26 de setembro de 2012

Maternidade Ativa: A bicicleta de menino...


por Cariny Cielo

Eu não poderia deixar para escrever sobre o que me ocorreu hoje e perder essa minha versão 'saguenozóios' que tô aqui...

Vou começar dizendo que é tudo culpa de uma bicicleta! Sim, meu filho mais velho pede uma bicicleta nova desde abril. A dele, aro 12, já ficou pequena e rendeu deliciosos 3 anos!

Fui numa cidade vizinha onde montam bicicletas de todo jeito, ao gosto do freguês. Logo na entrada vejo várias infantis e de vários tamanhos.

Segundo o macho alfa especialista em bikes daqui de casa, a bicicleta adequada ao rebento é uma aro 16 e então fomos atrás de modelos deste tamanho.

O filhote queria uma com cesto na frente e garupa, igual a do filho de uma amiga minha que foi comprada no Paraguai, azul e branca, com desenhos de bombeiro.

Eu sabia que não acharia igual, mas queria encontrar uma com garupinha (para, quiçá, carregar os irmãos) e com cesto (para, quiçá, ajudar a manter alguns brinquedinhos reunidos).

Não achei nem um, nem outro! Ou melhor, achei! Todas nas cores rosa ou lilás... e o resumo do post de hoje é:

NÃO EXISTE BICICLETA 'DE MENINO' COM CESTO E GARUPA!!!!'

Exatamente! Meninos não devem carregar coisas ou pessoas... afinal, homens devem ser gregários, no melhor estilo 'sem lenço e sem documento'! Mulheres sim, devem carregar coisas e pessoas. Homens, não, de jeito nenhum!

Fiquei horrorizada com essa chatisse do mundo dividido em duas partes, a rosa e a azul. A agressiva e arrojada e a delicada e sensível! Não tem meio termo!

Não tem bicicleta azul com cesto para um menino que simplesmente gosta ou quer carregar coisas ou bicicleta rosa estilo 'montainbike' para uma garota que goste de velocidade.

Se for menina, tem que adorar rosa ou liás, carregar coisinhas e andar flutuando por aí. Se for menino, tem que querer azul ou preta e sair dando rabeada com o pneu traseiro...


Seu filho deverá escolher um lado e 'ser encaixado' nele! Digo 'ser encaixado' porque embora haja, sem dúvida, alguns padrões de comportamentos femininos e masculinos, tenho observado que muito vem das sugestões que recebemos e não da essência do indivíduo.
Outra coisa que percebo é que isso é recente! Ninguém vê fotos antigas dos nossos pais, na infância, com utensílios tão milimetricamente divididos entre o mundo encantando do rosa ou o mundo agressivo do azul.
Até a moda está assim agora. Com grifes exclusivas para meninos e outras para meninas. Mochila para meninas e para meninos. Fantasia para meninas e para meninos. Copo de plástico para menina e para meninos. Lembrancinha nos aniversários para meninos e para meninas. Comida (sim, tem salgadinho para os dois sexos, quando eu achar, fotografo e posto aqui!) para meninos e para meninas. Aff... que chato! Se você não é rosa, tem que ser azul!

Estou eu aqui com um menino que quer uma bicicleta com cesto, só isso, e... não tem! O espanto do vendedor me fez compreender que meu pedido era praticamente absurdo. Aliás, vendo um catálogo eu achei uma modelo masculino e com cesto, o que ele me disse? "Ah, quando a gente monta, a gente tira o cesto porque é bicicleta masculina". Ó CÉUS...

Aí todo mundo na oficina e na loja começou a rir do me pedido... nesta altura até o macho alfa resolveu virar machão e soltar um "ah, eu se fosse menino tirava o cesto também". Ferrou pro meu lado... e pro lado do meu menino que queria tanto uma bicicleta para carregar coisas ou pessoas!

Aí me veio a fúria que tenho guardada (tão bom soltar aqui!) sempre que passo pela seção de brinquedos do supermercado e vejo pias, tábua de passar ferro, geladeira, fogão, todos rosa... com ilustração de meninas... definitivamente, o grosso da indústria de brinquedos não evoluiu! E de bicicletas também!

Eu não quero ter que dizer pro meu menino que só bicicletas de menina têm cestos e garupa! Ou que ele tem que escolher com o quê brincar baseando-se no fato de ser menino...

