20 de junho de 2011

ALERTA: Rondônia foi o campeão nacional de nascimentos por cesariana


Em recente resultado fornecido pelo DATASUS do Governo Federal, Rondônia restou com um destaque preocupante. Em 2008*, fomos o Estado com o maior número de nascimentos por via cirúrgica do país. Ficamos em último lugar no ranking de partos por via vaginal. Somente 40% dos bebês nascem de parto normal, sendo que, segundo a Organização Mundial de Saúde, este índice deveria ficar em no mínimo 85%.

Acredita-se que este número é infinitamente maior na rede de saúde suplementar, onde hospitais particulares praticam índices ainda mais alarmantes de cirurgias cesarianas. A questão do excesso de “medicalização” do nascimento é nacional, sendo que Rondônia ficou em último lugar! Da região norte e nordeste do país fomos o único Estado em que o número de cesarianas superou o de partos.

Quantos destes mais de 15 mil nascimentos por cesariana (contra 10 mil de parto vaginal) foram fruto de real necessidade advindos de risco iminente para a mãe e para o bebê (lembrando-se que esta é a razão pela qual a cirurgia deve ser indicada)?

Por outro turno, cabe aqui uma reflexão. O parto vaginal oferecido pelas maternidades parece que em nada atrai as gestantes mesmo com as vantagens inegáveis de recuperação rápida. As poses das atrizes dizendo “deixe a vida acontecer naturalmente” nas campanhas do Governo Federal parece que não têm convencido as parturientes. Qual seria a razão disto?

A resposta a esta questão possui esferas físicas e emocionais profundas mas é fácil imaginar que o parto oferecido como normal em nada se parece com a vivência verdadeira de nascimento a que todas as mulheres, mesmo que ainda no plano inconsciente, anseiam profundamente.

A começar pelo atendimento frio e distante, os comentários inoportunos, o acesso venoso, o uso indiscriminado de ocitocina sintética que torna as contrações insuportáveis, lavagem intestinal, corte dos pelos pubianos, roupa de hospital, isolamento, posição litotômica (deitada), que pressiona as veias cavas e causa grande desconforto para a gestante podendo resultar em deficiência de oxigênio para o feto. Não menos contraditório ainda tem o alívio farmacológico da dor que limita a movimentação da mulher através do acesso espinhal para peridural, sendo que já existem evidências de inúmeros meios não fármacos de alívio da dor fisiológica do parto. Digo fisiológica porque aquela dor proveniente do uso de hormônio sintético, ocitocina, não é fisiológica e torna-se, inúmeras vezes, insuportável para a mulher. Por fim, como que para assinar o grande final tecnocrata de ‘gestão do nascimento’, cortam-lhe o sexo, por meio da episiotomia, e fazem a cessão abrupta do cordão umbilical, com a pecha de apressar o nascimento. Mas, quem tem pressa?

Não, esta não é a vida acontecendo naturalmente. Essa série de condutas adotadas rotineiramente em grande parte das maternidades do país são fruto de uma única e sinistra síntese: o parto não pertence mais à mulher. O ato de parir, antes um evento feminino, ativo e importante da vida sexual passou a ser passivo, um ato médico, completamente entregue à tecnologia. A mulher, antes protagonista, virou paciente. Seu útero agora é alvo de investidas cada vez mais poderosas que começam com as ultrassonografias de rotina e findam em seu corte, sua e exposição, no nascimento por cirurgia. O feto, um ser humano, virou algo a ser expelido do corpo gravídico o mais rápido possível... restando novamente a pergunta: de quem é a pressa?

O que antes era aterrorizante – o numero de mulheres e crianças que morriam no parto – findou por aterrorizar de tal forma a sociedade que durante décadas passou-se a acreditar que a solução para as trágicas mortes seria gerenciar completamente o nascimento.

Hoje, no entanto, temos a oportunidade de parir naturalmente, com dignidade e respeito, mas com toda a tecnologia disponível para agir, de pronto, se necessário. A problemática surgiu em se utilizar o “se necessário” como regra, transformando todas as intervenções médicas em rotinas obstétricas. O nascimento, maior encontro de nossas vidas – o de nós, recém-humanos de fato, com nossa origem – virou frio, distante e, em muitos casos, traumático para o bebê que ingressa na vida independente com registros negativos de isolamentos e violações, além de causar horror também a mulher que ingressa na maternidade sem viver, plenamente, seu rito de passagem ao universo feminino.

