm de dilatação. Quando soube que eu já tinha feito 2 cesáreas anteriores, imediatamente me encaminhou para a terceira. Assim, sem respostas, sem esclarecimentos, sem delicadeza. Disse que meu trabalho de parto havia se estendido por muito tempo e que havia risco a partir de então (Bem, de acordo com o outro médico havia risco desde às 11 horas da manhã). Com um toque que demorou 2 segundos ele pôde concluir isso? Eu nunca vou saber se havia riscos de verdade, ou o tamanho deste risco. Uma operação (cesárea) é muito arriscada, afinal é um procedimento cirúrgico. Mas pra este risco, este médico estava preparado, este risco ele queria correr, e não aceitava correr o MEU risco comigo. E eu não podia decidir arriscar sozinha, eu precisava daquele médico, do conhecimento dele. Era da vida do meu bebê que estávamos falando. Eu estava frágil. Decidi operar. Senti a dor e a delícia de participar ativamente do MEU parto.

Protagonizei. Fui dona da decisão de não ir até o fim... tentei ser mais cautelosa que durona. Aprendi isso com a maternidade. Meu bebê nasceu após 15 horas de trabalho de parto. Nasceu de cesárea. Me ensinou nestas 15 horas tanto sobre tanta coisa. Transformou minha vida. Eu adoraria ter ido até o fim. Mas como diz Chico Xavier “tudo acontece na melhor das formas”.


2º Ato: A maternidade depois das escolhas...




Ser mãe é? Não acredito que exista uma definição para isso. Sou mãe de três meninos lindos e até hoje não defini o que é ser mãe.

Trabalho, estudo, cuido de casa, dos filhos, acho tempo pra me divertir e cuidar da saúde. Como? Sendo mãe! É que mãe é um pouco médica, um pouco enfermeira, um pouco professora, um pouco vidente, um pouco nutricionista, um pouco psicóloga... com tantas atribuições, é possível imaginar como uma mãe consegue dar conta de tanta coisa ao mesmo tempo né?

Fui mãe pela primeira vez aos 19. Inexperiente, solteira, sem formação, morando com os pais. E pasmem, engravidei por que quis. Por que me bateu muito forte uma vontade de ser mãe. Sofri muito. Ser mãe menina é muito doloroso. Mas aprendi, de um jeito difícil, mas aprendi. O mundo modernizou-se, mas ainda há o preconceito com a mãe solteira, com a gravidez na adolescência.

Nove anos depois, me casei então nasceu meu segundo filho. Outra realidade, gestação completamente diferente, curti cada momento desde o “beta”. Desta vez houve chá de bebê, chá de fralda, book, dvd da ultrasson, desejos de grávida atendidos, tudo que uma gestação tem direito, foi lindo. Acontece que no meu peito, havia uma brecha. E eu descobri a resposta para aquele vazio na terceira gestação. Três anos depois, descobri que esperava meu terceiro filho.

Dentro de mim eu sempre soube que o melhor para uma mãe e seu bebê era um parto natural. Esta informação esteve sempre lá. Mas de alguma forma eu não a usei. Sempre deixei os profissionais que cuidavam de mim, decidir o que era melhor. E desta vez eu decidi que o parto era MEU. Aos 31 anos e terceira gravidez eu decidi parir. E por que desta vez? Acho que agora eu tinha maturidade para impor a uma sociedade e médicos cesaristas , a minha real vontade. E assim comecei a minha busca árdua e incansável.

Dona de duas cesáreas anteriores (completamente desnecessárias), morando numa cidade com pouquíssimas opções de médicos, com carência de estrutura própria para parto, e com muitas pessoas ao meu redor que não concordavam com minha decisão de parir.

