11 de dezembro de 2014

Relato de parto da Mariana: Parto humanizado hospitalar em Brasília


Por que um relato de parto que ocorreu em Brasília, se o blog é Parto em Rondônia?

Explico: Porque a história é de uma gestante de Rondônia que precisou viajar para Brasília para viver a experiência da chegada da filha de forma plena e sob os paradigmas da Humanização do Nascimento.

Conheci a Mariana num grupo de mulheres e logo ela me disse que estava pensando em engravidar. Conversamos, assistimos juntas à estreia do filme "O Renascimento do Parto" no cinema de Cacoal, interior de Rondônia, e... logo logo, ela engravidou. As chances de ela ter um parto como sonhava, respeitado em todas as escolhas, aqui em Rondônia, eram mínimas.

Inundada de informação e já ciente do que era melhor para si e para a filha, Mariana decidiu ter seu parto em outra cidade, aliás, em outro Estado! 
Empoderou-se e contagiou o marido e a mãe, que viraram parceiros fiéis de suas escolhas. 

Lindo relato! Desfrutem:




Sou daquelas mulheres criadas para casar e ter filhos, cresci com minha mãe dizendo que a melhor coisa que tem no mundo são os filhos. Uma mãe que ama ser Mãe e que foi super protetora, nunca negou colo ou aconchego. 
Quando conheci meu marido, logo senti que era com ele que queria casar e ter filhos. Talvez eu quisesse que a maternidade acontecesse antes na minha vida, mas hoje vejo que foi na hora certa! Depois de um ano e pouco casada, um dia eu e meu marido tivemos uma conversa. Falando das sombras do nosso passado, eu disse a ele que achava que ele se sentiria muito preenchido com um filho. Decidimos então começar a tentar. Paralelamente fui convidada por uma amiga a participar de um círculo de mulheres que valorizam o poder feminino e, então, conheci Cariny, doula voluntária e ativista do parto natural com respeito, que me apresentou esse universo através do filme "O Renascimento do Parto".
Comentei que estava querendo engravidar e ela me mostrou um universo de informações e a realidade obstétrica brasileira... 
Lá plantou a sementinha, e deu certo!

Pedi de aniversario um filho e mal sabia que já estava gravida! 
Tive uma gravidez tranquila, sempre lendo e me informando, fui em 3 médicos em Cacoal, Rondônia, e não senti segurança em nenhum. Vi que o desfecho do meu parto poderia ser uma cesárea sem indicação real ou um parto normal com intervenções desnecessárias e muitas vezes violentas.

Como minha mãe mora em Brasília, meu marido sugeriu que eu ganhasse lá. Com 22 semanas fui para Brasília e, através da indicação da Cariny, achei minha doula - que também é parteira* - a Clarice e meu médico. O que eu buscava era um parto humanizado hospitalar. Todo esse processo foi penoso, pois quando comecei a falar do parto que eu queria, não tive apoio nem do meu marido e nem da minha mãe. Tentei a gravidez inteira mostrar informações baseadas em evidências científicas para o meu marido, mas nada o convencia. Para ele se tratava de um simples capricho meu. Minha mãe passou a me apoiar quando compreendeu exatamente que o parto normal era o melhor para mim e pra meu filho. 

Fui para Brasilia um mês antes para esperar o dia que a Alice escolhesse. 
Já na primeira consulta com o médico, vimos que ela já estava encaixada (por volta das 35 semanas) e assim permaneceu ate o final. Nas ultimas 2 semanas a ansiedade começou a aumentar, pois meu marido foi para Brasília uma semana antes da data provável e tinha data para ir embora: 3 dias depois!. O maior medo era que passasse das 40 semanas e a pressão fosse grande para cesárea já que ele tinha que ir embora para trabalhar, mas não queria perder o nascimento da filha.

Eu pedia para o meu marido estar comigo, segurar a minha mão na hora do parto e ele sempre dizia que não me acompanharia. Eu ficava frustrada e dizia que a bebê não iria nascer enquanto ele não dissesse que estaria com a gente!
Até que um dia ele combinou com ela que se ela nascesse até o dia 4 de outubro (a Data Provável do Parto), ele ficaria junto até o final (ou o começo de tudo!). 

O mais incrível é que na noite do dia 2 de outubro de 2014 eu notei que minha barriga estava baixa, diferente, e senti que poderia ser aquela noite. Pedi ao meu marido para descansar mas às 2 da madrugada começaram umas cólicas, mais fortes do que as que eu sentira outras vezes.

Parece que dá vontade de fazer coco... levantei várias vezes e ia ao banheiro, voltava para cama.... Meu marido percebeu a movimentação diferente e me chamou quando eu estava no banheiro. Abri a porta e disse que achava que tinha começado. Quando passei o papel para me limpar, vi o tampão mucoso com sangue e veio o friozinho na barriga para os dois e a felicidade ao mesmo tempo! 

Durante três horas tentei dormir, mas a adrenalina não deixou. Resolvi levantar, a dor ainda era suportável. Na sala vi o dia querendo amanhecer e umas 5:40 da manhã resolvi chamar a minha mãe, em silencio: ela tinha se proposto a me apoiar e incentivar durante todo o processo... ela se levantou na hora, toda feliz!

Esperamos mais um tempo, depois das 6 resolvi ligar para a doula, que disse que levaria seu filho na escola e iria para casa da minha mãe e me orientou a ligar para o médico. Assim fiz. 

Quase 8 horas da manhã a Clarice chegou, minha cara ainda estava boa, mas as contrações já começavam a ficar mais incômodas. Depois de um tempo tentei tomar café da manhã e já não consegui; foi só um chá e comi bem pouco. Clarice, que é parteira também, perguntou se eu queria fazer o toque e eu disse que sim! Ela fez, auscultou a Alice que estava passando super bem pelas contrações e me disse que eu estava com 5 para 6 cm de dilatação. 

Decidimos ir para o hospital. No caminho, as contrações apertaram, eu fui deitada de lado no colo da minha mãe ao som do padre Fábio de Mello e com a minha mãe fazendo cafuné. Chorei com uma música que falava de nossa senhora... senti emoção, dor, medo...

No hospital, como o medico já havia preenchido e me entregue em uma consulta a ficha de internação, logo fui para o quarto com a Clarice e o meu marido, enquanto minha mãe tratava da burocracia. 

Nessa altura a dor já era intensa mas as contrações espaçadas, conseguia um alivio entre elas. Consegui deitar de lado no colo do meu marido e lembro de ter sido uma sensação aconchegante, mas não consegui ficar por muito tempo. Clarice novamente auscultou para ver como estava minha filha e ela continuava bem nas contrações.

Me sugeriram chuveiro quente com bola e eu aceitei! A água quente realmente alivia, mas o chuveiro era ruim, as vezes esfriava, o que me deixou tensa. Lembro da minha mãe batendo uma foto minha na bola, no chuveiro.


Me sequei e fui para o quarto, coloquei a camisola do hospital, sentava na banqueta, na bola... mas a Clarice me orientou a agachar durante a contração, o que a tornava ainda mais dolorosa, mas ela me disse que era o melhor e que acelerava o trabalho de parto. 

Nessa altura eu já entrava na partolândia. As contrações ficavam mais próximas, eu tentava passar por uma de cada vez, pois estava sendo muito difícil. Quando eu agachava, minha mãe me dava um apoio nas costas e braços e a Clarice puxava minhas mãos. Em um momento de descanso entre as contrações, você não consegue mais ser racional, parece estar delirando,...e minha mãe se preocupou, me perguntou se eu estava entendendo o que estava acontecendo e a Clarice disse para ela que era assim mesmo, era normal. 

Clarice fez mais um toque e já estava com 9 para 10 cm! Ela dizia que eu estava indo bem, que estava sendo rápido, dizia para eu me conectar com a minha filha, chamar ela... Eu fazia isso mentalmente. Pediu para eu liberar minha dor, respirar.... Mas Pra mim estava demorando, eu sentia muita dor, não tinha trégua entre as contrações, queria que minha filha nascesse logo! 

Nessa altura meu medico ainda não havia chegado, a Clarice tranquilizava minha mãe e meu marido, dizia que se ele não chegasse ela poderia receber a Alice, mas ambos ficaram tensos com a ausência dele. Eu não! Eu confiava que a Clarice poderia fazer isso e em nada me afetou a ausência dele.

Minha mãe saiu do quarto e ligou para o meu médico, brava, pois ele combinou que daria assistência por todo o tempo e paguei particular o parto! Dali uns 20 min ele chegou, sentou no sofá e ficou olhando de longe, ao lado do meu marido, que tinha ficado ali no sofá do quarto durante todo o tempo.