Se for necessário que se faça uma cirurgia, que ela seja humanizada e não mecânica tal qual se extrai uma vesícula. Para os médicos é apenas mais um dos inúmeros procedimentos que farão no dia, mas para os pais e para o feto é o momento único de formação de uma família e perpetuação da humanidade.

O movimento pela humanização do nascimento já está muito bem formado no Brasil e no mundo. Resta às mulheres tomar conhecimento desta tendência e lutar pelos direitos de parir com dignidade e garantir um nascimento respeitoso para seus filhos. Em novembro passado, houve a Conferência Internacional da Rede Pela Humanização do Nascimento, em Brasília, com autoridades de vários países, todos apresentando dados alarmantes de violência à mulher e ao feto na hora do parto, mas também apontado experiências de sucesso e evidências científicas de que a humanização do nascimento pode andar de mãos dadas com a tecnologia conquistada pela medicina moderna. (www.rehuna.org.br)

A Sociedade Brasileira de Pediatria, recentemente, emitiu mudanças nas normas de reanimação neonatal incluindo o corte tardio do cordão umbilical como melhor prática a ser adotada nos nascimentos. Comprovou-se por estudos que o sangue que o bebê recebe após o nascimento durante alguns minutos em que a placenta ainda funciona garante-lhe uma rica reserva de oxigênio e nutrientes, entre eles o ferro.

Gradativamente, graças à força que os movimentos de respeito ao parto e nascimento proliferam em todo o mundo e à adesão por profissionais das mais diversas áreas, muitas das ações que antes precisavam ser exigidas no momento do parto, agora é regra médica ou garantida por lei, e isto é digno de comemoração. No Brasil temos a Parto do Princípio, uma rede formada por mulheres de todas as regiões que militam pelos direitos relativos ao feminino, realizando diversas ações locais e nacionais. A onda é mundial e no Brasil temos grandes nomes de respeito entre obstetras, pediatras, enfermeiros e terapeutas nos mais diversos campos. No entanto, muito trabalho ainda precisa ser feito, principalmente por nós, mulheres, que queremos o melhor para nós mesmas e para nossos filhos. (www.partodoprincipio.com.br).

Não, ainda não dá para, parafraseando a campanha do governo federal, “deixar” a vida acontecer naturalmente, porque o cenário para permitir este evento ainda não está montado! Hoje, costumo dizer, ainda estamos nos tempos de “lutar” para que a vida aconteça naturalmente; principalmente em nosso Estado, como os números vergonhosamente nos apontaram.


Vamos à luta então!

*Adendo: Fonte DATASUS: Em 2009 e em 2010 também continuamos em primeiro lugar. O post é de 2011, mas o assunto continua alarmante, como o gráfico demonstra! Em 15/07/2013

12 de junho de 2011

Respeitem o claustro materno: ultrassonografias de rotina não!


Este texto me foi passado pela PHD Eleanor Luzes. A conheci em 2010, em Brasília, num curso de Ciência do Início da Vida. Eu achei interessantíssimo e, com autorização dela, replico aqui!



ULTRASSOM: HISTÓRICO e ANTROPOLOGIA
 
O ultra-som foi desenvolvido durante a Segunda Guerra Mundial para detectar os inimigos, tendo mais tarde outros usos na indústria do aço. Em 1955, em Glasgow, o cirurgião Ian Donald adaptou o ultra-som para perceber densidades de tumores abdominais, pois cada tecido tem uma densidade própria e produz um “eco”. (WAGNER, 1999).

Em 1957, usou pela primeira vez para diagnosticar desordens fetais , depois detectar a gravidez em si. O ultra-som foi recebido com suspeita, em especial em relação ao seu uso em gestantes. (PORTER, 1997). Até 1963 esta tecnologia havia sido comercializada e, até meados da década de 70, havia se expandido, começando a ser destinada ao uso obstétrico. Nos EUA, devido aos seguros de saúde 70% das grávidas passam pelo ultra-som; na Europa 98% (pelo menos um por trimestre) (LEVI, 1998). Na Austrália, 99%.

