11 de dezembro de 2014

Relato de parto da Mariana: Parto humanizado hospitalar em Brasília


Por que um relato de parto que ocorreu em Brasília, se o blog é Parto em Rondônia?

Explico: Porque a história é de uma gestante de Rondônia que precisou viajar para Brasília para viver a experiência da chegada da filha de forma plena e sob os paradigmas da Humanização do Nascimento.

Conheci a Mariana num grupo de mulheres e logo ela me disse que estava pensando em engravidar. Conversamos, assistimos juntas à estreia do filme "O Renascimento do Parto" no cinema de Cacoal, interior de Rondônia, e... logo logo, ela engravidou. As chances de ela ter um parto como sonhava, respeitado em todas as escolhas, aqui em Rondônia, eram mínimas.

Inundada de informação e já ciente do que era melhor para si e para a filha, Mariana decidiu ter seu parto em outra cidade, aliás, em outro Estado! 
Empoderou-se e contagiou o marido e a mãe, que viraram parceiros fiéis de suas escolhas. 

Lindo relato! Desfrutem:




Sou daquelas mulheres criadas para casar e ter filhos, cresci com minha mãe dizendo que a melhor coisa que tem no mundo são os filhos. Uma mãe que ama ser Mãe e que foi super protetora, nunca negou colo ou aconchego. 
Quando conheci meu marido, logo senti que era com ele que queria casar e ter filhos. Talvez eu quisesse que a maternidade acontecesse antes na minha vida, mas hoje vejo que foi na hora certa! Depois de um ano e pouco casada, um dia eu e meu marido tivemos uma conversa. Falando das sombras do nosso passado, eu disse a ele que achava que ele se sentiria muito preenchido com um filho. Decidimos então começar a tentar. Paralelamente fui convidada por uma amiga a participar de um círculo de mulheres que valorizam o poder feminino e, então, conheci Cariny, doula voluntária e ativista do parto natural com respeito, que me apresentou esse universo através do filme "O Renascimento do Parto".
Comentei que estava querendo engravidar e ela me mostrou um universo de informações e a realidade obstétrica brasileira... 
Lá plantou a sementinha, e deu certo!

Pedi de aniversario um filho e mal sabia que já estava gravida! 
Tive uma gravidez tranquila, sempre lendo e me informando, fui em 3 médicos em Cacoal, Rondônia, e não senti segurança em nenhum. Vi que o desfecho do meu parto poderia ser uma cesárea sem indicação real ou um parto normal com intervenções desnecessárias e muitas vezes violentas.

Como minha mãe mora em Brasília, meu marido sugeriu que eu ganhasse lá. Com 22 semanas fui para Brasília e, através da indicação da Cariny, achei minha doula - que também é parteira* - a Clarice e meu médico. O que eu buscava era um parto humanizado hospitalar. Todo esse processo foi penoso, pois quando comecei a falar do parto que eu queria, não tive apoio nem do meu marido e nem da minha mãe. Tentei a gravidez inteira mostrar informações baseadas em evidências científicas para o meu marido, mas nada o convencia. Para ele se tratava de um simples capricho meu. Minha mãe passou a me apoiar quando compreendeu exatamente que o parto normal era o melhor para mim e pra meu filho. 

Fui para Brasilia um mês antes para esperar o dia que a Alice escolhesse. 
Já na primeira consulta com o médico, vimos que ela já estava encaixada (por volta das 35 semanas) e assim permaneceu ate o final. Nas ultimas 2 semanas a ansiedade começou a aumentar, pois meu marido foi para Brasília uma semana antes da data provável e tinha data para ir embora: 3 dias depois!. O maior medo era que passasse das 40 semanas e a pressão fosse grande para cesárea já que ele tinha que ir embora para trabalhar, mas não queria perder o nascimento da filha.

