22 de fevereiro de 2018

Um ano de Novas Diretrizes Nacionais de Atenção ao Parto Normal: Como está em sua cidade?



Fez um ano que o Ministério da Saúde expediu a PORTARIA Nº 353, aprovando as Diretrizes Nacionais de Assistência ao Parto Normal! Segue aqui o sumário de recomendações. A íntegra oficial do documento pode ser conferida aqui . Estas novas diretrizes são bem especiais porque ela faz referência à 'doula' pela primeira vez! (tá em negrito).

E, ainda este mês, A Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu novas diretrizes para estabelecer padrões de atendimento globais para mulheres grávidas saudáveis e reduzir intervenções médicas desnecessárias, nas quais recomenda que as equipas médicas e de enfermagem não interfiram no trabalho de parto de uma mulher de forma a acelerá-lo, a menos que existam riscos reais de complicações, aqui.
 
Pega o caderninho e vamos conferir como anda o cumprimento destas diretrizes em nossas cidades!




6 SUMÁRIO DE RECOMENDAÇÕES

A seguir são apresentadas as recomendações de acordo com as seções das Diretrizes Nacionais de Assistência ao Parto Normal. As Diretrizes na íntegra, com todas as tabelas, descrições e discussões das evidências, bem como todas as referências bibliográficas, estão disponíveis em . 6.1

Local de assistência ao parto:

1 Informar às gestantes de baixo risco de complicações que o parto normal é geralmente muito seguro tanto para a mulher quanto para a criança.

2 Informar às gestantes de baixo risco sobre os riscos e benefícios dos locais de parto (domicílio, Centro de Parto Normal extra, peri ou intra hospitalar, maternidade). Utilizar as tabelas 1, 2, 3 e 4 para tal. Informar também que as evidências são oriundas de outros países, e não necessariamente aplicáveis ao Brasil.

3 As mulheres nulíparas ou multíparas que optarem pelo planejamento do parto em Centro de Parto Normal (extra, peri ou intra-hospitalar), se disponível na sua área de abrangência ou próximos dessa, e cientes dos riscos e benefícios desses locais, devem ser apoiadas em sua decisão.

4 Informar a todas as gestantes que a assistência ao parto no domicílio não faz parte das políticas atuais de saúde no país.

5 Informar às nulíparas de baixo risco de complicações que o planejamento do parto no domicílio não é recomendado tendo em vista o maior risco de complicações para a criança. Informar também que as evidências são oriundas de outros países e não necessariamente aplicáveis ao Brasil.

6 Informar às multíparas de baixo risco de complicações que, tendo em vista o contexto brasileiro, o parto domiciliar não está disponível no sistema de saúde, por isso não há como recomendar. No entanto, não se deve desencorajar o planejamento do parto no domicílio, desde que atenda o item 8.

7 As mulheres devem receber as seguintes informações sobre o local de parto: - acesso à equipe médica (obstetrícia, anestesiologia e pediatria); - acesso ao cuidado no trabalho de parto e parto por enfermeiras obstétricas ou obstetrizes; - acesso a métodos de alívio da dor, incluindo os não farmacológicos (banheira, chuveiro, massagens, etc.), analgesia regional e outras substâncias analgésicas; - a probabilidade de ser transferida para uma maternidade (se esse não for o local escolhido), as razões porque isso pode acontecer e o tempo necessário para tal.

8 Assegurar que todas as mulheres que optarem pelo planejamento do parto fora do hospital tenham acesso em tempo hábil e oportuno a uma maternidade, se houver necessidade de transferência.

9 Utilizar as tabelas 5, 6, 7 e 8 como instrumentos de avaliação das mulheres em relação à escolha do local do parto: - as tabelas 5 e 6 apresentam condições clínicas e situações onde existe um risco aumentado para a mãe e a criança durante ou imediatamente após o parto e a assistência em uma maternidade poderia reduzir este risco; - os fatores listados nas tabelas 7 e 8 são razões para aconselhar as mulheres a planejarem o parto em uma maternidade baseada em hospital, mas indica que outras situações sejam levadas em consideração em relação ao local do parto, tendo em vista a proximidade deste local com a maternidade e as preferências da mulher; - discutir os riscos e os cuidados adicionais que podem ser oferecidos em uma maternidade para que as mulheres possam fazer uma escolha informada sobre o local planejado para o parto. Profissional que assiste o parto

10 A assistência ao parto e nascimento de baixo risco que se mantenha dentro dos limites da normalidade pode ser realizada tanto por médico obstetra quanto por enfermeira obstétrica e obstetriz.

11 É recomendado que os gestores de saúde proporcionem condições para a implementação de modelo de assistência que inclua a enfermeira obstétrica e obstetriz na assistência ao parto de baixo risco por apresentar vantagens em relação à redução de intervenções e maior satisfação das mulheres.

6.2 Cuidados gerais durante o trabalho de parto Informações e comunicação

12 Mulheres em trabalho de parto devem ser tratadas com respeito, ter acesso às informações baseadas em evidências e serem incluídas na tomada de decisões. Para isso, os profissionais que as atendem deverão estabelecer uma relação de confiança com as mesmas, perguntando-lhes sobre seus desejos e expectativas. Devem estar conscientes da importância de sua atitude, do tom de voz e das próprias palavras usadas, bem como a forma como os cuidados são prestados.

