31 de agosto de 2012

Diário de Grávida: Dias 28... 31 de agosto de 2011...

por Cariny Cielo

Há um ano eu conhecia uma doula.

A única que existe em Rondônia, se você quer saber.

Minha realidade não me permitia sonhar muito com os benefícios de ter uma doula no momento do parto, e são muitos esses benefícios!

Doula é uma palavrinha que vem do grego e significa 'servir'. Mulher que serve outra mulher. Atualmente é uma profissão em busca de regulamentação e muito rara em Rondônia... só temos uma e ela mora em Porto Velho!

Claro que é possível ter um parto legal sem ela, mas tendo uma, você aumenta muito suas chances de:

1. Não fazer uso de medicação para alívio da dor;

2. Não sofrer episiotomia;

3. Não sofrer violências verbais, emocionais;

4. Ter um parto legal, respeitoso e digno;

5. Fazer um plano de parto e garantir que ele seja cumprido pela equipe que lhe atende;

6. Garantir respeito ao seu filho no momento em que ele for recepcionado;

7. Escapar de uma cirurgia mal indicada;

8. Escapar de ter pelos raspados, sorinho na veia, lavagem intestinal, todas essas coisinhas que os hospitais fazem com as gestantes para transformar o parto em uma experiência aterrorizante...

Com uma doula, você tem uma defensora dos seus direitos, embora ela nunca irá substituir o atendimento do médico, da obstetriz.

Aliás, é bom que se esclareça: doula não confere pressão arterial, não faz toque, não avalia progressão do trabalho de parto, não ouve o bebê, não decide sobre os rumos do trabalho de parto...

Minha experiência com doula foi com uma 'não' doula. A Glória, que me atendeu no meu VBAC (sigla em inglês para 'parto normal após cesárea') não é doula, não tem essa formação, mas me foi muito importante por me garantir alívio da dor através de métodos naturais. Massagem, concentração, meditação, dança... ela é massoterapeuta e sua atuação foi pontual neste aspecto. Se ficou curioso, leia o relato aqui.

Ainda não se convenceu? Acesse e conheça o blog da Cris, uma doula bem famosa e que tem muita estória pra contar. Eu preciso mesmo de uma doula?

Tá, você agora vai dizer: de quê adianta fazer propaganda de doula, se por aqui sequer existem essas profissionais? Pois é! Não existem porque não tem demanda... a partir do momento em que houver procura, elas vão aparecer.

E também porque, no Estado número um do Brasil me nascimentos por cirurgia, falar em apoio à mulher no trabalho de parto ainda é falar outra língua.

É possível ter apoio no parto de alguém que não é doula, claro! O pai do bebê, a mãe, amiga, madrinha, avó, enfim...

Eu, no parto do Giordano: um parto natural hospitalar, tive minha mãe, uma massoteraupeuta, minha professora de yoga, minha tia, enfim... Hoje, quando lembro, acho gente demais! Mas, na época, toda ajuda era importante para eu vencer o mito do 'parto normal após cesárea'.

Só a doula estuda muuuuuuuuuuito sobre empoderamento e protagonismo da mulher e isso faz toda diferença!


No diário, com nove meses, são apontados estes exames que podem ser pedidos: Ecocardiografia, Cardiotocografia, Dopplerfloxometria e cultura de secreção.

O que eu acho importante falar sobre exames é que:

1. Eles devem ser solicitados com um propósito e nunca, de rotina!

2. Que eles podem apresentar erros e isso pode destruir a paz de uma gestante.

3. Que é um procedimento normalmente muito estressante para a maioria das mulheres. Eleanor Luzes, PHD em Ciência do Início da Vida diz que a grávida deve mentalizar saúde e que, muitas vezes, se submeter a exames cada vez mais invasivos tire da mulher a pureza de seus pensamentos e os levam ao medo, à doença, ao negativo.

Eu não fiz nenhum desses. Por que? Porque sou doida varrida? Não! Simplesmente não apresentei nenhum sintoma que indicasse uma investigação maior... só isso!