O médico ainda colocou uma música, depois veio e fez um toque, auscultou e a Alice estava bem. Foi muito incomodo nesse momento, pois eu senti muita dor. Ele viu que eu já tinha 10 cm e continuei agachando nas contrações, até que a bolsa rompeu. Eu tinha esperança que a Alice nascesse ali mesmo no quarto, mas o médico quis ir para o centro obstétrico. 

Fui transportada em uma cadeira de rodas e não vi nada no trajeto. Me concentrava na dor, gemia de dor... Meu marido e minha mãe puderam entrar, eu resolvi fazer força e parir na banqueta de parto. Já não aguentava mais agachar. Foram uns 20 minutos no centro obstétrico. Toda a força que eu fazia parecia que era para fazer coco. Senti o circulo de fogo e, então, às 12:43 horas, minha filha nasceu!!!

Minha filha nasceu!

O médico a amparou e a entregou nos meus braços. Toda inchadinha, linda, cabeluda, um cheiro doce... chorou, tossiu, eu peguei nas suas mãozinhas, beijei sua cabeça, o medico dizia para eu respirar profundamente, esperou o cordão parar de pulsar. O meu marido não quis cortar, então minha mãe cortou. 

Minha mãe super companheira

Foi uma alegria imensa, Clarice lembrou de tirar foto, pena que não fizeram nenhuma dela nascendo, só depois. Quando olhei para o meu marido, ele estava no cantinho, de braços cruzados e os olhos cheios de lágrima, emocionante!!

O pai era emoção pura!

A pediatra pediu licença e levou a Alice, minha mãe acompanhou, mas ficaram ali na mesma sala, enquanto nasceu a placenta e eu tive que levar pontos em algumas lacerações. Minha mãe sabia que eu não queria que pingasse o nitrato de prata, mas o fizeram tão rápido que ela ficou brava e frustrada, mas só me contou dias depois. Foi a única coisa que não foi como eu desejei. Não aspiraram, não tomou banho e voltou logo para os meus braços! 

Beijo merecido do maridão

Eu e minha Doula e Parteira


E assim renasci, e nasceu minha Alice abençoada. 

Dia 3 de outubro, às 12:43h, 3,140kg, 50cm. Brasilia-DF

Gratidão ao meu marido que foi e tem sido desde então um companheirão! Que esteve conosco até o fim, como prometeu! A minha mãe, meu Porto seguro, meu braço direito e esquerdo, meu espelho...

E as doulas e amigas Cariny e Clarice! 
À minha guerreirinha linda Alice, que foi firme comigo até o final! 

E a Mãe Natureza, Mãe Maria e Deus por permitirem a natureza agir!

Minha família!







*A Clarice é doula, no entanto, realiza procedimentos técnicos por ter, também, formação como parteira. Doula não realiza toques para avaliar dilatação, não avalia batimentos cardíacos fetais, nem exerce qualquer procedimento médico ou de enfermagem.

22 de julho de 2014

Relato de parto da Juliana: parto normal hospitalar em Porto Velho

O relato de hoje traz, na verdade, a história de dois partos. Juliana tinha uma ideia fixa: queria parto normal. Da área da saúde e filha de médica obstetra, ela insistia que queria viver o nascimento dos filhos o mais naturalmente possível, mesmo com a fama de que talvez não aguentaria as famosas dores do parto!

Ela recebeu as dores com alegria, como se fossem anúncios de que seu tão amado filho estava chegando! Isso acabou transformando as dores em incentivo e ela se fortalecia a cada contração. Além disto, Juliana é mais um exemplo de o quanto informar-se sobre parto e contar com o apoio irrestrito do marido faz diferença! 

Vamos às histórias:



Meu nome é Juliana e tenho dois filhos. Sempre que pensava em ser mãe me deparava com a questão do momento do nascimento do meu filho, desde sempre não queria passar pela cesariana, ao mesmo tempo temia um pouco o parto normal. Minha mãe é ginecologista/obstetra e, sendo da área da saúde, já assisti algumas cesarianas e partos normais, então conversei muito com ela a respeito, que sempre falou que eu poderia ter um parto normal, apesar de achar que eu não suportaria a dor, afinal sempre fui “fraca” para aguentar dores. Quando engravidei do meu primeiro filho tive a certeza que faria um parto normal! Sempre fui a favor. Minha irmã teve sua primeira filha por parto normal e isso me animou muito.


Primeiro parto:

Meu primeiro filho nasceu em 2011. Com sete meses comecei a entrar em trabalho de parto e fui para maternidade. Descobriram uma infecção de urina, fiquei internada por quatro dias aguardando que a infecção fosse controlada para evitar um parto prematuro. Depois destes quatro dias, fui liberada, porém, tive que ficar em repouso total. Com 36 semanas paramos as medicações e ficamos aguardando a chegada do Gabriel.

Com 39 semanas entrei em trabalho de parto, passei o dia com contrações a cada 40 minutos, porém sem dores. Por volta das 23 horas, senti uma dor forte e as contrações já estavam a cada 7 minutos. Ligamos para a médica que me indicou ir para a maternidade. Chegando lá eu estava com 5 cm de dilatação.
Me aplicaram ocitocina e, às 4:10 da manhã, Gabriel nasceu!
Ele foi colocado em meus braços e, assim que chegamos no quarto, pude amamentá-lo. Apesar de ter realizado minha vontade em ter um parto normal, as dores me assustaram um pouco, cheguei a pensar que não ia conseguir. Foram longas horas de fortes emoções, com meu esposo ao meu lado o tempo todo.


Tive a bênção de contar com uma enfermeira sensacional ao meu lado naquela madrugada, não me recordo o nome dela, mas foi de fundamental importância no processo, sempre me acalmando, me falando palavras de incentivo. Agradeço a Deus por isto.


Segundo parto:

Na segunda gestação eu já estava mais que certa que novamente passaria pelo parto normal. Após o nascimento do meu primeiro filho, comecei a ler mais sobre o parto normal, e a ter mais informação.

Confesso que depois das 30 semanas ficava cada dia mais ansiosa para passar novamente por aquele momento do parto, onde passam tantas coisas em nossa mente. Pensava que tudo seria como no primeiro, mas eu estava enganada! Com 37 semanas a médica fez o toque e verificou que eu estava com 3 cm de dilatação. Nesse dia eu fiquei muito ansiosa, pois estava sentindo algumas contrações porém eram pontuais, não estavam se repetindo.

Eu andava pelo shopping para ajudar na dilatação, uma vez ou outra sentia uma dor mais forte, mas depois não sentia mais nada. Uma semana depois retornei ao consultório e havia dilatado 1 cm, confesso que pensei que não conseguiria, afinal depois de uma semana não ter dilatado mais que 1 cm me deixou um pouco desanimada.
Decidi então não mais me preocupar e segui minha vida normal, voltei a dirigir, segui minha rotina normalmente. Alguns dias depois recebi uma mensagem da minha médica avisando que precisaria viajar dentro de alguns dias e voltaria uma semana depois e me pediu que fosse ao consultório no dia seguinte para um novo exame para verificar a dilatação. Chegando lá, conversamos, pois ela sabia que eu queria um parto normal, e se preocupava, afinal não tem muitos obstetras que aceitam atender tal procedimento. Ela sugeriu induzir no dia seguinte, eu meu esposo ficamos receosos, pois queríamos que tudo ocorresse naturalmente, mas quando ela fez o toque eu estava com 6 cm de dilatação, e me animou ao falar que durante o dia provavelmente iria evoluir.
Minha felicidade havia voltado, afinal conseguiria ter meu filho novamente por parto normal. Voltamos para casa animados. Quando fui levar Gabriel na escola senti uma dor forte, fiquei feliz mesmo sentindo dor! Estava chegando o momento!
A noite acompanhei meu esposo até o clube do condomínio onde moramos, caminhei e comecei a sentir as contrações leves, que estavam a cada 20 minutos. Fui dormir e, por volta das 22:00, fui acordada com uma forte contração, às 01:30 da manhã. Esperei e com 10 minutos novamente outra contração forte. Me levantei e sentei na bola de pilates e novamente (!) veio outra contração.
Acordei meu esposo e fomos para a maternidade, chegando lá para minha surpresa, a enfermeira me falou que eu estava com 9 cm, e já ligou para médica e para o pediatra. Quando a medica chegou me examinou novamente e me disse que já estava com dilatação total, mas a bolsa não havia rompido. Ela rompeu a bolsa e fui levada a para a sala. Ao chegar lá foram 10 minutos até eu ter meu pequeno Henderson Júnior nos braços!!!
Foi um parto rápido, sem episiotomia. Assim que nasceu, meu filho foi colocado em meus braços. Ele chorava, mas ao encostar seu rosto ao meu consegui acalmá-lo imediatamente, e ele parou de chorar.
Depois de alguns minutos o pediatra o levou, meu esposo o acompanhou, e, em seguida, me levaram para o quarto e meu esposo com nosso filho nos braços foi junto. Consegui amamentá-lo na primeira hora de vida.


