23 de dezembro de 2013

Relato de parto da Verônica: parto natural hospitalar


Contrariando uma  pesquisa que apontou que a grande maioria das mulheres, quando engravida, prefere o parto normal, a Verônica não! Ela, de plano, pensou em ter sua filha de cesariana. Por uma coincidência do destino, que eu chamaria de dádiva mesmo, o marido dela foi amigo de infância da doula Izabela, que é proprietária da Bello Parto e partiu dele a ideia de frequentar os encontros. Enquanto muitas mulheres precisam travar batalhas até mesmo com o próprio marido para conseguir um parto digno e um nascimento respeitoso pro filho, a Verônica saiu na frente...

E quando a ansiedade apertou, ao invés de pedir, em oração, para que a Betina nascesse... a Verônica foi além... e, na própria fé, pediu paciência... para aguardar a chegada da filha, para que tivesse a tranquilidade necessária para esperar o tempo da filha! Que lição maravilhosa que ela vai deixar para esta criança, que nasceu em meio a tanto respeito - e que lição que ela deixa aqui, pra nós!!!

A partir de alguns encontros, de muita informação e da comunhão de desejos... chegou a Betina! Betina significa promessa de Deus... e é assim mesmo que a mãe dela, a Verônia, chama o próprio parto: Uma experiência maravilhosa, como Deus criou! Vamos ao relato!



Me chamo Verônica, tenho 23 anos e estou casada há um 1 ano com meu esposo Thiago, 29 anos. Nossa Betina nasceu de um parto natural no dia 02 de Dezembro, próximo de completamos 1 ano de casado no dia 08 de Dezembro, comemoramos 1 ano de casado com o melhor presente de todos.

Descobrimos nossa gravidez com aproximadamente duas semanas de gestação, foi uma descoberta que me assustou um pouco até porque nós estávamos completando 2 meses de casados e um filho estava nos nossos planos, mas a uma distancia um pouco maior.

Todo mundo ficou feliz com nossa gestação, meu bebê não foi planejado mas sempre foi muito esperado, eu e meu esposo amamos crianças. Durante a gravidez sempre procurei me informar para ter uma gravidez saudável. Logo quando casei meu marido fez um plano de saúde para mim e, logo ao mês seguinte descobrimos nossa gravidez, rolou aquela preocupação, pois o plano não cobriria o parto (nessa época, só vinha em minha mente cessaria). Conversei com meu medico sobre o que poderia fazer a respeito dessa “carência”, ele informou que poderia fazer um “desconto”.

Meses atrás quando trabalhava numa empresa de idiomas, conheci um medico que matriculou seus filhos comigo (ainda não sabia que era medico). Certo dia, quando a gente acorda preocupada com a gravidez, me senti mal e fui ao PS do hospital 9 de julho em Porto Velho e me deparo com o tal pai que matriculou seus filhos. Para o meu espanto ele era medico obstetra. Muito atencioso, me tranquilizou a respeito a minha gravidez e contei pra ele a questão do plano não cobrir minha cesárea... logo me disse “Porque você não faz parto normal? Você tem tudo para ter normal, sua gravidez está ótima, o bebe está ótima, seu corpo tem tudo para ter normal e digo mais, você pode ter lá na maternidade municipal sem medo, lá é referencia!"

Insistir a ele para ter cessaria com ele e ele novamente insistiu para eu ter normal, que seria a melhor coisa para mim e minha bebe. Foi então que meu marido, também de acordo, me mostrou no facebook um grupo chamado  Parto em Rondônia sobre parto humanizado em que fazia parte uma amiga de infância dele. Ela é proprietária da Bello Parto, um grupo de parto humanizado e é doula.

Fui a algumas reuniões e tirei toda minhas duvidas a respeito, fiquei encantada com a possibilidade, passei a me sentir encorajada e disposta a enfrentar tudo e todos, passei a me cuidar mais ainda, fiz caminhada, ficava na piscina. Contava para familiares sobre minha escolha, muitos eram a favor, pois todas minhas tias (família grande de cearense) tiveram filhos de parto normal. 

A parte contraria só me falava da DOR, eu que sempre fui medrosa... eu me imaginava como eu me comportaria mas, ao mesmo tempo também pensava: “foi assim que Deus fez, o corpo da mulher está preparado para isso, eu vou conseguir".

Eu sempre avisava meu marido a não me deixa desistir na hora e ele sempre me dizia que eu iria conseguir que não precisava disso. Com 39 semanas de gravidez já começaram as cobranças do nascimento da nossa primogênita. Familiares e amigos ligavam perguntando quando seria o parto e, eu com muita paciência, respondia que tudo iria acontecer no tempo determinado por Deus, só Ele saberia quando nossa Betina viria ao mundo... Eu tinha na minha cabeça que até as 41 semanas esperaria tranquilamente, mais minha ansiedade já estava dando sinal há muito tempo. 

Eu até fui ao médico e ele me disse a mesma coisa, para ter paciência que a Betina ainda não queria vim, estava muito gostoso na barriga da mamãe. Ele me disse para quando desse 41 semanas para ir ao consultório dele, completei 40 semanas num sábado. No domingo seguia minha ansiedade e de todos por sinal. No fim de domingo, dia de ir para missa, conversei com Deus e pedi para que nossa Betina nascesse no tempo dela e que ele me desse força e paciência. 

Quando deu mais ou menos 20 horas, comecei a sentir umas pontadas, nada de muito forte e, eu não queria me iludir achando que era o inicio do trabalho de parto, então fingi que nada aconteceu. Ao dormir comecei a conversar com ela, falando que eu estava muito curiosa para conhecê-la e que se ela demorasse pra nascer, a data ficaria muito perto do natal e, isso depois ela não iria gostar, querendo ou não ela ia ganhar só um presente de natal ou de aniversario (rsrs). 

Eu e meu marido fomos dormir rindo da brincadeira. Foi então que à 1 hora da manha, senti um “ploc”... fui ao banheiro, senti alguma coisa diferente novamente, um cheiro diferente, um volume diferente, meu sorriso foi no olho e, eu corri para contar para meu esposo! Ele na hora se levantou feliz e muito nervoso ao mesmo tempo. Fiquei calma, deitei e tentei dormir mas estava tão feliz que não conseguia fechar os olhos. 

As primeiras contrações me faziam rir, minha mãe que tinha chegado de viagem 10 dias antes - ela mora em Linhares-ES - também começou a sentir minhas contrações (era até engraçado). Minha felicidade era imensa, as contrações ainda não... conversei com as meninas do Bello Parto (sempre presente na minha gravidez) via whatsapp e, me pediram ficar calma e fazer exercício, tentei ficar calma pois as contrações começava a ficar mais fortes, mas fiquei caminhando pela casa acompanhado com meu marido. 

Às 3 horas da manhã fui ao hospital para saber minha situação, estava com apenas 2 cm de dilatação, voltei para casa pois na maternidade só é permitida a internação com 4 cm. Em casa com as dores mais fortes, queria dormir mas era impossível... as dores vinham e vinham fortes, não eram mais aquelas dores que me faziam sorrir, mas eu sabia que era para chegada da filhota. Isso que ia me acalmando. 

Cinco horas da manhã, fui a maternidade e ufa!, 4 cm de dilatação. Agora vai ser rápido, o medico ainda me disse “la pelas 11 horas ela nasce”...  ERRADO! rsrsrsrs

Me sentia cansada, sem vontade de fazer nada apenas de dormir, sentia as dores, ao lado do marido, e queria que as horas passassem rápido... Errado também! As horas passavam, menos as dores e nada de dilatação aumentar, meu marido insistia em fazer caminhada junto comigo para acelerar o trabalho de parto mas eu estava cansada. 

Às 8 horas, com 6 cm de dilatação, surge ela, com aquela rosto tranquilo que transmite paz: Sandra Schulz   (integrante do Bello Parto) e me pergunta: “Oi Veronica? Tá tudo bem?” e eu só respondia “Não, estou cansada, não vou conseguir”, então ela afirmou “você vai conseguir, sim! Pois eu vou ficar aqui com você”. 

Ela trocou de roupa e voltou com um copo de suco com glicose para me dar energia, já trouxe uma banqueta para auxiliar no parto humanizado e me deixou junto com meu esposo em baixo do chuveiro bem quente e deixava a água cair na lombar, enquanto meu marido fazia massagem, ajudou aliviar a dor. 

As dores eram mais fortes, ela sempre ao meu lado também me auxiliava na respiração. Fiquei horas e horas no chuveiro ao lado do meu marido, as vezes gritava com ele porém, ele nem ligava, apenas sorria e me pedia calma, que faltava pouco. 

Era só isso que os dois diziam: “calma, falta pouco, você vai conseguir”. Ao meio dia fui para cama e fiquei de quatro abraçada na cama, já não me importava com as dores, era uma posição mais confortável que achei. As dores vinham mais fortes, estava quase na hora, mais ou menos às 13 horas, percebi que a Sandra já arrumava o local para receber minha Betina, então eu pensei FALTA POUCO... mas aí as dores vinham fortes mesmo. 

