18 de julho de 2017

Relato de Parto da Anne: Parto normal hospitalar em Porto Velho com doula




Começo meu relato de parto talvez com a mais óbvia das poucas certezas que temos na vida, que é o fato de que quase sempre o que mais tememos, acontece.

Quando eu completei 36 semanas de gestação, passei a acreditar que iria parir logo, talvez antes mesmo de completar 38 semanas. Não sei se esse pressentimento era pura ansiedade ou consequência de uma ultrassonografia que fiz, onde a médica disse que minha placenta já tinha atingido o grau III, ou seja, em tese já estaria velha.

Após consultar meu médico, ele disse que isso não significava absolutamente nada e que eu podia ficar tranquila. Assim fizemos.

Meu parceiro e eu decidimos não compartilhar essa informação, uma vez que poderia gerar uma apreensão desnecessária nas pessoas, amentando ainda mais os questionamentos sobre o nascimento da Luiza. Comentei com a Helena, minha doula, e com minha cunhada, que também é doula... ambas falaram a mesma coisa: Não havia motivo para preocupações.

Quando eu completei 37 semanas, durante uma noite, comecei a sentir cólicas seguidas de contrações, as quais se estenderam pela madrugada. Sabia que para o trabalho de parto começar, elas precisam de ritmo. Avisei minha doula e fui dormir, porque se fosse mesmo a hora eu precisava estar descansada.

No decorrer dos dias, continuei a sentir as contrações de treinamento, algumas vezes com a presença de cólicas, outras não. Meu tampão mucoso também começou a sair e continuou até o dia do parto. Como eu havia me preparado durante os nove meses da gestação, sabia que meu corpo já vinha dando sinais de que o grande dia estava próximo, mas que eu também saberia o momento certo. Não há como se enganar.

Já com 38 semanas, fui informada pelo médico de que ele não estaria na cidade no final de semana do dia 25 de maio. A partir dai, comecei a ficar apreensiva, pois na minha cabeça, meu trabalho de parto seria inicio no exato momento em que ele saísse de Porto Velho.

Os dias foram passando e na sexta-feira, dia 19, fui à consulta de rotina e mais uma vez o médico deixou claro que não estaria na cidade no final de semana do dia 25. Ele me perguntou se eu continuava firme no propósito do parto natural e disse que estava receoso com o fato de eventualmente eu ser atendida por outra pessoa em sua ausência. Eu disse que nada havia mudado e que só me restava aguardar o momento em que ela quisesse nascer.

Sai da consulta tensa. Mandei mensagem pra minha doula e ela mais uma vez tentou me tranquilizar. Disse que eu iria parir, com ou sem a presença do médico. No final da manhã, mandei mensagem a ela novamente dizendo que estava com muito medo de acabar sendo atendida por outra equipe médica, que não respeitasse minha vontade e então perguntei se haviam meios naturais de induzirmos o trabalho de parto.

Ela então me disse que até poderíamos tentar, mas que eles não funcionariam se não fosse a hora certa. Como eu estava muito aflita, ela me perguntou se eu gostaria de ir ate sua casa, para receber uma massagem e fazer a acumpressão.

Ao chegar a sua casa, comecei a chorar e disse que tinha muito medo de vir a sofrer violência obstétrica, de não ter o parto da maneira tão sonhada durante esses nove meses. Disse que meu pressentimento era de que no momento em que o médico viajasse, o trabalho de parto teria início, mas que também não queria ser submetida a uma cesariana, tampouco ter o TP induzido, porque me passava a sensação de que eu estaria desrespeitando a hora certa da minha filha nascer.

Após a massagem, ela me tranquilizou. Disse que não faria a acumpressão, pois sua intuição dizia que a hora estava próxima. Voltei para casa aliviada. Chamei meu parceiro para jantar fora, tivemos uma noite agradável. Dormimos até as nove do dia seguinte e ao acordar, ele disse que a Luiza nasceria logo, por isso tínhamos dormido tão bem.

Na noite de sábado, dia 2o, comecei a sentir contrações acompanhadas sempre de uma cólica, que agora se apresentava mais forte, como cólica de menstruação mesmo. Passei então a monitora-las e elas vinham em intervalos de dez minutos. Como já tinha sentido isso algumas outras vezes, não botei fé que o negocio ia engatar. Para mim, era mais um alarme falso.

Dormi bem, mas acordei cansada. A sensação que eu tinha era que estava cansada de correr e que havia tomado um porre daqueles. O ritmo do meu corpo havia mudado. Dormi a manhã toda, entre uma contração e outra.

Consegui almoçar e fui me deitar novamente. Mandei mensagem pra doula e para o médico, que não me respondeu. A partir de então, as contrações começaram a ficar mais intensas e a cólica também. Passe instintivamente a vocalizar na hora da contração e a segurar na mão do meu parceiro, que delicadamente acariciava meus cabelos.