Contei com a minha insistência e com apoio incondicional do meu marido, da minha mãe, da minha comadre e de poucos amigos. Busquei informações na internet, li artigos científicos, vi vídeos e relatos de mulheres sobre o VBAC (vaginal birth after cesarean - quando a mulher tem um parto normal após ter tipo uma ou mais cesarianas). Entrei em contato com pessoas renomadas estudiosas do assunto no Brasil inteiro. Estava sedenta por informação e apoio. E consegui. Mas na minha busca conseguia um sim para cada dez nãos. Desta forma acabei desistindo. Pensei: “correr atrás desse sonho vai dar muito trabalho”. E desisti. Mas continuei exaltando as pessoas que podiam parir (e me entristecia quando percebia que essas pessoas escolhiam operar com data e hora marcada. Por que eu que não podia e queria tanto uma oportunidade destas).

Minha mãe escutava minhas lamentações e nada podia fazer a não ser me encorajar. Meu marido também de mãos atadas até concordou em me deixar parir em outra cidade longe dele caso eu conseguisse apoio profissional. Minha comadre tirou um dia pra correr atrás de ajuda comigo. Cercamos uma médica que levanta a bandeira do parto normal. Quando falamos com ela sobre o meu desejo de tentar parir tendo duas cesáreas anteriores ela me fuzilou com o olhar, e com as palavras também. Chorei. E cada vez que fazia uma tentativa de encontrar apoio era a mesma coisa. Testas franziam e os ‘nãos’ soavam. Com medo de continuar me frustrando sempre, achei melhor parar de tentar.

Um dia uma prima me marcou numa publicação do facebook sobre uma tal Roda Materna. Aconteceria dali duas semanas mais ou menos. Pensei em ir, mas no fundo sabia que uma nova frustração viria. Mas se eu não fosse ia ficar com o sentimento de covardia me torturando. Fomos eu e meu marido. Encontramos uma psicóloga e uma doula que ouviram atenciosamente a minha história (quase como um desabafo). Claro que eu estava esperando as testas e os olhares, afinal o que uma louca que tem duas cesáreas quer fazer numa roda onde se discute o parto normal? Quer tentar ter um parto normal? Impossível! Não para aquelas profissionais. Ali eu encontrei o restinho da força que eu precisava para enfrentar todas as caras de reprovação e retomar a busca ao meu sonho.

O Grupo Buriti estava realizando a sua segunda reunião materna. Então eu fui abençoada com esta descoberta que também era uma novidade. Encontrar com outras mães que já haviam tido parto normal, com enfermeira, com doula, com psicóloga, com mãe que também já tinha cesárea anterior, com toda essa energia positiva, foi determinante na minha luta. Agora eu já tinha argumento, já tinha apoio e me faltava um médico. Mas eu tinha um plano. Através da minha comadre, entramos em contato com uma assistente social da maternidade municipal. E esta mesma nos garantiu que ali apenas era realizado parto normal. Mesmo que a mãe já tivesse cesárea, se no trabalho de parto tudo ocorresse bem, podia ir pra lá que o parto seria normal. Nos disse que isso já acontecera naquela maternidade várias vezes. Então pensei: “vou fazer o pré-natal todo na rede particular e quando for ter o bebê, vou para a maternidade municipal. Tá resolvido”. E assim foi.

Meu médico marcou a data do meu parto para o dia 17/12/12. Lógico que eu não aceitei. Disse que ligaria para ele para dizer que data seria melhor pra mim e aquela foi minha última consulta com ele. Mas eu já começava a entrar em pânico, pois completei 41 semanas e nada de TP. Então eu comecei a enfraquecer. Tinha medo de passar da hora de nascer, de algo acontecer ao meu bebê e a culpa ser minha. As pessoas que não apoiavam minha idéia de parto normal, já começavam a me dizer que aquilo tudo era uma loucura, que eu estava sendo inconsequente e teimosa. Mas esperei mesmo assim.
Dia 24/12/12, às 06:00 horas, senti minha primeira contração. Pulei da cama. 41 semanas e 4 dias. Abençoado seja este filho que me presenteia no natal. Meu show estava começando. Catei a vassoura e fui limpar a casa, afinal eu só voltaria pra lá com meu bebê no colo e tinha de estar tudo perfeito. Dei banho no cachorro. Curtia minha dor como se fosse um carinho em meu ventre. Acordei meu marido, pedi que ele mantivesse a calma, pois um trabalho de parto demoraria no mínimo duas horas. Pedi que ele lavasse a louça, pois naquela altura minha dor já não me permitia. Tirei o lixo e saímos. Fomos para a casa da minha mãe por volta das 08:30 da manhã.