Meu marido ajudava fazendo massagem na lombar e, segurando na minha mão ele disse baixinho no meu ouvido “Força amor, tá quase, já estou vendo o cabelinho dela”. A Sandra me pediu para quando a contração viessem eu fazer força... na primeira tentativa eu não achava força de lugar nenhum, então eu busquei forças... respirei, respirei e quando a contração final veio foi uma mistura de de dor e alivio... ouvir o chorinho dela, ver meu marido ao lado chorando de emoção... naquela ocasião nem lembrava mais que havia sentido dor.

A Sandra me trouxe a Betina e a colocou no meu peito... que sensação maravilhosa! Meu marido ao lado filmava tudo muito emocionado, olhei para minha filha e disse que ela era a banguela mais linda e todos do quartos riram, falei que ela tinha o queixo do vovó e o cabelo do papai. 

Assim nasceu minha filha amada, às 13:27 do dia 02 de Dezembro de 2013. Um bebezão com 3,835 quilos e 51cm. Não injetaram ocitocina, nem fizeram episiotomia, tive 2 pontos em razão da laceração. Se eu tivesse em outro local que não fosse a maternidade municipal não seria tão lindo assim. Foi maravilhosa a presença da Sandra e de meu marido que foi primordial desde do inicio da gravidez, sempre cuidado de mim e da Betina, com certeza ele sem eles não teria sido tao lindo e emocionante. 

Uma experiência maravilhosa como Deus criou.






2 de dezembro de 2013

Maternidade Ativa: a síndrome de down não detectada e muito amor às surpresas da vida



Umas das coisas mais deliciosas de se manter um blog é a oportunidade de conhecer pessoas!
Esta pessoa eu não conheci agora, mas a última vez que eu a vi, morávamos em Porto Velho e éramos meninas ainda. Hoje eu a encontrei numa condição muito especial e a convidei pro nosso espaço.

Ela é mãe agora e procura desenvolver a maternidade de forma consciente, encantada com este amor maior. Sinto-me honrada de poder levar à público uma condição especial e que poderá servir de norte para tantas famílias pelo mundo afora.

Já dissemos por aqui que 'Filhos... o importante é que venham...'. Sim, muito mais do que preferência pelo sexo, cor de olhos, saúde e ideais de perfeição, nossos filhos serão sempre aceitos e vêm por razões mágicas, por acordos encantados dos quais pouco compreendemos.

Temos aqui a dádiva de conhecer uma história (dentre muitas outras anônimas) em que o famigerado exame de translucência nucal e todos os demais exames da praxe de um pré-natal nada detectaram e eis que uma surpresa chegou!

Esta é a Lauriceane, fisioterapeuta, contando sobre sua primeira grande realização como mãe: receber o Lucas...





Após onze anos de namoro e cinco anos de casados, eu e meu marido, ambos com 26 anos na época decidimos engravidar do nosso primeiro filho, tudo muito programado e planejado. Na época, eu morava em Porto Velho, Rondônia, estava no último ano da faculdade de fisioterapia e iria me formar em dezembro de 2007.

Em setembro de 2007 procurei uma ginecologista obstétrica para me preparar para engravidar. Ela me receitou acido fólico por três meses antes da gravidez, pois tomava anticoncepcional há muito tempo. Após três meses de tentativas conseguimos engravidar.

Em fevereiro de 2008 fiz o exame de sangue e descobri que estava esperando o nosso primeiro filho, primeiro neto de ambas as partes, só alegria e muita emoção! Fiz o meu pré-natal minuciosamente e todos os exames ficavam sempre dentro da normalidade, inclusive o da translucência nucal. Com 16 semanas descobrimos o sexo: um menino e decidimos o nome: Lucas Pessetti Antonelo.

Nesta ultrassom o osso nasal estava presente (na síndrome de Down ele demora a aparecer devido ao formato do nariz característico da doença), enfim, tudo sempre normal.

Eu tive uma gestação saudável, só felicidade. Quando me aproximei da 37ª semana, conversei com minha médica e decidimos esperar o parto normal, porem não tive sucesso. Na ultima consulta com 39 semanas já estava há uma semana com 1 dedo de dilatação e o batimento do bebê já estava diminuindo, logo ela achou melhor interromper a gestação e fazermos a cesariana.

No dia 31 de outubro, as 17 hs, nasce o nosso amado e esperado Lucas. Durante o parto, mesmo sendo cesárea, a doutora teve dificuldade em retirar o Lucas. Tiveram que empurrar muito minha barriga e quando ela pegou e disse que ele tinha nascido, não o ouvi chorar. Questionei o anestesista que estava do meu lado e ele disse que estava tudo bem.

De repente vi o pediatra correr com o Lucas para a sala do lado e dentro de instantes o Lucas chorou, mas foi mais um grito do que choro. Depois de um tempo ele veio me mostrar o Lucas. Nossa muito lindoooo, todo delicadinho, porém bem roxinho e gelado! Perguntei se estava tudo bem, ele respondeu que sim, mas que estava com frio e que tinha que ficar na incubadora para aquecer. Pedi que avisasse meu marido, minha família e amigos que estavam aguardando lá fora o nascimento, pois o hospital que tive o Lucas não permitia a entrada de acompanhantes no parto cesariano.

Bom, enquanto eu estava no centro cirúrgico, antes de ir pro quarto, o pediatra estava dando a noticia para o meu marido e para os avós do Lucas. A notícia era a de que, provavelmente, ele seria portador da Síndrome de Down, tendo em vista algumas características que ele tinha observado. No entanto, avisou que só o exame de sangue, o cariótipo, iria confirmar.

Até esse momento, eu não sabia de nada... Meu marido não aguentou e foi caminhar em volta do hospital tentando aceitar a notícia... Meus pais não entendiam nem o que era ser uma criança com Síndrome de Down... Minha sogra, viúva e com muita fé, aceitou muito bem e tentou fortalecer os demais na aceitação...

Logo que fui para o quarto, vi que algo não estava bem. Não via meu marido perto de mim. Ainda sonolenta achei que estava lá com o Lucas na incubadora, porém, logo veio a minha médica – fantástica – de uma delicadeza imensa, me dar a notícia!

Ela iniciou a conversa dizendo que tínhamos feito todos os exames necessário e que tudo tinha dado normal, mas que o pediatra estava achando que o Lucas tinha síndrome de down. Nessa hora apenas conseguia ter mais amor no meu coração e dizer que não tinha problema, que o amaria do mesmo jeito, que era meu filho e que estava muito preparada para receber e amar muito o Lucas.

Sempre fui apaixonada pela pediatria e era essa área que queria seguir na minha carreira profissional, todo o meu trabalho de conclusão foi em estimulação precoce. Nossa! O Lucas nada mais era do que um grande presente de Deus na minha vida.

Logo em seguida meu marido entra no quarto abatido e preocupado. No entanto, quando viu minha reação, tudo foi mais tranquilo, toda a tensão acabou e começaram a, finalmente, comemorar o nascimento do nosso pequeno e amado Lucas!

Às oito horas da noite, o Lucas veio pro quarto e, quando peguei ele nos braços e ele abriu o olhinho pra mim, vi realmente que ele tinha Síndrome de Down, mas estava muito ativo e esperto. Eu notei quando ele abriu o olho por causa da prega oblíqua ocular, que só os orientais apresentam. Como na nossa família não temos orientais, não seria uma característica nossa.

O pediatra relatou, além da prega ocular, dedos das mãos curtos e grossos (apesar de que meu marido tem essa característica), linha da palma da mão única e hipotonia muscular (por isso que a médica teve dificuldade em retirar o Lucas, ele era muito molinho).

Muitos pediatras não acreditavam que ele tinha a síndrome, mas o neonatologista que pegou o Lucas é muito bom, ele de cara notou. É um medico muito conceituado em Porto Velho. Fui pra casa num domingo e na segunda fizemos todos os exames de ecografia dos órgãos, coração, tudo normal. O cariótipo confirmou a trissomia livre do cromossomo 21, ou seja, o Lucas era portador da Síndrome de Down e eu, como fisioterapeuta, comecei a estimulá-lo desde muito cedo.

O Lucas apresentou um pouco de dificuldade para mamar, não pela hipotonia de face, porque ele sempre apresentou muita força na sucção e sempre manteve a linguinha dentro da boca, mas sim porque meu bico do seio era muito grande e a boca dele muito pequena. Mas eu não desisti! Eu colocava ele para mamar e, quando recém nascido, tirava o leite, colocava numa seringa e ele sugava. Já era uma forma de estimulação pra musculatura da face. Com um mês ele já mamava perfeitamente no seio e foi até 1 ano e meio.


Meu trabalho de conclusão do curso de Fisioterapia foi através do método portage, uma escala que avalia a criança e descobre em que idade motora ela está e mostra o que a criança deveria estar apresentando 'motoramente' falando, comparando com a idade cronológica. Essa escala foi realizada para pais com filhos com síndrome de Down, por isso que digo que eu fui muito preparada por Deus, intuitivamente, pra receber o Lucas.

Na época não imaginaria que teria um filho especial, louco isso né?! A estimulação precoce é realizada através de exercícios que estimulam a criança a desenvolver as etapas do desenvolvimento motor, como rolar, sentar, engatinhar, caminhar.


Nossa família, além do Lucas, tem a Giovana de 1 ano e 8 meses e que não tem a síndrome. No entanto, eu nunca quis ter um segundo filho antes de curtir muito o meu filhão. Alguns profissionais diziam pra eu ter em seguida um irmão para ajudar a estimulá-lo, mas eu nunca achei isso certo. Queria ter na hora que eu pudesse dar a atenção necessária que uma criança requer. Logo quando o Lucas começou a caminhar, aos dois anos, decidi engravidar do nosso segundo filho.