      

Às 14 horas mandei mensagem pra doula e ela disse que viria me ver. Quando ela chegou, por volta das 15 horas, eu estava deitada e ela começou a cronometrar as contrações, que estavam irregulares no começo.

Após um período deitada, ela me convidou a sentar na bola de pilates e ali eu fiquei recebendo massagem nas costas e segurando na mão do meu parceiro. A cada nova contração, eu me concentrava na dor e só pensava que logo iria passar, era só mais uma. Ainda conseguia conversar.

Me concentrei em tudo que havia aprendido durante a gestação e permaneci firme no meu propósito. De repente, por volta das 16 horas, a bolsa estourou. Junto com o liquido que passou a sair de mim, saiu também um choro, o mais sincero e profundo da minha vida, um misto de felicidade e prazer, porque somente naquele momento eu percebi que a hora havia chegado.

Desci para tomar banho. Já não consegui mais subir e conversava quase nada. Meu parceiro tentou por várias vezes ligar para meu médico e seu telefone só dava desligado. Fiquei mais algum tempo sentada na bola e então a doula sugeriu que fossemos para o hospital e esperássemos o médico lá.

As contrações continuam muito fortes e agora em intervalos bem pequenos. Chegamos ao hospital por volta das dezessete horas e vinte minutos. Eu só conseguia me concentrar na dor e não consegui deixar que medissem minha pressão. Nesse momento, meu maior medo se concretizou.

Não sei por qual motivo, meu médico não estava na cidade. Quando ainda estávamos a caminho do hospital, ele mandou mensagem dizendo que em duas horas chegaria a Porto Velho e que eu fosse para o hospital. Ao ser examinada pelo médico plantonista, descobri que já havia dilatação completa e que o parto seria feito por ele, um médico antigo e que ao perguntar quem era a moça que me acompanhava, disse de pronto que não aceitaria a presença de doula na sala de parto.

Graças às preces da minha doula, ele voltou atrás e disse que aceitaria sua presença, desde que ela não mandasse em seu trabalho. Consegui ainda explicar que ela jamais faria isso e então, fui levada para a sala de parto, sala essa que nem o médico sabia que existia. Consegui ainda dizer ao médico que eu não queria que ele fizesse episiotomia em mim.

Não sei dizer quanto tempo o expulsivo demorou, só sei que foi rápido e muito intenso. Além de ter que administrar o médico forçando meu períneo na crença de que isso facilitaria a saída do bebe, tive que administrar a presença da pediatra, que não entendia nada sobre parir.

Naquele momento, sabia que tudo que ela estava falando estava errado e passei a me concentrar na voz do meu parceiro e no olhar da minha doula. Mantive-me firme neles. Quando o médico disse que a Luiza estava quase nascendo, perguntei a doula se era verdade e ela disse que sim, que já dava para ver os cabelinhos.

Tentei respirar na folga da contração e quando veio a próxima, Luiza chegou ao mundo, as 18h5min, do dia 21 de maio desse ano. O médico não permitiu que ela saísse naturalmente, o que também motivou a laceração que eu sofri. Quando eu a vi, estava em êxtase, conseguia apenas ouvir a voz do meu parceiro dizendo que ela havia nascido.

Uma paz passou a habitar meu ser. Tudo passou a ter um novo significado na minha vida. A sensação de ter conseguido apesar de todos os percalços, é maravilhosa. Só conseguia pensar em como valeu a pena esperar, que meu corpo sabe parir e que acreditar nisso fez toda a diferença. Eu, que passei a vida toda achando que não tinha foco para terminar o que começava, me vi encerrando um ciclo e dando início a outro, utilizando meu corpo para trazer ao mundo um ser humano.

Após os procedimentos padrões, a Luiza veio definitivamente para meu colo e não saiu mais. Minha placenta nasceu, recebi os atendimentos ali na sala de parto e depois fui para o quarto. Tomei banho sozinha, jantei e passei a noite tentando entender a grandeza do que eu havia vivido. Meu médico chegou na cidade pouco depois que a Luiza chegou ao mundo e as 21 horas do mesmo dia, iniciou seu plantão no hospital em que eu estava. De fato não era pra ser.

Meu parto não foi como eu havia planejado na minha cabeça, mas foi encorajador o suficiente para que eu me concentrasse no meu desejo, mantendo-me firme no meu propósito.

Atribuo a evolução do meu trabalho de parto a minha simples dedicação em não tentar controlá-lo, deixando que as coisas caminhassem no seu tempo. Apesar de intenso, não consigo me lembrar da dor. Talvez seja pelo fato de jamais ter aliado o ato de parir com qualquer coisa negativa. Tudo passou a ser ressignificado na minha vida.

Sou grata pela oportunidade de ter vivenciado tamanha experiência, juntamente com meu parceiro. Vimos a vida saindo de dentro de mim, na hora dela, no tempo dela. Parir é visceral. De fato, eu não poderia passar por essa vida e não me permitir viver tudo isso. Gratidão.










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