13 Para estabelecer comunicação com a mulher os profissionais devem: - cumprimentar a mulher com um sorriso e uma boa acolhida, se apresentar e explicar qual o seu papel nos cuidados e indagar sobre as suas necessidades, incluindo como gostaria de ser chamada; - manter uma abordagem calma e confiante, demonstrando à ela que tudo está indo bem; - bater na porta do quarto ou enfermaria e esperar antes de entrar, respeitando aquele local como espaço pessoal da mulher e orientar outras pessoas a fazerem o mesmo; - perguntar à mulher como ela está se sentindo e se alguma coisa em particular a preocupa; - se a mulher tem um plano de parto escrito, ler e discutir com ela, levando-se em consideração as condições para a sua implementação tais como a organização do local de assistência, limitações (físicas, recursos) relativas à unidade e a disponibiidade de certos métodos e técnicas; - verificar se a mulher tem dificuldades para se comunicar da forma proposta, se possui deficiêcia auditivia, visual ou intelectual; perguntar qual língua brasileira (português ou libras) prefere utilizar ou, ainda, para o caso de mulheres estrangeiras ou indígenas verificar se compreendem português; - avaliar o que a mulher sabe sobre estratégias de alívio da dor e oferecer informações balanceadas para encontrar quais abordagens são mais aceitáveis para ela; - encorajar a mulher a adaptar o ambiente às suas necessidades; - solicitar permissão à mulher antes de qualquer procedimento e observações, focando nela e não na tecnologia ou documentação; - mostrar à mulher e aos seus acompanhantes como ajudar e assegurar-lhe que ela o pode fazer em qualquer momento e quantas vezes quiser. Quando sair do quarto, avisar quando vai retornar; - envolver a mulher na transferência de cuidados para outro profissional, tanto quando solicitar opinião adicional ou no final de um plantão.

14 Durante o pré-natal informar as mulheres sobre os seguintes assuntos: - riscos e benefícios das diversas práticas e intervenções durante o trabalho de parto e parto (uso de ocitocina, jejum, episiotomia, analgesia farmacológica, etc.); - a necessidade de escolha de um acompanhante pela mulher para o apoio durante o parto. Este acompanhante deve receber as informações importantes no mesmo momento que a mulher; - estratégias de controle da dor e métodos disponíveis na unidade, descrevendo os riscos e benefícios de cada método (farmacológicos e não farmacológicos); - organização e indicadores assistenciais do local de atenção ao parto, limitações (física, recursos disponíveis) relativos à unidade, bem como disponibilidade de certos métodos e técnicas; - os diferentes estágios do parto e as práticas utilizadas pela equipe para auxiliar as mulheres em escolhas bem informadas. Apoio físico e emocional

15 Todas as parturientes devem ter apoio contínuo e individualizado durante o trabalho de parto e parto, de preferência por pessoal que não seja membro da equipe hospitalar.

16 O apoio por pessoal de fora da equipe hospitalar não dispensa o apoio oferecido pelo pessoal do hospital.

17 Uma mulher em trabalho de parto não deve ser deixada sozinha, exceto por curtos períodos de tempo ou por sua solicitação.

18 As mulheres devem ter acompanhantes de sua escolha durante o trabalho de parto e parto, não invalidando o apoio dado por pessoal de fora da rede social da mulher (ex. doula). Dieta durante o trabalho de parto

19 Mulheres em trabalho de parto podem ingerir líquidos, de preferência soluções isotônicas ao invés de somente água.

20 Mulheres em trabalho de parto que não estiverem sob efeito de opióides ou não apresentarem fatores de risco iminente para anestesia geral podem ingerir uma dieta leve.

21 Os antagonistas H2 e antiácidos não devem ser utilizados de rotina para mulheres de baixo risco para anestesia geral durante o trabalho de parto.

22 As mulheres que receberem opióides ou apresentarem fatores de risco que aumentem a chance de uma anestesia geral devem receber antagonistas H2 ou antiácidos. Medidas de assepsia para o parto vaginal

23 A água potável pode ser usada para a limpeza vulvar e perineal se houver necessidade, antes do exame vaginal.

24 Medidas de higiene, incluindo higiene padrão das mãos e uso de luvas únicas não necessariamente estéreis, são apropriadas para reduzir a contaminação cruzada entre as mulheres, crianças e profissionais. Avaliação do bem-estar fetal

25 A avaliação do bem-estar fetal em parturientes de baixo risco deve ser realizada com ausculta intermitente, em todos os locais de parto: Utilizar estetoscópio de Pinard ou sonar Doppler: - realizar a ausculta antes, durante e imediatamente após uma contração, por pelo menos 1 minuto e a cada 30 minutos, registrando como uma taxa única; - registrar acelerações e desacelerações se ouvidas; - Palpar o pulso materno se alguma anormalidade for suspeitada para diferenciar os batimentos fetais e da mãe.

6.3 Alívio da dor no trabalho de parto Experiência e satisfação das mulheres em relação à dor no trabalho de parto

26 Os profissionais de saúde devem refletir sobre como suas próprias crenças e valores influenciam a sua atitude em lidar com a dor do parto e garantir que os seus cuidados apoiem a escolha da mulher. Estratégias e métodos não farmacológicos de alívio da dor no trabalho de parto

27 Sempre que possível deve ser oferecido à mulher a imersão em água para alívio da dor no trabalho de parto.

28 Os gestores nacionais e locais devem proporcionar condições para o redesenho das unidades de assistência ao parto visando a oferta da imersão em água para as mulheres no trabalho de parto.

