31 de maio de 2021

Relato de parto de Dóris: parto natural pélvico em Rolim de Moura




O relato abaixo me emocionou pela história da gestante e o quanto ela estudou e foi atrás, com uma adversidade bastante grande: o bebê sentado. Caminho de vitória que a Dóris fez... vamos ao parto:



Sempre sonhei com um parto natural e há muitos anos estudo sobre o assunto através de relatos, perfis de obstetras e doulas. E aqui está o meu relato para incentivar as mulheres que sonham com o mesmo, assim como fui incentivada por outras, eis aqui minha contribuição. Sempre mencionei com meu esposo quando ainda namorávamos que se tivéssemos um filho gostaria que ele estivesse presente segurando minha mão na hora do parto. Antes de engravidar eu me preparei fisicamente, emocionalmente e psicologicamente.

Já havia pesquisado sobre doula na região onde moro atualmente (Rolim de Moura) e tive o prazer de acompanhar por muito tempo o trabalho da Doula Suelen, do Luz Do Nascer e assim que soube da gravidez de 4 semanas eu já a contratei.

Descobri a gestação em fevereiro e em março a pandemia começou... mas fiquei em paz pois creio que Deus sempre está comigo. Tive uma gestação super saudável, devido a pandemia eu sai da musculação e não pude ser a "grávida maromba" que eu queria...rsrs... mas fiquei firme no pilates com a Fisio Carvalho Reis que realizou os atendimento em domicílio (minha gratidão!).

Durante toda a gestação, a minha doula me muniu de informações, com indicações de leitura, documentários (assisti o renascimento do parto 1, 2 e 3 e uma série sobre desenvolvimento de bebês), li livros sobre parto, vi muitos vídeos e relatos no youtube.

Meu marido Rodrigo sempre comigo, me apoiando, ouvindo meus aprendizados e meus anseios (grata a Deus por ter colocado vc em minha vida). Com 33 semanas fiz um ultrassom, e o médico informou que o bebê estava pélvico e que dificilmente após esta semana ele viraria, fiquei preocupada e a doula me incentivou a fazer os exercícios (spinning babies) para estimular a virada do bebê. Com 36 semanas imaginei que ele tivesse virado, afinal de 3 a 4% não viram. Conversei com a médica que até então me acompanhava e ela me disse para ficar tranquila, porque ela já tinha visto nestes anos de experiência o bebê virar na hora do parto com 40 semanas. Mas, continuei fazendo os exercícios e para minha surpresa no ultrassom de 37 semanas ele ainda estava pélvico (sentado) da mesma maneira que estava em todas as outras ultras anteriores e a primeira coisa que o médico falou foi:

- Ih ta sentado, direto pra faca!

Nossa, como fiquei triste, como chorei! Para muitas, a experiência do parto não faz nenhum sentido, mas para mim era necessário passar por isto, eu sentia que seria importante para a minha maternidade, além de todos os benefícios físicos para mim e para o meu filho. Bom, eu já tinha ouvido falar sobre parto natural pélvico, mas sabia também que são poucas equipes no país que se habilitam a fazê-lo, imagina, se já é difícil escolher o parto normal cefálico e ser ouvida, imagine estando pélvico.

Me recordei que havia trabalhado com uma médica cubana que tinha tido dois partos normais hospitalares e que ambos os filhos dela estavam pélvicos e ainda me informou que em cuba este tipo de parto é comum, tem alguns parâmetros a serem analisados mas que em sua maioria é feito.

Também já havia lido sobre a manobra cefálica externa, as vezes eu poderia optar por um dos dois. Enfim, entrei em contato com a minha obstetra até então e perguntei se ela faria parto normal pélvico, ela disse que não pois ela só faria se não fosse meu primeiro filho e que a equipe dela não estava preparada para um parto assim. Então perguntei sobre a manobra para virar o bebê ainda dentro da barriga e ela disse que não faria, pois julga ser perigosa. Perguntei a outro profissional e tive a mesma negativa.

Foi então que duas amigas minhas maravilhosas (Andressa Pargmosselli e Inara Moreno) me falaram sobre a Livia obstetra e pesquisando nos destaques do insta dela eu encontrei um storie sobre parto pélvico, então imediatamente agendei uma consulta e levei minha mãe junto, que não se conformava de maneira alguma com parto normal pélvico e a doula também se fez presente. Foram duas horas e meia de consulta, tiramos todas as nossas dúvidas, ela explicou sobre o parto pélvico, fez ultrassom para estimar o peso do bebê. Me explicou sobre os dois procedimentos (parto normal pélvico e VCE) e então me decidi a aguardar o trabalho de parto. Então com 38 semanas, mudei de equipe médica. Mas continuei fazendo os exercícios para que ele virasse, fiz acupuntura com este fim também com Fátima Macedo em Cacoal.

Já havia perdido uma parte do tampão mucoso com 37 semanas, e sempre saia mais um pedaço (sempre transparente) e eu brincava com a doula que o meu tampão deveria ser infinito. Chegamos nas 39 semanas e em alguns dias eu imaginava que entraria em trabalho de parto, começavam as contrações, parecia que ritmariam, mas depois sumiam completamente e nada.

Chegamos nas 40 semanas e a mesma coisa, apenas alarmes falsos, comecei a ir todos os dias escutar o coração do bebê e a médica e a doula haviam me falado sobre algumas induções, inclusive a natural com chá. Então, quando completei 41 semanas, comecei a tomar o chá para indução do parto a cada 2h que a minha querida doula me trouxe. Quando foi 22:30 deste mesmo dia (15/10/20) as contrações começaram e eu comecei a cronometrar, parecia que estavam ritmando, entrei em contato com a doula e ela me informou para aguardarmos mais um pouco só para termos certeza que realmente era o trabalho de parto. Me incentivou a descansar, mas quem disse que dava? A cada contração... impossível relaxar, nem com banho quente. Então realmente era o trabalho de parto, eu sentia! Seria este dia que veria o meu filho! A doula chegou e comecei a agachar a cada contração para auxiliar na descida do bebê.