Mas tive que fugir, confesso, do preferido dos obstetras: o ultrassom do nono mês! O ultrassom do nono mês é o mais desnecessário, contraindicado e absurdo exame que se pode fazer em uma gestante como rotina! Eu disse, como rotina tá, gente?!

É com esse ultrassom que os médicos adoram marcar uma conveniente cirurgia com um nebuloso diagnóstico de:

Cordão enrolado!

Pouco líquido, muito líquido

Placenta 'velha'

Bebê muito grande ou muito pequeno

E por aí vaí...

A melhor lista não é minha não, é da Doutora (com doutorado!) Melania Amorim

Eu fiz apenas dois ultrassons na minha última gestação. Hoje, numa próxima, faria apenas o morfológico, por volta das 20 semanas.

Um dos meus textos mais populares, eu fiz com colaboração da Eleanor Luzes, depois que a conheci quando fiz o curso de Ciência do Início da Vida em 2010, fala muito sobre a invasão que o sistema faz no útero materno.

Com o título Ultrassonografias de rotina não! você irá conhecer estudos que convencem acerca do porquê não fazer aquela pancada de ultrassom (e encher o bolso do médico)...

Pára tudo! Ok admito: eu também já fui daquelas que não sabia de nada disso e fiz trocentos exames, crente de que só via meu filho bem, se fosse pela tela de chuviscos.

Se eu pudesse fazer um gráfico, sairia de 9 na primeira gravidez, para 5 na segunda e 2 na terceira... depois que a gente expande o cérebro ele não cabe mais nos mesmos lugares, nas mesmas crenças... e aí, lascou!

27 de agosto de 2012

Diário de Grávida: Dias 25, 26 e 27 de agosto de 2011...

por Cariny Cielo

Parabéns para nós que há um ano estávamos entrando no nono mês!

Quem tá grávida sabe que entrar no nono mês é fabuloso... (hein?!)

Não é bem assim não!!! (Só na revista Caras que as grávidas de nove meses se sentem radiantes!)

A maioria das mortais está desesperada pelo nascimento do bebê porque tudo dói!

É muito quilo numa pessoa só, amarrar o cadarço do tênis vira um problema (que tênis, minina? Eu só aguento rasteirinha!), é xixi toda hora, intestino preso, azia, o estômago não corresponde ao olho gordo, carregar seu filho mais velho (se tiver, e eu tinha dois!) é maratona pura, a sensação de um sono bom vai caindo no esquecimento... maaaaaaaas, calma! É muito bom sim saber que o bebê está completamente formado, restando apenas amadurecer mais alguns órgãos internos para a vida extra uterina.

Numa escala de 0 a 100 (em que 100 é a grávida da revista), eu costumo chegar ao nono mês me sentindo uns 80. E já é muito, muito bom...

Completar nove meses é bom também porque a gente foge daqueles comentários assombrosos sobre bebês prematuros. Ufa, uma babaquice a menos que a grávida tem que ouvir (e ainda vêm tantas pela frente! Por exemplo, que o cordão umbilical pode enforcar seu bebê e sobre isto clique imediatamente aqui!!!).

Eu, pelo visto, tava em modo: “muito bem obrigada...”


Viajei de carro dia 25 para Porto Velho, pois iria fazer o último módulo do curso de capacitação em yoga (pausa para recomendar o curso!!!!) pelo Instituto do Ser (para saber mais: institutodoser_phv@hotmail.com) e, foi meio sofrível ficar mais de 6 horas sentada! Quem tá de barrigão sabe...

Recebi contato de parteiras! Eu estava certa de que acharia uma parteira em São Miguel do Guaporé, que fica há uns 180 quilômetros de Cacoal. Pra quem não sabe, o Ministério da Saúde vem capacitando as parteiras tradicionais e, naquela cidade, parece que havia 10 cadastradas. Eu achei perfeito! E na minha cabeça de pote grávida, tinha certeza que daria tempo de alguma me atender.

Parteiras em nosso Estado ainda me soa meio lenda de mapinguari... todo mundo lembra de alguma, fala de alguma, mas quando a gente procura, não acha. (Mais à frente vocês vão ver o que deu a estória das Parteiras de Rondônia!)

