8 de março de 2013

Blogagem coletiva: Mamatraca: Carreira e Maternidade: Morri na praia, pra nascer mãe...


por Cariny Cielo

Quando eu encontro uma mãe angustiada por que sente vontade de parar de trabalhar pra cuidar da cria recém chegada, mas tem medo de ficar em casa e sair do mercado de trabalho, eu a encorajo a ouvir seu coração de fêmea e frear a vida em prol da nova vida chegando.

Parece lindo, mas, das mais atrevidas eu ouço de volta um sonoro: "é fácil falar isso com a bunda sentada num concurso público". Verdade, sou servidora pública, chefe de um cartório eleitoral... acho que não existe profissão mais careta! Mas isso é a própria cara desta aqui que vos fala... eu sempre fui bem careta mesmo... daquelas que estudou dos 3 aos 18 anos em colégio de freira e fez faculdade, advinha de que? Bacharelado em Direito! (óbvio).

Tem um pedaço de mim que morre de inveja dos que têm liberdade e trabalham de forma autônoma e um outro que morre de medo e acha um absurdo não saber quanto terei no bolso ao final de um mês. Tentei ser advogada e tentei seguir carreira no Ministério Público. Mas, a inconsistência do primeiro e o excesso de consistência do segundo, me fizeram olhar pra outros rumos... e olha que até então eu nem pensava em filho...

Entre essa inveja e esse medo, para não enlouquecer, eu encontrei meu lugar ao sol. Não há outro lugar no mundo onde eu pudesse estar que não aqui, onde estou. Não tem outra ocupação para mim onde eu pudesse viver a minha maternidade da forma que acredito ser boa, que não este. A Justiça Eleitoral é minha paixão. Não a maior, é verdade, mas é uma paixão... trabalhar com cidadania, numa instituição pública (das poucas) respeitada no Brasil é uma grande honra.

Tomei posse neste cargo público em 2005 (sem filhos, livre, leve e solta!) e, ato contínuo, como não havia vaga pra mim na capital, em Porto Velho (minha cidade natal) fui parar em Cacoal, no interior de Rondônia, onde eu nunca tinha ido da minha vida. Mas foi aqui que tudo aconteceu...

Tudo, quero dizer, os filhos... foi aqui que surgiu uma parceria de fé e de vida e, dela, meus três 'tudo'!

Os professores e alguns amigos da época da faculdade adoram me perguntar porque eu desisti... (como-assim??????). Explico! Para a grande maioria dos acadêmicos, formar-se em Direito é sinal de, necessariamente, ambicionar as carreiras de juiz, promotor de justiça, delegado de polícia... fora isso, é morrer na praia...

Bom, eu não morri não, eu nasci na praia. Depois de ouvir, em 2007, de uma amiga juíza, as angústias sofridas por ela em não conseguir atender as demandas da carreira e de seu filho, eu descobri que eu tava na minha praia, na minha melhor praia, a praia certa pra mim... onde posso dosar o medo da incerteza e a inveja da aventura. Uma segurança e um conforto.

Doía ouvir de outras pessoas que eu tinha 'muito potencial', que deveria 'seguir carreira', que estava 'desperdiçando' meu talento... mas, quando eu me dei conta de que minha obsessão por fazer certo ficou elevada ao cubo quando eu virei mãe, eu vi que minha satisfação pessoal estava muito mais em ser mãe do que em ser o que queriam, supunham, sugeririam que eu fosse...

Eu deságuo minha criatividade e vontade íntima de empreender criando e participando de muitos projetos que envolvem meu ofício. Nas últimas eleições, um projeto idealizado por mim, o 'Mesário Na Telinha' foi incluído como 'Boas Práticas' pelo Conselho Nacional de Justiça. A zona eleitoral que chefio foi a única do Estado com 100% de mesários voluntários e uma das poucas no país a atingir esta meta. E mantenho o coração em casa, morando há 8 quadras do trabalho, podendo ficar 6 meses com meus filhos assim que nascem, tendo incentivo para amamentar, enfim... fazendo minha parte no microcosmos para construir um mundo melhor!

Se bem que eu deixei de dar aulas em um cursinho preparatórios pra concurso assim que o Emiliano, meu mais velho, nasceu. Dava um bom e super bem vindo dinheiro, mas me tomava tempo e energia. Também não fiz mestrado (ainda), parei de estudar italiano e não há nada que me tire de casa à noite ou me roube deles os fins de semana (exceto algumas fugidas para mini-viagens de moto com meu outro 'tudo na vida').

Com a entrada na Rede de Humanização do Nascimento e Parto (www.rehuna.org.br), um curso de educação perinatal que fiz e a luta em causa própria para conseguir um parto digno, surgiu este blog, a militância pelo fim da violência obstétrica, a vontade de ajudar outras mulheres... era o empreendedorismo e a aventura novamente batendo a minha porta! Não, eu jamais conseguiria viver só de bater o ponto...

E assim eu sigo malabarista de pratos!!! Quebrando alguns, equilibrando outros, acrescentando uns novos! Confesso que ainda não sou boa em equilibrar e aguardo ansiosa que os anos que eu acrescento na carteira de identidade sirvam pra me trazer menos radicalismo e mais serenidade (será?)... as rugas não podem chegar sozinhas! A última eleição municipal com um bebê e dois filhos de 3 e 4 anos me deixaram bem esgotada justamente por conta da minha obsessão em me doar muito às minhas paixões: filhos, marido, carreira, casa, dança, yoga, jardim... aff...

E, como disse a Anne, "não é sobre os pratos. Porque eles caem, quebram, a gente varre e recomeça com outro no lugar. É sobre a energia genuína de mantê-los rodando". Para aqueles que me questionam, volta e meia, se não vou mais estudar para concurso, eu digo, hoje, bem mais segura do que antes "não, eu quero é estudar pra ser mãe".

PS: Eu não ia escrever... já deixei bem claro que este blog está em crise de identidade, talvez até em crise existencial... mas, ao ler a Anne, em seu modo Super Duper, me inspirei e pensei: isso tem que sair de mim! Eu nunca escrevi sobre minha carreira... aproveitei o convite do Mamatraca e, aqui estou!

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