Eu poderia ter feito essa aminiocentese nesta segunda gestação, mas não quis fazer, é um procedimento de risco e, sinceramente, pra mim não ia mudar em nada.


Na minha gestação do Lucas, os exames de ultrassom foram todos feitos com um médico muito bem conceituado em Porto Velho. Ele é amigo da nossa família e de extrema confiança. Tudo sempre dava normal, fiz até aquele mais avançado. Quando o Lucas nasceu, meu pai ligou pra esse médico e falou o que estava acontecendo e ele disse que a ultra-som tem algumas triagens que fazem pra ver se o feto apresenta alguma anomalia, porém no caso do Lucas todas eram normais, ou seja, não havia razão para se fazer exames mais invasivos, pois não havia nenhuma anormalidade nos ultrassons de rotina.

Explicou que só iríamos ter certeza fazendo uma amniocentese que é um exame que tira o sangue do cordão umbilical e faz o cariótipo, mas como eu tinha pouca idade e era o primeiro filho, não era recomendado fazer, até porque nos exames habituais o bebê não apresentava nenhum indício de ser portador da síndrome.

Hoje moramos em Gravataí, no Rio Grande do Sul, o Lucas está com cinco anos, frequenta há dois anos a escolinha e só nos dá orgulho, pois é muito inteligente, carinhoso e amado por todos. A fala ainda está querendo sair, mas a fonoaudióloga diz que ele está no caminho certo, compreende tudo e se comunica perfeitamente do jeitinho dele! E é isso que importa.




O grande segredo para se criar uma criança especial é só criar com muita normalidade, respeitando as limitações e dar muito AMOR, e isso graças a Deus nunca faltou pro nosso amado Lucas. 




25 de novembro de 2013

Filme O Renascimento do Parto em Cacoal Rondônia: da estreia com estudantes à despedida com uma parteira tradicional...


por Cariny Cielo

O filme O Renascimento do Parto estreou em Cacoal dia 18 de novembro. Pela primeira vez, rondonienses puderam assistir o documentário recorde de bilheteria no país e que aborda, de maneira sensível e corajosa, uma questão de saúde pública: a violência sofrida pelas mulheres no momento do parto e o abuso de cesarianas feitas por conveniência.

O que esperar de uma sociedade nascida pela marca da violência de um parto normal sem respeito ou por via cirúrgica onde o hormônio do amor, a ocitocina ou é sintético ou é anulado por uma cesariana eletiva? Foi a pergunta-chave que restou do filme...

Ficou confirmado pra mim algo que já era bem claro: as mudanças precisarão vir das mulheres. Nós, usuárias dos serviços de saúde é que temos que deixar claro que sabemos exatamente o que queremos e porque queremos...

"Não me corta, porque eu sei o que eu tô perdendo". A obstetriz Ana Cristina Duarte, no filme, explica exatamente essa realidade da sociedade capitalista que se move conforme uma demanda! É isso, as mudanças ocorrem segundo demanda e essa demanda tem que ser exercida pelas gestantes, pelos pais, pelas famílias... eu já disse muito isso por aqui, o tempo não é de 'deixar a vida acontecer naturalmente' porque nosso sistema obstétrico não permite isso...

O tempo é de luta, embora nosso objetivo seja a paz... o nascer em paz!

E embora não seja óbvio - ainda - para muitas pessoas, a importância da vinda do filme pra cá e de se levantar debates em uma seara antes intocada - a das condutas médicas no nascimento - foi um dia relevante e que deixou sementes nestes Estado que carrega o vergonho título de número 1 em nascimentos por cirurgia...



Teve exposição de fotos na entrada no Cine Art Cacoal com fotos da Semana Mundial de Respeito ao Nascimento da Parto do Princípio com ajuda da fisioterapeuta Mayara Tassi.


Teve gente agradecendo e comemorando muito a oportunidade, como a Juliane, da cidade de Rolim de Moura, estudante de biologia da Facimed, casada também com um biólogo e que me disse: "eu busco informação há muito tempo e quero muito ter filho de parto humanizado. Meu marido é biólogo, eu estudo biologia... a gente sabe que somos mamíferos e que o melhor parto é o parto mais natural possível".



Alguns médicos prestigiaram a estreia. Mas a presença maciça ficou por conta dos acadêmicos de enfermagem e medicina da Facimed Cacoal, orientados pela Coordenadora do projeto, professora Tânia Roberta Furtado e pela também professora Helizandra Bianchini Romanholo. A Faculdade de Pimenta Bueno também veio, em um ônibus particular.

Teve a presença especial do Conselho Municipal de Direitos da Mulher e da Presidente do Conselho Municipal de Saúde.


(foto: professora Helizandra Bianchini Romanholo, conselheira de saúde Edna Mota, 
enfermeira Clarice Hamanaka, Cariny Cielo, Tânia Furtado e Flávio Ferrari)



Após a exibição do filme, entreguei dois exemplares do livro 'Memórias do Homem de Vidro', do obstetra e homeopata Ricardo Jones - que participa do filme - à Facimed, por meio da enfermeira Tânia Roberta Furtado e ao pediatra Flávio Ferrari, que é coordenador do curso de medicina da Facimed e apoiou o projeto de extensão acadêmica. Com direito à autógrafo!

O filme seguiu em cartaz na terça, quarta e quinta-feira para alguns poucos interessados. Na quarta-feira eu fui com algumas amigas e, talvez por estar mais relaxada, não tão envolvida com as organizações da estreia, pude curtir mais a telona.... e chorar... o parto roubado e toda a violência obstétrica sofrida, mas chorar também a emoção de ter, enfim, vivido o nascimento de um filho como maior evento de fé da minha vida, compreender minha fuga do sistema. Definitivamente, o filme fez um eco especial dentro de mim. O filme faz eco dentro de cada um que assiste.

Agora, a emoção mesmo ficou por conta da despedida! Sábado, dia 23 de novembro, em horário alternativo, às 11:00 horas, assisti o filme na presença de uma doula de Porto Velho, a Izabella, da Bello Parto e com uma parteira tradicional de Cacoal. Algumas estudantes de pós-graduação em obstetrícia também prestigiaram.


A Izabella saiu do filme muito emocionada, não por ter sofrido violência obstétrica, como acontece com a grande maioria... não, ela chorou um choro de encontro, de harmonia, de felicidade e encantamento. A emoção de encontrar um lugar no mundo, uma missão... a emoção de, como ela mesmo falou: "perceber tão nitidamente, a razão pela qual eu nasci"

A parteira é pioneira em Cacoal e vai fazer 70 anos e durante mais de 3 décadas 'pegou menino' como ela mesma diz. Emocionou-se ao ver um tema que permeou sua vida ser tratado com tanto respeito e importância. O nascimento natural agora ganhou as telonas! Ela voltará aqui para uma entrevista super emocionante divertida.

E acabou. O filme foi embora deixando um  nó na garganta de muitos e um novo olhar sobre o nascimento em outros tantos...


pelas pessoas que agradeceram a oportunidade de ver um tema afeto aos grandes centros chegar até aqui...
pelos estudantes que tiveram a chance de, não apenas ler, mas ver a outra história do nascer...
pelos homens que entenderam que não se trata de um tema só de mulheres...
pelas mulheres que saíram chorando aos soluços ao perceberem o que seu íntimo já sabia...
pelas gestantes e futuras gestantes que tiveram a chance de ainda discutir uma via respeitosa de nascimento aos seus filhos...
pela parteira que chorou quando viu a Naoli Vinaver dizer 'nós mulheres gostamos de parir'...
pelos encontros e sensação de pertencimento constatados através daquelas imagens...
por todas as lágrimas e por todos os sorrisos...
Gratidões eternas!


E você? Assistiu o filme? Conte como se sentiu...


Divulgação:
Rondonia In Foco
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Com Festas
O Combatente
Acadêmicos de Medicina Facimed
News Rondônia
Cine Art Cacoal

12 de novembro de 2013

O Renascimento do Parto em Cacoal Rondônia


por Cariny Cielo

A FACIMED, a Faculdade de Ciências Biomédicas de Cacoal – Rondônia, aprovou o projeto de extensão “O Renascimento do Parto em Cacoal” de autoria da enfermeira obstétrica Tânia Roberta Furtado que é professora do curso de enfermagem da instituição.

O curso é coordenado pela enfermeira Janice Segura, que acompanha o projeto. O objetivo é estimular a participação dos acadêmicos na exibição do filme nas sessões do Cine Art Cacoal. A proposta é realizar debates, inclusive em salas de aulas, acerca do filme, como forma de amadurecer o assunto em Rondônia.

Tal participação é de extremo valor e importância uma vez que envolver a classe acadêmica é valioso para levantar discussões de qualidade, promover reflexões e enriquecer o pensamento dos futuros profissionais.

O tema é relevante e a comunidade acadêmica é uma força motriz, fomentadora de mudanças e de conscientização.

São, ainda, colaboradores do projeto: o médico Flávio Ferrari, professor do curso de medicina da instituição e a educadora perinatal Cariny Cielo, membro da rede Parto do Princípio.