Nas duas gestações tive o incentivo do meu esposo e da médica que me assistiu, sempre me deixando à vontade e incentivando o parto normal. Meu esposo ao meu lado durante todo o tempo me deu mais segurança, e tornou o nascimento dos nossos filhos ainda mais emocionante.

A experiência de "parir" - sim, hoje acho lindo essa palavra - é inexplicável. Eu, como mulher, me senti muito mais capaz e forte. É mesmo uma sensação inexplicável, a emoção é muito grande.

Me perguntam se eu chorei, mas a resposta é não! E explico: sempre que você passa de uma sensação de dor à felicidade em segundos, te deixando extasiada, de repente tudo passa! E você tem em seus braços uma vida que você já amava desde o primeiro minuto que descobre a gravidez. Eu, nos dois filhos, fiquei sem ação... só queria olhar e cheirar meus amores, mesmo cansada (os dois nasceram de madrugada) não conseguia dormir, somente ficar admirando meus filhos e passava um filme em minha cabeça.

Em ambas experiências, assim que me senti melhor, me levantei tomei banho e não sentia mais nada. Muitas mulheres dizem que o parto normal na verdade é anormal, eu considero o nome normal, pois depois que parimos tudo está tão “normal”, que nem parece que passamos por horas de trabalho de parto. Tudo vale ao saber que você foi capaz de parir seu filho, que tudo depende de você para trazê-lo ao mundo, tudo vale quando você olha nos olhos dele e consegue ver um amor maior que tudo.

Minha esperança é que muito em breve cada vez mais mulheres se informem e passem por essa incrível experiência, e que a estrutura dos serviços de saúde se adequem e se preparem para receber nós mulheres que desejamos parir!

Juliana tem 29 anos, é Biomédica especialista em Citologia Oncótica e 
Endócrina e Mestre em Biologia Odontológica. Mora em Porto Velho.


21 de julho de 2014

EVENTO: Ciclo de palestras Parto Humanizado e o SUS em Cacoal


Em março deste ano, a Parto do Princípio protocolou um documento junto a Promotoria de Justiça de Cacoal propondo, entre outras ações, a exibição gratuita do filme "O Renascimento do Parto", na sede do órgão, com a ideia de suscitar discussões e debates acerca do tema 'parto humanizado' e 'violência obstétrica'.

O Promotor Dandy Borges, percebendo a dimensão do tema, foi além! Aproveitou para criar um formato de seminário com vagas para várias áreas do conhecimento e convidar profissionais da região para apresentar, pela primeira vez no Estado, um tema como Violência Obstétrica, entre outros.

Assim nasceu o evento que eu trago aqui!

Sob a coordenação do Promotor de Justiça Dandy Jesus Leite Borges, o evento discutirá:

1. “Humanização do Parto e do Nascimento”, em palestra a ser proferida pela psicóloga Patrícia Nienow, que é apoiadora ministerial da humanização para os estados do Acre e Rondônia.

2. "Violência obstétrica" com a advogada, doula e educadora perinatal Cariny Cielo.

3. “A Rede Cegonha e sua Implantação no Estado e Região de Cacoal” serão os temas abordados na palestra da enfermeira Susana Cecagno.

4. Já os médicos Flávio Pierette Ferrari e Delano Evangelista falarão sobre a “Visão Clínica quanto ao Futuro da Obstetrícia”.

À tarde, às 14:00 horas, haverá exibição do filme "O Renascimento do Parto" com entrada gratuita.

8 de julho de 2014

Projeto para Doulas Voluntárias

Desenho de Teresa Lucena para as 
Doulas Independente, daqui

por Cariny Cielo

Anos com a ideia na cabeça, meses com a ideia no papel... agora, nasceu! Nasceu aqui em Cacoal um projeto que permite o trabalho de Doulas voluntárias na maternidade pública e deixo aqui de sugestão o interior teor do trabalho para que outras doulas, se assim quiserem, possam dar entrada em outras maternidades pelo país afora. Em Cacoal, interior de Rondônia, o projeto foi aprovado pelo Conselho Municipal de Saúde, recebeu revisões da Direção Clínica e, agora, segue para implantação.

O projeto consiste, basicamente, em um hospital ou maternidade permitir a presença e o trabalho de doulas voluntárias nos plantões obstétricos dos profissionais que aderirem ao projeto.

O serviço voluntário é legítimo, amparado por lei e costuma ser excelente ferramenta de melhorias. Em se tratando do trabalho de doulas, ainda pouco comum no brasil, o serviço voluntário ganha aspectos positivos com relação à mutualidade, ou seja, benefícios para ambas as partes. Ganha a doula com experiência e vivências únicas relacionadas à realidade obstétrica do local e ganha a unidade de saúde e, mais ainda, as usuárias do serviço de saúde por poderem dispor de um serviço da mais alta qualidade e com resultados comprovadamente positivos.

Projeto sendo apresentado na Reunião do 
Conselho Municipal de Saúde de Cacoal, Rondônia


O roteiro que sugiro para a implantação, pela experiência que vivenciamos aqui em Cacoal, seria o seguinte:

1º . Confecção do projeto com todos os anexos, analisando as peculiaridades locais. O projeto deve ter um responsável, que é o relator ou relatora. No entanto, a ação pode/deve ser mobilizada por várias pessoas, todas as doulas da região, por exemplo.

2º. Com o projeto em mãos, marcar uma reunião com algum conselheiro municipal de saúde para apresentar a proposta e pedir para ser incluída em pauta da próxima reunião.

3º. Na reunião do conselho municipal de saúde, participar em peso, quanto mais interessados melhor, demonstrando o projeto e apontando o que é doula e quais os benefícios do serviço de uma na unidade de saúde. Aqui, fomos eu e a Doula Suélen da Luz do Nascer, pois somos as únicas doulas de Cacoal.

4º. Dependendo do local, a Direção Clínica poderá desejar participar da confecção do projeto para ajustes, aprimoramentos. É a fase de ajustes, discussão etc... Aqui, contamos com a análise do Diretor Clínico à época, que é medico pediatra e da apoiadora Rede Cegonha para a região, que é enfermeira obstétrica.

5º. Após todos os ajustes, alterações, enfim, quando tudo estiver prontinho para dar início, é hora de submeter o projeto à Direção Administrativa da unidade, conforme requerimento que fecha este texto.


Longe deste trabalho ser um fim em si mesmo, acredito, inclusive, que com a implantação formal ele sofrerá ajustes, adaptações, melhorias. Um projeto é algo vivo, que nasce, cresce, vai se desenvolvendo...

Aqui eu trouxe sugestão de peças que integram o projeto para replicação em todo o país. Imagino que também irão surgir melhorias e espero que essa melhoria possa chegar até aqui, na forma de comentários, para que possamos aprimorar o trabalho... sempre!


PROJETO:

PROJETO-PILOTO

“Doulas voluntárias no atendimento materno infantil” 
(aqui dê nome ao seu projeto)


IDENTIFICAÇÃO DO RESPONSÁVEL PELO PROJETO:
(Aqui coloque o nome da responsável pela elaboração do projeto)

Nome: ..............................................
Formação: ................................................
E-mail:.....................................................
Telefone para Contato: ..........................................

Palavras-Chave: DOULAS / PARTO HUMANIZADO / APOIO CONTÍNUO

Resumo: Atendimento voluntário de profissionais Doulas, juntamente com a equipe médica e de enfermagem responsável, a parturientes que procurarem os serviços de saúde do Hospital Materno Infantil de Cacoal.

Órgãos Envolvidos: Hospital ..... , Secretaria de Saúde do Município........ e Conselho Municipal de Saúde

Execução: Doulas para apoio contínuo à parturiente, em apoio à equipe médica e de enfermagem responsável.

Executores: Doulas cadastradas, conforme formulário próprio (Anexo I).

Localização: (Endereço completo da ou das unidades de saúde)

Público-Alvo: Usuárias do serviço público de saúde. Gestantes, parturientes e puérperas.

Duração: 1 ano de projeto piloto, com possibilidade de prorrogação. (ou conforme entendimento).