Eu pedia para o meu marido estar comigo, segurar a minha mão na hora do parto e ele sempre dizia que não me acompanharia. Eu ficava frustrada e dizia que a bebê não iria nascer enquanto ele não dissesse que estaria com a gente!
Até que um dia ele combinou com ela que se ela nascesse até o dia 4 de outubro (a Data Provável do Parto), ele ficaria junto até o final (ou o começo de tudo!). 

O mais incrível é que na noite do dia 2 de outubro de 2014 eu notei que minha barriga estava baixa, diferente, e senti que poderia ser aquela noite. Pedi ao meu marido para descansar mas às 2 da madrugada começaram umas cólicas, mais fortes do que as que eu sentira outras vezes.

Parece que dá vontade de fazer coco... levantei várias vezes e ia ao banheiro, voltava para cama.... Meu marido percebeu a movimentação diferente e me chamou quando eu estava no banheiro. Abri a porta e disse que achava que tinha começado. Quando passei o papel para me limpar, vi o tampão mucoso com sangue e veio o friozinho na barriga para os dois e a felicidade ao mesmo tempo! 

Durante três horas tentei dormir, mas a adrenalina não deixou. Resolvi levantar, a dor ainda era suportável. Na sala vi o dia querendo amanhecer e umas 5:40 da manhã resolvi chamar a minha mãe, em silencio: ela tinha se proposto a me apoiar e incentivar durante todo o processo... ela se levantou na hora, toda feliz!

Esperamos mais um tempo, depois das 6 resolvi ligar para a doula, que disse que levaria seu filho na escola e iria para casa da minha mãe e me orientou a ligar para o médico. Assim fiz. 

Quase 8 horas da manhã a Clarice chegou, minha cara ainda estava boa, mas as contrações já começavam a ficar mais incômodas. Depois de um tempo tentei tomar café da manhã e já não consegui; foi só um chá e comi bem pouco. Clarice, que é parteira também, perguntou se eu queria fazer o toque e eu disse que sim! Ela fez, auscultou a Alice que estava passando super bem pelas contrações e me disse que eu estava com 5 para 6 cm de dilatação. 

Decidimos ir para o hospital. No caminho, as contrações apertaram, eu fui deitada de lado no colo da minha mãe ao som do padre Fábio de Mello e com a minha mãe fazendo cafuné. Chorei com uma música que falava de nossa senhora... senti emoção, dor, medo...

No hospital, como o medico já havia preenchido e me entregue em uma consulta a ficha de internação, logo fui para o quarto com a Clarice e o meu marido, enquanto minha mãe tratava da burocracia. 

Nessa altura a dor já era intensa mas as contrações espaçadas, conseguia um alivio entre elas. Consegui deitar de lado no colo do meu marido e lembro de ter sido uma sensação aconchegante, mas não consegui ficar por muito tempo. Clarice novamente auscultou para ver como estava minha filha e ela continuava bem nas contrações.

Me sugeriram chuveiro quente com bola e eu aceitei! A água quente realmente alivia, mas o chuveiro era ruim, as vezes esfriava, o que me deixou tensa. Lembro da minha mãe batendo uma foto minha na bola, no chuveiro.


Me sequei e fui para o quarto, coloquei a camisola do hospital, sentava na banqueta, na bola... mas a Clarice me orientou a agachar durante a contração, o que a tornava ainda mais dolorosa, mas ela me disse que era o melhor e que acelerava o trabalho de parto. 

Nessa altura eu já entrava na partolândia. As contrações ficavam mais próximas, eu tentava passar por uma de cada vez, pois estava sendo muito difícil. Quando eu agachava, minha mãe me dava um apoio nas costas e braços e a Clarice puxava minhas mãos. Em um momento de descanso entre as contrações, você não consegue mais ser racional, parece estar delirando,...e minha mãe se preocupou, me perguntou se eu estava entendendo o que estava acontecendo e a Clarice disse para ela que era assim mesmo, era normal. 