29 Se uma mulher escolher técnicas de massagem durante o trabalho de parto que tenham sido ensinadas aos seus acompanhantes, ela deve ser apoiada em sua escolha.

30 Se uma mulher escolher técnicas de relaxamento no trabalho de parto, sua escolha deve ser apoiada.

31 A injeção de água estéril não deve ser usada para alívio da dor no parto.

32 A estimulação elétrica transcutânea não deve ser utilizada em mulheres em trabalho de parto estabelecido.

33 A acupuntura pode ser oferecida às mulheres que desejarem usar essa técnica durante o trabalho de parto, se houver profissional habilitado e disponível para tal.

34 Apoiar que sejam tocadas as músicas de escolha da mulher durante o trabalho de parto.

35 A hipnose pode ser oferecida às mulheres que desejarem usar essa técnica durante o trabalho de parto, se houver profissional habilitado para tal.

36 Por se tratar de intervenções não invasivas e sem descrição de efeitos colaterais, não se deve coibir as mulheres que desejarem usar audio-analgesia e aromaterapia durante o trabalho de parto.

37 Os métodos não farmacológicos de alívio da dor devem ser oferecidos à mulher antes da utilização de métodos farmacológicos. Analgesia inalatória

38 O óxido nitroso a 50% em veículo específico pode ser oferecido para alívio da dor no trabalho de parto, quando possível e disponível, mas informar às mulheres que elas podem apresentar náusea, tonteiras, vômitos e alteração da memória. Analgesia intramuscular e endovenosa

39 Os opióides não devem ser utilizados de rotina pois estes oferecem alívio limitado da dor e apresentam efeitos colaterais significativos para a mulher (náusea, sonolência e tonteira) e para a criança (depressão respiratória ao nascer e sonolência que pode durar vários dias) assim como interferência negativa no aleitamento materno.

40 Diante da administração de opióides (EV ou IM) utilizar concomitantemente um anti-emético.

41 Até duas horas após a administração de opióides (EV ou IM) ou se sentirem sonolentas, as mulheres não devem entrar em piscina ou banheira.

42 Analgesia com opióides é acompanhada de aumento na complexidade da assistência ao parto, como por exemplo: maior necessidade de monitorização e acesso venoso.

43 Uma vez que a segurança da realização de analgesia farmacológica no ambiente extra-hospitalar ainda não foi estabelecida, esta é restrita ao complexo hospitalar, seja bloco cirúrgico ou PPP (sala de pré-parto, parto e pós-parto). Analgesia regional

44 A analgesia regional deve ser previamente discutida com a gestante antes do parto, e seus riscos e benefícios devem ser informados.

45 As seguintes informações devem ser oferecidas à mulher: - a analgesia regional só está disponível no ambiente hospitalar; - é mais eficaz para alívio da dor que os opióides; - não está associada com aumento na incidência de dor lombar; - não está associada com primeiro período do parto mais longo ou aumento na chance de cesariana; - está associada com aumento na duração do segundo período do parto e na chance de parto vaginal instrumental; - necessita de nível mais elevado de monitoração e a mobilidade pode ser reduzida.

46 Uma vez que a segurança da realização de analgesia farmacológica no ambiente extra-hospitalar ainda não foi estabelecida, esta é restrita ao complexo hospitalar, seja bloco cirúrgico ou PPP (sala de pré-parto, parto e pós-parto). A solicitação materna por analgesia de parto compreende indicação suficiente para sua realização, independente da fase do parto e do grau de dilatação. Isto inclui parturientes em fase latente com dor intensa, após esgotados os métodos não farmacológicos.

48 A analgesia peridural e a analgesia combinada raqui – peridural (RPC) constituem técnicas igualmente eficazes para alívio da dor de parto. A escolha entre elas será influenciada pela experiência do anestesiologista com a técnica.

49 Iniciar a analgesia peridural com as substâncias usuais (bupivacaína, ropivacaína e levobupivacaína) diluídas na dose: volume 13 a 20 ml em concentração de 0,0625% a 0,1%, acrescidos de fentanila (2 mcg/ml), ou opióide lipossolúvel em dose equipotente.

50 Quando se pretende fornecer alívio rápido da dor, sem elevação da dose de anestésico, a via intratecal é a técnica de escolha.

51 Quando se utilizar a RPC, adequar a dose ao momento do parto: - fase não avançada do parto (doses próximas a 15 mcg de fentanila intratecal ou outro opióide lipossolúvel em dose equivalente); - fase avançada do parto (bupivacaína 1,25 mg intratecal ou outro anestésico em dose equivalente, associada ao opióide lipossolúvel).

52 A manutenção da analgesia via cateter peridural deve ser iniciada com a menor concentração efetiva de cada anestésico; como exemplo bupivacaína 0,0625% ou ropivacaína 0,1%, ambos acrescidas de fentanila (2 mcg/ml) ou doses equipotentes de outro opióide lipossolúvel.

53 A manutenção da analgesia via cateter peridural deve ser iniciada com volumes próximos a 10 ml/h.

54 A manutenção da analgesia via cateter peridural deve ser individualizada, levando em consideração a resposta à solução inicial, assim como particularidades da mulher. Mediante resposta insatisfatória na primeira hora de infusão, deve-se elevar a dose de anestésico, aumentando a taxa de infusão de forma escalonada até no máximo 20 ml/h. Mediante resposta persistentemente insatisfatória deve-se elevar a concentração do anestésico, após revisar posicionamento do cateter.