No Reino Unido, Baverley Beech, um ativista dos direitos do consumidor, chamou o ultra-som de “o maior experimento sem controle da História” e a Cochrane Collaboration, maior autoridade em Medicina Baseada em Evidências, diz que é possível que o ultra-som seja prejudicial durante a gravidez. (WAGNER, 1999).
Em 1984 nos EUA, a conferência de consenso do National Institute of Health advertiam que os dados disponíveis sobre a eficiência e a segurança do ultra-som, não permitiam a sua recomendação como técnica de rotina. (CHAZAN, 2007).
Na Inglaterra no mesmo ano o Royal College of Obstetricians and Gynaecologists, ainda que reconhecesse a necessidade de mais pesquisas afirmou que haviam “razões convincentes para supor benefícios a todas as mães e bebês advindos de um escanemento bem feito entre 16-18 semanas de gravidez”. (CHAZAN, 2007).
A teoria do Bonding de Marshall Klaus, John H. Kennel e Phyllis Klaus sobre a ligação mãe e recém-nascido, passou a ser vista como mãe-feto, desde 1970, com bases marcadamente biologizantes (ARNEY, 1982).
A aliança entre medicina e a lei em alguns casos inverteu a hierarqueia mãe-feto, atribuindo autonomia de tal ordem que o feto passou a ter hieraquicamente mais diretos civis que as mães, como é o caso em vários estados dos EUA.
Michèle Fellous em estudo na França nos anos 90, constatou que o interesse sobre os batimentos fetais era mais importante que imagens e o interesse pelo ultra-som caia quando as grávidas começavam a sentir os primeiros movimentos fetais.
Segundo o radiologista HD Meire, que trabalha com isto há 20 anos, o fato de se usar uma máquina poderosa de investigação não quer dizer que sejam também poderosas as informações advindas dali. O ultra-som expõe ao aumento da temperatura intracraniana. (BARNETT, 2001).
Em um estudo, o espectro do pulso do ultra-som Doppler produziu significativo aumento da temperatura do cérebro fetal. Esta temperatura máxima acontece em 30 segundos, caso a temperatura aumente quatro graus Celsius é o suficiente para ocorrer lesão. Mas o fato é que o ultra-som expõe ao aumento da temperatura intracraniana. (BARNETT, 2001)

Os mamíferos possuem, em seus tecidos, pequenas bolsas de gás que com aquecimento podem colapsar os tecidos. Estudos de laboratórios vêm mostrando que células em crescimento expostas ao ultra-som podem causar anomalias que perduram por gerações. (LIEBESKIND et al, 1979)
In vitro, ocorrem alterações somáticas e teratogênicas. (HEDRICK e HYKES, 1991)
Em ratos, afeta a membrana de mielina que recobre o nervo, que é semelhante à humana. (Ellisman e colaboradores, em 1987).
Em outro estudo, camundongos foram expostos a dosagens típicas usadas em obstetrícia e viu-se que o ultra-som causou 22% de redução da divisão celular e dobrou a apoptose (suicídio celular) das células intestinais das cobaias. Houve redução em 22% dos índices de mitoses, após quatro a cinco horas depois da exposição. A apoptose no corpo aumentou de 153% na primeira hora para 160% entre a quarta e a quinta horas. (STANTON et al, 2001)
Newnham e colaboradores, mostraram, em 1993, em estudo experimental randomizado e controlado na Austrália, que mulheres que fizeram cinco vezes ultra-som deram à luz bebês de mais baixo peso do que aquelas que fizeram somente um exame. Em geral, o baixo peso está associado a um não desenvolvimento pleno do cérebro. (CHAMBERLAIN, 1995)

Clínicos defendem o ultra-som de rotina durante a gravidez para descobrir anomalias congênitas, gravidezes de múltipla-gestação, crescimento fetal desordenado, anormalidades de placenta e erros na estimativa de idade gestacional.

Foi realizada uma tentativa randomizada, que envolveu 15.151 mulheres grávidas de baixo risco para problemas perinatais, a fim de pesquisar se o ultra-som diminuiria a freqüência de resultados de perinatais adversos. Definiu-se como resultado perinatal adverso morte fetal, morte neonatal, ou morbidez neonatal, como hemorragia intraventricular. As mulheres, nomeadas fortuitamente ao grupo de ultra-som-blindagem, sofreram um exame ultrasonográfico, entre 15 e 22 semanas de gestação, e outro entre 31 e 35 semanas. As mulheres do grupo controle somente sofreram ultrasonografia por indicações médicas, conforme identificado por seus médicos. Os índices de pretermo e a distribuição de pesos de nascimento eram quase idênticas nos dois grupos. A descoberta ultrasonográfica de anomalias congênitas não teve nenhum efeito no resultado perinatal. Não havia nenhuma diferença significativa, entre os grupos, sobre gravidezes de pós-data, gravidezes de múltipla-gestação ou crianças que eram pequenas para a idade gestacional. Conclui-se que o ultra-som somente se justifica quando a indicação se faz necessária e não se observou vantagem em seu uso de rotina. (EWIGMAN et al, 1993).