Há um ano eu conversei com uma enfermeira obstétrica de Porto Velho. Adorei ela! A Francine tem 4 filhos e é adepta total da humanização do nascimento e tenho surpresas dela que vou trazer aqui qualquer dia desses...


Há um ano chegou minha bonequinha Flor do Sul. É uma boneca que tem bebê de parto normal e amamenta... eu queria ela para usar no chá de bebê e, sei lá, brincar com meus filhos mesmo... só! Quer uma também?

Parabéns para nós, neste nono mês querido!


Fizeram uma despedida para mim no curso e um mini-chá de bebê. Como não sabíamos o sexo do bebê (e quem quer saber essas coisas?!!) eu ganhei uns mimos asexuados e um cartão carinhoso de fazer grávida soluçar de choro (como se precisasse de muito pra isso...).

Vi claramente que, sem querer querendo, eu estava caminhando para o parto desassistido. O meu ‘sinto que ninguém mais me serve’ e o ‘nem sei se quero alguém mais’ davam indícios de que eu já estava cansada de fazer contas dos quilômetros e horas, medir distâncias e fazer acordos para um atendimento.

Resumindo, há um ano, eu estava feliz e barrigudona...

24 de agosto de 2012

Diário de Grávida: Dias 23 e 24 de agosto de 2011...

por Cariny Cielo

Auto estima bombando!

Como é que eu tava me 'achando' tanto assim? O meu delírio raciocínio foi: "eu nunca quis fazer algo que não tenha conseguido". Pelo jeito serviu e, se você quiser adaptar, fique à vontade!

A parceria do pai estabeleceu-se com a frase final: "Se você tiver bem, eu tô bem". E fim! Simples assim, bem da testosterona mesmo...

Adorei lembrar que neste dia eu defini que, em sendo um menino, o nome seria Cassiano. Tá, vai, pode falar que isso só interessa a mim, mas, ao menos, serve de exemplo (insisto) sobre como é bacana ter um diário de grávida! Relembrar e rir... ou chorar.


A graça do dia 24 de agosto de 2011 ficou por conta de falar com a enfermeira Sandra, que viria de Porto Velho - portanto iria rodar por quase QUINHENTOS quilômetros - no meu plano infalível de ter assistência domiciliar. Quanta mongoliçe ingenuidade.

Para quem não entender o 'abaixei minha banqueta', explico: Significa um corte que fiz no meu banquinho de cócoras, pois meu marceneiro querido, acredito eu, fez pensando na Ana Hickman (é assim que se escreve o nome dela?) e deve faltar quase 30 centímetros de Hickman em mim.

22 de agosto de 2012

Diário de Grávida: O dia a dia até um ano do grande dia...

por Cariny Cielo

Do nada hoje me veio uma vontade imensa de reviver a chegada do Cassiano. Talvez pelos preparatidos do aniversário de um ano que estão me ocupando e talvez por que hoje (22/08), há exato 1 ano, eu estava há 1 mês do parto.

E o último mês foi de emoções mais ainda à flor da pele. Foi tempo de decisões finais, acertos, choro e riso...

Choros e risos! A lua era minguante e eu estava mesmo à mingua de assitência. O último mês foi marcante pelas últimas tentativas, últimas procuras, últimos acordos e desacordos... Suspiros finais...

Corri por meu diário, carinhosamente preenchido, dia após dia. O Diário da Gestante da professora de yoga Fadynha embalou minhas mais loucas emoções... havia pouco espaço para eu escrever o tudo que explodia dentro de mim! Este sim é item essencial do enxoval da grávida: um diário!

Tá aqui ele, testemunha da minha jornada! Resolvi em comemoração, escrever todos os dias o que eu escrevi no mesmo dia, ano passado, até o Grande Dia!

Porque alguém faria isso? Achei um monte de motivos bobos relevantes!

1. Porque o caminho pode ajudar a orientar alguém. Sim, eu via muito de mim nas estórias de mulheres anônimas.

2. Porque minhas dúvidas, aspirações, loucuras e viajadas podem ser as mesmas de outras tantas. Vai dizer que não?!

3. Porque é como celebrar novamente! E quem não quer celebrar a chegada de um filho?

4. Porque é magnífico falar daquele dia e de toda aquela estória

5. Porque é possível refazer todo o percurso e entender, dentro de mim, como eu fui parir sozinha...

Diário é bom demais! Divirtam-se (como eu!) revivendo as minhas últimas voltas na montanha russa da gravidez e que culminaram num grande encontro...