Que saudade do tempo em que minha Barbie ficava presa no Quartel General dos Comandos em Ação do meu irmão. De quando eu vestia ele de mulher e o fazia desfilar comigo. De quando eu fui fantasiada de Charles Chaplin em um evento da escola... E da minha bicicleta, de menino e com garupa...



Imagens: Google e Veja São Paulo

19 de setembro de 2012

Diário de Grávida: Dias 15...19 de setembro de 2011...


Há mais de dez anos atrás, eu participei do Encontro de Yoga da AYRON (Associação de Yoga de Rondônia) e fiquei responsável por aplicar a sessão de relaxamento com todos os participantes!

Sempre fui apaixonada por rock e, na época, quis fugir do comum e escolhi uma música do Beatles chamada Across The Universe. O refrão diz "nada vai mudar o meu mundo...".

Tá, mas o que isso tem a ver com minha retrospectiva?
Certo, vamos lá! (vai ficar bom, acredite!)

Dia 15 de setembro, há um ano, eu tive um dia difícil. Náuseas, desconforto, falta de ar, irritação, dor... fui pra casa tentar relaxar e cheguei a pensar "se for a hora, então, pelo jeito, o negócio vai ser pedreira", porque realmente estava doendo muito minhas costas, minha virilha, minhas coxas, minha cabeça... doía tudo...

Liguei um canal de músicas na TV e, que música surge?

Esta música, década depois, ouvida novamente num momento muito, muito especial... um reencontro. Além de delícia de ouvir por acaso uma música que a gente gosta muito e muito significativa (quem já passou por isso entende!), a letra parecia ter sido escrita, com carinho, para mim, para este momento único que estava se ajeitando...

Nada vai mudar meu mundo!

Sim, e o meu mundo, meu cenário, meu corpo, meu parto estavam todinhos desenhados... e foi aí que eu me convenci...

Ouvir essa música nas vésperas do parto foi a cereja do meu bolo!

Na manhã do dia seguinte, eu escrevi assim:

"As águas amanheceram calmas após o temporal de ontem, mas um tsunami se prepara, com esmero, nas profundezas do meu corpo e alma".

E saí escrevendo:

"Estamos aqui completando 39 semanas de amor e fé na Vida"

"Filho, eu confio em você! Eu confio em mim! Eu confio em seu pai! Eu confio em Deus! Nossa fé é absoluta... sei o que o melhor está por vir"

"Venha com vontade de me ver, não tenha medo"

"Quando a mente se cala, o corpo assume o comando"

"Quando uma pessoa vive de verdade, todos os outros também vivem"

"A medida que permitimos que nossa própria luz brilhe, inconscientemente nós damos aos outros permissão para fazer o mesmo. A medida que somos libertados do nosso próprio medo, nossa presença automaticamente liberta os outros."

Definitivamente, eu era uma mulher focada!!!


Eu sonhei com o Ric Jones (vc tem que saber quem ele é! Autor de "Memórias do Homem de Vidro" e "Entre as orelhas: hitórias de parto" que podem ser comprados aqui).

Eu tomei banho de rio, comi bolinho de chuva feitos com carinho pela minha sogra, chorei de emoção ao ler a Carta da Nona Lua, procurei qualquer nozinho dentro de mim que pudesse me prejudicar... eu queria liberdade!!! 


Acordei no dia 20 pensando: vou chamá-las mas não esperá-las. Ou seja, eu iria chamar a assistência de Porto Velho, capital, mas sentia que não poderia ficar à espera delas! À noite, tive muitas contrações... eu sabia que seria no dia da árvore... como eu sabia tão bem? Nem eu sei... até hoje, tem vezes que eu me assusto com tanta conexão.

Ah, eu não esqueci da música não! Aí vai... (e diz se não dá de relaxar e se entregar!!!)



Através do Universo
Palavras flutuam como uma chuva sem fim dentro de um copo de papel
Elas se mexem selvagemente enquanto deslizando através do universo.
Piscinas de mágoas, ondas de alegrias estão passando por minha mente
Me possuindo e acariciando

Glória ao mestre

Nada vai mudar meu mundo
Nada vai mudar meu mundo
Nada vai mudar meu mundo
Nada vai mudar meu mundo

Imagens de luzes quebradas que dançam na minha frente como milhões de olhos
Eles me chamam para ir através do universo.
Pensamentos se movem como um vento incansável dentro de uma caixa de correio
Elas tropeçam cegamente enquanto fazem seu caminho pelo universo

Glória ao mestre

Nada vai mudar meu mundo
Nada vai mudar meu mundo
Nada vai mudar meu mundo
Nada vai mudar meu mundo

Sons de risos, sombras de amor estão tocando meus ouvidos abertos
Incitando e me convidando.
Ilimitado amor eterno, que brilha em minha volta como milhões de sóis,
E me chamam para ir pelo universo

Glória ao mestre

Nada vai mudar meu mundo
Nada vai mudar meu mundo
Nada vai mudar meu mundo
Nada vai mudar meu mundo

Glória ao mestre

Glória ao mestre

13 de setembro de 2012

Diário de Grávida: Dias 10... 14 de setembro de 2011...