Justificativa: (apresentar o índice de nascimentos por cirurgia, conforme pesquisa no DATASUS e apontar que está bem abaixo do recomendado pela OMS.)
O Estado ou Município tal ....... possui índices de nascimentos por cirurgia em .....
Fonte: DATA SUS:
http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?idb2011/f08.def
http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?sinasc/cnv/nvuf.def

Tal índice está muito acima do recomendado pela Organização Mundial de Saúde (que é de 10-15%). Conforme recomendação da Organização Mundial de Saúde e Ministério da Saúde os partos normais deve ser atendidos com o mínimo de intervenção e sem procedimentos realizados de rotina.
Fonte: Guia da Organização Mundial de Saúde no atendimento ao parto normal http://www.bionascimento.com/index2.php?option=com_content&do_pdf=1&id=19

Pesquisas realizadas na última década demonstraram que, sob a supervisão de uma Doula, o parto evolui com maior tranqüilidade e rapidez e com menos dor e complicações tanto maternas como fetais.

Doulas são mulheres que trabalham dando assistência a mulheres em trabalho de parto e oferecendo informação durante a gestação e pós-parto.

Com a difusão da nova profissão, poderá também ocorrer uma substancial redução de custos para os sistemas de saúde, graças à redução do número de intervenções médicas e do tempo de internação de mães e bebês.

Trata-se de um recurso com eficácia comprovada por evidências científicas. O trabalho das Doulas em apoio contínuo durante o trabalho de parto tem reflexos positivos nestas duas situações: a) excesso de cesarianas e b) partos normais com intervenções desnecessárias.

Em 2012, Hodnett et al. publicou uma revisão atualizada em Cochrane sobre o uso contínuo de apoio para mulheres durante o parto. Eles juntaram resultados de 22 estudos que incluíam mais de 15 mil mulheres. Essas mulheres foram randomizadas para receber apoio contínuo individual durante o parto.
Quando o suporte de trabalho contínuo foi fornecido por uma Doula, foram estes os resultados:
1. Diminuição de 31 % na utilização de oxitocina
2. Diminuição de 28 % no risco de cesárea
3. Aumento de 12% na probabilidade de um parto vaginal espontâneo
4. 9 % de redução no uso de qualquer medicação para o alívio da dor
5. Diminuição de 14 % no risco de recém-nascidos a ser internado em um berçário de cuidados especiais
6. 34 % de redução no risco de estar insatisfeita com a experiência do nascimento

Referencias:
1. Caton, D., M. P. Corry, et al. (2002). “The nature and management of labor pain: executive summary.” Am J Obstet Gynecol 186(5 Suppl Nature): S1-15.
2. Declercq ER, Sakala C, Corry MP, Applebaum S. (2007). “Listening to mothers II: Report of the second national U.S. survey of women’s childbearing experiences.” The Journal of Perinatal Education 16:9-14.
3. Hodnett, E. D. (2002). “Pain and women’s satisfaction with the experience of childbirth: a systematic review.” Am J Obstet Gynecol 186(5 Suppl Nature): S160-172.
4. Hodnett, E. D., S. Gates, et al. (2012). “Continuous support for women during childbirth.” Cochrane database of systematic reviews: CD003766.
5. Hofmeyr, G. J., V. C. Nikodem, et al. (1991). “Companionship to modify the clinical birth environment: effects on progress and perceptions of labour, and breastfeeding.” British journal of obstetrics and gynaecology 98(8): 756-764.
Fonte: http://evidencebasedbirth.com/the-evidence-for-Doulas/

Objetivos gerais: melhorar a experiência de parto através de apoio físico e emocional e por meio de métodos não farmacológicos de alívio da dor; reduzir as intervenções no parto normal através do suporte contínuo durante o trabalho de parto e parto; melhorar as condições de nascimento do neonato por meio do estímulo ao parto ativo e não medicalizado; melhorar o vínculo mãe-bebê por meio do estímulo à amamentação na primeira hora e da vivência positiva do parto.

Objetivos específicos: oferecer apoio contínuo à mulher em trabalho de parto e pós-parto; orientar gestantes e família sobre melhores condições de parto e amamentação.

Metodologia:
1. Acompanhamento de plantões obstétricos, voluntariamente, por parte de profissionais Doulas no Hospital ............................., sob supervisão dos médicos e/ou enfermeiros plantonistas
2. As Doulas interessadas deverão fazer cadastro através de formulário próprio (Anexo I) e firmar Termo de Consentimento e Responsabilidade (Anexo III). Assim que tiverem o cadastro aprovado pela Direção Clínica, terão acesso ao Hospital ........................., área pré-parto, bloco cirúrgico e pós-parto, durante os plantões dos médicos que aderirem ao projeto piloto, para permanência durante o período matutino, vespertino ou noturno.
As Doulas poderão ser contatadas em outros horários pela equipe médica ou de enfermagem e poderão apresentar-se, de acordo com disponibilidade.

3. O serviço consiste em atendimento de apoio contínuo, sustentado pelos protocolos da Organização Mundial de Saúde no atendimento ao parto normal, às parturientes que manifestarem interesse em ser acompanhadas por uma Doula, nos plantões dos profissionais médicos obstetras que optarem por participar do projeto-piloto e assinarem o Termo de Adesão junto à Direção Clínica.

4. Após o atendimento, a parturiente será abordada para preencher a Pesquisa de Satisfação (anexo II), para que seja possível avaliar os resultados do projeto.

5. Fluxo de atendimento:
I) A parturiente chega até a unidade de saúde e é avaliada pelos profissionais plantonistas.
Se estiver em franco trabalho de parto e apresentar boas condições de saúde, é consultada acerca do interesse em usufruir do serviço de Doulas na maternidade. Isso deverá ser anotado em seu prontuário médico.
A parturiente ficará em contato permanente com a Doula, recebendo o monitoramento da equipe médica e de enfermagem, conforme protocolo da unidade.
II) A parturiente chega até a unidade de saúde e é avaliada pelos profissionais plantonistas.
Se estiver em pródomos, poderá ser encaminhada à Doula que estiver no plantão para se informar acerca da dinâmica do trabalho de parto e poderá escolher entre retornar pra casa ou internar e receber os serviços de Doulagem.

Em qualquer situação, a atuação das Doulas ficará a critério do interesse da parturiente e conforme aval do profissional médico ou enfermeiro plantonista. A parturiente será informada de que poderá, a qualquer momento, dispensar os serviços da Doula.

Recursos materiais: Pode ser usado: bola suíça, chuveiro quente, massageadores, banheira inflável, rebozo, banqueta, aparelho de som, óleo vegetal. Além de outros utensílios reconhecidamente aptos a melhorar as condições do trabalho de parto.
Pode incluir: massagens, deambulação, relaxamento, encorajamento, sugestão de posturas, sugestão de atividades, informação, acupressão.

Legalidade e competências para o projeto: Doula é uma ocupação oficialmente reconhecida pelo Ministério do Trabalho, código nº 3221-35, desde Janeiro de 2013.
Cabe a Doula oferecer à parturiente, apoio físico e emocional durante o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato. Ela utiliza métodos não farmacológicos de alívio da dor como massagens, compressas, utilização de bola de ginástica, banqueta de parto, técnicas de respiração, movimentos corporais e posições para ajudar na descida do bebê através do canal pélvico, utilização da água morna, através de banho no chuveiro ou banheira. Usa também técnicas de relaxamento e oferece, sempre que possível, um ambiente acolhedor, com iluminação reduzida e música, se a parturiente desejar.

A Doula incentiva a mulher a ser protagonista do nascimento do seu filho. Orienta e informa acerca das etapas do trabalho de parto, do pós-parto e incentiva a amamentação, tudo conforme é preconizado no documento da Organização Mundial de Saúde: Boas Práticas de Atenção ao Parto e Nascimento.

A Doula não realiza procedimentos técnicos ou médicos como ausculta fetal, exame de toque. Sua função é dar apoio emocional, encorajamento e suporte com informações a respeito da gestação, parto e pós-parto/amamentação.

Avaliação: Serão realizados relatórios ao final de cada semestre para análise dos resultados obtidos, dificuldades surgidas, obstáculos superados. Os relatórios serão entregas ao Conselho Municipal de Saúde para acompanhamento.


ANEXO I: Ficha de Cadastro de Doula
(Qualquer doula interessada poderá preencher o cadastro e submeter à Direção do hospital, juntando cópia de documentos pessoais e do certificado de formação)




ANEXO II: Pesquisa de satisfação para coleta de resultados
(Aqui criamos esta pesquisa pós serviço, para avaliarmos e termos condições de acompanhar os resultados do trabalho da doula. A ideia é a pesquisa ser feita sem identificação, no dia posterior ao parto, antes da alta da parturiente)




ANEXO III: Termo de Consentimento e Responsabilidade
(Alguns hospitais usam termos como este e é interessante para respaldo jurídico, de ambas as partes. Este é inspirado no utilizado pela Prefeitura do Rio de Janeiro. Com algumas adaptações, basicamente o texto tem a mesma finalidade)

TERMO DE CONSENTIMENTO E RESPONSABILIDADE DE ASSISTÊNCIA FÍSICA E EMOCIONAL AO PARTO NO .......................................................... (anexar à Ficha de Cadastro da Doula)



Eu, .............................................................. Doula regularmente cadastrada neste Hospital conforme Anexo I do Projeto Doulas no ........................., DECLARO, para os devidos fins de fato e de direito QUE:

1.Prestarei assistência física e emocional voluntária e, portanto, sem fins lucrativos, durante o parto das pacientes internadas no Hospital ................................................... que, após conheceram meu trabalho, manifestarem interesse em receber os serviços de uma doula.