Às 09:00 fui para a maternidade ver se estava tudo bem com o bebê. Aquela dor já me possuía por inteiro. Eu tinha certeza que o bebê já estava para nascer. Quando o médico me disse que eu estava com 1 cm de dilatação parecia mentira. E disse que como eu tinha duas cesáreas anteriores, mas queria muito ter o parto normal, ele esperaria até às 11:00 horas pro meu trabalho de parto evoluir e eu dilatar tudo. Caso não ocorresse, ele me operaria.

Voltei pra casa da minha mãe (frustrada pra variar) esperançosa que minha dilatação seria rápida. Enquanto eu buscava um conforto pra amenizar as dores da contração, fui presenteada com a visita das meninas (psicóloga, doula e enfermeira) da roda materna. E a visita virou o meu apoio do dia inteiro. Às 11:00 horas, quando eu devia voltar pra maternidade, havia dilatado apenas mais um centímetro.

Então, segurando as mãos do meu marido, da minha mãe e da minha comadre, decidi que iria esperar dilatar tudo e então eu voltaria para maternidade para ter meu parto normal. E foi através destas mãos que, quando eu quis desistir fraquejando para a dor, eu descobri que o apoio deles era tão grande quanto meu sonho. Eu tinha a melhor equipe do mundo ao meu lado. As melhores profissionais e a energia positiva que se podia sentir de longe.

Foram 15 horas de trabalho de parto. Quinze deliciosas horas de dor, medo, ansiedade. As quinze horas que determinavam quem eu seria dali pra frente. O parto transforma a mulher. Nenhuma mulher deveria se privar desta experiência. Eu repaginei a minha vida naquela data. Foi um momento de descoberta de limites, de valores, de sentimentos.

Abro um parêntese agora. Paula, Elis e Sandra eu nunca nesta vida vou conseguir dizer a vocês o tamanho da minha gratidão.

Quando a enfermeira me falou que eu havia atingido 8 cm de dilatação, eu decidi que era hora de voltar à maternidade. E neste momento eu perdi a rédea. O médico que agora era outro, quando viu no meu registro que eu já havia passado pro duas cesáreas agiu como um ogro. Indicou para uma cesárea de urgência e naquele momento ele esqueceu que é de pessoa que ele cuida, não de objeto, pela forma que passei a ser tratada o resto da noite. Não tive força para contradizê-lo. Não conseguia lutar com a minha insegurança sentindo tanta dor. Eu precisava daquele médico. Mas ele não precisava de mim na véspera de natal, com “a casa cheia”. O choro e o rosto do meu filho que “nascia” as 21:00 horas foi o lenço para lágrimas que não sei se um dia deixarão de cair dos meus olhos.

Sou mãe do Vitor, que me ensinou que ser mãe é amadurecer. Sou mãe do Alef, que me ensinou que ser mãe é dedicar. Sou mãe do Henrico, que me ensinou que ser mãe é lutar.

Tenho pena dos homens. Nunca saberão a delícia de gerar e parir. Pelo menos uma destas eu senti, e a outra eu sonho quando durmo, como se tivesse sido a minha realidade.

E mesmo assim, aqueles pobres homens que me tomaram um sonho, nunca chegarão perto de entender o que é ser mulher, mãe. Nunca entenderão a grandeza de ser igual àquela que os deu a oportunidade de existir. Podiam fazer parte de um espetáculo pelo menos como coadjuvante e teriam a honra de participar do milagre da vida.








































Todas as fotos foram tiradas por Elis Freitas, fotógrafa, mãe e fundadora do primeiro grupo de apoio a gestantes de Rondônia, o Grupo Buriti, em Porto Velho, juntamente com Paula Camargo Gerhardt, psicóloga e mãe e que hoje é parceira no grupo de apoio a gestantes Bello Parto, também em Porto Velho.