Outro estudo mostrou que 10 minutos de exposição ao ultra-som em ratas grávidas afetam o aprendizado de habilidades locomotoras nos ratos adultos, como observou Suresh e colaboradores, em 2002. (BUCKLEY, 2005)
Camundongos albinos, expostos a diagnóstico de ultra-som, havia alterações significantes de comportamento em todos os três grupos expostos, como revelado pela diminuição das atividades locomotora e exploratória e pelo aumento do número de tentativas necessárias para aprendizado. Isto indica que o ultra-som, durante a vida fetal, pode alterar o desenvolvimento cerebral do camundongo na vida adulta.
(DEVI et al, 1995).

De 1.628 mulheres grávidas da população geral, 825 mulheres foram alocadas em exame de ultra-som entre a 18a e a 32ª semanas de gestação, além de cuidado pré-natal de rotina. 803 mulheres receberam uma única exposição ultrasonográfica e somente poderiam realizar outra caso houvesse precisa indicação clínica. A incidência de gravidezes pós-termo era aproximadamente de 70%, no grupo de exposição a ultra-som. Fica claro que, nas mulheres não submetidas ao ultra-som, com freqüência não há indução de trabalho de parto por avaliação de pós-termo. (EIK-NES et al, 2000)

Os estudos epidemiológicos sobre exposição humana de ultra-som na gravidez foram revisados. Eles concentraram possíveis associações de ultra-som in utero com câncer na infância, alterações do desenvolvimento neurológico, dislexia, tendência a uso da mão esquerda, atraso na fala e nascimento de baixo peso, quando houve muita freqüência de exposição de ultra-som Doppler. (SALVENSEN e EIK-NES, 1995)


James Greenleaf, Paul Ogburn e Mostafa Fatemi, da Fundação Mayo Rochester, investigaram a possibilidade de o ultra-som ser ouvido pelo feto, devido às vibrações secundárias no útero. As máquinas geram pulsos que partem em décimos de segundo e isto acontecendo de modo contínuo pode ser ouvido no tecido examinado. Colocaram um hidrofone no útero durante o exame e o som ouvido era similar às notas altas do piano. (SAMUEL, 2001)

Em pesquisa no Reino Unido também se verificou que o ultra-som de pulso Doppler tem som relativamente alto. (HENDERSON et al, 1995)
MOLE indica, em artigo de 1986, que a exposição ao ultra-som causa morte celular em animais e que, esta exposição no período entre a 16ª e a 18ª semanas, pode gerar alterações funcionais de neurônios nos hemisférios dos indivíduos. (BUCKLEY, 2005)

Estudos em humanos têm mostrado efeitos adversos do ultra-som; como ovulação prematura, vista por Testar e colaboradores, em 1982; aborto e trabalho de parto prematuro, vistos por Saari-Kemppaine e colaboradores, em 1990, e Lorenz e colaboradores, também em 1990; morte perinatal, vista por Davies e colaboradores, em 1992. (BUCKLEY, 2005)
Na Noruega, 2.161 crianças, (89%) dos escolhidos de 2.428 nascidos de gravidez não gemelar. Percebeu-se que há indicação de que a exposição ultra-sonográfica tenha relação com lateralização diferente da média. (SALVENSEN et al, 1993).

Em estudo na Suécia, entre 1973 e 1978, através da observação da população masculina quando do alistamento militar, viu-se que a incidência de canhotos era maior naqueles que tinham sido mais expostos a ultra-som, durante o pré-natal. (KIELER et al., 2001, KIELER et al., 2002) Ainda na Noruega, em uma amostra maior de 4.714 crianças, o mesmo fato foi observado. (SALVENSEN et al, 1999) Outro estudo na Universidade de Upsala, na Suécia, que comparou os nascidos entre 1985 e 1987, notou que a propensão à condição sinistra era maior entre meninos. (KIELER et al, 1998) Na Irlanda, dados similares foram achados sobre fetos que, expostos a ultra-som, apresentavam mais tendência a serem canhotos.(HEPPER et al, 1991)
Na Austrália, de 2.834 gestantes de gravidez do grupo exposto, as crianças nasceram de mais baixo peso. (NEWNHAM et al, 1993)