Meu esposo me ajudava nos agachamentos e a doula me ajudava a me concentrar nas respirações certas, no relaxamento certo. Mas as contrações estavam muito desritmadas, tudo indicava um início de um longo trabalho de parto, mas as contrações estavam muito fortes, e eu pensava: -poxa, se isto é só o começo, que o Senhor me ajude a ir até o fim! Então, em uma das contrações eu senti um puxo e informei a doula, mas era algo tão impossível, afinal, as contrações não estavam em um ritmo de trabalho de parto! Tentei relaxar então, mas não consegui, porque na próxima contração eu senti mais dois puxos e fiquei aflita. Fui orientada então a ir no banheiro e me tocar, se sentisse algo diferente no local do colo do útero tomaríamos providência, do contrário, eu relaxaria enfim para que a dilatação continuasse.

Quando me toquei senti algo que identifiquei como sendo a bolsa, e já bem perto da saída. A doula olhou e confirmou, sim, era a bolsa! Ligou para a médica e informou que não daria tempo de chegarmos a Cacoal, então ela viria. Quando deitei em minha cama para continuar o parto, agora já no expulsivo, sentindo o meu corpo fazendo força para que o bebê saísse, minha bolsa estourou e então estes puxos se tornaram mais frequentes, vocalizei bastante para auxiliar no relaxamento do períneo. Após alguns minutos a médica ligou dizendo que não conseguiria prestar o atendimento aqui caso acontecesse alguma emergência e então teríamos que ir. Mas como ir sabendo que não daria tempo? Neste momento um medinho bateu em mim, pensei mil e uma coisas. Meu esposo se manteve calmo, me auxiliou em todo o momento, me deu muito carinho e palavras de força!

A minha querida doula Suelen, a calmaria em pessoa, conduziu tudo com muito amor, com muito respeito e com muita paz. Me incentivando, me acalmando. Entramos no carro e a poucos quilômetros de casa, após alguns puxos, quando me posicionei de cócoras, o nosso amado filho Heitor nasceu, sim, nasceu sentadinho, saiu primeiro o saquinho, bundinha, perninhas, corpinho e por último a cabeça às 4:45h do dia 16/10/20.

Não entrei na partolândia, fiquei o tempo todo bem consciente. Nasceu sem nenhuma intervenção médica, a todo momento a doula Suelen cuidando do meu períneo para minimizar alguma possível laceração que foi mínima, nem precisou de ponto. Nasceu bem corado, eu pude pegá-lo e trazê-lo ao meu colo, como sempre sonhei, estava acordado, me olhando com aqueles olhos arregalados que penetraram os meus e uma onda de amor, alívio, e muita, muita gratidão me inundou. Como me senti feliz em saber que segui o curso da natureza que o Senhor criou para o meu corpo. E esta era minha oração, pois ao contrário do que ouvi muito na gestação, que querer um parto normal pélvico era loucura, que era capricho. Posso dizer com todas as letras parto natural pélvico é natureza, é divino, é possível, a ciência mostra esta possibilidade, os profissionais que não estão atentos a isto que não sabem!



Nós tivemos nossa Golden hour, o papai que cortou o cordão umbilical lá no hospital! Chegamos em Cacoal e nós dois recebemos os cuidados médicos pós-parto necessários! Ficamos muito felizes com a chegada inusitada do nosso filho! Foi muito mais do que sonhei a experiência! Foi um parto super rápido (total de 5h de trabalho de parto ativo) e mega emocionante.

Como sou grata a Deus por ter encontrado uma equipe médica que me incentivou, que me amparou. Que realmente entende todos os riscos inerentes a uma cesárea que por ter se tornado algo muito comum, muitos se esquecem. A cesárea pode salvar vidas, e louvo a Deus por esta possibilidade existir, mas acredito em indicações reais.

Sei também que meu puerpério não seria o mesmo com uma cesárea nunca! E cada um sabe da sua realidade, neh! Quero dizer a você mulher, que a experiência de parto é única! Que vale a pena! Que seu corpo é capaz de parir e que seu bebê é capaz de nascer! Não permita que ninguém te desestimule se este for o seu desejo!

Acredito que a decisão da mulher deve ser respeitada independente do parto que deseja, dentro do que for seguro para ambos! Parto natural requer preparo físico, emocional e espiritual! Espero que este relato te fortaleça! Se muna durante a gestação de muita informação e de uma equipe nota dez! Indico todos os profissionais que mencionei de olhos fechados! Meus agradecimentos ao meu Deus que me sustentou! Ao meu esposo que me apoiou em tudo na gestação e esteve ao meu lado ativo durante o trabalho de parto! À minha doula que acabou por ser parteira rsrsrs e que inclusive estava gestante na época!

Como aquele carro ficou enorme pra caber nós duas lá atrás!

À minha mãe que aprendeu muito sobre parto estudando comigo e que se faz muito presente em minha vida também!

À dra Lívia por ser tão atualizada, como isto é bom!

E à minha irmã que estava lá em casa e que mesmo ficando assustada se fez forte e me fortaleceu com palavras de incentivo!

O que resume está experiência, é Gratidão!




(Dóris Mendes Costa Cardozo é mãe do Heitor, cirurgiã-dentista, casada e mora em Rolim de Moura.)






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