Aí vai: Hoje, dia 22 de agosto, em 2011, eu estava assim:


Ansiosa?! Eu?! Nunquinha!!! Confesso que me surpreendi quando li!
Viu com é bom diário? Eu jamais me lembraria disso...

17 de agosto de 2012

Amamentação: Por quê eu sou ativista?


por Cariny Cielo

Fui convidada a participar da Blogagem Coletiva proposta pelo blog Desabafo de Mãe em comemoração à Semana Mundial de Aleitamento Materno e pensei: Por quê alguém que não ganha absolutamente nada com algo, se dedicaria a promover este algo? Sim, pois, que eu sabia, eu não recebo uma nota de cem reais para cada peito de mãe que um bebê abocanha.

Aliás, seria imensamente mais vantajoso ser ativista da indústria de leite artificial! Eu exigiria alguns % em cada venda de leite de vaca enlatadinho e, nos dias de hoje, de fato, eu ficaria rica, pois se vende MUITO leite artificial. Eu viajaria pelo Brasil, ganharia subornos (OPS!) presentes maravilhosos, férias em resorts e iria a magníficos congressos na Europa... um luxo só.

Mas então, o que raios eu tenho na cabeça para querer tanto promover a amamentação numa era onde o que importa é o dinheiro? O filho não é meu e a mãe, muitas vezes, eu nem conheço.

Foi respondendo esta pergunta que eu me dei conta de quê espaço eu quero ocupar!

Quero chegar até a família que deseja profundamente que o bebê recém chegado mame, mas encontra dificuldades já que vive num tempo contrário ao natural. Num mundo onde, nos dizeres de Sonia Hirsch , a “saúde é subversiva porque não dá lucro a ninguém”. Numa era que dá, a todo instante, mensagens de incentivo ao consumo, ao lucro, à competição, ao espetáculo e pouco ou nada promove ao que é fisiológico, natural, verdadeiro e de qualidade.

Não me importam as mães e suas escolhas em não amamentar. (Em que pese eu entender que aleitamento materno seja questão de saúde pública – mas isto é assunto para outro post).


Mas me importa, e muito, a mãe que quer amamentar, e não tem apoio nenhum. É por ela, tudo isso! Eu já fui uma delas e, cheia de olheiras e mamilos esfolados, olhei prum lado, olhei pro outro e... nada de ajuda! Banco de Leite? Privilégio da Capital: Porto Velho, e só!

Lembro do ódio que eu tinha dos cartazes nos postos de saúde quando eu ia vacinar meu filho. “Como ela consegue e ainda faz essa cara de Diva?”. Eu segui cambaleando até acertar e, ao final, o Emiliano mamou feliz até mais de um ano, mas eu poderia ter desistido naquela noite em que se somou meu esgotamento, a dificuldade de pega dele e toda uma coletiva de imprensa me dizendo que o bebê era muito magrelinho.

A mulher que quer amamentar o filho encontra, hoje, uma verdadeira campanha contra! (E pra quem vai dizer que, ‘Imagine! Que exagero! O Ministério da Saúde promove a amamentação escrevendo isso em todas as embalagens de leite e mamadeira e fazendo belas campanhas com atrizes famosas, eu digo: “aham!”).

- Em cada farmácia e supermercado existem gôndolas de mamadeiras desenhadinhas, além de latas e latas de leite, de todos os tipos, com uma informação nutricional de dá inveja!;
- Em todo consultório tem um médico receitando o leitinho enlatado ‘caso o leite da mãezinha seja fraco’;
- Em toda família tem vovós que adorariam dar mamadeira pro netinho e, assim, se sentirem cuidando também da cria;
- Em toda cama de casal tem um marido que se sente ‘perdendo’ os peitos da mulher pro filho.
- Em todo muro tem uma vizinha dizendo que seu filho tá magro ou chora de fome;
- E, em toda mulher moderna, existe, em algum grau, uma sensação de inadequação com os processos naturais e fisiológicos femininos fruto do modelo masculino e racional em que se organizou a sociedade. Carregamos uma anti-mulher dentro de nós que diz que não vamos conseguir, que aleitar dá trabalho demais, que é dedicação demais, que é feio demais, que vai nos espoliar, nos estragar o corpo, nos privar da vida social, nos prejudicar o casamento e, finalmente, que o que é comprado é melhor, mais bonito e limpinho.