55 A manutenção da analgesia peridural em bolus intermitente ou sob regime de PCA (“analgesia peridural controlada pela paciente”) são os modos preferidos de administração para a manutenção da analgesia peridural.

56 A utilização de um ou outro modo dependerá da disponibilidade de recursos locais.

57 Não se recomendam rotineiramente altas concentrações de soluções de anestesia local (0,25% ou acima de bupivacaína ou equivalente) para estabelecer ou manter a analgesia peridural.

58 Antes da realização da analgesia regional de parto deve haver acesso venoso pré-estabelecido.

59 Pré-hidratação não deve ser utilizada de forma rotineira mas apenas em casos selecionados.

60 Toda gestante após analgesia regional deve ser avaliada quanto à ocorrência de hipotensão arterial, sendo a necessidade de hidratação ou suporte com substâncias vasoativas avaliada individualmente.

61 A manutenção da hidratação deve obedecer a recomendação citada no ítem dieta no trabalho de parto. Convém ressaltar que, em função da administração de opióides, a oferta de dieta com resíduos é proscrita após anestesia regional.

62 A gestante sob analgesia peridural, quando se sentir confortável e segura, deve ser encorajada a deambular e adotar posições mais verticais.

63 A administração da solução peridural não deve ser interrompida no intuito de se otimizar desfechos, mas deve obedecer as necessidades e desejo materno, ainda que no período expulsivo.

64 O cateter peridural, instalado durante o parto, poderá ser utilizado no terceiro estágio do parto, como, por exemplo, na reparação perineal.

65 Após confirmados os 10 cm de dilatação, não se deve incentivar a gestante a realizar puxos, exceto se tardiamente (sugere-se no mínimo após 1 hora de dilatação total) ou quando a cabeça fetal se tornar visível.

66 Os puxos devem ser sempre durante a contração.

67 Após constatado 10 cm de dilatação, devem ser estabelecidas estratégias para que o nascimento ocorra em até 4 horas, independente da paridade.

68 A administração de ocitocina após analgesia regional não é recomendada de rotina e deve obedecer as recomendações referentes ao uso de uterotônicos expostas nas seções específicas.

69 A técnica de analgesia no parto deve visar o controle adequado da dor com o menor comprometimento possível das funções sensoriais, motoras e autonômicas. Para isto a iniciação e manutenção da analgesia com baixas concentrações de anestésico local constitui fator fundamental, particularmente importante para que as parturientes se mantenham em movimento.

70 Toda gestante submetida a analgesia de parto deverá estar com monitorização básica previamente instalada (Pressão Arterial Não Invasiva - PANI a cada 5 minutos e oximetria de pulso).

71 Estando sob monitorização, após 15 minutos da administração do(s) agente(s), a gestante deverá ser avaliada quanto à resposta (nível do bloqueio, sensibilidade perineal, testes de função motora , teste do equilíbrio e de hipotensão postural). Caso a avaliação seja desfavorável à mobilização ou se constate “estado de anestesia” (hiposensibilidade e bloqueio motor) a gestante deverá permanecer no leito sob vigilância constante até nova reavaliação. Caso a avaliação seja favorável, somente “estado de analgesia“, a gestante estará sem impedimentos para deambular e assumir a posição que desejar.

72 Caso a avaliação seja desfavorável à mobilização ou se constate estado de anestesia (hiposensibilidade e bloqueio motor), os quais persistem mesmo após o terceiro estágio, a gestante deverá ser encaminhada a SRPA (Sala de Recuperação Pós-Anestésica) e permanecer no leito sob vigilância constante até alta pelo médico anestesiologista.

73 A rotina de monitoração para iniciação da analgesia de parto deve ser repetida nos momentos de doses de resgate via cateter peridural.

74 Se após 30 minutos do início da analgesia ou dose de resgate for constatada inefetividade, o anestesiologista deverá considerar falha técnica ou revisar individualmente as necessidades de alívio da parturiente.

75 Uma vez realizada analgesia de parto, ainda que não ocorram doses de resgate, o anestesiologista deverá acompanhar a parturiente, com avaliação horária, até o terceiro período.

76 Considerando a possibilidade de complicações, todo cateter peridural deve ser retirado pelo médico anestesiologista. A gestante não poderá receber alta do bloco obstétrico, unidade PPP ou SRPA com cateter instalado, exceto com a autorização do anestesiologista.

77 Toda parturiente submetida a início de analgesia regional ou doses adicionais de resgate, seja qual for a técnica, deve sersubmetida a ausculta intermitente da FCF de 5 em 5 minutos por no mínimo 30 minutos. Uma vez alterado devese instalar CTG, assim como proceder a cuidados habituais como decúbito lateral esquerdo e avaliar necessidade de otimização das condições respiratórias e circulatórias. Caso não ocorra melhora, seguir diretrizes próprias para conduta no estado fetal não tranquilizador.

78 Se ocorrerem anormalidades graves da FCF, não transitórias, considerar outra causa que não analgesia regional e seguir diretrizes próprias para conduta no estado fetal não tranquilizador. Ruptura prematura de membranas (RPM) no termo

79 Não realizar exame especular se o diagnóstico de ruptura das membranas for evidente.

80 Se houver dúvida em relação ao diagnóstico de ruptura das membranas realizar um exame especular. Evitar toque vaginal na ausência de contrações.