Para saber mais:

CACOAL É A PRIMEIRA CIDADE DE RONDÔNIA A EXIBIR O FILME "O RENASCIMENTO DO PARTO"

Em exibição inédita no Estado de Rondônia, dia 18 de novembro, o Cine Art de Cacoal, de propriedade de Paulo Roberto Bezerra, trará o filme nacional "O Renascimento do Parto" que já é um dos documentários de maior bilheteria na história do cinema nacional e exibido em mais de 40 cidades.

O filme bateu o recorde brasileiro de crowdfunding (financiamento coletivo), foi selecionado para festivais internacionais de cinema em Los Angeles, China, Venezuela e Colômbia, selecionado para o XIV Projeta Brasil Cinemark entre os 28 melhores filmes de 2013 segundo a Rede Cinemark e convidado pela Secretaria Geral da Presidência da República para ser exibido no Palácio do Planalto diante ministros e autoridades.

O filme aborda, de maneira sensível e muito tocante, uma questão de saúde pública: o excesso de cesarianas e a mercantilização do nascimento no Brasil, que é campeão de nascimentos por cirurgia no mundo. Rondônia, neste aspecto, carrega o vergonho título de primeiro lugar do país, por três anos consecutivos, conforme dados do DATASUS.

Cine Art estreará o filme em Cacoal, cidade que é polo universitário dos cursos de medicina, enfermagem e técnico em enfermagem, embora o tema seja de interesse geral e de imensa relevância mormente tratar-se de tema que envolve todos direta ou indiretamente.

"Foi uma longa jornada conseguir o contato com a distribuidora do filme, mas estou vendo que todo esforço tem valido a pena. A equipe do filme é formada por pessoas espetaculares que estão neste projeto apenas por amor", conta Camila Duarte, gerente do Cine Art Cacoal que ficou sabendo do projeto através da Parto do Princípio, rede nacional de mulheres em prol da maternidade ativa

Imperdível: Dia 18 de novembro, segunda-feira, às 20:00 em pré-estreia para convidados e a partir do dia 19 de novembro, todas as noites às 22:00 horas.

Assista o trailer


7 de novembro de 2013

Relato de parto da Eva: parto normal hospitalar


A Eva chama o próprio de parto de uma 'Saga'! É um termo que descreve bem tudo o que teve que lutar para conseguir um atendimento digno no momento do nascimento de sua filha. Ela sofreu desde violências verbais do médico - antes, durante e, até mesmo, depois do parto - até condutas de rotina reconhecidamente desaconselhadas pela Organização Mundial de Saúde.

Estaríamos avançando bastante na qualidade de atendimento às gestantes se houvesse a cultura do Plano de Parto. Ele é recomendado pela OMS há décadas, mas ainda é desconhecido no Brasil!

Eva, mesmo conhecedora de seus direitos, ela sofreu violência obstétrica. Como ela mesmo diz "não conseguia chorar, só olhava para onde eles estavam com a minha filha. Podia ter sido um parto lindo! Me preparei para isso. Só que cai nas mãos de um açougueiro. Mesmo com toda força e informação, ainda assim fui vítima do sistema.".

E, para quem sofre violência obstétrica, saiba aqui, como denunciar...





Eu e o meu marido, fomos namorados a 5 anos atrás. Terminamos e ficamos esses longos 5 anos sem nos ver. No dia 23 de janeiro do ano passado nos reencontramos e decidimos voltar. No meio do ano, passei por um estresse muito grande, que desencadeou uma doença que até então eu não sabia nada a respeito.

Herpes Genital, mas, além disso, também sofri um aborto espontâneo. Eu não sabia que estava grávida, não tinha sintoma nenhum de gravidez. A primeira crise de herpes, eu tratei como se fosse uma infecção urinaria. O médico nem me examinou, perguntou o que eu sentia e me receitou antibióticos para infecção. A segunda crise, eu estava com poucas semanas de gestação, (uma gestação que até então eu não sabia). Certa tarde eu senti uma cólica muito forte e de repente uma água quente saiu de mim, acompanhado de um sangue bem vivo. Liguei para um amigo enfermeiro e disse que estava sentindo, ele me disse que isso poderia ser um sintoma de aborto, passou na minha casa e me levou para a maternidade, o que confirmou a suspeita. Ao me examinar, a enfermeira notou algumas erupções na parte genital e perguntou se eu tinha herpes genital. Herpes? Como assim? Genital? Claro que não! Sempre me cuidei, isso é doença de quem tem vários parceiros sexuais. Nunca! (vim de uma família “moralista” e doenças sexualmente transmitidas, tinha essa visão. Mas aprendi que nem sempre é assim). Em fim... Era herpes, perdi um bebê, pus fim no meu relacionamento, entrei em depressão.

Mas depois de um tempo, eu e meu namorado, hoje marido, decidimos superar isso juntos. Algum tempo depois engravidei novamente, dessa vez decidimos cuidar muito dessa gravidez. Tornou-se a famosa “gravidez preciosa”. Fomos ao primeiro G.O e ele pediu uma série de exames, constatou que eu tinha DIABETES GESTACIONAL.



Fomos ao segundo G.O e ele disse que eu tinha pré disposição a ter diabetes gestacional e que tinha que controlar o açúcar. Ambos já sabiam que eu também tinha Herpes Genital. Com o passar dos meses fui ganhando peso exageradamente, tive VÁRIAS infecções urinarias, VÁRIAS crises de Herpes Genital, tive também um forte sangramento com 4 meses (não encontraram o motivo).

Lia sobre partos normais, vi que se a mulher estivesse com a herpes ativa, poderia passar para o bebê na hora do parto, isso me preocupava muito. Falei da minha aflição para uma amiga que também era enfermeira e ela me olhou com uma cara de dó e disse: se você quiser, eu consigo uma cesárea para você. E eu pensei, mas e os benefícios do parto normal para o bebê? Eu não vou nem tentar? Sou tão covarde assim?

Também ouvi uma pessoa da família dizer: você não vai ter força para parir essa criança e vai morrer você e ela entalada. (Ninguém da minha família sabe sobre a herpes).

Essa frase me assombrou por muitos meses. Até que eu e o meu marido decidimos conhecer a casa Bello Parto, meu marido ficou encantado com os vídeos e comentários sobre os benefícios do parto normal. Eu ainda estava assustada.

O primeiro G.O que consultamos disse que eu havia ganhado muito peso e isso significava que o bebê já estava muito grande. Disse: você não vai conseguir ter um parto normal assim, bebê tem que crescer é fora da barriga.

Segundo G.O: se você quiser, a gente pode marcar a cesárea a partir de 35 semanas.

Eu: 35 semanas? Mas o bebê já vai estar desenvolvido com 35 semanas?

Segundo G.O: sim! A partir de 35 semanas o pulmão já está maduro.

Meu marido não deixou. Ainda bem!

Resolvemos procurar uma terceira opinião.

Terceira G.O: Você tem herpes? Vou colocar essa observação no seu cartão de gestante, porque em lugar nenhum do mundo, alguém faz parto normal em uma mulher que tem herpes genital, ativa ou não. Você vai matar seu bebê se tentar, isso pode passar pra ela na hora do parto, ir para o cérebro, olhos, boca, ela pode desenvolver uma meningite e morrer! Bebê não tem imunidade, esquece essa ideia de parto normal. Quando você estiver com 39 semanas, vamos agendar sua cesárea.

Chorei muito nesse dia, me senti tão culpada. Meu Deus, o que nós fizemos, eu não devia ter engravidado, vou ter que submeter a uma cirurgia se eu quiser sair da maternidade com um bebê VIVO nos braços?

Novamente, meu marido me acalmou e disse: vamos procurar uma 4ª opinião, 5ª, 6ª,7ª, 8ª até o dia da neném nascer. E outra, se for realmente para fazer uma cesárea, vamos esperar o dia da Letícia (nome que ele escolheu para a bebê...rsrs), deixa as contrações vir e ai vamos para a maternidade. Nessa altura, eu já estava com 36 semanas de gestação.

Por indicação de uma amiga, fomos ao 4º G.O.

Chegamos lá com todos os exames em mãos, desde o primeiro beta positivo. Ele leu todos!

Eu e o meu marido: Doutor, nós temos:

"1) Herpes genital.

2) Diabetes gestacional.

3) O ultimo médico disse que o bebê está enorme

4) Na ultrassom com um médico disse que ela tá sentada.

5) Tivemos várias infecções urinaria, crise de herpes, risco de aborto e etc...

Mas ainda assim queremos um parto normal!"

O médico: "Muito bem! No parto normal a recuperação é melhor..."


O Doutor pediu novamente o exame de diabetes (que deu negativo).

Pediu uma ultrassonografia com Doppler (que mostrou que estava tudo bem com a minha princesa) .

Disse que se eu tivesse crise de herpes iríamos tratar com remédio, para que eu ficasse bem até o dia do parto. E só em último caso, se eu tivesse com erupções iríamos para a cesárea.

Fez um exame chamado streptococcus (graças a Deus estava tudo bem, também).

Fizemos as perguntinhas básicas para saber se ele era o cara certo. (risos).

Nós: doutor a epísio é necessário em todos os casos?

Dr.: Só em alguns casos.

Nós: doutor, eu posso recusar a ocitocina?