Há um ano eu completava as 38 semanas! Para os GOs anti-éticos, é o dia perfeito para marcar a cirurgia...

Eles dizem "seu bebê já está maduro", mas meu raciocínio - que eu nada modestamente acho bem coerente - diz: se ele estiver pronto mesmo, vai avisar, obrigada!

Grávidas que me leem, é simples: se o bebê está pronto ele não vai ficar perdendo tempo dentro da barriga, nem se enforcando no cordão, nem envelhecendo sua placenta, nem nada... ele nasce! Simples, mas imensamente mal compreendido.
Só não entra em trabalho de parto, a mulher que é operada antes. Simples assim mesmo, insisto!
Como aqui eu posso falar, vou tentar te convencer de que escolher o dia do teu filho nascer não é bom para ele, nem pra ti! "Quem ela pensa que é?", você vai dizer daí e eu me defendo dizendo que vou usar a lista da Médica Obstetra Doutora (com doutorado) Melania Amorim!

Melhorou, né?

Um nascimento programado por cesariana eletiva (ou seja, antes de entrar em trabalho de parto) pode acarretar problemas de saúde no bebê, por exemplo (o rol não é se esgota, tá?):

1. Maior frequência de problemas respiratórios, de admissão em UTI neonatal e pequeno, porém significativo aumento, do risco relativo de morte neonatal;

2. Maiores dificuldades para estabelecer amamentação;

3. Maior chance de afastamento mãe-bebê e todas as sequelas decorrentes;

4. Nascimento prematuro por erro de datação de idade gestacional ou simplesmente, por retirar antes da hora um bebê que, mesmo a termo, não estava biologicamente programado para nascer;

5. Aumento do nascimento de recém-nascidos "termo precoce", entre 37 e 38 semanas, com maior morbidade em relação aos recém-nascidos com 39 e 40 semanas;

6. Aumento do risco de alergias, atopias, no futuro;

7. Aumento do risco de obesidade na infância e idade adulta;

Isso tudo falando somente do ponto de vista do bebê, ainda têm as complicações maternas.
Dia 12, há um ano, eu tive consulta pré-natal! Minha cara de paisagem nas consultas era comédia pura! Lembro do médico perguntar:
Alguma dor, alguma queixa, sangramento, pressão irregular???
E eu: nada..

Meu marido brincava dizendo que provavelmente os médicos detestavam me atender pois eu os fazia se sentir impotentes! ha ha ha

Discuti com 3 médicos sobre a questão da episiotomia, o 'pique'. Mesmo eu dizendo que não queria, todos diziam que só iriam poder decidir isso na hora. O que em bom português significa "se eu quiser, eu vou fazer sim".
Ao que parece, o índice de episiotomia em Rondônia gira em torno de algo como 110%, tem mais 'pique' do que vagina por aqui...


Dia de consulta, pra mim, era um dia triste de constatar que eu caminhava para um tratamento frio e distante e que meu bebê sofreria todas as intervenções horrorosas que já são desaconselhadas pela OMS... como a questão do corte abrupto do cordão umbilical, que eu já falei aqui.

Acabo de constatar que se eu fiz o diário para mostrar pros filhos quando estiverem maiores, eu já comecei com o pé esquerdo! Não sei que meleca que deu na caneta que usei... borrou tudo, pra todo lado...enfim, mas grávida tem que ter diário...


Teve Conferência de Políticas Públicas para Mulher aqui em Cacoal ano passado. Eu fui representando a Rede Parto do Princípio. Consegui a palavra, falei do não cumprimento da Lei do Acompanhante, das episiotomias de rotina, do excesso de cesáreas, do não apoio à amamentação... parecia outro idioma! Ponto negativo pra Rondônia... snif snif snif
Eu leio este singelo diário e, ao que parece, vejo que eu não conseguia me permitir dizer "quero parir sozinhaaaaa".
Sim, vejo em mim uma eterna ambivalência entre me submeter ao que os hospitais podiam me oferecer e ao desejo profundo da minha alma de ficar em casa e receber meu filho assim, com naturalidade.