Numa amostra, 603 das 2.428 crianças expostas a ultra-som apresentavam dislexia. (SALVENSEN et al, 1992). A
dislexia também foi pesquisada por Stark e colaboradores, em 1984. (BUCKLEY, 2005)
Campbell estudou 72 crianças com atraso de fala, entre as idades de 24 e 100 meses. Todas elas tinham tido alto nível de exposição ao ultra-som, durante a vida fetal. (CAMPBELL, 1993)
Dois estudos randomizados, de longa duração, controlados na Suécia e na Noruega, compararam exposição, menor exposição ou nenhuma exposição ao ultra-som e o que se observou foi o efeito negativo sobre: desenvolvimento das crianças até oito e nove anos, medindo os efeitos no crescimento e alteração no desenvolvimento da audição, como demonstrado por Salvesen e colaboradores, em 1992; outros artigos, nos anos de 1992, 1993, 1994; e Kieler, em 1997. (BUCKLEY, 2005; KIELER et al, 1998).

Ultrasom de rotina é uma prática que não se provou resultar eficiente, mas, ao contrário, o uso caótico de tal rotina leva à repetição excessiva de exames, com o agravante de criar a visão, que se converte em uma tendência, de que a descoberta muito precoce de defeitos fetais e anomalias cromossomiais pode se dar através deste procedimento o qual, por seu turno, leva à maior argumentação para blindagem de rotina. O que deveria haver, na verdade, era um melhor preparo de quem maneja o aparelho para poder avaliar a realidade de existência de anomalias congênitas. (LEVI, 1998)


Ultrassom rotineiro está definido como um procedimento de blindagem, normalmente executado na população obstétrica total, entre 18 e 20 semanas de gestação. Tais procedimentos podem conduzir à ansiedade desnecessária, se há um resultado falso-positivo, ou para um falso-senso de segurança, se há um resultado falso-negativo. Literatura extensa não fornece nenhum suporte sobre a melhoria na mortalidade ou morbidade perinatal, nem sobre uma redução global em intervenção desnecessária com ultra-som rotineiro. O papel da ultrasonografia de rotina, e sua validade como um teste de blindagem para malformação fetal em uma população de pouco risco, ainda é o objeto de debate. (ANTSAKLIS, 1998)

O ultra-som expõe ao aumento da temperatura intracraniana. Tem som alto. Alterações do desenvolvimento neurológico, dislexia, tendência a uso da mão esquerda, atraso na fala e nascimento de baixo peso. Quando houve muita freqüência de exposição de ultra-som Doppler.
O ultra-som provoca três efeitos: o térmico, o de cavitação e a radiação, Atinge o gás nas células e causa explosão – especialmente em neurônios. O ultra-som somente se justifica quando a indicação se faz necessária e não se observou vantagem em seu uso de rotina.

Ao longo da observação de 9 meses em 3 clinicas do Rio de Janeiro, antropóloga concluiu: “tornou-se claro que naquele universo, no que dizia respeito à produção de verdades, o eixo subjetividade/objetividade se fazia presente de modo cotidiano e dinâmico na prática dos atores”. No tocante às “verdades médicas”, pode-se considerar que haveria um predomínio do aspecto ‘objetivo’, pois com freqüência elas eram apresentadas como dados matemáticos, quantificáveis, traduzidos em números, tais como idade fetal, peso, tamanho, fluxos sangüíneos etc. (mesmo que, a rigor, essas informações fossem apenas estimativas produzidas pelos aparelhos, os atores lidavam com elas como se fossem dados concretos)” (CHAZAN, 2007, p. 117)

“O prazer de olhar e seu correspondente – o de ser visto – são constantemente alimentados por novas tecnologias visuais.” – (CHAZAN, 2007, Exercendo o biopoder para gerenciar a vida).
A atividade fetal observada por meio de imagens é resignificada pela subjetividade dos atores presentes – médicos, gestantes e acompanhantes – que criam interpretações as mais diversificadas e imaginosas. (CHAZAN, 2007, BERGERET, SOULÉ, GOLSE, 2006). Todos os médicos no universo etnográfico da pesquisa de Chazan em 3 clínicas, por 9 meses, tinham a consciência de que havia uma dose de subjetividade na decodificação das imagens, e se ressentiam da atribuição da objetividade seja pelos seus colegas, seja por seus pacientes. (CHAZAN, 2007)


