25 de abril de 2014

Relato de parto da Sandra: parto natural hospitalar em Ji-Paraná



Há cerca de 5 anos atrás, não havia um relato de parto sequer que fosse de experiência em Rondônia. Aos poucos isto vem mudando e hoje, se você fizer uma pesquisa 'parto' 'rondônia' 'relato' no google, vai se surpreender com o resultado.

Os posts de relatos estão entre os mais vistos aqui e é impressionante como que experiências positivas motivam, ligam, vinculam pessoas. Eu fui uma das beneficiadas com leituras de vivências de mulheres anônimas pelo Brasil e, hoje, recebo com alegria um relato de parto do coração de Rondônia, de Ji-Paraná.



Meu nome é Sandra Andrade Tissei, tive meu primeiro filho de Parto Normal no hospital municipal daqui de Ji-Paraná. Não foi uma experiência muito "boa" de ser lembrada, porém, agora, na minha segunda gravidez, decidi que seria diferente e que me ajudaria a ter um parto rápido e sem muita intervenção. Busquei informações com doulas, conversei com médicas, li muito e me empoderei, e aqui está meu relato: 

E eis que eu pari!
Dia 15/04/2014 (No dia EXATO da DPP)
Acordei as 7:21 com cólicas beeeeeem de leve..
Fiquei quieta, fiz o que tinha que fazer, dormi mais um pouco, quando acordei de novo 09:30 fui ao banheiro fazer xixi e saiu o tampão, corri aqui no face e perguntei pra uma amiga (enfermeira obstétrica) se já podia estar entrando em TP, ela me explicou tudo e eu fiquei mais tranquila, então fui com o marido no supermercado pra comprar o resto das coisas do bebê que estavam faltando, fomos, deixamos o carro no estacionamento do mercado e caminhamos um pouco mais até algumas lojas de perto...

Almocei normal, passei a tarde despreocupada, sem grilo, sem pensar que poderia ser o bebê querendo nascer, mesmo estando completando 40 semanas. Pois bem, quando foi a noite resolvi ir pra casa da minha mãe, mas já levei tudo pra lá (bola suíça, minha mala, mala do bebê).

Conversando com a minha mãe, fui me exercitando (sem compromisso, rsrsrs) percebi que começaram algumas contrações ainda bem leves, não quis cronometrar pra num ficar ansiosa, até porque ainda não estava acreditando que podia ser TP.

Olhei no relógio pela primeira vez, 22:38 e as dores estavam consideravelmente fortes. Decidi então tomar banho, fiquei uns 30 minutos em baixo d'água quente, e aí evoluiu, e como evoluiu! Quando saí do banheiro minha mãe desesperada: "Filha, porque você não vai no hospital pra ver a quantas anda essas dores?".

Percebi que aquela era a hora de ir mesmo, as contrações já estavam muito intensas e entre uma e outra não demorava 4, 5 minutos, e duravam uns 20, 25 segundos... Soprava e me concentrava em cada uma e como li aqui uma vez, pensava: "MENOS UMA!". A cada pensamento infame de correr pro hospital e pedir analgesia pra parar aquela dor, eu pensava: "Mas se eu já consegui uma vez, porque não vou conseguir outra?".

Minha mãe ligou pro meu marido que veio com a minha cunhada, que seria minha acompanhante no parto, e eles chegaram rápido. Eu já não queria conversar, nem tinha paciência pra brincadeiras, só queria que parasse a dor... Minha cunhada perguntava o que ela podia fazer pra ajudar, e eu só conseguia responder: "NADA!".

Meu filho mais velho (1 ano e 5 meses) ficou com a minha mãe e fomos pro hospital com a mudança toda. Chegamos lá 00:19, vi que era o mesmo médico que fez o parto do meu primeiro (cheio de intervenções, porém, queria muito que fosse com ele de novo, por ele respeitar a vontade da paciente). Fiquei muito mais tranquila, enquanto esperávamos ele vir, conversamos, tiramos fotos e até então meu marido junto. 

O médico veio, fez o toque, e disse: "Dilatação quase completa!"
Minha reação: "JÁÁÁÁÁÁÁÁ?".