Eu chamei pela força, eu chamei pela Deusa do Parto, Ártemis, e ela foi devagarzinho invadindo meu ser e me formando como mulher. Quando penso, hoje, em como eu estava focada, direcionada, segura, tranquila, até assusta... de fato, eu estava assustadoramente calma e serena.

Lia os livros 'Empoderando as Mulheres' e 'Origens Mágicas' e tudo aqui me dava ainda mais certeza do meu feminino...

Há um ano eu estava prestes a viver a maior aventura da minha vida...
Alguém duvida?

11 de setembro de 2012

Amamentação: Só uma música doida daquelas que as mães cantam pros filhos...


Com o aval do Luan Santana para esta licença poética materna (mentira, ele nem sabe!), aí vai uma paródia-canção sobre filho, pós-parto, hormônios, aleitamento materno, attachment parenting (criação com vínculo), e outras coisinhas relativas ao amor.

Só uma música doida daquelas que as mães cantam pros filhos... aumenta o som!
Ocitocina (Cariny Cielo)

Meu coração tá relaxado
Meu corpo tá viciado
Nesta louca ocitocina que me faz arrepiar
Meu leite ferve nas tetas
Quando você me incendeia


Vem mamáááaáá

Estou vidrada em você
Química perfeita
Não quero nem entender
É impossível te dizer não

Você criou as regras
Estou na palma da suas mãos

Tô relaxando com o seu amor
Me entreguei pra ficar perto do seu calor
Inconseqüente, nossa paixão
A cada dia uma nova emoção

Meu coração tá relaxado
Meu corpo tá viciado
Nesta louca ocitocina que me faz arrepiar
Meu leite ferve nas tetas
Quando você me incendeia

Vem mamá!

Meu coração tá relaxado
Meu corpo tá viciado
Nesta louca ocitocina que me faz arrepiar
Meu leite ferve nas tetas
Quando você me incendeia

Vem mamááaáááááá...

Estou vidrada em você
Química perfeita
Não quero nem entender
É impossível te dizer não

Você criou as regras
Estou na palma da suas mãos

Tô relaxando com o seu amor
Me entreguei pra ficar perto do seu calor
Inconseqüente, nossa paixão
A cada dia uma nova emoção

Meu coração tá relaxado
Meu corpo tá viciado
Nesta louca ocitocina que me faz arrepiar
Meu leite ferve nas tetas
Quando você me incendeia

Vem mamááaááá

Quando você chega mais perto é prazer
Meu coração acelera quando eu tô com você
Essa magia chega e domina
O meu peito explode é pura ocitocinaaaaaaaaa

Meu coração tá relaxado
Meu corpo tá viciado
Nesta louca ocitocina que me faz arrepiar
Meu leite ferve nas tetas
Quando você me incendeia

Vem mamááaááá

Meu coração tá relaxado
Meu corpo tá viciado
Nesta louca ocitocina que me faz arrepiar
Meu leite ferve nas tetas
Quando você me incendeia

Vem mamááaááá

Vem mamááááááááááááá...

5 de setembro de 2012

Diário de Grávida: Dias 5... 9 de setembro de 2011...

por Cariny Cielo

De acordo com Michel Odent (se você está grávida e não sabe quem é esse cara, 'meldels', corrige isso agora no Google!), a ocitocina é um hormônio que depende de fatores ambientais e sua produção se intimidaria diante da presença de estranhos e observadores. Por esse motivo, ele sugere a retomada de um ambiente mais feminino, mais íntimo e mais aconchegante para que as gestantes deem a luz.

Vale a pena ler todo o texto do diário! E é pra ler, se possível com o pai!

Eu tenho fortes motivos para achar que quanto mais intimidade no parto, menos ele dói. Quanto mais invasivos foram meus partos, mais dor eu senti. Quando eu me vi amparada, segura, acolhida e verdadeiramente livre, não doeu.

Dói o frio, o medo, a solidão. Dói a pressa, a má posição, os desrespeitos. Doem as intervenções desnecessárias como a episiotomia...


Tem hora que eu chego a pensar que um Conselho Masculino Anti Mulher se reuniu por aí no passado e decidiu o seguinte: Vamos relacionar tudo que de pior pode ser feito à mulher para humilhá-la, desrespeitá-la e fazê-la sentir-se vulnerável. Vale tudo para prejudicar o decurso do trabalho de parto.