81 Explicar às mulheres com ruptura precoce de membranas no termo que: - o risco de infecção neonatal grave é de 1%, comparado com 0,5% para mulheres com membranas intactas; - 60% das mulheres com ruptura precoce de membranas no termo entrará em trabalho de parto dentro de 24 horas; - a indução do trabalho de parto é apropriada dentro das 24 horas após a ruptura precoce das membranas.

82 Até que a indução do trabalho de parto seja iniciada ou se a conduta expectante for escolhida pela gestante para além de 24 horas: - aconselhar a mulher a aguardar em ambiente hospitalar; - medir a temperatura a cada 4 horas durante o período de observação e observar qualquer alteração na cor ou cheiro das perdas vaginais; - se a mulher optar por aguardar no domicílio manter as mesmas recomendações anteriores e informá-la que tomar banho não está associado com um aumento da infecção, mas ter relações sexuais pode estar.

83 Avaliar a movimentação fetal e a frequência cardíaca fetal na consulta inicial e depois a cada 24 horas após a ruptura precoce das membranas, enquanto a mulher não entrar em trabalho de parto, e aconselhá-la a comunicar imediatamente qualquer diminuição nos movimentos fetais.

84 Se o trabalho de parto não se iniciar dentro de 24 horas após a ruptura precoce das membranas, a mulher deve ser aconselhada a ter o parto em uma maternidade baseada em hospital, com serviço de neonatologia. Eliminação de mecônio imediatamente antes ou durante o trabalho de parto

85 Não se aconselha o uso de sistemas de gradação e classificação de mecônio para a conduta na eliminação de mecônio imediatamente antes ou durante o trabalho de parto, exceto quando se considerar a amnioinfusão ou como critério de transferência. Ver recomendações 87, 96 e 97.

86 Tanto a monitoração eletrônica contínua da frequência cardíaca fetal, se disponível, como a ausculta fetal intermitente, seguindo técnicas padronizadas, podem ser utilizadas para avaliação do bem-estar fetal diante da eliminação de mecônio durante o trabalho de parto.

87 Considerar a realização de amnioinfusão diante da eliminação de mecônio moderado a espesso durante o trabalho de parto, se não houver disponibilidade de monitoração eletrônica fetal contínua.

88 Não existem evidências para recomendar ou não recomendar a cesariana apenas pela eliminação isolada de mecônio durante o trabalho de parto.

6.4 Assistência no primeiro período do parto Diagnóstico do início do trabalho de parto e momento de admissão para assistência ou início da assistência no domicílio

89 Incluir o seguinte quando da avaliação precoce ou triagem de trabalho de parto em qualquer local de assistência: - indagar à mulher como ela está e sobre os seus desejos, expectativas e preocupações; - indagar sobre os movimentos da criança, incluindo qualquer mudança nos mesmos; - oferecer informações sobre o que a mulher pode esperar na fase de latência do trabalho de parto e o que fazer se sentir dor; - oferecer informações sobre o que esperar quando procurar assistência; - estabelecer um plano de cuidados com a mulher, incluindo orientação de quando e com quem contatar posteriormente; - oferecer orientação e apoio para o(s) acompanhante(s) da mulher.

90 Se uma mulher busca orientação ou assistência em uma maternidade ou unidade de parto extra, peri ou intra-hospitalar: • E não está em trabalho de parto estabelecido (≤ 3 cm de dilatação cervical): - ter em mente que a mulher pode estar tendo contrações dolorosas, sem mudanças cervicais, e embora ainda não esteja em trabalho de parto ativo, ela pode sentir que está pela sua própria definição; - oferecer apoio individual e alívio da dor se necessário; - encorajar e aconselhar a mulher a permanecer ou retornar para casa, levando em consideração as suas preocupações, a distância entre a sua casa e o local do parto e o risco deste acontecer sem assistência. • Estar em trabalho de parto estabelecido (≥ 4 cm de dilatação cervical): - Admitir para assistência

Definição e duração das fases do primeiro período do trabalho de parto

91 Para fins destas Diretrizes, utilizar as seguintes definições de trabalho de parto: • Fase de latência do primeiro período do trabalho de parto – um período não necessariamente contínuo quando: - há contrações uterinas dolorosas E - há alguma modificação cervical, incluindo apagamento e dilatação até 4 cm. • Trabalho de parto estabelecido – quando: - há contrações uterinas regulares E - há dilatação cervical progressiva a partir dos 4 cm.

92 A duração do trabalho de parto ativo pode variar: - nas primíparas dura em média 8 horas e é pouco provável que dure mais que 18 horas; - nas multíparas dura em média 5 horas e é pouco provável que dure mais que 12 horas. Observações e monitoração no primeiro período do parto

93 Registrar as seguintes observações no primeiro período do trabalho de parto: - frequência das contrações uterinas de 1 em 1 hora; - pulso de 1 em 1 hora; - temperatura e PA de 4 em 4 horas; - frequência da diurese; - exame vaginal de 4 em 4 horas ou se houver alguma preocupação com o progresso do parto ou em resposta aos desejos da mulher (após palpação abdominal e avaliação de perdas vaginais).