*Em tempo (19/07): Um leitor chamou a atenção para o uso da palavra 'estória' ao invés de 'história' e apresentou-me uma pesquisa. De fato, a palavra tem uma polêmica e foi criada para ter uma conotação de 'criada', 'inventada', 'sugerida', uma obra de ficção. Já a história é uma narrativa que faz parte dos fatos ocorridos na vida, uma obra não ficcional. Então, que se mude o título do post, já que de fictícia a história da Clara não tem nada! Valeu!

12 de julho de 2013

As delícias - e os micos - de uma mãe garupeira em sua primeira viagem de moto... (com dicas pra não ficar muito chato)

tá estressado? #deitanabr

por Cariny Cielo

Este texto dá início a uma nova faceta do blog! Não que seja a primeira vez que eu falo de moto, não é!! Estreia da série: Porque-Mãe-Também-Pode.

A ideia agora é a de associar este espaço a divulgar aventuras que muitos podem achar incompatíveis com a maternidade! Estou aqui para mostrar os bastidores de um casal com filhos pequenos e que amam viajar de moto! A partir de agora, nossas aventuras no mototurismo e as minhas pirações como mãe-mulher-garupa apaixonada, estarão aqui também, afinal de contas, o blog é sobre a vida com três meninos e em-cima-de-duas-rodas!

Isso porque, pensem comigo: eu engravidei 3 vezes, eu pari em casa sozinha com o marido, eu enchi a casa de menininhos e... agora, eu, gradativamente, vou conseguindo me dedicar a uma paixão, a um vício: o tal vício de viajar de moto, compartilhado com outro dependente e estamos sem previsão de cura!!!

Até 2005 eu nunca tinha sentando numa moto, nem pra pilotar, nem como garupa. Muita gente não acredita já que hoje sou tão aficionada por moto que se saio de carro, não acho que é passeio, é só meio de transporte!

Confesso que minha paixão estava latente e foi apenas aflorada. Não tive grandes problemas em me adaptar a viajar de moto, ao contrário, inclusive comecei a achar muito mais divertido.

Muitas coisas mudam quando se viaja de moto e eu fui apanhando aprendendo com tentativa e erro.

Bagagem: Uma hora você vai me perguntar sobre a bagagem, não é?! Comecei nem contar o começo! Como alguém que vai viajar de moto tem que arrumar mala? Ou melhor, como nós mulheres, naturalmente agregadoras de coisas, conseguimos viajar de moto? É só desapegar! Aliás, dica que serve pra tudo na vida, né não? Esquece os sapatos, esquece aquela porção de bijoux, desiste de ter opção para escolher a roupa do dia e vá com o mínimo. Eu já mentalizo o que vou vestir em cada dia e esqueço boa parte dos acessórios.

Brincos: no capacete só ficam confortáveis aqueles que não tem tarrachinha, então, geralmente é uma argolinha charmosa e pronto!

Anel: incomoda no tira-e-põe da luva! Talvez vc pode levar uns favoritos pra sair... mas não use durante a viagem. Colares, pulseiras e afins: a mesma regra do anel.

Cabelo: É uma luta. Mas, eu venci, aderindo à trança. Só prender num rabo de cavalo pode fazê-lo escapar pra fora da jaqueta no vento e aí, nunca mais seus cabelos verão um pente! Soltos só dá certo naqueles editorais pra vender moto... na prática vc vai ficar parecendo uma doida varrida! Então, uma trança solta pra quem tem cabelos lisos, e mais firme pra quem tem cachos, e você conseguirá chegar apresentável no fim do dia. (Ou não! Andar de moto é abdicar de vários conceitos de beleza! E vale a pena! Hahaha).

Maquiagem: confesso que não sou muito boa em recomendações sobre maquiagem, pois sou linda naturalmente, mentira, morro de preguiça de me maquiar. Viajando de moto, então... é trágico. Para as expert e que sabem até o que é primer, eu recomendo: esquece tudo na hora de viajar. A balaclava (vou já falar dela!) vai ficar colada no seu rosto, deixando só os olhos à mostra, o capacete vai entrar te espremendo as bochechas, o tira-e-põe em cada parada, então... nem o batom resiste!