Dr.: Sim! Mas em alguns casos ela também é necessária, espero que não seja o seu. Faça bastante caminhada para estimular o trabalho de parto.

Nós: doutor e se eu quiser peridural? Vocês vão atender ao meu pedido?

Dr.: Menina, a dor do parto não é tão ruim assim não. Calma! Você aguenta. Mas se você quiser, precisa começar a procurar um anestesista, porque tem alguns que não gostam de fazer porque é complicado aplicar em mulher que está tendo contrações.

Nós: doutor, você esperar o cordão terminar de pulsar?

Dr.: se vocês quiserem, sim!

Nós: doutor, quer casar com a gente? (risos).

Mas infelizmente no dia do parto ele estava dando aula.

Quarta feira dia 23 de outubro às 5:00 da manhã, acordei com um dor de barriga leve. Resolvi virar para o lado e dormir mais um pouco. Estava com 38+6.

Às 6:00 da manhã acordei novamente com aquela dorzinha de barriga, então decidi levantar e ir ao banheiro... Tomei banho e voltei para cama. De repende uma dor diferente, vindo das costas para a barriga. Comentei isso em um grupo do facebook, o Cesárea não obrigada, elas me disseram que eu podia estar entrando em trabalho de parto. Resolvi ter certeza, liguei para aquela amiga enfermeira do inicio desse texto. Ela disse que sim! Eu estava em trabalho de parto, mandou eu ligar imediatamente para o meu G.O.

Que alegria, eu ria a cada contração, meu marido estava trabalhava a noite e ainda estava por chegar. Fui passar minha roupa, me arrumar, tomar café da manhã e não avisei à família porque não queria que ninguém entrasse em pânico. (Minha mãe só ficou sabendo depois que ela nasceu).

Meu marido chegou, todo nervoso, apesar de ter se preparado tanto. Eu estava calma e feliz, sorridente e ele apressado. Eu falava: - calma amor, essas coisas levam horas. Acho melhor a gente esperar, isso demora em torno de umas 8 horas. Eu li sobre isso...

Me marido: - Não! Vamos agora para o hospital, vou ligar pro G.O

Mas como havia dito antes, ele estava em aula. Disse que assim que saísse da sala de aula, estaria indo pra lá.

Chegamos no hospital às 9:30 da manhã, contrações irregulares, leves, durava apenas um minuto e depois passava. Mas não doía tanto quanto eu imaginava.

Fomos encaminhados para o médico de plantão.

Entramos na sala, eu com um sorriso enorme, meu marido nervoso, mas com cara de felicidade e falamos que estávamos com leves contrações. Ele foi ver o meu histórico hospitalar, viu por alto.

Não viu que eu tinha herpes (eu também não falei, pois não estava com crise no momento). Não viu nada sobre a tal “diabetes gestacional” e etc...

A minha princesa estava perfeitamente encaixada, tudo uma maravilha. Ele fez o exame de toque e disse: "Está completa! Ela vai nascer agora."

Eu e o meu marido olhamos um pro outro e começamos a rir. Como assim? As contrações nem estão tão forte assim.

Médico: ela vai nascer agora, vamos levar a senhora para sala de parto, se não ela nasce aqui. Vai ser cesárea?

Eu: Não! Vai ser normal.

Médico: não existe isso de parto normal, o nome é parto transpélvico. Mas a 2 mil anos atrás inventaram a cesárea, você sabia disso?

Eu: sabia! Mas o meu parto vai ser normal, ou transpélvico como o senhor disse.

Médico: tudo bem, então vou encaminhar a senhora para a sala de parto enquanto seu marido vai ajeitar os documentos da sua internação.

Minutos depois entra um pessoal com uma maca e me manda vestir a roupa do hospital.

Eu disse: - não posso ir andando? Preciso caminhar para ajudar na hora do parto.

Médico: eita mulher corajosa, quero ver até onde vai durar essa coragem toda. (risos).

Pois bem! Fui na maca e o circo dos horrores começou.

Chegamos na sala de parto me mandaram deitar na cama e colocar as pernas nos apoios.

Uma posição extremamente desconfortável.

Eu disse: quero me sentar!

A enfermeira: essa posição é melhor mãe.

Eu: melhor pra quem? Sobe essa cama agora, eu estou com falta de ar. (a falta de ar, era desculpa pra elas me ajeitarem naquela cama)

Uma enfermeira veio com o soro para por em mim.

Eu disse: soro? Mas eu preciso ter mobilidade e se eu quiser andar, ou levantar? Moça eu não quero ocitocina. Ok? Por favor!

A enfermeira: é só soro, caso você precise ir para a cesárea, já vai estar puncionada.

Aquilo me deu um medo...

Eu: enfermeira, cadê meu marido?

Enfermeira: está ajeitando os documentos da sua internação.

Mas eu não entendia porque ele estava demorando tanto. Elas estouraram minhas duas veias boas, obs. Eu mesmo já aplique soro em mim por essas veias. Enquanto isso, nada do meu marido chegar. De repente o médico entra na sala, o que só me deixa mais nervosa.

Eu: - o que o senhor tá fazendo aqui, cadê o meu G.O? Onde está o meu marido?

Médico: eu não sei de nada, só sou funcionário aqui.

Eu : - se o meu marido não entrar por essa porta, eu saio daqui e vou atrás dele.

Eles achavam que eu estava blefando até eu começar a me levantar. Uma enfermeira, falou: calma, nós vamos atrás do seu marido, ele vai vestir uma roupa e já ele chegar aqui. Mas a senhora precisa se acalmar.

Eu: eu estava calma até vocês estourarem as únicas veias boas que eu tinha, para colocar esse soro inútil aqui. Acho melhor meu marido entrar nessa sala, vocês não sabem do que sou capaz.

Minutos depois meu amado marido chega na sala... Aquilo foi um tranquilizante. Eu me sentia um pedaço de carne em um açougue e sem testemunha. Mas ele finalmente estava ali, como prometeu, do meu lado para receber a nossa filha.

De repente eu escuto a enfermeira perguntar para o médico.

Doutor você vai querer bisturi ou tesoura para fazer a epísio?

Médico: tesoura!

Eu: epísio? Não, eu não quero epísio. Não precisa! (pensei, nós nem tentamos ver se ela passa ou não, porque fazer antes?)

Médico: vou fazer sim! Aqui quem manda sou eu.

Eu: eu não quero epísio! No meu corpo mando EU! Você não vai fazer epísio em mim.

Médico: olha depois a senhora vai aparecer no meu consultório falando que seu marido tá dizendo que você parece uma canoa.

Eu olhei pro meu marido e ele disse: não doutor! O senhor não vai fazer epísio nela, não é necessário.

Médico: tudo bem! Mas vou usar esses quatro enfermeiros aqui como testemunhas de que a senhora se recusou a um procedimento médico.

Eu: tudo bem!

Quando ele começou a me limpar, imaginei ele vai fazer a epísio. Mas graças a Deus ele não fez.

Minutos depois eu começo a sentir uma aceleração no coração e as dores da contração voltam com toda a intensidade do mundo, minha bolsa estoura. Eu olho para o meu braço que estava com soro e pergunto: o que vocês fizeram comigo.

Uma enfermeira responde: calma mãezinha, isso é só um remédio para acelerar o parto.

Eu: mas eu disse que não queria... Olhei pro meu marido aterrorizada com a dor, comecei a chamar o nome dele e ele foi me acalmando e pedindo pra eu respirar fundo quando viesse as contrações. Comecei a fazer o que o meu marido disse.

O médico começo a tentar me abrir com as duas mãos. Sim! A palavra é essa. Parecia que ele queria me rasgar.

Eu sentia as suas luvas secas tentando me abrir. As dores das contrações só aumentavam, parecia uma tortura. Eu sentia a pele da minha vagina se esticando com os puxões do médico, ele usava as duas mãos. E eu gritava! Gritava de dor. O medico dizia, você pode gritar, desde que faça força.

Então eu fiz força! Muita força. Força para aquela dor acabar, força para ver minha filha nos meus braços... de repente uma coisa boa... eu senti, juro que senti! Era maravilhoso... senti a cabeça da minha filha passando pelo meu canal, ela se encolhia, estava bem apertada... Tão suave, um momento tão nosso. Ouvi meu marido dizendo a cabeça dela tá saindo amor, força!

Por um instante, parecia que só havia eu, ela e o meu marido naquela sala. Eu estava vivendo o nosso momento...

Mas depois senti as luvas secas do doutor novamente dentro de mim, ele já conseguia tocar nos cabelos da minha filha, então começou a tentar me rasgar de novo. Tentava abrir espaço com aquelas luvas secas, como se realmente quisesse me rasgar ao meio.

Meu marido falava, empurra amor, ela já tá nascendo, estou vendo a cabeça.

Eu empurrei com toda força que eu tinha. Eu gritava de dor, de raiva daquele médico, de amor pela minha filha. Era uma explosão de sentimentos e no fim, ela nasceu.

Toda essa tortura durou 5 minutos, horário 10:20 da manhã, mas parecia uma eternidade.

Quando ela nasceu eu pedi calma, calma, não cortem o umbigo dela agora. Mas eles cortaram imediatamente, eu disse: dá ela pra mim, me dá ela aqui.

O médico: não, você está suja.