Deve ter sido mais ou menos assim:
1. Luz! Muita luz, daquelas brancas e que mostram tudo, perfeitas para fazer sutura...
2. Frio! Nada de calor quentinho, não! Vamos congelar essas mulheres...
3. Sentir fome e sede também ajuda bastante. Jejum obrigatório e de rotina!
4. Assim que ela entrar no hospital, coloquem logo um soro na veia, pra ela se lembrar de que está doente e, se não estiver, que pode ficar a qualquer momento.
5. A melhor roupa é aquela que mostra a bunda e a melhor cor é a verde água.
6. Raspem os pelos dela às pressas e reclamando que ela bem poderia ter feito isso em casa.
7. Para deixar o trabalho de parto bem desconfortável, façam lavagem intestinal. Será terrível ela sentir os puxos e ter receio de fazer cocô no próprio filho.
8. Aproveitem a oportunidade para liberarem todos os seus demônios. Vai ser divertido fazer gozação, chacota, chamar a atenção, repreender. As melhores frase são (anotem aí pra não esquecer): "Pra fazer você não gritou assim!". "Mãezinha, cala a boca".
9. Só pode entrar sozinha. Ou vocês querem testemunhas do nosso sadismo? O pai, a doula, o escambau, ficam do lado de fora!
10. Toques, toques e mais toques. Sempre com pessoas diferentes. Aproveitem qualquer estagiário ou residente para fazer toques. A melhor forma é a seguinte: toquem, olhem por teto, depois pro infinito e saiam sem dar informação.
11. Deitada, de barriga pra cima e pernas nos estribos é a melhor e mais feladaputa posição para a contração doer e causar sofrimento fetal. Adotem-na com suas pacientes, em todos os atendimentos.
12. Estourem a bolsa sem consulta prévia (pra quê ouvir gestante?) e logo no início do trabalho de parto que é para as contrações ficarem bastante dolorosas e aumentar o risco de infecções.
13. Monitorem os batimentos fetais sempre com ar de preocupação e, ao final, façam cometários entre os colegas usando termos técnicos.
14. Usem ocitocina sintética e digam que é só um remedinho pra apressar o nascimento. Se tivermos sorte, as contrações ficarão tão insuportáveis que ela vai implorar por uma cirurgia.
15. Se ainda assim, com todas essas manobras desgraçadas, o trabalho de parto progredir e aquela gestante tiver a petulância de estar caminhando tranquila prum parto normal, não a deixem sair ilesa! Marquem-na, eternamente, cortando-lhe o sexo, para que se lembre que só pariu por meio de nós (by Ric Jones). Sim, usem o 'pique' rotineiramente, ignorando o que recomenda a Organização Mundial de Saúde.
Feito isso, sintam-se vitoriosos! Vocês acabam de destruir o mais sublime evento feminino. E ela não vai odiar vocês pois vai estar muito encantada com o filho recém chegado. E tem mais, ela ouvirá que não tem o direito de se sentir frustrada ou triste, afinal, o bebê nasceu, está com saúde e ela não morreu!

Eu fiz aqui um filme dos horrores, é verdade! Embora muitas mulheres tenham tido a infelicidade de receber praticamente todo o kit 'destrua o parto', existe um gigantesco meio termo.

Tem as que sofreram pique, por exemplo, mas ficaram muito, muito felizes por terem conseguido o tão desejado parto normal. É verdade! A delícia de sentir o bebê nascer por nossas próprias forças supera tudo e é por isso mesmo que acabamos não nos dando conta de que aquilo foi violência!

E tem as que descobrem que tudo isso é ruim, é errado e não é recomendado de se fazer no atendimento obstétrico muito tempo depois... quando começam a reeditar seus partos!

Eu questionei muito minha cirurgia.
Eu questionei muito o atendimento dado ao meu segundo filho, nascido de parto natural hospitalar.

E nessa de questionar, investigar, lutar... eu alcancei um delicioso estágio de 'nada a questionar' com o parto do meu terceiro filho. Ele, sim, nasceu como se deve nascer. Ele me teve, plena, e foi pleno em seu chegar ao mundo.

Mas o melhor deste post vem agora: foi há um ano que eu acertei o dia do parto! Eu estava em tamanha conexão com meu pequeno que até escolhi o dia do nascimento dele.

