26 de janeiro de 2015

Maternidade Ativa: Amamentação: Carta de uma mãe que quer amamentar...

foto: arquivo pessoal

Adoro cartas de mãe para filhos! Temos umas lindas aqui e aqui... e quando estas cartas envolvem superação e entrega materna, são ainda mais emocionantes. Mariana escreve para a filha sobre os desafios e a luta que travou para conseguir amamentá-la, mesmo com os prejuízos advindos de uma mamoplastia, quando mais jovem.

Amamentação e superação: mais uma bela história:



"Filha, com 19 anos a mamãe fez uma mamoplastia - redução do seio - que deu super errado porque a auréola do lado esquerdo necrosou. O resultado não foi satisfatório, inclusive esteticamente. Como sempre quis ser mãe, tive muita insegurança se conseguiria amamentar. O médico disse que não tinha como garantir, só quando eu tivesse filho ia saber. Além disso, a mamãe quase não tem bico nos seios.

Bom, você nasceu e a minha doula não foi embora enquanto eu não consegui te fazer mamar. Foi difícil para você aprender, principalmente porque não tenho bico. Mas conseguimos e a nossa primeira noite foi com você de um peito para o outro, mamando o colostro. (Dormiu o dia inteiro e a noite ficou com fome).

Depois de uns 2, 3 dias, já na casa da vovó, desceu meu leite e eu já pude notar que o seio direito ficou enorme e o esquerdo não. Quase não desceu leite do lado esquerdo, justamente o seio que eu tive necrose.

A doula e o médico me orientaram a continuar colocando você nele para estimular e foi o que eu fiz, mas não mudava muita coisa, logo você se irritava nele. Como é muito comum, meus dois bicos machucaram. Me diziam que por volta de uns quinze dias o meu organismo se acostumava, o bico 'calejava' e eu me contorcia de dor para amamentar, principalmente quando você abocanhava o peito... isso somado ao pós-parto, à recuperação dos pontos no períneo, à distância do seu pai (que estava em Cacoal e nós em Brasília) e às emoções do puerpério... não foi nada fácil!

Eu contava os dias para que passassem logo os 'tais quinze dias'... bom, chegou o 15º dia e nada de melhorar. Enquanto isso, você chorava até que bastante, bem mais à noite, e a mamãe só conseguia te acalmar no peito, o que era um tremendo sacrifício, já que você ficava às vezes uma hora e meia mamando sem parar, como se fosse uma chupeta.

Eu e a vovó achávamos que você estava com as famosas cólicas e, de fato, você tinha gases; mas também tinha fome! Constatei isso quando te levamos ao pediatra com 18 dias e vimos que só havia engordado 12g por dia e o mínimo seria 20g. Ele orientou que eu te desse complemento com o leite artificial e disse que você poderia ganhar força e sugar mais forte e estimular o peito a produzir mais e tinha chance de você mamar só no peito depois de 15 dias.

Meu sentimento foi se frustração quando percebi que teria que complementar... Senti vontade de chorar e medo de que você largasse meu peito. Eu já tinha me informado sobre relactação, que é uma forma de amamentar com uma sonda acoplada numa seringa e você mamando no peito. Foi o que eu decidi fazer, para não oferecer mamadeira e correr um risco maior que largasse o peito. Isso dá um trabalhão! Eu dava sempre primeiro o meu leite e depois o complemento. O complemento eu dava no seio esquerdo, para continuar recebendo estímulo de sucção. Me disseram que com um mês o peito "calejaria" e melhoraria a dor... você completou um mês e eu ainda sofria com dor! A dor era mais forte no peito direito, que era o que mais você mamava. Ele ficou rachado no meio. Não eram fissuras, mas talvez você mamando errado. O peito ficava vermelho e não ficava dolorido apenas no bico, doía lá dentro também.

Eu usei pomada, raspa da casca de banana, o meu próprio leite, concha de silicone, ordenhava o leite e nada fazia melhorar, só analgésicos que me aliviavam a dor, mesmo assim apenas temporariamente. Então, você já maiorzinha, com mais de um mês, foi à pediatra aqui em Cacoal. Ela me passou uma pomada e foi o que resolveu os machucados no bico. Foram mais de 40 dias de dor e vermelhidão! Mesmo assim, nada me fazia pensar em desistir... o vínculo que criamos e os benefícios do leite materno me motivavam.

No entanto, com o tempo, não teve jeito. Só meu peito não te alimentava. Fiquei uns 45 dias fazendo a relactação com seringa, mas a quantidade de leite que você ingeria foi aumentando e a relactação tornou-se inviável. Um dia eu realmente cansei e desisti... Conversei com você que eu não gostaria que largasse meu peito e ofereci mamadeira. E estamos assim até hoje. Você não largou o peito, está com 2 meses. De madrugada, normalmente, só mama no meu peito, de dia mama os dois. Fico feliz por todo meu esforço estar dando certo, e torço de todo coração que eu possa te amamentar por no mínimo 6 meses e além, até quando você quiser. Me sinto uma vitoriosa até aqui e não sinto que vá largar meu peito... É muito amor não é mesmo, filha ?

Tudo isso para você saber da minha doação e para que saiba que temos que lutar verdadeiramente pelo que queremos e pelo que vale a pena.

Por amor e com amor,

Mamãe Mariana"


Essa é Alice, aos 4 meses, que segue feliz mamando no peito!










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