Só depois de aspirarem ela, dar injeção foi que um enfermeiro ouviu meu pedido e entregou ela pra mim.

Apesar do esforços do médico, NÃO HOUVE LACERAÇÃO, NÃO PRECISEI DE PONTOS.

Minha filha, Letícia Brasil da Cruz veio ao mundo através de um parto “transpélvico”, porque com toda certeza isso não foi um parto normal. Minha filha ficou alguns dias na incubadora porque estava com dificuldade de respirar sozinha, segundo o pediatra, isso foi por conta de uma infecção urinaria que tive 30 dias antes do parto, passou para a neném ainda na gestação e não durante o parto. Amém!




Dias depois Médico vem à minha sala para me dar alta e diz ao meu marido: "se eu fosse você, comprava um cinto, dava 4 dobras nele e acertava essa mulher. Porque era pra ter tirado esse bebê a uma semana atrás, com 38 semanas. Ela não estaria assim, se tivesse feito uma cesárea."

Eu disse: ah tá! Então quer dizer que se eu tivesse tirado minha filha antes do tempo, através de uma cirurgia, ela não estaria em uma incubadora?

Médico: não é antes do tempo, era o tempo certo. Ela só está assim, porque a senhora ficou segurando ela.

Eu: Mas na ultima quinta-feira é que estaríamos completando 39 semanas de gestação. Tá bom doutor, obrigada, você já me deu alta. Valeu mesmo. Tchau! Vou ali ver minha filha.

FIM DA SAGA.!





1 de novembro de 2013

A cesárea protege meu bebê de uma paralisia cerebral?


por Cariny Cielo

É muito comum ouvirmos de profissionais da área da sáude, principalmente os que trabalham com crianças com paralisia cerebral, que, em 90% dos casos, a razão da deficiência foi decorrente do parto normal, usando muitas vezes o termo 'o bebê passou da hora' ou o 'médico esperou demais pra fazer a cesárea' ou ainda 'a mãe insistiu que queria um parto normal'. Neste caso, é natural que uma gestante opte por uma cirurgia para proteger o filho das temidas ocorrências de paralisia cerebral... mas, será isto verdadeiro? A cesárea protege o bebê de uma paralisia cerebral?

A despeito dos casos que você irá ouvir, a despeito das histórias assustadoras, a despeito do caso do filho do Diogo Mainardi, não é a via de parto (se normal ou cirúrgico) que evita ou determina uma paralisia cerebral... veja alguns números aqui.

E, enquanto eu divulgo o CERNIC (Centro de Reabilitação Neurológica Infantil de Cacoal) e um linque de artigos acadêmicos sobre paralisia cerebral, eu vou tentar ser o máximo simples nas colocações que resumem este post. Porque eu também sou mãe e porque também comungo das pirações que gestantes carregam acerca da integralidade da saúde e da e perfeição de um filho, quando o gestam dentro de si, na carne e na mente...

E também não sou boba de não chamar médicos pra esclarecer estas dúvidas... quero ouvir deles!!!

Então vamos lá:

Parte I: Da Ciência

1. Segundo a médica Carla Andreucci Polido (currículo aqui) 70% das encefalopatias perinatais são de etiologia anteparto, relacionadas à restrição do crescimento fetal intra-útero, síndromes hipertensivas e condições crônicas fetais.
Das causas intraparto, destacam-se:
1. CESARIANAS,
2. parto instrumental,
3. febre intraparto,
4. cesariana de emergência.

Ou seja: assistência inadequada ou demora na tomada de condutas. O maior risco intraparto para encefalopatia perinatal é, na verdade, assistência inadequada, e não via de parto. Veja aqui.

"No Brasil somos forçadas a uma cesárea ou um parto normal violento (cheio de intervenções de rotina e reconhecidamente desnecessárias). Assim, se o parto carecer de assistência adequada, você pode encontrar desfechos perinatais adversos".

E, por Melania Amorim: "lembrem, somente os casos de paralisia cerebral do tipo quadriplégica espástica ou discinética são associados com o parto, embora não sejam exclusivas de problemas no parto!"

Não é minha opinião e nem mesmo a opinião das médicas... são dados estatísticos. Cabe a cada um refletir se quer ficar com a ciência ou com as famosas crendices que ilustram o imaginário de todos quando o assunto é algum evento do universo mamífero feminino. Já viram mãe dizer que tem 'leite fraco'? Pois é, podemos ficar neste depoimento recheado de mito e de condutas erradas que fizeram esta mãe acreditar que o próprio leite não sustentou o filho ou podemos compreender que cientificamente comprovado o leite materno é o melhor alimento até os 6 meses e não existe leite fraco.


2. O filho do Diogo Mainardi NÃO ficou com paralisia cerebral por conta da via de parto. O problema foi causado por uma amniotomia precoce, ou seja rompimento artificial da bolsa, muitíssimo mal indicada e pelo atraso em indicar uma cesariana de emergência, não teve nada a ver com parto normal! Palavras da Doutora Melania Amorim que explica tudo aqui.
Voltemos ao assunto da intervenção na fisiologia do parto! Porque entenda que "a melhor estratégia de prevenção primária de prolapso de cordão, nos casos de gestação única com feto em apresentação cefálica é NÃO realizar amniotomia de rotina, mesmo que presentes condições para praticá-la, isto é, dilatação avançada e apresentação fetal encaixada na pelve".

A revisão sistemática disponível na Biblioteca Cochrane NÃO recomenda a amniotomia como procedimento de rotina na assistência ao parto, uma vez que não há quaisquer efeitos benéficos associados com essa prática.
Compreenda a bola de neve: rompimento artificial de bolsa + falta de estrutura para assistência de emergência: cada intervenção desnecessária e má indicada feita num trabalho de parto aumenta o risco, sempre. Romper bolsa não deveria NUNCA ser procedimento aplicado de rotina...

Em resumo: Não deixem que estourem artificialmente sua bolsa durante o trabalho de parto! Este procedimento só deve ser feito com indicação muito precisa por profissional que conhece e aplica medicina baseada em evidências científicas.


3. Um argumento lógico e bem basiquinho que eu uso bastante, bem simples e que destrói o blá blá blá de mitos igual uma tsunami: a taxa de cesarianas só cresce no Brasil e no mundo... MAS a taxa de asfixia perinatal está mantida! Ou seja, não, cesariana não é fator de proteção.

Melania diz: "Eu só quero dizer que se cesariana prevenisse paralisia cerebral não teríamos mais tantos casos de paralisia cerebral sendo atendidos nas diversas clínicas! Estamos com mais de 53% de cesáreas neste país e no setor privado em algumas cidades elas ultrapassam 90%! Por acaso caiu a taxa de paralisia cerebral???"

"Por outro lado, os partos violentos e cheios de intervenções desnecessárias estão sim associados com maior risco de asfixia perinatal. É contra esse tipo de parto que nos posicionamos, também. A alternativa à cesariana não pode e não deve ser um parto traumático e violento, esse é um falso dilema. A assistência ao parto normal DEVE ser humanizada e baseada em evidências científicas atuais!"

Evidências científicas: aqui e aqui




4. Dra. Melania reforça que "há séculos que se definiu que parto vaginal não se associa a risco aumentado de paralisia cerebral e que apenas 10% dos casos de paralisia cerebral se devem a problemas no parto. Eu tenho uma aula recheada de evidências sobre o assunto. Para definir se foi associada com o parto, a paralisia cerebral tem que preencher 4 parâmetros, sem isso tudo é suposição ou mitologia, médica ou popular. Aqui os critérios:

a) Evidência de acidose metabólica, cordão umbilical, sangue arterial fetal obtidas no momento do parto (pH inferior a 7 e défice de base, de 12 mmol / L ou mais),
b) o início precoce de encefalopatia neonatal moderada ou grave em lactentes nascidos a 34 de gestação, ou mais semanas ,
c) paralisia cerebral do tetraplégico ou discinético tipo espástica, e
d) a exclusão de outras etiologias identificáveis​​, tais como trauma, distúrbios de coagulação, condições infecciosas ou doenças genéticas.

Veja aqui a revisão sistemática. Para entender um pouco mais a fisiopatologia aqui e mais referências aqui e um estudo interessante da PUC/PR aqui.

"E lembrem: somente os casos de paralisia cerebral do tipo quadriplégica espástica ou discinética são associados com o parto, embora não sejam exclusivas de problemas no parto."

A maior causa de paralisia cerebral é a prematuridade. Nos casos restantes, anomalias fetais, problemas maternos e complicações da gravidez respondem como os principais agentes etiológicos, podendo ainda haver etiologia multifatorial.


Parte II: Dos mitos...

Maíra Libertad, enfermeira obstétrica e uma das administradoras do Portal Parto no Rio de Janeiro, traz um fato interessante: "Entendam a dramaticidade do quadro. Eu conheci outro dia uma pessoa que jurava ter uma criança da família com "paralisia cerebral" por conta do parto. A família inteira acreditava nisso. Que o parto tinha demorado, que ela ficou abandonada com dores por X horas (possivelmente um parto violento pela descrição). Aí eu por acaso encontrei essa criança supostamente com 'paralisia cerebral por conta do parto' e me choquei ao notar que, possivelmente, se tratava de uma síndrome genética (pelas características, fácies etc.). A família vive a vida sem saber que o bebê possivelmente nasceu com uma síndrome, algo congênito, não-relacionado com o parto, e acredita (e profissionais de saúde reforçam!) que é "PC causada pelo parto".