94 Um partograma com linha de ação de 4 horas deve ser utilizado para o registro do progresso do parto, modelo da OMS ou equivalente.

95 Transferir a mulher para uma maternidade baseada em hospital ou solicitar assistência de médico obstetra, se o mesmo não for o profissional assistente, se qualquer uma das seguintes condições forem atingidas, a não ser que os riscos da transferência superem os benefícios. • Observações da mulher: - pulso >120 bpm em 2 ocasiões com 30 minutos de intervalo; - PA sistólica ≥ 160 mmHg OU PA diastólica ≥ 110 mmHg em uma única medida; - PA sistólica ≥ 140 mmHg OU diastólica ≥ 90 mmHg em 2 medidas consecutivas com 30 minutos de intervalo; - proteinúria de fita 2++ ou mais E uma única medida de PA sistólica ≥ 140 mmHg ou diastólica ≥ 90 mmHg; - temperatura de 38°C ou mais em uma única medida OU 37,5°C ou mais em 2 ocasiões consecutivas com 1 hora de intervalo ; - qualquer sangramento vaginal, exceto eliminação de tampão; - presença de mecônio significativo; - dor relatada pela mulher que difere da dor normalmente associada às contrações; - progresso lento confirmado do primeiro e segundo períodos do trabalho de parto; - solicitação da mulher de alívio da dor por analgesia regional; - emergência obstétrica – incluindo hemorragia anteparto, prolapso de cordão, convulsão ou colapso materno ou necessidade de ressuscitação neonatal avançada. • Observações fetais: - qualquer apresentação anômala, incluindo apresentação de cordão; - situação transversa ou oblíqua; - apresentação cefálica alta (-3/3 De Lee) ou móvel em uma nulípara; - suspeita de restrição de crescimento intra-uterino ou macrossomia; - suspeita de anidrâmnio ou polihidrâmnio; - frequência cardíaca fetal (FCF) < 110 ou > 160 bpm; - desacelerações da FCF à ausculta intermitente.

96 Se mecônio significativo (verde escuro ou preto, grosso, tenaz, contendo grumos) estiver presente assegurar que: -profissionais treinados em suporte avançado de vida neonatal estejam presentes no momento do parto.

97 Se mecônio significativo estiver presente, transferir a mulher para uma maternidade baseada em hospital de forma segura desde que seja improvável que o parto ocorra antes da transferência se completar. Intervenções e medidas de rotina no primeiro período do parto

98 O enema não deve ser realizado de forma rotineira durante o trabalho de parto.

99 A tricotomia pubiana e perineal não deve ser realizada de forma rotineira durante o trabalho de parto.


100 A amniotomia precoce, associada ou não à ocitocina, não deve ser realizada de rotina em mulheres em trabalho de parto que estejam progredindo bem.

101 As mulheres devem ser encorajadas a se movimentarem e adotarem as posições que lhes sejam mais confortáveis no trabalho de parto.
 
Falha de progresso no primeiro período do trabalho de parto

102 Se houver suspeita de falha de progresso no primeiro estágio do trabalho de parto levar em consideração: - o ambiente onde a mulher está sendo assistida; - a atitude da mulher, se postura mais ativa ou não; - estado emocional da mulher; - o tipo de apoio e suporte físico e emocional que a mulher estiver recebendo; - paridade; - dilatação e mudanças cervicais; - contrações uterinas; - altura e posição da apresentação; - necessidade de referência ou solicitação de assistência profissional apropriada.

103 Se houver suspeita de falha de progresso na fase ativa do trabalho de parto considerar também para o diagnóstico todos os aspectos da evolução do trabalho de parto , incluindo: - dilatação cervical menor que 2 cm em 4 horas para as primíparas; - dilatação cervical menor que 2 cm em 4 horas ou um progresso lento do trabalho de parto para as multíparas; - descida e rotação do pólo cefálico; - mudanças na intensidade, duração e frequência das contrações uterinas.

104 Diante da suspeita de falha de progresso no primeiro estágio do trabalho de parto, considerar a realização de amniotomia se as membranas estiverem íntegras. Explicar o procedimento e avisar que o mesmo irá diminuir o trabalho de parto por cerca de 1 hora e pode aumentar a intensidade e dor das contrações.

105 Se a amniotomia for ou não realizada, realizar um exame vaginal após 2 horas e confirmar falha de progresso se a dilatação progredir menos que 1 cm.

106 Se for confirmada falha de progresso no primeiro estágio do parto: - A mulher deve ser transferida para assistência sob responsabilidade de médico obstetra, se não estiver sob seus cuidados. O mesmo deverá realizar uma revisão e diagnosticar a falha de progresso e decidir sobre as opções de conduta, incluindo o uso de ocitocina. - Explicar que o uso de ocitocina após a ruptura das membranas irá diminuir o tempo para o parto mas não influenciará no tipo de parto ou outros desfechos.

107 Se as membranas estiverem íntegras e o diagnóstico de falha de progresso for confirmado, aconselhar à mulher a ser submetida a uma amniotomia e repetir o exame vaginal 2 horas após, independente do estado das membranas.

108 Oferecer apoio e controle efetivo da dor a todas as mulheres com falha de progresso no primeiro estágio do trabalho de parto.

109 Informar às mulheres que a ocitocina irá aumentar a freqüência e intensidade das contrações e que a criança deverá ser monitorada continuamente ou com mais freqüência.