Clarice fez mais um toque e já estava com 9 para 10 cm! Ela dizia que eu estava indo bem, que estava sendo rápido, dizia para eu me conectar com a minha filha, chamar ela... Eu fazia isso mentalmente. Pediu para eu liberar minha dor, respirar.... Mas Pra mim estava demorando, eu sentia muita dor, não tinha trégua entre as contrações, queria que minha filha nascesse logo! 

Nessa altura meu medico ainda não havia chegado, a Clarice tranquilizava minha mãe e meu marido, dizia que se ele não chegasse ela poderia receber a Alice, mas ambos ficaram tensos com a ausência dele. Eu não! Eu confiava que a Clarice poderia fazer isso e em nada me afetou a ausência dele.

Minha mãe saiu do quarto e ligou para o meu médico, brava, pois ele combinou que daria assistência por todo o tempo e paguei particular o parto! Dali uns 20 min ele chegou, sentou no sofá e ficou olhando de longe, ao lado do meu marido, que tinha ficado ali no sofá do quarto durante todo o tempo.

O médico ainda colocou uma música, depois veio e fez um toque, auscultou e a Alice estava bem. Foi muito incomodo nesse momento, pois eu senti muita dor. Ele viu que eu já tinha 10 cm e continuei agachando nas contrações, até que a bolsa rompeu. Eu tinha esperança que a Alice nascesse ali mesmo no quarto, mas o médico quis ir para o centro obstétrico. 

Fui transportada em uma cadeira de rodas e não vi nada no trajeto. Me concentrava na dor, gemia de dor... Meu marido e minha mãe puderam entrar, eu resolvi fazer força e parir na banqueta de parto. Já não aguentava mais agachar. Foram uns 20 minutos no centro obstétrico. Toda a força que eu fazia parecia que era para fazer coco. Senti o circulo de fogo e, então, às 12:43 horas, minha filha nasceu!!!

Minha filha nasceu!

O médico a amparou e a entregou nos meus braços. Toda inchadinha, linda, cabeluda, um cheiro doce... chorou, tossiu, eu peguei nas suas mãozinhas, beijei sua cabeça, o medico dizia para eu respirar profundamente, esperou o cordão parar de pulsar. O meu marido não quis cortar, então minha mãe cortou. 

Minha mãe super companheira

Foi uma alegria imensa, Clarice lembrou de tirar foto, pena que não fizeram nenhuma dela nascendo, só depois. Quando olhei para o meu marido, ele estava no cantinho, de braços cruzados e os olhos cheios de lágrima, emocionante!!

O pai era emoção pura!

A pediatra pediu licença e levou a Alice, minha mãe acompanhou, mas ficaram ali na mesma sala, enquanto nasceu a placenta e eu tive que levar pontos em algumas lacerações. Minha mãe sabia que eu não queria que pingasse o nitrato de prata, mas o fizeram tão rápido que ela ficou brava e frustrada, mas só me contou dias depois. Foi a única coisa que não foi como eu desejei. Não aspiraram, não tomou banho e voltou logo para os meus braços! 

Beijo merecido do maridão

Eu e minha Doula e Parteira


E assim renasci, e nasceu minha Alice abençoada. 

Dia 3 de outubro, às 12:43h, 3,140kg, 50cm. Brasilia-DF

Gratidão ao meu marido que foi e tem sido desde então um companheirão! Que esteve conosco até o fim, como prometeu! A minha mãe, meu Porto seguro, meu braço direito e esquerdo, meu espelho...

E as doulas e amigas Cariny e Clarice! 
À minha guerreirinha linda Alice, que foi firme comigo até o final! 

E a Mãe Natureza, Mãe Maria e Deus por permitirem a natureza agir!

Minha família!







*A Clarice é doula, no entanto, realiza procedimentos técnicos por ter, também, formação como parteira. Doula não realiza toques para avaliar dilatação, não avalia batimentos cardíacos fetais, nem exerce qualquer procedimento médico ou de enfermagem.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...