Veja a história deste coreógrafo que, em entrevista, afirma ter paralisia cerebral em razão de parto. No entanto, notem na reportagem que ele mesmo informa que nasceu prematuro, aos 6 meses...

Diversos outros artigos, como este - que aborda apenas a via de parto e sequer leva em conta a idade gestacional - alimentam com mitos o imaginário da sociedade e, em especial, da gestante que busca sempre o melhor para seu filho.

Como fazer um levantamento acerca do resultado 'paralisia cerebral' levando-se em conta apenas a via de parto, se a prematuridade é um fator determinante? Independente do bebê ter nascido de parto normal ou cesárea, se ele foi prematura, ele estava em risco... pela prematuridade!

Das causas de paralisia cerebral a mais frequente é a falta de oxigenação que pode ocorrer antes, durante ou logo após o parto e só 10% estarão ligadas ao tipo de parto, mas sim à falta de acompanhamento pré-natal, questões sócio econômicas e saúde da mãe. (Cervo, 1985)

No entanto, é fato que as cesáreas acarretam:
a) quatro vezes mais risco de infecção puerperal,
b) três vezes mais risco de mortalidade e morbidade materna,
c) aumento dos riscos de prematuridade e mortalidade neonatal,
d) recuperação mais difícil da mãe,
e) maior período de separação entre mãe/bebê com retardo do início da amamentação e
f) elevação de gastos para o sistema de saúde (OMS, 1997).

Você vai ouvir muitos mitos relacionados aos eventos femininos!

Você ouvirá que menstruar é ruim, que amamentar pode tornar os seios flácidos, que a prima da vizinha amamentou e ficou com anemia, que a tia do seu colega de trabalho tinha leite fraco, que a avó do seu amigo precisa medicar a menopausa, que o médico salvou a vida do bebê da sua prima que nasceu roxo, que fulana perdeu o bebê porque passou do tempo na barriga, que a moça do banco teve que fazer períneo porque ficou frouxa depois de um parto normal, que o marido da amiga reclamou que a mulher perdeu o tônus da vagina depois de 3 partos normais, que fazer cesárea protege o períneo da mulher, que o bebê passou a dormir a noite toda depois da mamadeira, que chupeta é melhor que dedo, que  episiotomia preserva o períneo, que 40 semanas é o fim da gestação, que parir é coisa de índia, que cesárea é a evolução do parto... eu me perderia de escrever... mas nada disto faz parte da ciência e da verdadeira medicina baseada em evidências científicas!

Cabe a cada um decidir em quê vai acreditar e confiar seus pensamentos...



E, enquanto isto, a vida segue para muitos com paralisia cerebral... mas agora você sabe por a + b que, em cerca de 90% deles, o parto não tem nada a ver com isto! E viva a vida!!!

Amazônia Adventure: Paralisia Cerebral não impediu Carlos Silva de realizar seu sonho

Mãe de Uma criança especial: O que é paralisia cerebral?

Marcha Nacional Pela Humanização do Parto Em Porto Velho Rondônia


por Cariny Cielo

Dia 19 de outubro, em Porto Velho, rolou uma movimentação em prol do respeito ao nascimento. Foi a Marcha Nacional Pela Humanização do Parto que ocorreu simultaneamente em várias cidades do país.

É a terceira vez que Porto Velho organiza marcha e cada vez ela fica mais visível e envolve mais pessoas. Já falamos de marcha por aqui.

Ano passado, tivemos  Marcha do Parto em Casa em Cacoal e em Porto Velho, um movimento igualmente nacional em resposta às represarias sofridas pelo médico humanista Jorge Kluhn e, depois, Porto Velho organizou a primeira Marcha Nacional Pela Humanização do Parto.

Aos poucos as mulheres - e homens - de nosso Estado vão se dando conta de que o parto mais científico é o parto menos tecnológico e de que a mudança tem que partir das sujeitas do direito: nós mulheres!

A barriga que ilustra este post é da Helena que trouxe seu relato aqui. Ela é uma mulher que vem galgando cada vez mais respeito para si, desde quando se deu conta de que a forma de atendimento que recebeu no nascimento de seu primeiro filho foi uma terrível violência obstétrica!

Te espero na próxima marcha... até lá, emocione-se com as fotos!!!




Marido da Mileide orgulhando-nos ao se
envolver na causa e a filhota, ativista mirim...






Mais um ativista mirim... 



A doula Alyssa da Slingue, Helena e sua
bebê e a doula Izabela, da Bello Parto




Helena gestando e já lutando pelos seus direitos.





Ativistas mirim!!!
"Se a mamãe marcha eu vou também!"




Olha que show!!!




Preparativos... 




Pausa para um mamá... 




Turma animada!

29 de outubro de 2013

Relato de parto da Helena: parto normal hospitalar depois de uma cesárea



A Helena foi a primeira a se favorecer de um grupo de parto humanizado no Estado de Rondônia. Ela foi assistida em casa e depois no hospital, durante o trabalho de parto e parto, pelo Grupo Buriti, um embriãozinho de equipe de assistência humanizada que passou em Porto Velho feito raio de foguete.
Era formado pela Elis Freitas, doula, pela Paula Gerhardt, psicóloga e pelas enfermeiras obstétricas Sandra Schultz e Francine Colombo.

A Helena é professora de yoga, tem dois filhos e está gestando o terceiro, uma menina. Aqui teremos o relato do nascimento de seus dois filhos, ocorridos em situações de vida bastante diferentes e com desfechos igualmente distintos.

O primeiro relato é o cuja foto ilustra este post, sobre o nascimento do Luan, um parto normal após cesárea. Emocionante a garra e como ela oscila entre pensamentos do mundo da razão e sentimentos do instintivo feminino. Obrigada por compartilhar e nos dar este presente!!!

Em seguida vem a história do nascimento do Argeu, recheado de violência obstétrica e que marcou a Helena e marca, diariamente, milhares de mulheres em todo país!

Como sempre, um relato é como mergulhar na vida do outro... e só colher bons frutos!


<3



Nascimento do Luan

Depois de 11 anos que tive meu primeiro filho me veio uma forte vontade de engravidar e, depois de longas conversas com meu marido, decidimos então ter mais um filho, tentar a nossa menininha.

Depois de 8 meses que deixei de tomar pílula engravidei e aí contamos para o nosso filho mais velho que ficou muito feliz e disse que queria cortar o cordão. Fiquei surpresa com a sua reação e só lá pelo quinto mês de gestação fiquei sabendo que teria mais um menino.

A gravidez percorreu tudo tranquilamente e foi então que em pesquisas na internet fiquei sabendo sobre doulas e o seu trabalho maravilhoso. E na minha busca sobre informações sobre parto normal achei a Elis que na pagina informava que ela morava em outra cidade e, por ironia do destino, a própria me achou no facebook. Foi então que começou a nossa relação, até que um dia a Elis me pergunta o que eu achava do parto em casa. Nossa, no momento levei um baita susto! Imagina parir em casa? E foi então que respirei e pensei, isso seria uma ótima ideia! O desafio seria convencer o marido. Contei para ele, que se espantou com a ideia, mas não quis demonstrar, foi então que pensei em falar no assunto só mais perto do fim da gravidez.

Tive então a minha primeira consulta com a doula que foi super atenciosa comigo, e logo depois de uns meses concretizamos a ideia do parto em casa e me reuni com a equipe que ficaria comigo, foram todas muito simpáticas e divertidas. Nossa! Assisti a muitos vídeos de parto e me emocionei com cada um deles, estava a cada dia mais preparada para o parto em casa.

Lá pelas 36 semanas tive uma consulta com o médico (o mesmo da gravidez anterior) que me pediu um ultrassom e disse que iria marcar a cirurgia, dei um pulo da cadeira e disse que não ia marcar nada, que ia esperar. O médico, com um tom cínico, pergunta: "esperar o quê?". Saí da sala dele bufando de raiva e tinha decidido que lá eu não voltaria, que meu filho ia nascer a hora que ele quisesse.

Mais uma vez a tranquila Elis me disse para voltar com ele e não me preocupar. Mesmo com raiva marquei a ultrassom. Em casa, tive uma conversa com o bebê e pedi para ele nascer logo se estivesse pronto, e acho que ele me escutou pois antes do dia marcado para a ultrassom 'desnecessária', com 38 semanas e 3 dias, às 4h da manhã do dia 4/12/12, começo a sentir umas contrações que incomodavam e não me deixavam dormir, comecei a monitorar o tempo umas 3 horas e as contrações vinham de 5 a 10 minutos e lá pelas 7h saiu o tampão. Mandei mensagem para as 3 mosqueteiras avisando que havia iniciado o trabalho de parto. Lá pelas 10h, as 2 enfermeiras apareceram em casa com seus aparatos e a minha doula querida estava no hospital sendo atendida, tadinha, aperreada achando que ia perder o melhor da festa.

As meninas, então, monitoraram o ritmo das contrações, fizeram o toque e a princípio estava confirmado o trabalho de parto. E então vai pra bola e bebe chá e chega a linda doula, faz massagem. As contrações estavam bem fraquinhas, mas só descobri isso depois, a gente nunca sabe como vai ser as tão temidas contrações.