O desafio é: como convencer alguém mergulhada num universo de consumo que, durante seis meses (!), ela não precisará comprar nada, absolutamente nada para alimentar um filho? A resposta está no ativismo! Dividindo as dificuldades, espalhando as estórias reais de mulheres reais, propondo ajustes, envolvendo a família, apresentando uma nova forma de encarar as dificuldades e um jeito novo de fazer velhas coisas.

É para essas mães que eu dou uma de exagerada ativista e saio por aí ajudando mesmo, gastando do bolso, emprestando vídeos, livros, textos etc, visitando em casa, sugerindo alternativas, trocando experiências, gritando a toda voz...

É pela delícia de ver uma igual dar um passo em direção ao feminino através do aleitamento natural que eu tô aqui, sendo ativista da amamentação! Promovendo o bendito vínculo!

É por ela, é por mim, é por nós: mulheres...


Extra: O que é Ativismo?

13 de agosto de 2012

Paternidade Ativa: Não se carrega mais papai no bolso...


por Cariny Cielo


Esse dia dos pais me foi especial por inúmeras razões.

Quem leu a estória da Lorenna, a gestante que mostrou cara, barriga e alma no último post, emocionou-se com a participação surpreendente do pai do bebê Henrique, que está a caminho.

Fui brindada com o comentário corajoso e sensível do marido dela, um homem que descobriu a verdadeira paternidade. Ele emociona-se, pede perdão, empodera-se, assume um vínculo e ainda faz um alerta: "homens, sejam pais desde a gestação!".

Aqui o vínculo pai-bebê também tem pinceladas especiais... meus filhos meninos olham para um pai sensível e giram no entorno dele, em uma troca de amor que dá gosto de sentir.

Bem diferente do que acontecida no passado. Sem dados estatísticos para comprovar, mas acredito que a maioria dos avós viveram uma época em que o amor era 'tarefa' da mãe e a razão, do pai. Mantinham distância afetiva com receio de perder a autoridade e hoje, vemos que a liderança verdadeira vem do amor e nunca do medo.

Chega de 'carrego papai no bolso e mamãe no coração'. Estão lá, no coração dos filhos, o pai e a mãe. Quem ganhou com isso? Os filhos, sem dúvida, mas acredito que quem mais ganhou foi o homem. O homem que, ao se vincular, ao se conectar com sua cria, ativou mecanismos de satisfação pessoal e qualidade de vida. Chutou o balde da frieza, rasgou as cortinas do distanciamento... jogou fora todas as máscaras e mostrou-se: ao filho, à sua eternidade! Com isso, cresceu como ser humano...

O homem hoje que está nas consultas de pré-natal, que invadiu a sala de parto, que dá colo e dá o peito à mulher para que ela dê o peito ao filho... este é homem de carne, osso e alma masculina.

Exercitar o feminino não liberta apenas a mulher, também liberta o homem. Ele pode despir-se dos falsos conceitos sobre sua masculinidade e fugir do machismo que mina suas energias.

E ele pode, finalmente, amar...

O dia dos pais foi de festejar por muitas coisas! Festejar pelo meu pai e pelo homem que ele foi, me fazendo quem sou. Pelo pai dos meus filhos e pelo cuidador que ele, todos os dias, esforça-se em ser apenas para amar a cria. E festejar pelo pai do Henrique que aprendeu a arte de amar um filho ainda no ventre.

Vamos comemorar, que o lugar de pai é no coração também...

8 de agosto de 2012

Relato: Estreando... Lorenna, que aprendeu a cuidar...