110 Oferecer analgesia peridural, se disponível, se for indicado o uso de ocitocina.

111 Se a ocitocina for utilizada assegurar que os incrementos na dose não sejam mais frequentes do que a cada 30 minutos. Aumentar a dose de ocitocina até haver 4-5 contrações em 10 minutos.

112 Realizar exame vaginal 4 horas após o início da ocitocina: - se a dilatação cervical aumentou menos que 2 cm após 4 horas, uma revisão obstétrica adicional deve ser realizada para avaliar a necessidade de cesariana; - Se a dilatação cervical aumentou 2 cm ou mais após 4 horas, continuar observação do progresso do parto.
 
6.5 Assistência no segundo período do parto Ambiente de assistência, posições e imersão em água

113 Deve-se desencorajar a mulher a ficar em posição supina, decúbito dorsal horizontal, ou posição semi-supina no segundo período do trabalho de parto. A mulher deve ser incentivada a adotar qualquer outra posição que ela achar mais confortável incluindo as posições de cócoras, lateral ou quatro apoios

114 Informar às mulheres que há insuficiência de evidências de alta qualidade, tanto para apoiar como para desencorajar o parto na água.
 
Puxos e manobra de Kristeller

115 Deve-se apoiar a realização de puxos espontâneos no segundo período do trabalho de parto em mulheres sem analgesia, evitando os puxos dirigidos.

116 Caso o puxo espontâneo seja ineficaz ou se solicitado pela mulher, deve-se oferecer outras estratégias para auxiliar o nascimento, tais como suporte, mudança de posição, esvaziamento da bexiga e encorajamento.

117 Em mulheres com analgesia regional, após a confirmação da dilatação cervical completa, o puxo deve ser adiado por pelo menos 1 hora ou mais, se a mulher o desejar, exceto se a mulher quiser realizar o puxo ou a cabeça do bebê estiver visível. Após 1 hora a mulher deve ser incentivada ativamente para realizar o puxo durante as contrações.

118 A manobra de Kristeller não deve ser realizada no segundo período do trabalho de parto.
 
Definição e duração do segundo período do trabalho de parto

119 Para fins destas Diretrizes, o segundo período do parto deverá ser definido como: •fase inicial ou passiva: dilatação total do colo sem sensação de puxo involuntário ou parturiente com analgesia e a cabeça do feto ainda relativamente alta na pelve; •fase ativa: dilatação total do colo, cabeça do bebê visível, contrações de expulsão ou esforço materno ativo após a confirmação da dilatação completa do colo do útero, na ausência das contrações de expulsão.

120 Se a dilatação completa do colo uterino for confirmada em uma mulher sem analgesia regional e não for identificado puxo, uma nova avaliação mais aprofundada deverá ser realizada em 1 hora para identificação da fase do segundo período.

121 A distribuição dos limites de tempo encontrados nos estudos para a duração normal da fase ativa do segundo período do trabalho parto é a seguinte: • primíparas: cerca de 0,5–2,5 horas sem peridural e 1–3 horas com peridural. • multíparas: até 1 hora sem peridural e 2 horas com peridural.

122 Para a conduta na falha de progresso do segundo período deve-se considerar a paridade, da seguinte maneira: • Nulíparas: - na maioria das mulheres o parto deve ocorrer no prazo de 3 horas após o início da fase ativa do segundo período; - a confirmação de falha de progresso no segundo período deve ser feita quando este durar mais de 2 horas e a mulher deve ser encaminhada, ou assistência adicional solicitada, a médico treinado na realização de parto vaginal operatório, se o nascimento não for iminente. • Multíparas: - na maioria das mulheres o parto deve ocorrer no prazo de 2 horas após o início da fase ativa do segundo período; - A confirmação de falha de progresso no segundo período deve ser feita quando este durar mais de 1 hora e a mulher deve ser encaminhada, ou assistência adicional solicitada, a médico treinado na realização de parto vaginal operatório, se o nascimento não for iminente.
 
Falha de progresso no segundo período do parto

123 Se houver prolongamento do segundo período do trabalho de parto, ou se a mulher estiver excessivamente estressada, promover medidas de apoio e encorajamento e avaliar a necessidade de analgesia/anestesia.

124 Se as contrações forem inadequadas no início do segundo período, considerar o uso de ocitocina e realização de analgesia regional.

125 Para as nulíparas, suspeitar de prolongamento se o progresso (em termos de rotação ou descida da apresentação) não for adequado após 1 hora de segundo período ativo. Realizar amniotomia se as membranas estiverem intactas.

126 Para as multíparas, suspeitar de prolongamento se o progresso (em termos de rotação ou descida da apresentação) não for adequado após 30 minutos de segundo estágio ativo. Realizar amniotomia se as membranas estiverem intactas.

127 Um médico obstetra deve avaliar a mulher com prolongamento confirmado do segundo período do parto antes do uso de ocitocina.

128 Após a avaliação obstétrica inicial, manter a revisão a cada 15-30 minutos.

129 Considerar o uso de parto instrumental (vácuo-extrator ou fórceps) se não houver segurança quanto ao bem estar fetal ou prolongamento do segundo período.

130 Reconhecer que, em algumas ocasiões, a necessidade de ajuda por parte da mulher no segundo estágio pode ser uma indicação para o parto vaginal assistido quando o apoio falhar.