Mas acho que pras que querem fazer bonito, dá de manter os olhos pintados com rímel e delineador. Acho tá, gente?! Nunca tentei... nem quero... dá um medo de escorrer, borrar, manchar, sei lá e eu ficar parecendo um panda no meio da estrada!

Balaclava: não, não é frescura! Balaclava é tua melhor amiga! É aquela máscara que os bandidos usam pra assaltar bancos, mas nós vamos usar pra manter os cabelos nos lugar e dar mais conforto ao uso do capacete. Difícil algo mais irritante do que fiozinhos de cabelo voando pelo seu rosto, pegando olhos, nariz, no meio da estrada! Tem que para a moto e ajeitar. É desesperador! Ela ainda protege o pescoço do vento, do frio... E existem as balaclavas com proteção térmica que é legal usar nas viagens para regiões frias (que eu ainda não fiz).

Calçados: É, querida amiga garupa que me lê, você vai chorar quando se der conta de quantos calçados vão caber na sua mala de viagem de moto! Geralmente eu levo a bota de viajar, um sapato básico daqueles que vão combinar com todos os trajes do mundo (isso existe?!) e um chinelinho ou sandália. Pois é... é bem assim: de vestido, de short, de calça jeans, de macacão, de mini saia, de legging, de seja-lá-o-que-for, vc vai ter que usar o mesmo sapatinho multi-uso. No meu caso já foi um modelo boneca, de couro bem molinho confortável na cor caramelo, hoje é um tênis de passeio bege.

Luvas: Eu tenho de couro e de malha. Já andei sem e aconteceram duas coisas que me fizeram nunca mais andar sem: 1. Um inseto me picou em pleno 'vôo'; e 2. Uma pedrinha bateu na minha mão e machucou. Mas pra tirar fotos, tem que ficar sem luva, então eu costumo ficar com uma mão livre pra fazer meus flashs (já que eu me acho ‘a fotógrafa’ e depois escondo ela entre o piloto e eu.

Mochilas, baús etc: O baú traseiro ou um sissybar são parceiros excelentes de viagem para as garupas já que podemos nos apoiar. Mais um ponto pras jaquetas próprias, pois elas têm proteção nas costas e impedem que você se machuque ao escorar no baú. Há quem viaja carregando uma mochila, neste caso, aconselho a não sustentar a mochila nos ombros e sim apoiá-la na moto.

E vamos aos micos! Vou começar a série de post sobre viagens de moto+maternidade registrando a minha primeira viagem longa de moto. Sim porque quem é de Rondônia, só acha uma viagem de moto longa a partir dos 1.000 quilômetros.

O primeiro grande erro de toda garupa que vai fazer viagem longa de moto é achar que aquela jaquetinha jeans que está no armário vai servir pra viajar... não vai! Mas, quase sempre a gente só aprende essa sofrendo e demora pra colocar a mão no bolso - ou no cartão em 12 vezes!!! - e comprar roupas adequadas que, de fato, são muito caras! Não pague esse mico e compre antes suas roupas e calçado próprios se for viajar longe...

Capacete, então, é um item à parte que merece um texto próprio. Já sofri toda sorte de dor com capacetes grandes demais, pequenos de mais, pesados demais...

Minha primeira viagem longa de moto foi de Cacoal, interior de Rondônia à Chapada dos Guimarães e Nobres, no Mato Grosso para o 6º Encontro Regional Centro Oeste do Clube XT600. Em 2010 tínhamos dois filhos e eles ficaram em casa com a avó – afinal, pra que servem avós?. O caçula ainda mamava; sim, porque como boa mamífera, meus filhotes mamam prolongadamente e desmamam sozinhos... mas, nem por isso eu deixo de viajar, há que se montar uma estratégia e tanto, é verdade, mas dá certo! Estocar leite materno é uma delas!

Fomos numa Yamaha XT 660, azul, que era xodó lá em casa e que considero a melhor moto de custo-benefício para viagens que envolvam trechos off road.