Eu estava sedenta por um espaço onde pudéssemos mostrar a cara - ou seria a barriga? - das gestantes rondonienses. Quem são essas mulheres, o que pensam, o que querem, como se submetem ao que Rondônia tem a oferecer em termos de atendimento obstétrico e, claro!, quem são esses rondonienses que estão a caminho...

Hoje começa minha saga por ouvir essas mulheres.

Estreamos com a Lorenna Melo! Aos 29 anos e trabalhando na área da saúde, ela é a feliz mãe do Samuel (que ela lindamente fala que foi seu "pedido de Deus") e gesta o Henrique, segundo ela, o príncipe poderoso.

Sua estória chegou até mim por coincidências da vida, pois nossas avós foram amigas de infância. O depoimento dela é recheado de emoção, bem à flor da pele, como costuma ser tudo que uma mulher se propõe a fazer de coração...

Me chama a atenção em seu relato a sensação de que "não deveria ser assim" que, ao que parece, acomete muitas mães que vivem um nascimento com intervenções (mesmo as necessárias) e que se sentem tolhidas de parir... o 'não parto' é muito doloroso.

O que ela tem de destaque é a visão linda de, como num passe de mágica, perceber que não precisa 'ser cuidada' por ninguém; precisa é cuidar! Essa mudança dramática de paradigma que, no caso dela, foi impulsionada por uma experiência ruim, é o que define nossos conceitos de protagonismo feminino. Antes uma figurante, agora, a protagonista! Protagonista mãe, mulher...

Assume corajosamente que tem medos, mas que não vai se deixar ser engolida por eles. Ela aprendeu a colocar o medo em seu devido lugar! Abaixo da fé, abaixo do amor...

O medo e a dor são conceitos reais pelos quais passam as mulheres, hoje, quando se veem grávidas. O mundo masculino nos ensina, de cedo, que somos incapazes de conceber, gestar, parir e amamentar sem ajuda e, internalizamos isso de uma forma tão profunda, que quando precisamos daquela mulher forte, capaz e cheia de vida, ela não responde.

A Lorenna tem medo, dúvidas e sabe que o trabalho de parto é, realmente, um trabalho! A quem ela deve desaguar essas dúvidas, esses medos? Não, não é no médico. Deixem pros médicos as facetas físicas da gestação e dediquem tempo para investigar com outras mulheres, com sua fé, com o que acredita, todos os prismas emocionais e espirituais que envolvem sua gestação...

Muito importante ver que ela alerta as mulheres a não entregarem o parto ao médico, por melhor e mais bem conceituado que ele seja. Realmente, os únicos verdadeiramente interessados em que experiência seja feliz são o bebê e a mãe. São eles os sujeitos, os que sentem na carne o bom e o ruim... Então, eles é que devem assumir a luta pelo bom. A isto chamamos de empoderamento feminino. Saber que é capaz, saber que tem direitos e assumir escolhas. Os médicos não vão mudar sozinhos (salvo raríssimas excessões). Quem os empurra para as mudanças são as mulheres que demandam o melhor...

Lorenna espera seu Henrique de alma aberta. Fecha o olhos e entrega-se ao desconhecido com a fé que a anima e já se sente uma mulher melhor por saber que é preciso sempre mais, é preciso luta, é preciso dedicação, é preciso ação e não passividade... ser mãe, como ela diz, é buscar conhecimento, experiências, tomar decisões e lutar por elas.

Como eu costumo dizer, e já disse por aqui, o tempo é de luta para que um dia nossas netas possam ter na gravidez e parto uma experiência verdadeiramente feminina e respeitosa.

E que venha o Henrique, feliz e sorrindo, conhecer aquela que se faz e se refaz na ânsia de ser melhor a cada dia... sua mãe, Lorenna.



"Esse ano já começou cheio de boas novas, entre elas a confirmação do que já queriamos alguns meses, mais um membro para o corpo na nossa família. Não há como não sentir que algo novo faz parte de mim, acho que a transformação começa na alma até se tornar algo detectável! Mas o corpo que gesta já passou há tempos por sincronias de ciclos hormonais, emocionais, espirituais... a concepção é algo divino.