O “prazer de ver” as imagens fetais, e isto implica em filmes, sessões de filmes em casa com famílias e amigos leva a uma demanda que retroalimenta a demanda das gestantes por este tipo de exame. (KEMP, 2005).
É digno de nota a marcação do exame com finalidade única de ver o sexo do feto, e este comportamento não é verificado em outros países. (CHAZAN, 2007). O exame acaba por ter uma faceta médica e outra de entretenimento, com platéia variável. (CHAZAN, 2007).


A imagem, o consumo, correm juntas. Marketing é imagem, e a gestante, por exemplo, ao saber do sexo do bebê, dispara as compras “devidas”. É como se neste ato de consumo já começassem a cuidar de seus filhos – obedecendo a uma conexão “consumo-amor (MILLER, 2002)


A ênfase na visão do interior do corpo grávido e na busca por essas imagens coaduna-se, por seu turno, com a voga biologizante, fisicalista, de culto ao corpo, moeda corrente no universo observado por Chazan.


A conseqüência do ultra-som fetal é a antecipação da existência social do feto, através da tecnologia, modelando as culturas: visual, do corpo, de consumo e de monitoramento. (DUMIT & DAVIS-FLOYD, 1998, DOWNEY & DUMIT 1997, HARAWAY, 1991, e muitos outros)

(Fonte: Eleanor Luzes, PHD Ciência do Início da Vida)

1 de junho de 2011

Leituras pra gestantes...



Quando perguntada se já havia algo pronto pro bebê lá em casa, afinal, já estou entrando no sexto mês, eu pensei: Puxa, o enxoval é a última das minhas preocupações. Tenho umas poucas coisinhas que ganhei de presente e ainda não me ocorreu de "ir às compras", como a maioria faria.

Não! Eu estou estes meses todos em deleite, em revisão geral interna, em movimentos psíquicos, em faxina, em exercício da razão e da emoção... Trabalhando a formação física e espiritual deste serzinho que cresce em mim e a minha formação física e espiritual que se forma, com minhas novas formas, agora gestando. Aproveitando a bênção do universo em ter concedido a gravidez às mulheres para crescer... mesmo que doa, mesmo que seja difícil, mesmo que canse.

Talvez as leituras não sejam mesmo tão essenciais e aquela mulher da região rural, afastada dos pavores da cidade possa gestar com riqueza tal qual eu, que vivo a ler, a me instruir.

Mas, dentro do contexto da mulher moderna e estereotipada, como viver o deleite da gravidez sendo bombardeada por todos os lados com instruções, medidas, padrões, medicamentos, patologias, e, além de tudo, infantilizada pela situação? Impossível...

Os noves meses foram muito bem pensados pela natureza; não para forrar as gavetas do quarto do bebê, mas para forrar nossa alma de feminino, resgatar nossas origens de perpetuadoras da humanidade e, aí sim, abrir-se ao mundo, permitindo o nascimento daquela mulher e daquele filho.
Dilatar, ceder, consentir, dar... verbos femininos da maternidade! Mas a maioria quer comprar, colecionar, investigar, furar orelhinhas que nem lhe pertencem...

"Acabo de sair do exame de ultrassom! Está tudo bem como o bebê" (é o que dizem). Nossa, vejam o contrasenso: precisamos que um médico, terceiro estranho ao nosso vínculo, veja chuviscos na tela de um aparelho para ficarmos seguras de que 'tudo vai bem'? Será mesmo? Onde ficou nossa intuição? Nossa comunicação ultra-sensível de mulheres selvagens? Onde está nosso bebê? Dentro de nós ou nos olhos dos médicos?

Estou indo além, pensando que um exame desses não garante absolutamente nada do mundo mágico que é a vida intrauterina. Quantas mulheres saem da clínica com um exame atestando que está tudo bem e, em seguida, o bebê se vai? Quantas saem da consulta médica e, num roupante, o bebê nasce prematuro? Quantas fizeram a translucência nucal e deu 'síndrome de down', daí viaja, gasta, exames e mais exames, choros, desesperos e... não era, ufa! Ufa nada, e os meses de estresse sobre o bebê? A troco do quê? E quantas dão translucência normal e, mais dia menos dia, constatam que o bebê é diferente? Nada nos garante nem mesmo que o bebê encanará, de fato. Só a provisão divina. Sim, ficar grávida é coisa de gente grande! Ou melhor, de mulher grande! Por isto ficamos tão sujeitas, pois apostamos tudo no escuro.