2. Prestarei assistência física e emocional à parturiente, ficando vedada qualquer atividade e/ou conduta que interfira no atendimento médico-hospitalar durante o pré-parto, o parto ou o pós-parto.

3. As atividades e funções por mim exercidas se restringirão à assistência física e emocional da parturiente, ficando vedados atos médicos ou de enfermagem (ainda que eu tenha formação para tal), tais como, mas não só: indicar ou realizar exames e/ou manobras médicas, utilizar ou manusear equipamentos médicos, cirúrgicos, de monitoramento, enfermagem e/ou ministrar medicamentos. Responsabilizo-me integralmente pelas atividades e funções exercidas na assistência ao parto, isentando o hospital, médicos e equipe de enfermagem, quanto à conduta por mim praticada.

4. Seguirei as recomendações da equipe médica, hospitalar e de enfermagem, comprometendo-me a garantir a segurança e o bem-estar da parturiente e do recém-nascido e a contribuir para o perfeito atendimento à parturiente.

5. Obtive expressamente o consentimento do médico obstetra da parturiente para ingresso na sala de parto, conforme adesão ao projeto.

6. Tenho ciência e concordo que ficará a critério exclusivo da equipe médica e de enfermagem autorizar a entrada, na sala de parto, de equipamentos, aparelhos, utensílio por mim levados, devendo para tanto dar ciência plena à equipe médica e de enfermagem quanto a estes. Comprometo-me, ainda, a suspender a qualquer momento, atividades que não estejam contribuindo para o parto, atendendo a solicitação da equipe médica ou de enfermagem.

7. Tenho ciência e concordo que em havendo a necessidade de intervenção cirúrgica de qualquer ordem na parturiente e/ou recém-nascido, bem como em caso de intercorrência médica, estarei proibida de fazer ou continuar a assistência ao parto, devendo para tanto me retirar do recinto.

8. Tenho ciência e concordo que a ofensa a qualquer destas condições implicará em descumprimento das condições do termo, podendo ser suspenso o cadastro para a atividade de doula perante o hospital, sem prejuízo das sanções cíveis e criminais.

Local, data ......../........./........

Assinatura da Doula


ANEXO IV: Consentimento da parturiente e do obstetra e acompanhamento da doula
(É importante dispor, expressamente, do consentimento da parturiente e do médico obstetra e também acompanhar com registros tudo que está sendo feito com aquele atendimento)




REQUERIMENTO À DIREÇÃO ADMINISTRATIVA DO HOSPITAL:
(Com tudo pronto, imprimir este requerimento e protocolar na Direção administrativa do hospital)


ILUSTRÍSSIMO(A) SENHOR(A) DIRETOR(A) ADMINISTRATIVO(A) DO HOSPITAL ......................................................................, FULANO(A) DE TAL





Fulana de tal (qualificação civil completa da responsável pelo projeto), vem à presença de vossa senhoria apresentar a versão final e revisada do Projeto-Piloto “Doulas no Hospital ........................" e expor, conforme abaixo:

1. Em reunião do Conselho Municipal de Saúde deste município ocorrida em ...................do ano em curso, o presente projeto foi apresentado e aprovado para implantação neste município.

2. Com as revisões devidas e acrescidos os anexos necessários ao aperfeiçoamento, o projeto encontra-se pronto para implantação.

Assim, é o presente para apresentar o projeto finalizado ao arbítrio da Direção Administrativa e REQUERER que vossa senhoria autorize o início da implantação, cuja íntegra segue em anexo.

Nestes termos, aguarda deferimento.

Local, data.

Assinatura


3 de julho de 2014

Abortos: A morte quando se espera a vida...


por Cariny Cielo

Ela chegou até mim e me deu uma carta... antes de terminar de ler, eu já chorava assim como choram mesmo, todas as mulheres, ao encontro da dor da outra. No mesmo dia, à noite, recebo uma mensagem no celular: "terceiro, amiga, perdi o terceiro...".
Duas amigas vivendo luto e dor e eu chorei o choro que choramos todas por receber a morte, quando se espera a vida...

Lembrei-me imediatamente de uma música de Rosa Zaragoza, chamada 'La muerte cuando esperas vida' que foi inspirada da carta de uma mulher que viveu uma experiência inigualável de fé ao deparar-se com a morte. A música e, em seguida, a carta (em tradução livre) estão no fim deste texto...

Sinto que existe uma banalização em nossa sociedade relacionada a abortos espontâneos no primeiro trimestre. Os médicos dizem às mulheres ser normal, e as mulheres se sentem na obrigação de não sofrer, de não viver o luto. Muitos dizem 'logo, logo você engravida novamente', em total desrespeito àquele momento e ao sentimento de quem perdeu. E a mulher que perdeu não quer pensar em desejar outro! Não, naquele momento... naquele momento, ela queria aquele filho!

Jamais permita que banalizem a tua dor, que te façam engolir um luto. Não toque a vida, desmerecendo a vivência, a julgando ordinária, comum... só você conhece a dor de ter perdido um filho ainda no ventre. Cada qual na sua fé, na sua cultura, permita-se viver o processo com respeito por si mesma... escreva uma carta, uma música, pinte uma tela, plante uma árvore, ofereça uma oração, um serviço... de alguma maneira, simples ou cerimoniosa, pesada ou leve, contando que seja da sua essência, carregue o seu significado...

Neste mergulho da dor da outra, findei conhecendo um blog chamado La Vida Intrauterina de Lídia Estany Estany que vale a leitura e traz muito do que já estudei em Ciência do Início da Vida, explicando que nossas experiências iniciais durante a concepção, a vida pré-natal, nascimento e período neonatal fazem parte do nosso ser e marcam profundamente quem seremos. Nele há a indicação de um livro chamado "Abrazar la muerte cuando se espera la vida", escrito por María Jesús Blázquez que conta que pariu quatro filhos, dois vivos e dois natimortos e que esta experiência a marcou tanto que, desde então, tem vivido para o tema nascimento e maternidade. O livro pode ser baixado aqui.





Achei também:
Grupo Casulo: Associação Brasileira de Apoio ao Luto
Aborto espontâneo, quebrando tabus. Texto do blog Desabafo de mãe.
O drama do aborto espontâneo que indica o livro Maternidade Interrompida: o drama da perda gestacional
Depoimento no Vila Mamífera: Uma breve gestação



E já que este é um ambiente de relatos... vamos às vivências!



Esta é a carta que minha amiga dividiu comigo:

Meu Filho,

Lamento se, de alguma forma, contribui para que você fosse embora tão cedo... com apenas 8 semanas de vida. Eu te queria muito e só percebi efetivamente o quanto, quando te perdi.
Acredito na perfeição do Universo e sinto, de verdade, que não era para você vir, e ser meu filho agora.
Espero que você esteja bem, no plano espiritual que estiver, e que se for o seu desejo possa reencarnar numa família que te ame.
Tivemos, mesmo que por pouco tempo, a relação mais profunda que o ser humano pode ter: o vínculo de mãe e filho.
Sinto muito que tenha sido tão breve, mas quando eu conversava contigo em minha barriga, eu já procurava demonstrar todo o meu amor, fosse com palavras ou cuidados de saúde e alimentação.
Te amo e te liberto! Peço que me libertes também.
Com amor,

Tua mãe.




A carta abaixo é parte integrante do CD 'Nascer, Renascer' da artista Rosa Zaragoza, que muito gentilmente me permitiu traduzir e tornar pública aqui:





Eu sabia que o parto iria nos levar ao nascimento da morte. Receberia meus dois filhos para perdê-los em um curto espaço de tempo, talvez ficariam apenas alguns minutos conosco. Depois de tantos meses de planos, mergulhando dentro de mim, banhando-me em minha ilusão... só alguns minutos! 

No começo eu estava tão assustada que não conseguia ver nada. Foram vinte horas de contrações secas. Mas, ao final, a luz chegou aos meus olhos. A comunicação com eles fluiu e me permiti escutar o que queriam me dizer: que as suas vidas haveriam de ser esta e nenhuma outra. 
Que aquilo que me parecia uma existência curta, mesquinha, pobre e desafortunada, na realidade, era tão longa quanto eterna, era generosa e era iluminada.