E eu fui daquele jeito, com uma humilde jaquetinha e calça de malha (!), com uma bota que se prestou ao serviço, mas chegou pronta para o enterro, nunca mais usei! Moto estraga os solados dos calçados e dependendo da posição da garupa pode até arranhar a carenagem da moto! Descobrimos isso quando meu marido olhou com aquele olhar clínico pra lateral da moto cheio de tristeza e pesar... e viu que minha bota, com a sujeira da estrada, veio, digamos assim, se esfregando e arranhou tudo.

Saímos 04:30 da madrugada e eu empolgadíssima perdi toda a empolgação de tanto frio que passei. Quem imaginaria passar frio viajando de Rondônia pro Mato Grosso??? Lembram da jaquetinha, né? Pois então, jaquetinha simples não protege do frio e, acrescentando, não protege de pedrinhas, não protege nem de picada de insetos!

Saímos da BR 364 pra pegar a Rodovia MT 235 e ir até o Rio Papagaio via Sapezal e, na passagem, conhecer o Balneário do Pubi. O município de Sapezal possui hoje uma área de 13.696 km2, sendo 4.934 Km2 de área indígena e, pra chegar ao Balneário tem que pagar pedágio aos indígenas, donos da região.

O Balneário é lindo, o rio é uma delícia, dá de fazer rafting e mergulho. Gostamos tanto que, dois meses depois, fomos lá com uma turma de motociclistas, comemorar nosso aniversário de casamento.

Chegamos em Cuiabá às 19:00 horas. E, fazendo as contas, foram 15 horas de viagem... Cansou? Sim, é bem cansativo, mas viajar de moto é tão excitante que os amantes de moto vão me entender quando digo que é um cansaço delicioso! Ainda chegamos animados para sair à noite e passear pelo centro da cidade...

A propósito, recomendo quando chegar de uma viagem de moto ir direito pra passear na cidade já que se você chegar num hotel, ligar o ar-condicionado e tirar a roupa ... não sai mais! Se a viagem é curta, então, tem que aproveitar...

Na manhã seguinte partimos pra Chapada dos Guimarães que é um ótimo lugar do Brasil pra conhecer e onde foi o encontro propriamente dito. Como passeio, tivemos, no dia seguinte, uma ida até a cidade de Nobres, para conhecer a Vila Bom Jardim, indo pela Usina do Lago do Manso.

Até chegar à Pousada Bom Jardim, é preciso fazer uns 50 km em estrada de chão e quem gosta de off Road é pura diversão; foi onde agreguei poeira e lama ao modelito! Fizemos um mergulho super bacana, chamado ‘de flutuação’.

A volta é sempre mais ligeira e como já passamos por algumas experiências na ida, incrementei mais minha roupa pra não passar tanto frio na madrugada. Chegando em casa lá estavam dois pimpolhos nos esperando... um deles aguardando o mamá! A gente costumar tirar fotos de coisas que eles achariam legal, filmar bastante e depois fazer uma reuniãozinha familiar só pra mostrar!!!

O caçula, à época, tinha 1 ano e 9 meses, ficou 3 dias longe de mim e, quando cheguei, foi "mamá à primeira vista"... a amamentação seguiu até depois dos dois anos, como eu já contei aqui.


O Rio Papaguaio/MT não é lindo?


Corredeiras do Rio Papagaio/MT


Reunião de motos na Chapada dos Guimarães/MT


Alojamento na Chapada dos Guimarães/MT


Mirante da Chapada dos Guimarães/MT


Galera do Encontro! 


E não é que tinha um casal com dois filhos da mesma idade que os nossos? 
Nesse mundo tem doido pra tudo!

Tirar foto no meio da estrada. #quemnunca


Essa sou eu, ou melhor, essa é a balaclava! Indo pra Vila Bom Jardim/MT


50 km de chão para chegar à Pousada Bom Jardim/MT


Mergulho de flutuação em Nobres/MT


No meio da ponte tinha uma garupa empoeirada...


Com tanto cansaço, poeira e calor... será que eu me jogo? 


Pé de Caju que nos recepciona chegando na Chapada dos Guimarães/MT



Eu ainda não disse, mas tenho obsessão por fotografar árvores...

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