Trata-se da mais pura e forte lição de desapego que existe. O apego que, segundo o budismo, é a causa de todos os sofrimentos. E é mesmo. Devemos nos entregar ao universo interior, voltar a ser o que somos, mulheres selvagens, entregue aos instintos, entregues a si e a mais ningúem! No laudo das ultrassonografias morfológicas está lá: ‘membros, órgãos, feição aparentemente normais’, ‘coração aparentemente com morfologia normal’. Bem com esse termo mesmo, aparente, que o dicionário diz: ‘aquilo que parece real ou verdadeiro, mas não existe, necessariamente, na realidade’.

É impossível navegar com segurança pela magia da gravidez. Quantas estórias conhecemos de erros? Mas será que é o médico que era? Já penso que não. Fazemos exames para, recebendo o atestado de que está tudo bem, continuar tecendo normalidade com a mente, mas o que acontece é o contrário. Quanto mais investigamos, pior fica, mais confuso, mais nervoso, mais invasivo, mais desrespeitoso.

E é nessa sopa psicologicamente negativa e insegura que a mulher mergulha na hora do parto. "Parto? Ah, eu quero normal". Infelizmente, devo dizer aqui que querer um parto dignamente normal não é o suficiente... quem navegou pela gestação com a alma infantilizada, num mundo no país das maravilhas vai se assustar muito quando conhecer a carne-e-osso que é o parto. Daí as consequencias psicossomáticas são simples: não haverá dilatação, o bebê não encaixa (mas quem não está encaixada na dinâmica, na verdade, é a mãe), a dor será insustentável, e por aí vai, todas aquelas complicações que os obstetras adoram e, volta e meia, falam orgulhosos: "eu disse, parto é uma caixinha de surpresas".

Dando continuidade à castração do feminino. Num rasgo de segundo, haverá um bebê bem real, sem os cachinhos dourados dos sonhos, nos braços desta mulher e ela deverá amamentá-lo com sua alma. Mas, que alma? Aquela infatil e vazia? Não, novamente ela será vítima fácil da artificialização do amor. Seu leite será fraco, insuficiente; ou seus seios não terão bico, ou racharão, ou serão muito grandes, muito pequenos... faltará entrega, coragem, confiança, faltará uma mulher adulta.

Nos dizeres de Laura Gutman (Maternidade) a mulher se deparará com a sua parcela mais recôndita da alma, encarará tudo aquilo que sempre quis esconder, disfarçar... por isto nossos filhos são a melhor ferramenta de crescimento e amadurecimento pessoal que existe, mas isto, claro, aos que estão dispostos a encará-los. O choro do recém-nascido é o choro oculto da mãe e isto fez todo sentido no nascimento do meu primeiro filho que veio de uma cesárea, recheado de frustração, por uma mulher que só 'queria' um parto normal. Todo meu choro, meu lamento, saía através do meu pequeno.
A posição vitimizada é sempre muito confortável, muito cômoda. A pose de Barbie ainda é muito valorizada. Mas não nos enganemos! Nossa alma cobrará pelo crescimento, mais dia, menos dia, ela aparecerá. A gestação, o parto, a amamentação são veículos maravilhosos de crescimento da mulher, mas se ainda assim ela preferir abafar sua verdade, em algum momento esta mulher faminta virá à tona. Nós até podemos nos esconder por um tempo, fugir, disfarçar, mas, não há saída: O progredir infinito é a Lei Universal!

Meu enxoval:
100 promessas para o meu bebê (Malika Chopra)
Origens mágicas, crianças encantadas (Deepak Chopra)
Diário da Gestante (Fadynha)
Quando o corpo consente (Thereze)
Memórias do Homem de Vidro (Ric Jones)
Nascer Sorrindo (Leboyer)
A cientificação do Amor (Michel Odent)
Maternidade e o encontro com a própria sombra (Laura Gutman)
Infância, Idade Sagrada (Evania Reichert)
Parto ativo (Janet Balaskas)
Mulheres que Correm com Lobos (Clarissa Pinkola)

E você? O que leu ou está lendo em sua gravidez para nutri seu corpo e sua alma? Conte aqui!
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...