E então vai caminhar , rebolar na bola, agachar a cada contração, ouvir o coração do bebê. Lá pelas 16h resolvi deitar para ver se conseguia cochilar um pouco, me deitei por uns 5 minutos e bolsa estourou, me levantei achando que tinha feito xixi, mas logo confirmamos que era a bolsa mesmo. Depois disso desisti de dormir... lá vamos nós novamente caminhar. Nossa! Meus vizinhos ficaram bem assustados me vendo caminhar debaixo de um sol escaldante de domingo com uma barriga imensa e se agachando a cada contração.

Decido então ficar um pouco na banheira que estava montada em casa e meu filho mais velho, ansioso que estava, dividiu a banheira comigo também. Ele ficava toda hora perguntando porque o bebê não queria nascer.

Às 20h fizemos outro toque e descobrimos que ainda estava com 1cm de dilatação e que meu colo era posterior. Fiquei muito desanimada com esta informação, mas busquei lá no fundo uma animação para continuar, pois não queria fazer uma cesárea.

Lá pelas 22h insisto para meu filho ir dormir, e fui eu me sentar na beira da cama para fazê-lo dormir, tentando disfarçar as contrações. Então, às 24h, as meninas falam que eu deveria ir para o hospital, pois já tinha muito tempo com a bolsa rota, teria que entrar com a medicação. Eu, um tanto contrariada, fui para o hospital. Acorda o marido e filho para ir para o hospital! A pior coisa do mundo é contração e estar em um carro em movimento. 

Demos entrada no hospital e eu ainda estava com 2cm. Fui para a sala de parto, onde tinha uma bola e um banheiro com água quente. Fiquei na bola por um tempo, mas não conseguia ficar na bola pois incomodava muito sentar. Então fiquei na cama, meio sentada, meio deitada, sabia que aquela posição não me favorecia muito, mas estava tão cansada que não conseguia me mover.

Meu marido sabendo que ainda ia demorar um pouco, logo se deitou para descansar. E aí, depois sei lá de quanto tempo, apareceu uma médica e fez o toque. Estava com 3cm, que decepção! Eu só pensava comigo mesma: 'eu vou ter este bebê de parto normal, não quero fazer cirurgia'. Aí monitoram o bebê para ver se estava tudo bem... e estava, então, continuamos a jornada.

Depois de mais um tempo vem um médico e faz o toque: 3cm! Queria gritar "isso NÃOOOOOOO!!!". O louco me diz que eu tinha que fazer força quando viessem as contrações. Eu pensei 'que loucura! Estou com 3cm e ele quer que eu faça força'. Depois disso nem escutei mais nada do que ele dizia. Quando começou a amanhecer, tive forças para andar e logo que comecei a andar as contrações engrenaram e pioraram. Minha nossa! Como eu gritei! Pensava comigo: 'do que adianta ser uma yogue e não ter controle do seu corpo?'. Mas logo desencanei e deixei-me entrar na partolândia. Não tava mais nem aí se ia incomodar alguém com meus gritos.

Mais um toque: 5cm! Nossa, vi uma luz no fim do túnel. Sabia que já estava perto, me animei. Mais caminhada e agora eram 3 passos, uma contração. Fui para o banheiro tentar aliviar com a água quente, mas não adiantou. Comecei a chamar por Deus e quando olho para a porta do banheiro, tinha uma enfermeira me olhando, ela disse: 'se ela tá chamando por Deus, é porque tá nascendo'. Fui fazer o toque e estava com 9cm! Estava na hora! Arrumaram a cama pra eu subir e sentei no banquinho de parto. Olho para frente e vejo uma das minha 3 mosqueteiras sorrir! Mais uma contração e 10cm! Ela perguntou se eu queria descer e sentar com o banquinho no chão e eu disse que sim. Mais uma contração e lá vem! Ela me pergunta se quero voltar para a cama, digo que não, que dali eu não saía! Eu nem me imaginava levantar e subir aquela escadinha que parecia que tinha uns 10 degraus.

E lá vem mais contração e a mosqueteira decidi colocar sua roupa de trabalho. Eu penso: 'pra onde ela vai? O bebê tá nascendo'. E olha que quase ela perde de vê-lo nascer! Nossa tinha tanta gente naquela sala, enfermeiros, pediatra, estagiários... aquilo não me incomodou, achei até engraçado. Todos querendo ver o meu bebê nascer.

Mais contração... escuto alguém falar: 'olha pra cá e dá um sorriso', pensei que ele queria que eu sorrisse nessa hora. Esbocei então um sorriso, que depois que vi a foto, vi que era realmente um sorriso de uma mãe que estava prestes a receber seu bebê do jeito que ela sempre sonhou!!

Então mais uma contração, sinto meu mundo se abrir e escuto 'tá nascendo, tô vendo o cabelinho'. Mais algumas contrações, sinto o bebê escorregar de mim: "Olha o bebê, mãe!". Eu vi aquele bebê lindo, cheio de dobrinha. Peguei-o no colo e senti sua pele quentinha, seu cheiro indescritível, seus olhos tentando ver aquele mundo estranho... que momento maravilhoso foi aquele primeiro encontro mãe e filho.

Ele então foi para o colo do pai para ser examinado e vestido e foi o momento da placenta sair tão macia, que coisa mais linda é uma placenta! Enquanto o bebê recebia seus primeiros cuidados, a enfermeira cuidava de mim. Levei alguns pontinhos e logo veio meu bebê para o meu colo e amamentei e ficamos um bom tempo naquele momento só nosso.

e foi assim que nasceu Luan com 3860kg, 52cm no dia 5/12/2011 às 12:45h.

Agradeço a meu marido que com toda sua paciência aguentou ficar comigo no hospital e respeitou o meu desejo pelo parto normal. Às 3 mosqueteiras: Elis, Sandra e Francine, por terem deixado de ficar com suas famílias num domingo para me guiar no trabalho de parto.


... e onze anos antes...

Nascimento do Argeu.

Minha história como mãe começa quando engravidei aos 17 anos naquela época não tinha internet em casa onde eu pudesse buscar informações sobre a gravidez então fiz meu pré-natal com médico tio do meu marido, a gravidez foi super tranquila, tive muitos enjoos no começo que me fizeram emagrecer(estava bem gordinha na época), quando os enjoos passaram tudo ocorreu tranquilamente.

A previsão do médico era para o dia 7 de fevereiro, mas no dia 02 saiu o tampão e eu como marinheira de primeira viagem fui em busca do médico que estava de plantão no Hospital de Base, o tampão saiu sem qualquer indicio de dor, mas como vi sangue na calcinha me assustei e lá fui eu para o hospital, chegando lá ás 11h da manhã a sala da maternidade cheia de grávidas, com dor e sem dor, uma que estava do meu lado tinha acabado de romper a bolsa e logo foi atendida, em seguida fui atendida pelo medico que fez o toque e sem olhar pra mim fala pra enfermeira "essa aqui fica" e lá vem a enfermeira com uma mangueira que enfia em mim sem aviso para uma lavagem de rotina, sai da maca para vestir a roupa do hospital me sentido violada e perdida. Me colocaram num quarto com a moça que citei acima, a pobre estava lá sentido dor e deitada de lado, eu não sentia dor nenhuma e como não sabia como era pensei que era assim mesmo, a qualquer momento poderia sentir as dores do parto, bom as horas se passaram, e eu já tinha ido no banheiro para um xixi, andado pelo quarto e quando menos espero a moça do lado grita "vai nascer" e eu pensei e agora vou atrás de alguém, depois de alguns minutos atrás do médico achei a sala de descanso deles e avisei que a moça tava parindo e lá acudiram ela tadinha.

 Bom e eu continuei lá sem dor nenhuma. Até que meu médico se dignou a aparecer e perguntou como eu estava, bom eu disse que não sentia dor nenhuma, aí ele decidiu me operar sem ao menos me dizer o porque.

Como pensava que o médico que tinha a autoridade sobre mim, fiquei calada e aceitei. E logo veio as enfermeiras que saíram nem sei de onde, me preparar para a cesárea. Enfiaram uma sonda em mim, me aplicaram soro e me levaram para a sala de cirurgia. Lá, tentei sentar naquela mesa super estreita morrendo de medo de cair e logo veio o anestesista, que me enfia a agulha nas costas sem me avisar e sem me segurarem a cabeça e, quando me mexi, a agulha entortou e levei uma bronca do médico porque havia me mexido, mas quem não se mexeria?

Logo a anestesia fez efeito e me deitei, me amarraram os braços e me sedaram. Acordei depois com o chorinho do Argeu. Tinha nascido e numa rapidez o enfermeiro me mostrou e eu vi aquela coisinha branca de olhos arregalados e azuis, e só o vi depois quando me levaram para o quarto. O enfermeiro, meio sem jeito, até tentou me ajudar a dar o peito, mas como se amamenta sedada?

Me levaram para o quarto onde já tinham outras mães com seus bebês, eu não consegui ver meu bebê, que estava chorando e eu não podia fazer nada. só peguei meu bebê no outro dia que a anestesia passou e pude pegar meu bebê.

Depois disso tinha decidido que não ia mais engravidar, pois não queria passar por tudo isso novamente.
E assim nasceu Argeu, 3100kg, 51cm, 2/2/2001 ás 17h.
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