28 de maio de 2012

Reflexões: Exército de vadias...

Maíra Streit (Marcha das Vadias de Ponta Grossa PR)

por Cariny Cielo

Esta semana, movimentos pelo Brasil dão gritos pelo fim do machismo na sociedade. A 'Marcha das Vadias' vem para por em choque tudo que homens e mulheres entendem como democracia e igualdade de direitos.

A desigualdade talvez não exista mais nas leis, mas existe dentro de cada um de nós, principalmente de nós mulheres! Sim, somos as maiores machistas...

Eu era extremamente masculina! Carrego o útero marcado eternamente pelo bisturi como ícone de uma mulher que não acreditava no feminino e calou, por anos, todos os instintos da psiquê de fêmea. Mas, porque eu fiz isso? De onde nasce em nós, mulheres, a postura de denegrir o que é deste pólo?

Cresci castrada estudando em colégios de freiras e sonhando em ser racional, fria, forte, invencível, competitiva, 'dura de doer': era o que eu queria para mim! Acreditava que seriam estes os atributos das bem sucedidas. Mas eu não era assim e a minha dor vinha de não conseguir conquistar o posto de mulher que a sociedade esperava de mim.

Perfeita! Que, de maneira velada, significa: Magra, arrumada, saudável, disponível, super filha, super mãe, super amante, super esposa, super amiga, super profissional! A minha concepção era a de que eu só servia, se conseguisse tudo isso. O amor só apareceria se eu fosse tudo isso. O sucesso só chegaria se eu fizesse toda a lição de casa, direitinho...

Em resumo, eu não precisei ter pai, irmão, amigos ou mesmo namorados machistas, eu já carregava todo o machismo necessário para acabar com uma mulher. E, quando chamei por ela, na hora do parto do meu primeiro filho, ela estava muito longe, muito fraca, muito nebulosa para mim.

A boa notícia é que ela nunca morre! Li isso da Clarissa Pinkola no livro 'Ciranda das Mulheres sábias' e, pouco a pouco, eu fui alimentando minha mulher, meu feminino, minha essência... fui nutrindo minha raízes. Todo dia é dia de ser mulher! De chorar, de pedir, de doar, de sentir, de transformar, de motivar, de criar, de empreender, de confiar, de lutar, de matar e de morrer, de inspirar... são nossos estes verbos...

As mulheres saíram para gritar que são seres humanos! Nem melhores, nem piores... só mulheres! Que por trás das exigências de ter cintura de pilão e peito empinado, temos sentimentos, opiniões, caímos e levantamos, como todo mundo. Que valemos pelo que somos e não pela imagem que passamos. Que nossos corpos não são para diversão nem pro terror de ninguém. 

Já ouvi maridos dizendo que exigiram uma cesárea na esposa para que o 'parque de diversões' deles não fosse maculado... que amamentar seria competir com o filho pelo mesmo 'brinquedinho'. Antes de julgar os homens que falam assim, sempre em tom jocoso; penso que tipo de mulher admite ouvir isto? Porque é que rimos destas e de outras tantas piadas? Porque nos odiamos, nos invejamos, nos destruimos, umas às outras?

Porque temos filhos para preencher um vazio ou para promoção social? Porque alimentamos um casamento falido? Porque entregamos nosso corpo, no sexo, na gravidez, no parto, como se fôssemos só carne, sem alma, sem sentir? Porque sempre achamos que 'ela mereceu', que 'bem feito', que 'também, vestida assim', que 'quem mandou engordar'? Porque maldizemos e criticamos todas que rompem com este sistema superficial? Estamos todas perdidas e é preciso muito grito para mudar tudo isso...

E se ser vadia nos dias de hoje é ser mulher selvagem, então, sim, eu sou! Não quero o rótulo de destruir o masculino; mas se hoje é preciso escancarar portas, então, eu ajudo sim a chutar e grito: Sou vadia sim, é aí?

16 de maio de 2012

Movimentos pelo respeito ao nascimento e parto: O que eu quero?


por Cariny Cielo

Hoje eu dei uma entrevista sobre parto, mulher, humanização do nascimento, essas coisas. Foi uma tarde agradável ao lado de uma jornalista super divertida e muito dinâmica. Ela me contou, inclusive, a própria experiencia com o nascimento da filha, uma cesárea quase que imposta.

Eu queria uma eternidade para falar sobre parto, mas tive que me render ao tempo e ao chamado dos filhos, só que fiquei pensando em o que deixar como resumo, como informação principal...

Eu poderia dizer muitas coisas sobre ter filhos naturalmente. Poderia recomendar o parto natural, o aleitamento, uma gestação sem interferências e o mais consciente possível...

Minha estória dos últimos cinco anos, onde saí de uma menina completamente entregue à medicina, na primeira gestação (o que me rendeu um corte na barriga para fazer nasceu o meu primeiro filho), à uma mulher que pariu sozinha em casa, me permite ter muito assunto. Muitas dicas, conselhos, referências, evidências científicas, livros, exercícios, sugestões, papites... enfim... mas eu não quero nada disso. Essas vivências são muito pessoais para fazer eco em outras mulheres, eu quero mais que isso tudo!

Quero dizer às mulheres apenas uma coisa: Temos liberdade de fazer escolhas, mas estas escolhas devem ser conscientes.
Quero apenas mostrar que coragem tem que ter não quem pari em casa, sozinha, mas quem agenda uma cirurgia para fazer nascer o filho, pois morrem muito mais bebês e mulheres nestas circunstâncias do que parindo naturalmente. Isso são dados, e não 'achismos' ou estórias folclóricas...

Quero que saibamos que estamos nos expondo e expondo nossos filhos a muito mais riscos numa cesárea do que num parto natural. E, não, repito! Isso não é o que eu acho... são evidências científicas, algo que a maioria dos obstetras ignora para nos vender a cirurgia como melhor, mais fácil e mais segura! Não é!

Não me importam suas escolhas, mas me importa apenas saber se elas são livres, conscientes e informadas!
Se, a despeito de conhecer todos os riscos, você optar pela via cirúrgica, esta será uma escolha responsável e adulta. Mas o que vemos atualmente são mulheres completamente silenciadas, ocupadas com o enxoval do bebê, sem saber muito sobre o próprio feminino, enquanto o médico 'cuida' do parto.

Quero tornar público que o parto normal oferecido pelos hospitais é violento, é humilhante e desrespeitoso para a mulher. E que, ao par disto, é até compreensível que se escolha tanto a cirurgia.

Quero tão somente abrir os olhos das mulheres para a castração do feminino na sociedade em que vivemos e que durante a gestação e parto isso fica muito evidente através das práticas invasivas que fazem no corpo e na alma da mulher.

Somos desde cedo impelidas a acreditar que não funcionamos bem. Devemos silenciar nossos ovários à custa de hormônios porque menstruar dói muito. Dói mesmo... dói ser mulher num mundo de falos! Parir dói demais... dói mesmo! Dói partir-se para fazer nascer a mulher e abandonar a menina. Amamentar dói... dói mesmo abdicar do posto de receber para doar, com o sangue.

Ser mulher tem doído muito... afogar nossa essencia, dia após dia, para atender às demandas do mundo, dói demais!

Mas o que eu quero, afinal?

Meu desejo é muito singelo...

Quero que a escolha das mulheres seja consciente para, só assim, ser verdadeiramente livre.

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