Nem eu acreditava que tava sendo tão rápido, e fui caminhando até o pré-parto, onde já não liberaram a entrada nem do marido e nem da cunhada. Eu estava preparada pra brigar, tinha argumento, mas na hora preferi não "criar caso", queria que aquele momento fosse único e não estava nem um pouco afim de sujar a boa lembrança com um episódio desagradável. Enfim.

Fui pra sala de pré parto, meio que deitei de bruços na cama e menos uma, menos duas... comecei a sentir contrações expulsivas. Pedi pra chamarem o médico, senão não ia dar tempo. Enquanto isso, uma senhora que cuida da limpeza me disse pra agachar que melhorava a dor (pra mim piorou!) mas tornou o expulsivo mais rápido. Na terceira agachada senti a cabeça e já achei q ia sair, pus a mão pra ele não cair no chão! kkkkkkkk
O médico chegou e me mandou ir pra sala de parto, falei q não aguentava e que não dava mais tempo, aí ele: "Deita essa menina aí e vai ter que ser aqui mesmo". As enfermeiras me levantaram, me deitaram e na terceira força meu Luís nasceu às 00:50! Sem episiotomia, sem ocitocina sintética, sem intervenção... Pari meu príncipe, naturalmente, pesando 3.835 kg e 53 cm! Tive laceração leve, precisei de sutura, mas sei que meu filho veio ao mundo da forma mais natural possível. Logo vestiram ele e ele voltou pra mim. Ficamos, então, grudadinhos..



23 de abril de 2014

A cesárea protege o meu períneo?


por Cariny Cielo

Dentre os argumentos para se optar por uma cirurgia ao invés de um parto natural, é a ideia de que a cesárea protege o períneo e evita problemas futuros com incontinência urinária, perda de tônus na musculatura vaginal e consequente diminuição no prazer feminino - e do masculino, enfim...

Conheço mulheres que não entraram em trabalho de parto, tiveram bebês por meio de cirurgia e, ainda assim, no alto de seus 50-60 anos tiveram que se submeter a cirurgias de períneo, assim como mulheres que tiveram vários filhos de parto normal e não relatam sequer perda de tônus, mesmo com a idade avançada.

Também li que, em 2001, no Congresso da Sociedade Internacional de Incontinência, em Paris, a Dra. Linda Cardoso apresentou um trabalho, mostrando claramente que a gravidez, assim como a paridade e a multiparidade, aumentam a incidência de incontinência urinária nas mulheres. No entanto, não ficou definido se o parto normal provoca mais incontinência do que a cesariana.

Nós mulheres estamos mais predispostas a ter problemas com períneo do que os homens por questões anatômicas, assim como as que gestam ficam mais propensas do que as que nunca tiveram filhos, já que na gestação, não só o aumento do volume abdominal, mas também a presença da cabeça do bebê insinuada na pelve podem causar danos na musculatura do esfíncter feminino.

A enfermeira obstétrica Maíra Libertad alerta para o fato de que as pesquisas de qualidade mostram benefícios da maioria das técnicas de preparo ou proteção perineal para prevenção de laceração de 3º e 4º grau - envolvendo o esfíncter anal ou reto - que são as mais raras, algo em torno de 0,5 a 2,5%, dependendo do estudo. Assim como a episiotomia (o famoso 'pique') não é mais recomendável em nenhuma situação, pois não comprovou proteger, nem mesmo mitigar lacerações. A imensa maioria de lacerações são de graus 1 e 2, e menores que a invasão de uma episiotomia na vagina.

E que fique sempre bem claro que muitas lacerações são decorrentes de más condutas durante o parto como: orientar a gestante para fazer 'força comprida', manobra de empurrar a barriga (banida em vários países), posições horizontais para parir, excesso de toques e 'massagem' perineal, episiotomia prévia... entre outros.

Uma coisa é certa: a região do assoalho pélvico precisa de atenção assim como toda e qualquer musculatura. E não deveria receber cuidados apenas na gestação, embora a mulher gestante costume gostar de pensar, cuidar e preparar o períneo.

A proposta aqui é investigar mitos (assim como fizemos na pergunta ‘A cesárea protege meu bebe de uma paralisia cerebral?'), novamente, chamo especialistas para responder a seguinte questão: A cesárea protege meu períneo?

Quem responde é a Camila Patriota, fisioterapeuta especializada em Saúde da Mulher.