E eu entendi que amor significa aceitar...
Que me desapegar, lançar-me ao vazio, seria a minha salvação.

Entregando-me assim, finalmente, as portas do meu corpo puderam se abrir. E o vulcão pôs-se em erupção. Parecia que me quebrava e me partia em dois pedaços.

Mas não, não era nada disso! A carne viva, sem falsas ajudas, me deu a vida e a morte.
E como que guiada por mãos divinas, eu não duvidava mais de nada.

Meu estado era, enfim, sereno. Não havia nada, além de pulsão instintiva. Não faltava falar nada, nem pensar, a mente se perdeu. O tempo também... o que pareciam instantes foram horas e o que pareciam horas foram instantes.

Os gritos eram como uivos, desde muito, contidos. A dor foi entregue e eu, com eles, nascia.
Deixava de ser filha, unicamente filha, para ser mãe, para ser mulher. Mulher inteira. Finalmente, a mulher que me tornei. 

E a voz... ah, a voz! Eu a sentia como se fosse de uma besta, feroz e muito potente. E me dei conta de que eu nunca havia ouvido, verdadeiramente, a minha própria voz. Minha própria essência. Consciência plena, instinto absoluto.

Nossa experiência se converteu em um Ato Sagrado. Ritual de iniciação. Renascimento, depois de trinta anos que eu havia nascido. E as duas crianças ali doando-se, em oferenda...

Nas mãos de seu pai, lhes dissemos adeus, com o silêncio nos lábios e os olhos cheios do mesmo amor que eles nos estavam presenteando. O amor que nos tem mantido fortes e firmes, seguros e unidos até o final... e até aqui.

Durante as semanas seguintes estive chorando tanto que meus olhos secaram e as pálpebras enrugaram, parecendo que nunca mais seriam como as pálpebras de uma mulher jovem.
Eu chorei de manhã, à noite e em todas as horas. Chorei andando pelo pasto, andando pelas ruas, chorei junto à praia, estando sozinha ou acompanhada, comendo e até em sonho, eu chorava. 

Mas foi com a cabeça erguida. Eu me senti tão digna que honrava meus filhos, minha maternidade, o meu homem e minha vida. Honrava a vida que eu amo, que me representa e que tem me mostrado quem sou. Sentia uma gratidão imensa.

Desde então, eu sei quem eu sou e a força que carrego em mim. Desde então, minha voz fala por mim e desde o mais profundo de mim. 

Obrigada, Marcel, obrigada Alber, por nascerem e fazerem nascer.
Eu, para merecer este presente, farei com que nada disso morra.

Anna, novembro de 2004





Música do CD 'Nascer, 'Renascer'

La muerte cuando esperas vida 
(para ouvir, clique aqui)


Te caes, mi ángel. Vacía queda mi alma.
La vida que esperé desalentada.
Te vas tan pronto, hay leche para ti
y todo mi cariño te aguardaba.
Extiendo un manto de rosas y jazmines,
te arropo en tu viaje por las nubes;
te doy mis besos, te envío mis caricias
en este viento tibio de la tarde.

Siempre estará tu recuerdo.
No olvidaremos tu nombre.
Aquí quedamos los tuyos
con los ojos bien abiertos
y la conciencia más fina
para escuchar tu silencio
y reconocer qué nos quieres decir.

Te doy las gracias por este corto tiempo
tan mágico llevándote conmigo,
por tanta luz como has dejado en mi.
Yo sé que continuas tu camino
Extiendo un manto…

Siempre estará tu recuerdo.
No olvidaremos tu nombre.
Aquí quedamos los tuyos
con los ojos bien abiertos
y la conciencia más fina
para escuchar tu silencio

y reconocer qué nos quieres decir:
Quizá, que amémos la vida como es,
con todo el entusiasmo y la alegría.

Letra: Rosa Zaragoza Música: Mordekhai Zeira





Em respeito... 



25 de junho de 2014

Gestante, o parto está nos seus planos?

Texto escrito por Cariny Cielo, a convite, e 


Ricardo Jones, conceituado obstetra e escritor gaúcho, resume em seu livro Memórias do Homem de Vidro que ‘só existe humanização do nascimento através do retorno do protagonismo do parto à mulher’. Ela é a dona do parto e a ela cabe a decisão responsável sobre as condutas a serem adotadas ou não. Essa é a visão mais moderna.

No entanto, a obstetrícia tradicional pensa exatamente o contrário, enxergando o obstetra como a figura central e o parto como um evento médico que precisa ser ‘conduzido’ com o máximo de tecnologia. É exatamente neste ponto que reside um vácuo gigantesco entre o ideal e o real. Este choque de paradigmas só tem trazido conseqüências negativas à vivência de parto das mulheres e contribui para colocar o Brasil como campeão mundial de nascimentos por cirurgia e Rondônia como campeão nacional por quatro anos consecutivos (Fonte: DATASUS).

É comprovado cientificamente – não se tratando, portanto de uma opinião – que, quanto mais intervenções de rotina no parto, piores são os resultados materno-fetais e que a banalização da cesariana (antes salvadora de vidas, hoje feita por conveniência) é um importante problema de saúde pública.

Certo, já sabemos que, pelos mais modernos entendimentos, deve-se enxergar o parto como um processo fisiológico, pertencente à mulher e que muitas práticas feitas de rotina são reconhecidamente prejudiciais à dinâmica do trabalho de parto, devendo ser ou extintas ou realizadas de forma diversa. Então, qual seria o mecanismo para, oficialmente, tornar concreta a proteção a estes princípios e que garanta a autonomia da mulher? O Plano de Parto!

Recomendado desde 1996 pela Organização Mundial de Saúde em seu “Care in Normal Birth: a practical guide” (Atenção no parto: um guia prático), o plano de parto é o documento em que a mulher declara as suas preferências em relação ao parto e cuidados com o recém-nascido. É pouco falado e pouco utilizado. No entanto, trata-se de um direito da mulher e é uma excelente ferramenta para garantia de um parto e nascimento livre de intervenções sem respaldo científico, além de ser uma segurança ao profissional, pois estabelece claramente tudo que norteará o atendimento àquela paciente.

É nele que a gestante estabelece preferências e discute com seu médico questões como: presença de acompanhante e doula, liberdade para fotografar e/ou filmar, liberdade para se movimentar e ingerir líquidos e alimentos, o uso de ocitocina e acesso venoso, possibilidade de usar bola suíça e/ou banqueta de parto. Pode, inclusive, deixar expresso que não deseja episiotomia e que quer que o cordão umbilical só seja cortado após parar de pulsar, em respeito aos protocolos de atendimento ao neonato da Sociedade Brasileira de Pediatria, por exemplo. É possível definir, inclusive, como será a conduta da equipe caso o desfecho do nascimento seja por cirurgia, onde poderá estabelecer diversas preferências, entre elas, a amamentação na primeira hora, o rebaixamento dos panos na hora do nascimento para visualizar a chegada do bebê, o não uso de sedativos pré-operatórios etc.

Por falta de conhecimento aprofundado e receio de sofrer ações judiciais (muito comuns na área médica), os profissionais e hospitais costumam ser resistentes em receber o Plano de Parto. Muitos não assinam, muitos dizem que não existe necessidade e há ainda um fator emocional relacionado ao vínculo médico-paciente que prejudica o implemento da cultura do Plano de Parto: ele soa, muitas vezes, como ‘alguém me dizendo o que fazer’, o que se choca com a formação médica mais tradicional, ainda focada no médico como protagonista da relação.

No entanto, não há razão para temor. Em verdade, o Plano de Parto é um documento de segurança também da equipe médica, pois nele consta o consentimento expresso e responsável da gestante para cada conduta, o que pode ser considerado um relevante respaldo jurídico. Além disso, permite que a relação médico-paciente seja clara e verdadeira, uma vez que o profissional poderá dizer à gestante: “este tipo de parto eu não atendo” e isto poderá motivar a mulher a rever os itens de seu plano ou, ainda, buscar outro profissional, por exemplo. Saber claramente o que se espera do médico e o que a mulher espera do parto nada mais é do que respeito e profissionalismo.

Na internet é possível encontrar vários modelos de Planos de Parto e temos um aqui no blog. É muito importante discutir ponto a ponto com seu médico. O próximo passo é protocolar no hospital! A Gabi Sallit traz orientações sobre como estabelecer um diálogo com o hospital que vai te atender e vai além, preparou um modelo de notificação extrajudicial de plano de parto para o caso de a instituição negar-se a receber seu documento. A Helena (relato aqui) é, provavelmente, a primeira parturiente que fez uso do Plano de Parto em Rondônia... ninguém sabia o que era aquilo quando ela mostrou na maternidade. As melhorias nas condições de atendimento às gestantes estão vindo assim mesmo, com mulheres corajosas... um dia, o Plano de Parto virará regra e será item de enxoval!