Há quatro anos quando me vi tomando soro em um pronto-socorro por não conseguir comer e nem beber nada por dias, me via dependente, enfraquecida, fui mal atendida nas primeiras consultas do pré-natal (até reclamação por escrito fizemos ao plano de saúde, pra variar não resultou em nada). Aí a grande mudança, devido ao trabalho do meu marido fomos morar no interior, tinhamos indicação de uma médica que fez o cenário mudar um pouco, eu já estava no quinto mês de gestação, os enjoos já eram menos frequentes (duraram até o sétimo mês!). Não estava trabalhando, não conhecia ninguém na cidade, meu marido saía muito cedo e voltava só a noite! Era eu e meu bebê, apesar da presença dele ser manifestada com muitos chutes (sensação mais saborosa da gestação), o silêncio dos meus dias me trazia solidão, que me trouxe medos, dúvidas. Para mim o que restava era seguir tudo que minha GO falava, apesar de não gostar de consultas médicas de forma geral, era alguém que me ouvia, me perguntava, falava comigo!

Na escolha do parto, ela me montou uma cena de parto normal e uma cena de cesária. Já dá até para imaginar, o primeiro: muito sofrimento e dor, que poderiam durar dias, e se na hora do expulsivo não tivesse força, se fosse necessário ela gritar comigo, assim ela faria! E a cesária não! Tinha hora marcada, começo e fim determinados. Pronto! Nem vou pensar em mais nada, tá escolhido e com hora marcada! (decidi).

Uma semana antes do "combinado" fui fazer uma ultrassom, umas 7h da noite, e foi detectado pouco líquido amniótico, então, o veredicto: "daqui meia hora volte pois não podemos esperar que o bebê começe a sofrer, ele vai nascer as 21:00h!"

Eu: Mas não tem como eu esperar minha mãe vir? Esperar até o dia seguinte? E continuaram: Não, você pode começar a passar mal, e o bb tbm, e isso ainda pode ser de madrugada!

Bem, às 21h Samuel nascia livre de todo mal, sedento por uma mãe que reagia com tremores e vômitos a uma anestesia bomba! Meus pensamentos confusos diziam que não era para ser assim... a partir daí seguiram 10 dias de recuperação dos inchaços, falta de sono, e dores! Não sei se é meu organismo que realmente não suporta intervenções, ou é assim mesmo, só sei que para mim a cesareana foi muito dolorida.

Hoje revendo tudo que passou, vejo que deixei muito nas mãos de outros o que eu deveria ter feito. Demorei para perceber que não era eu quem tinha que ser cuidada, mas eu tinha que cuidar, então eu tinha que estar bem, viva, desanestesiada! O nascimento e a presença do Samuel me fizeram ver que se tornar mãe não é simples assim, é buscar conhecimento, experiências, tomar decisões e lutar por elas, escutar e ter uma "peneira" enorme nos ouvidos para saber o que ouvir. Isso tudo se inicia no bem nascer, e vai por toda nossa vida enquanto formos chamadas de mãe.

Em outubro quando nosso dia chegar quero estar presente, ativa, e feliz, passando por tudo que for necessário para trazer por mim mesma esse bebê que Deus desenhou tão perfeitamente, assim como o caminho para seu nascimento.

Não posso dizer que não tenho medo, ou dúvidas, e quem não tem?!! Mas tenho muita fé Naquele que nenhuma folha deixa cair da árvore se não for preciso, Ele sabe dos meus sonhos, e conhece todo desenrolar dos meus pensamentos, e pede para que eu não tema!! Assim será....

Moro em Porto Velho e a realidade daqui é bem distante do que se chama de humanizado, em todos os sentidos. A escassez de profissionais (não digo nem bons profissionais) leva a sobrecarregar aqueles que ainda se preocupam um pouco mais.

Estou fazendo pré-natal com um médico muito bem conceituado e que em todas as minhas dúvidas me satisfaz, mas eu digo: futuras mães por melhor que seja o curriculo deles, não esperem que eles contem tudo sobre gestação, partos, e todas as variantes que uma gestante pode passar! Até porque em consultas de que duram 15min não daria tempo para isso! Por falta de conhecimento a gente acaba aceitando muitos caminhos que talvez nem seja o melhor, mas o mais conveniente, e geralmente não para os mais interessados, mãe e bebê!"