Antes de responder diretamente a pergunta, se faz necessário compreender alguns conceitos.

Ao pensar em gravidez é importante que a mulher tenha um conhecimento do próprio corpo e das estruturas que estão envolvidas e que sofrerão as transformações ao passo que o bebê se desenvolve.

Os órgãos pélvicos, útero e seus anexos (tubas uterinas e ovários) bem como a bexiga estão localizados na região pélvica, parte compreendida entre o tronco e os membros inferiores. Esta área do corpo atua em importantes funções, como a proteção destes órgãos, sua articulação com os membros inferiores possibilita a locomoção do indivíduo e ainda serve como ponto de fixação de alguns músculos, dentre eles os músculos que formam o assoalho pélvico. Sendo assim a função muscular baseia-se na sustentação destes órgãos pélvicos, atuando também, nas funções de continência urinária, continência fecal e funções sexuais. Ou seja a partir do momento que este grupo muscular evolui com uma diminuição da força é possível que ocorra as incontinências urinária e fecal, o desabamento dos órgãos pélvicos (prolapsos) e até mesmo algumas disfunções sexuais.

E o que seria o períneo? Ao contrário do que muitos pensam ou deduzem, o períneo não é um órgão. Trata-se de uma região anatômica compreendida entre a vagina e o ânus. Internamente, é neste local que é possível detectar o centro tendíneo do períneo, região onde os músculos que recobrem a pelve inferiormente (assoalho pélvico) se encontram, formando um centro de estabilização desta região.


O que se percebe é que existem muitos mitos e tabus que cercam a área pélvica, principalmente a região do períneo, assim como os mitos dos tipos de parto: cesárea ou normal.

Durante a gravidez, ao tempo que o útero se expande junto com o bebê, os músculos do assoalho pélvico ficam sobrecarregados. Desta forma é esperado que a gestante relate pequenos escapes de urina aos esforços (tosse, espirro ou mudanças de postura) e que tema a laceração durante o trabalho de parto, temendo ficar com a vagina “flácida”.

O que deve ser esclarecido é que na verdade estas condições podem ser evitadas com exercícios simples de treino muscular focado no assoalho pélvico, conhecidos como exercícios de kegel. O treino muscular proporciona o aumento da força, melhora da resistência e da consciência corporal quanto ao recrutamento adequado da musculatura, facilitando o entendimento da gestante em saber acionar os músculos para exercer uma contração ou um relaxamento. É indispensável que a escolha pelo parto normal ou pela cesariana seja provida destes cuidados e orientações.

Em caso de parto, durante o período expulsivo, tais músculos sofrerão uma distensão máxima para facilitar a passagem do bebê. Caso não tenham sido preparados através de um programa adequado de treinamento (e caso as condições deste parto sejam negativas em relação à proteção perineal), poderão evoluir para o rompimento parcial de suas fibras, causando a laceração. Tal condição pode ser um dos fatores que irá contribuir para futuros prolapsos de órgãos pélvicos, conhecidos popularmente como “queda da bexiga ou bexiga caída”, queda do útero ou retocele (desabamento do reto). A escolha pela cesárea protegerá a mulher da laceração, mas não irá evitar a condição do prolapso, se a musculatura estiver enfraquecida, seja pela ausência de exercícios ou até mesmo pelo número de gestações.

Muitos são os fatores que podem interferir na integridade da região perineal. São eles: número de gestações, parto, traumas cirúrgicos, atividade física e alteração hormonal. Independente da escolha da via de nascimento, exercícios físicos focados em condicionar os músculos do assoalho pélvico são essenciais para a manutenção da integridade desta região e de suas funções.

E importante: A gestante que evolui com um parto natural ou cesárea deve dar continuidade ao programa de exercícios na fase pós parto, voltando a manter o condicionamento dos músculos da região pélvica e de outras regiões do corpo, afim de retomar a forma física de maneira saudável e adequada, respeitando sua individualidade.




Camila Patriota Ferreira é graduada em fisioterapia (2008) pela Faculdade São Lucas/ PVH. Tem especialização em fisioterapia em saúde da mulher (2009) pela Universidade Estadual de Campinas Unicamp SP e é docente da faculdade Interamericana de Porto Velho/Uniron PVH (desde 2012)



Imagem do texto Oficina de Períneo 
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