E vale a reflexão: nós costumamos planejar tanta coisa em nossas vidas: um casamento, a festa de formatura, uma viagem especial.... Porque não planejar o dia único e especial em nos tornaremos mães, o dia da chegada do nosso filho?




Modelo de Plano de Parto

Gestante: ...............

Abaixo listamos nossas preferências em relação ao parto e nascimento do nosso filho. Todas baseadas nas mais recentes evidências científicas aplicadas à obstetrícia e em consonância com recomendações da Organização Mundial de Saúde e Ministério da Saúde.

Estamos cientes de que o parto pode tomar diferentes rumos. Sempre que desejado não puder ser seguido, gostaríamos de ser previamente avisados e consultados a respeito das alternativas.

Trabalho de parto:
- presença de um acompanhante ou não
- presença de Doula
- poder fotografar ou filmar
- sem tricotomia (raspagem dos pelos pubianos) e enema (lavagem intestinal)
- evitar perfusão contínua de soro e/ou ocitocina
- liberdade para ingerir líquidos, frutas e lanches leves
- liberdade para caminhar e escolher a posição que quero ficar
- liberdade para o uso do chuveiro
- avaliação dos batimentos cardíacos fetais com dopler ou estetoscópio. Sem monitoramento contínuo.
- toque: restringir ao máximo a quantidade de vezes e de preferência que seja feito por um profissional do sexo feminino.
- anestésicos ou analgésicos somente a pedido.
- liberdade para tentar outras formas de aliviar dor como massagens, banho, uso da bola, banheira etc
- sem rompimento artificial de bolsa

Parto:
- quero ter liberdade para ficar na posição que me sentir mais a vontade (posições verticais ou de quatro, semi-sentada, de costas, apoiadas ou de lado)
- sem fórceps, vácuo extrator ou esforço de puxo prolongado e dirigido. Adoção de posições o máximo verticalizadas para favorecer o período expulsivo e minimizar a necessidade de uso destes procedimentos.
- não quero que empurrem a barriga (Kristeller), manobra já universalmente contra-indicada.
- quero usar a cadeira de parto (se houver disponível) ou banqueta de parto.
- não quero mesa ginecológica e nem pernas amarradas.
- episiotomia: não desejo, prefiro laceração
- não quero que puxem meu filho após coroar, mesmo que seja com as mãos, ele deve ser apenas “aparado”
- quero que meu bebê nasça em ambiente calmo, silencioso e com luz natural
- peço que o cordão umbilical só seja cortado após ter parado de pulsar, em respeito aos protocolos de atendimento ao neonato da Sociedade Brasileira de Pediatria
- sem aspiração de vias aéreas, sem esfregar, sacudir ou manipular o recém nascido. Quero que o bebê seja observado em meu colo e conforme o protocolo de atendimento ao neonato da Soc. Brasileira de Pediatria de março de 2011.
- o bebe deve ser colocado imediatamente no meu colo após o parto com liberdade para amamentar na primeira hora, conforme recomenda o Ministério da Saúde.

Após o parto:
- aguardar a expulsão espontânea da placenta, sem manobras, tração ou massagens apenas com o auxílio da amamentação.
- ter o bebê comigo o tempo todo enquanto eu estiver na sala de parto, mesmo para exames e avaliação. Quero estar ao lado do bebe nas primeiras horas de vida, conforme recomendação do Ministério da Saúde.
- alta hospitalar o quanto antes.

Cuidados com o bebê:
- Assumo a responsabilidade de não autorizar a aplicação de colírio de nitrato de prata no recém nascido, caso minha cultura vaginal seja negativa para pesquisa de gonococo.
- sem vacinas.
- administração de vitamina K depois da primeira hora.
- quero fazer a amamentação sob livre demanda.
- em hipótese alguma, oferecer água glicosada, bicos ou qualquer outra coisa ao bebê, conforme recomendação do Ministério da Saúde e OMS.
- alojamento conjunto o tempo todo.
- gostaria de dar o banho no meu bebê (não desejo banho nas primeiras horas) e fazer as trocas.

Caso a cesárea seja necessária:
- exijo o início do trabalho de parto antes de se resolver pela cesárea
- quero a presença da acompanhante
- só aceitarei uma cirurgia cesariana em caso de indicação REAL (sob risco de vida para mim ou para meu bebê).
- não desejo uma cesariana por parada de progressão, neste caso aceito uma condução com hormônios sintéticos
- anestesia: peridural, sem sedação em momento algum
- após o nascimento, gostaria que colocassem o bebê sobre meu peito e que minhas mãos estejam livres para segurá-lo.
- gostaria de permanecer com o bebe no contato pele a pele enquanto estiver na sala de cirurgia sendo suturada
- também gostaria de amamentar o bebê e ter alojamento conjunto o quanto antes.

Agradeço muito a equipe envolvida e a ajuda para tornar esse momento especial e tão importante para nós em um momento também feliz e tranquilo, como deve ser.

Gratos,


Local, data.


Assinatura da gestante (e do marido, caso queriam)
Assinatura do médico obstetra
Assinatura do pediatra

23 de maio de 2014

Da Finlândia para Rondônia: Relato de parto normal hospitalar com doula em Ouro Preto do Oeste e outras histórias

Das coisas maravilhosas de se ter um blog, conhecer pessoas e sentir empatia imediata é, sem dúvida, uma das melhores! 

Hoje abrimos espaço em nossas leituras para os relatos de nascimento dos três filhos da Tuija. Grata eternamente pela honra.

Lindo a delicadeza com que ela nos traz suas histórias e agora, estas histórias pertencem ao universo e vão inspirar muitas e muitas outras mulheres! E observem, ao final, a comparação que ela faz dos serviços médicos em seu país e aqui no Brasil, onde foi atendida!

Vamos conhecer estas histórias?




Meu nome é Tuija, tenho 38 anos e sou mãe de três filhos. Sou finlandesa e moro em Rondônia há 7 anos. Os meus primeiros dois filhos nasceram na Finlândia e o caçula aqui em Rondônia.

Na Finlândia a prática é sempre que possível fazer parto normal; a cesárea é reservada somente para necessidades médicas. Por tanto, ao estar esperando a minha primeira filha, praticamente nem tive escolha: ia ser parto normal mesmo.

Durante a gravidez li bastantes coisas sobre o parto e procurei um hospital público que incentiva o parto ativo e a participação do pai. Antes do parto participamos de algumas palestras no hospital e tivemos ainda um encontro com uma das enfermeiras obstetras para fazer um plano de parto.


PRIMEIRO PARTO:

O primeiro parto começou com contrações leves de madrugada. Tentei dormir mais um pouco e fiquei monitorando a freqüência das contrações. Pelas 10 da manhã a bolsa rompeu e liguei para o hospital.

Eles me disseram que podia sair de casa, mas que não tinha pressa, pois as contrações ainda não eram muito freqüentes. Eu quis usar a banheira no trabalho de parto, mas quando chegamos ao hospital, as três salas com banheira estavam ocupadas e me deram um quarto convencional em outro andar do hospital.

Ao chegar ao hospital, eu estava com três centímetros dilatada e me sugeriram caminhar ou sentar na cadeira de balanço. Mas eu já estava acomodada na cama com a máscara de gás (óxido nitroso) nas mãos e não quis me desgrudar dela mais.

Algumas horas depois achei a dor muito intensa e pedi para receber a injeção epidural. Pouco depois, o anestesista chegou e depois da aplicação consegui dormir um pouco.

A dor cortou, mas as contrações também diminuíram com o epidural e tive que receber ocitocina para manter as contrações. Às seis da noite finalmente chegamos aos 10 centímetros e me disseram que podia começar fazer força para empurrar. Como eu ainda estava sob o efeito da epidural, não sentia muito as contrações e também não sentia nenhuma vontade natural de empurrar.

As obstetras observaram o monitor das contrações e me avisaram quando era hora de empurrar. Foram 15 minutos de trabalho ativo e a Luana nasceu. Ela ficou comigo somente 15 minutos porque precisaram limpar o pulmão dela (tinha inalado líquido amniótico com mecônio).

Ela também tinha uma infecção de estafilococos e precisou de antibióticos durante os primeiros cinco dias. Por causa dos tratamentos dela eu demorei para poder começar a amamentar. Tive bastante dificuldade porque ela não sabia como pegar o peito direitinho (tinham dado mamadeira para ela na outra ala do hospital) e eu não estava preparada para isso. Finalmente, com a ajuda da minha mãe (que é enfermeira obstetra) conseguimos e acabou dando tudo certo. Eu estava feliz com o meu parto mesmo com todas as invenções, mas não sabia que poderia ser muito melhor ainda...