6 de agosto de 2012

A Marcha Nacional Pela Humanização do Parto em Rondônia... e as mulheres dançando...

"E os que dançavam foram considerados loucos 

por aqueles que não ouviam a música". 

(Nietzsche)






por Cariny Cielo


Esta frase é sucesso garantido quando estamos vivendo uma revolução. Geral, local, gradativa ou radical, não importa... sempre combina, sempre veste muito bem e, se você acha que consegue, vale a pena ler Nietzsche (quem é esse?) para, no mínimo, fazer cosquinha no cérebro.
Bailaram, no último domingo, algumas anônimas e corajosas mulheres em Rondônia! A Marcha Nacional pela Humanização do Parto teve em Porto Velho sua pincelada talvez mais singular.

Se há um lugar no Brasil onde mulheres defendendo humanização do parto seriam mais consideradas loucas, esse lugar certamente é Rondônia. Somos nós o único Estado da região norte do país onde os nascimentos por cirurgia superam os por parto normal.

Por aqui, todo esse papo ainda é delírio! Exceto pela Maternidade Pública Municipal de Porto Velho (que em 2010 recebeu o selo de Hospital Amigo da Criança pelo Ministério da Saúde, e onde trabalha uma das que Marcharam - a Enfermeira Sandra Schultz) todo o resto fala outra língua.

O grave de falar outra língua, no entanto, é que esse outro idioma é ouvido e 'entendido' todos os dias, dezenas de vezes, por inúmeras mulheres que buscam o sistema obstétrico quando se vêem grávidas.

O outro idioma, no caso, o da intervenção artificial em um evento fisiológico, entorpece de tal forma que raramente vemos as mulheres gritarem dizendo que não estão entendendo o que se diz...

O mais comum é aceitar: aceitar a gravidez excessivamente monitorada com a posição de frágil e doente da mulher, a cirurgia mais arriscada vendida como melhor por conveniência, a falta de ética, a ameaça, o medo paralisante, a mutilação vaginal, o corte abrupto do cordão umbilical, o soro na veia, a posição humilhante, o frio do ar e das pessoas, a luz forte, as vozes estranhas, as ordens, os julgamentos, o bebê que vai embora sem que sequer veja a mãe, a rapagem de pelos e lavagem intestinal, o ácido nos olhos de quem mal viu o mundo, a solidão, o isolamento, fim...

Nasceu um cidadão e nasceu uma mãe dentro de um sistema violento, mas, quem liga? Eles não estão ouvindo a música tocar... Nem eles, nem os médicos e médicas que os atenderam, nem pediatras, nem os familiares envolvidos, nem as enfermeiras ou enfermeiros e técnicos ou técnicas... ninguém... faz-se um silêncio mortal nas salas obstétricas do país e de nosso Estado.

O bom é que um dia a música toca. Sempre toca, é a ordem natural das coisas, é a Lei da Vida, é o progredir infinito do qual ninguém fugirá. Ele vem com prazer ou dor, nos empurrar topo acima...

E essa música tocou com prazer e euforia, no domingo... fazendo dançar orgulhosas, as que ouviam, com deleite, a canção.

Dançou a Paula com seu filho nascido da coragem e naturalmente. Dançou a Sandra que todos os dias molha de sangue e vida suas mãos para fazer respeitar mulheres que chegam a seu caminho. Dançou a Elis que cicatrizou um corte com um parto desafiador, feliz e em casa. Dançou a Alyssa com seus partos naturais, um domiciliar, no florescer da vida. Dançou a Silvania que traz o valor do natural correndo nas veias. Dançou a Helena que se inspirou quando grávida na música que tocava de outras mulheres. Dançou a Lorenna que, numa outra gravidez, se viu uma outra mulher. Dançou a Camila que ainda não tem filhos, mas já acredita no feminino. Dançou a Izabela que sente que essa é a música certa para se ouvir. Outras tantas anônimas talvez passaram, naquele instante, a ouvir e a dançar também...

Que bom que se ouve por aqui o som cristalino e puro da nova onda...

Que orgulho fazer parte desta estória!





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