Prova cabal de que o bebê é o que é a mente da mãe que o gesta, como diz a PHD Eleanor Luzes! Alguém duvida? Eu não.

"Hoje, pensei num dia dia lindo pra nós: Dia 21"

Que assim seja...


3 de setembro de 2012

Diário de Grávida: Dias 1... 4 de setembro de 2011...

por Cariny Cielo

Tem algo de punk em chegar ao mês da sua DPP (Data Provável do Parto).

A grávida ouve dentro da cabeça algo do tipo "deste mês não passa". Eu sempre tenho essa impressão/sensação de que este é O Mês, com letra maiúscula mesmo...


Eu nunca completei 40 semanas... ou seja, nunca cheguei até a famosa DPP e, consequentemente, nunca tive que fazer cara de paisagem sempre que alguém me perguntasse "ele ainda está aí dentro?".

Para o desafio hercúleo de sobreviver à pressão externa para que o seu bebê nasça, decore minha dica: joga umas 2-3 semanas 'a mais' na conta do médico! Sim, se a DPP, ou seja, 'as 40 semanas' é dia 3, diga 'pra-todo-mundo' que é 17.

Promete? É isso ou não aguentar as chantagens (do médico, das avós e da mulher na fila do banco) e cair numa cirurgia sem indicação médica; e, pior, trazendo seu bebê ao mundo antes de ele sinalizar que está na hora!

Acredite, a pressão psicológica é insuportável... eles jogam baixo meeesmo! E quem quer lutar jiu-jitsu grávida? De nove meses então...

Grava essa: Comunicado Importante: A FAMOSA DATA PROVÁVEL DO PARTO é só uma ideia, uma super estimativa, de quando nascerá seu filho.

Uma gestação pode chegar, tranquilamente, a 42 semanas... quem não chega traquilamente em geral é a família, que fica desesperada para por a cabo aquela barriga!

Pois saiba que, em 5% dos casos, uma barriga vai sim durar 42 semanas... para desespero de todos, menos do bebê que está 'muito bem obrigado' dentro do útero.
Ainda duvida? Eu te convido a ler o que a ciência diz quando o bebê quer ficar mais...


Há um ano eu me encontrei com uma parteira. E a experiência foi, no mínimo, estranha. Hoje eu lamento minha cabeça avoada de grávida que não me fez lembrar de tirar uma foto... aquela mulher ficou só na minha lembrança...

Não senti nenhuma empatia ou segurança. Deu foi vontade de sair correndo... o médico gaúcho Ricardo Herbert Jones bem me alertou do caráter folclórico que essas parteiras tradicionais podem ter, mas eu tinha que tentar...

E, quanto a isto, eu me fiz um compromisso de encontrar, entrevistar, fotografar e registrar estas mulheres que estão em algum lugar escondidas em Rondônia.

Eu continuava o pré-natal padrão, ainda sonhando com um atendimento.
Gostei de lembrar que foi nesta época o meu chá de bebê ou, como eu gostei de ler em algum lugar, minha despedida de barriga! Foi emocionante, com pessoas queridas e ainda com a magia do querer parir/nascer em casa.

Foi apresentada, pela Tainá Musa, uma linda estória sobre a intuição feminina! Extraída do Livro "Mulheres que Correm Com Lobos" (pausa para dizer que é leitura obrigatória) a estória da Boneca Vasalisa encantou a todos.
A lembrança do chá foi igualmente um encanto: uma bonequinha de feltro, toda colorida feita... por mim! Pois é... grávida muda mesmo... vira e revira de um lado e do avesso para se perder e se achar no universo selvagem. Foi a PHD Eleanor Luzes que me sugeriu bordar, pintar, costurar, enfim... qualquer coisa que exercitasse a criatividade e que eu pudesse imaginar 'criando' meu bebê. Tá grávida? Experimenta fazer alguma coisa criativa!

Eu estava assim, muito à flor da pele, muito escancarada, muito intuitiva! Esta intuição perdura até hoje... de alguma forma mágica eu me expandi e, hoje, abro mão de tudo em prol de ouvir meu sentido mais íntimo, mais profundo...

Há um ano eu escrevi o texto de boas vindas ao meu filho... "Nasce ......, em casa. Veio cercado da mesma intimidade com que foi, um dia, atraído para esta família e protegido pelo mesmo amor que o concebeu" (hoje, sabemos que os pontinhos eram para o Cassiano, mas na época não sabíamos o sexo do bebê).

A certeza era assustadoramente tranquila!

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...