SEGUNDO PARTO:

Dois anos depois nasceu o Lucas! Eu já tinha sentido contrações na noite anterior, mas elas sumiram depois de um banho quente. Na segunda noite das contrações, o banho quente já não fez efeito e eu liguei para a minha mãe para que ela viesse ficar com a Luana, caso o meu marido e eu precisássemos sair à noite para o hospital.

A minha mãe chegou, colocamos a Luana para dormir e assistimos televisão juntas. Tomei outro banho quente e lá pelas 10.30 da noite a minha mãe fez o toque. Estava 4 centímetros dilatada com a bolsa intacta ainda.

Liguei para o hospital e me disseram que poderia ficar em casa ainda, já que eu estava bem acompanhada por enfermeira obstetra própria. Uns 15 minutos depois, as contrações ficaram muito mais freqüentes e intensas e liguei para o hospital de novo avisando que eu não agüentava mais ficar em casa. Eles disseram que poderia ir então.

Chegamos ao hospital às 11 da noite e uma enfermeira muito simpática nos recebeu. Desta vez havia vaga nos quartos com banheira e como ela tinha visto na minha pasta que eu queria estar na água ela já estava enchendo a banheira. Tomei um banho e ela fez o toque. Eu ainda estava com 4 centímetros e resolvi entrar na banheira.

Ao lado da banheira eles tinham instalado o gás e aquilo junto com a água me ajudou muito a relaxar. Durante o trabalho de parto ficamos praticamente a sós com o meu marido porque ao mesmo tempo havia duas outras mães em trabalho de parto e a enfermeira estava sozinha porque era de noite.

Ela vinha sempre que tocávamos a campainha, mas também não tinha nada a fazer. Eu simplesmente estava no trabalho de parto e a água estava me ajudando bastante. Depois de algumas contrações bem intensas e dolorosas senti uma vontade enorme de empurrar. Tinha passado somente uma hora e meia desde que chegamos ao hospital. Falei para o meu marido que achava que o bebê ia nascer e ele tocou a campainha.

Chegou um enfermeiro que queria que eu saísse da banheira para fazer o toque. Recusei e falei que a outra enfermeira havia feito toque comigo sentada na beira da banheira, dentro da água. Ele então fez o toque sem eu precisar sair da água e saiu correndo sem falar nada. Depois disso, tudo passou muito rápido! O enfermeiro voltou com a enfermeira e ela me disse que ia furar a bolsa porque o bebê já estava nascendo. Eu lembro que ela falou: "furei a bolsa... e ai vem o bebê." Foi rápido assim mesmo!

Precisei empurrar uma vez com força e Lucas deslizou para dentro da banheira. Eu estava com os olhos fechados, mas o meu marido disse que ele ainda escapou das mãos da enfermeira e deu uma voltinha na água até ela conseguir pegar ele.

Já nasceu aprontando! Colocaram o Lucas sobre o meu peito e a enfermeira me pediu para levantar. Nunca pensei que seria capaz, mas com a ajuda da enfermeira e do meu marido sai da banheira, atravessei o quarto e deitei na cama. E tudo isso com o Lucas nos meus braços. A placenta nasceu sem muito esforço e levei uns quatro pontos. Fiquei o tempo todo com o Lucas e amamentei ele logo. A enfermeira deixou a gente a sós e trocamos de quarto só mais tarde, depois da primeira amamentação e de um descanso.






TERCEIRO PARTO, EM RONDÔNIA:

Oito anos depois do nascimento do Lucas eu estava grávida de novo, mas desta vez, já estávamos morando no Brasil, mas precisamente em Jaru, interior de Rondônia. Fiquei feliz ao achar um médico em Ouro Preto do Oeste, uma cidade vizinha, que atendia pelo nosso plano de saúde e aceitava fazer um parto normal. E fiquei mais feliz ainda ao descobrir que Kadja, secretária super simpática do médico, ainda era doula!

Bem no final de gravidez fiz um plano de parto por conta própria, e a Kadja o entregou tanto para o médico como para a pediatra e para as enfermeiras. O parto começou, de novo, de madrugada, mas simplesmente senti um desconforto nas costas.

De manhã já estava sentindo contrações leves de uns 15 em 15 minutos. Era um dia muito especial porque era o aniversário de 8 anos do Lucas e em casa sempre comemoramos com um café da manhã gostoso. Ele recebeu os presentes e depois de cantar os parabéns falei que ele ia ter mais um presentão porque parecia que o irmão dele ia nascer naquele mesmo dia.

A minha mãe (que estava nos visitando da Finlândia para receber o terceiro neto dela) fez o toque e constatou 4 centímetros de dilatação. Como o parto do Lucas tinha sido muito rápido, não perdemos tempo e já saímos de Jaru para Ouro Preto para evitar qualquer surpresa no caminho.

Chegamos ao hospital pelas 10 da manhã e entramos no quarto. Sentei horas e horas em cima da bola de pilates, li revistas, assistimos televisão com o meu marido, comi frutas, tomei suco e meu marido até saiu para comprar um milk shake porque tive vontade de tomar um.

De vez em quando meu marido fazia massagem nas minhas costas e no meu pescoço e tomei alguns banhos quentes também. O médico entrava regularmente para verificar o coração do bebê e para fazer o toque.

O parto avançava normalmente com contrações boas e regulares e eu me sentia tão bem que nem pensei em pedir o epidural. Do mesmo jeito dos partos anteriores pensei que cada contração fosse como uma onda que ia e voltava e eu simplesmente tinha que respirar e deixar me levar pelas ondas.

Apesar de estar com o meu marido acabei me fechando no meu próprio mundo cada vez que fechava os olhos para receber mais uma contração. Pelas 4 da tarde o médico fez mais um toque e disse que já estava 9 centímetros dilatada. Fiquei tão feliz porque achei que o dia tinha passado rápido e tinha sido até fácil e o bebê já ia nascer. Pouco sabia eu... Desde aquela hora passaram mais quatro horas esperando esse último centímetro!

A bolsa estava ainda inteira e o bebê estava chegando de rosto primeiro (o que constatamos quando ele nasceu) e isso fez com que a reta final desse tanto trabalho assim! Naquelas alturas eu já estava bastante cansada e tinha muita vontade de dormir.

Meu marido sugeriu que eu deitasse um pouco, mas a posição era muito desconfortável e não consegui ficar na cama. Fazer o toque ficava cada vez mais doloroso e depois de uma das vezes a doula Kadja entrou no quarto.

Ela me deu umas dicas boas e ensinou ao meu marido como ele podia apertar as minhas coxas na hora da contração para me aliviar. Ela me deu aquela força que eu precisava para as últimas horas do trabalho de parto. Depois que a Kadja saiu o médico entrou mais uma vez e disse que ia romper a bolsa porque o bebê já estava quase nascendo.

Ele saiu do quarto para pegar os instrumentos e para se trocar e assim que ele fechou a porta a bolsa rompeu com direito a um barulho alto e jatos de água para todos os lados. Eu simplesmente fechei as pernas porque tive a sensação de que o bebê ia cair naquele mesmo momento. Meu marido pediu para que eu subisse na cama, mas eu não conseguia me mexer. Passaram somente alguns minutos, que pareciam uma eternidade, e o meu marido saiu para o corredor para chamar o médico.

Ele chegou correndo junto com a pediatra e uma enfermeira e eu consegui deitar na cama. Duas contrações mais tarde o Davi nasceu e foi colocado sobre a minha barriga. Tive algumas lacerações e precisei pontos. Enquanto eu estava sendo suturada, o meu marido acompanhou os primeiros cuidados do Davi e vestiu ele. Quando saí da sala de cirurgia (onde fui levada somente para suturar, o parto em si aconteceu no quarto mesmo) os dois estavam me esperando e pude amamentar Davi.




Os meus três partos foram um pouco diferentes, mas cada um deles foi uma experiência sem igual. Eu vejo parto natural como um rito de passagem para me transformar em mãe daquela nova vida que está nascendo. Cada vez tenho sentido dor, mas cada vez também tenho sentido uma felicidade e uma satisfação enormes ao receber o bebê nos meus braços e ao ver meu marido participar do parto e cortar o cordão umbilical.





As experiências em dois países muito diferentes na verdade foram bastante parecidas. As instalações do hospital e a atenção e os cuidados que recebemos aqui no Brasil não deixaram nada a desejar comparando com Finlândia. A única diferença grande é que o padrão que aqui existe no hospital particular lá se encontra na rede pública.






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