131 A escolha do instrumento para o parto instrumental dependerá das circunstâncias clínicas e da experiência do profissional.

132 Por ser um procedimento operatório, uma anestesia efetiva deve ser oferecida para a realização de um parto vaginal instrumental. 133 Se a mulher recusar anestesia ou a mesma não estiver disponível, realizar um bloqueio de pudendo combinado com anestesia local do períneo durante o parto instrumental.

134 Mesmo se houver preocupação com o bem-estar fetal, uma anestesia efetiva pode ser realizada mas, se o tempo não permitir, realizar um bloqueio de pudendo combinado com anestesia local do períneo durante o parto instrumental.

135 Orientar a mulher e realizar uma cesariana se o parto vaginal não for possível. Cuidados com o períneo

136 Não se recomenda a massagem perineal durante o segundo período do parto.

137 Considerar aplicação de compressas mornas no períneo no segundo período do parto.

138 Não se recomenda a aplicação de spray de lidocaína para reduzir a dor perineal no segundo período do parto.

139 Tanto a técnica de ‘mãos sobre’ (proteger o períneo e flexionar a cabeça fetal) quanto a técnica de ‘mãos prontas’ (com as mãos sem tocar o períneo e a cabeça fetal, mas preparadas para tal) podem ser utilizadas para facilitar o parto espontâneo.

140 Se a técnica de ‘mãos sobre’ for utilizada, controlar a deflexão da cabeça e orientar à mulher para não empurrar nesse momento.

141 Não realizar episiotomia de rotina durante o parto vaginal espontâneo.

142 Se uma episiotomia for realizada, a sua indicação deve ser justificada, recomendando-se a médio-lateral originando na fúrcula vaginal e direcionada para o lado direito, com um ângulo do eixo vertical entre 45 e 60 graus.

143 Assegurar analgesia efetiva antes da realização de uma episiotomia.
 
6.6 Assistência no terceiro período do parto

144 Reconhecer que o período imediatamente após o nascimento é um período bastante sensível, quando a mulher e seus acompanhantes vão finalmente conhecer a criança. Assegurar que a assistência e qualquer intervenção que for realizada levem em consideração esse momento, no sentido de minimizar a separação entre mãe e filho.

145 Para efeito destas Diretrizes, utilizar as seguintes definições: O terceiro período do parto é o momento desde o nascimento da criança até a expulsão da placenta e membranas. • A conduta ativa no terceiro período envolve um conjunto de intervenções com os seguintes componentes: - uso rotineiro de substâncias uterotônicas; - clampeamento e secção precoce do cordão umbilical; e - tração controlada do cordão após sinais de separação placentária. • A conduta fisiológica no terceiro período do parto envolve um conjunto de cuidados que inclui os seguintes componentes: - sem uso rotineiro de uterotônicos; - clampemento do cordão após parar a pulsação; - expulsão da placenta por esforço materno.

146 Considerar terceiro período prolongado após decorridos 30 minutos. Seguir recomendações 164-172 no caso de placenta retida.

147 Manter observação rigorosa da mulher, com as seguintes avaliações: - condição física geral, através da coloração de pele e mucosas, respiração e sensação de bem-estar; - perda sanguínea

148 Se houver hemorragia, retenção placentária, colapso materno ou qualquer outra preocupação quanto ao bem-estar da mulher: - solicitar assistência de médico obstetra para assumir o caso, se este não for o profissional assistente no momento; - instalar acesso venoso calibroso e informar a puérpera sobre a situação e os procedimentos previstos; - se o parto ocorreu em domicilio ou unidade de parto extra ou peri-hospitalar, a puérpera deve ser transferida imediatamente para uma maternidade baseada em hospital.

149 Explicar à mulher, antes do parto, as opções de conduta no terceiro período, com os riscos e benefícios de cada uma.

150 Explicar à mulher que a conduta ativa: - encurta o terceiro período em comparação com a conduta fisiológica; - está associado a náusea e vômitos em cerca de 100 mulheres em 1.000; - está associado com um risco aproximado de 13 mulheres em 1.000 de uma hemorragia de mais de 1 litro; e - está associada com um risco aproximado de 14 em 1.000 de uma transfusão de sangue.

151 Explicar à mulher que a conduta fisiológica: - está associada a náusea e vômitos em cerca de 50 mulheres em 1.000; - está associada com um risco aproximado de 29 mulheres em 1.000 de uma hemorragia de mais de 1 litro; e - está associada com um risco aproximado de 40 mulheres em 1.000 de uma transfusão de sangue.

152 A conduta ativa é recomendada na assistência ao terceiro período do parto pois está associado com menor risco de hemorragia e transfusão sanguínea.

153 Se uma mulher com baixo risco de hemorragia pós-parto solicitar conduta expectante, apoiá-la em sua escolha.

154 Para a conduta ativa, administrar 10 UI de ocitocina intramuscular após o desprendimento da criança, antes do clampeamento e corte do cordão. A ocitocina é preferível, pois está associada com menos efeitos colaterais do que a ocitocina associada à ergometrina.

155 Após a administração de ocitocina, pinçar e seccionar o cordão. • Não realizar a secção do cordão antes de 1 minuto após o nascimento, a menos que haja necessidade de manobras de ressuscitação neonatal. • Pinçar o cordão antes de 5 minutos após o nascimento para realizar a tração controlada do cordão como parte da conduta ativa. • Se uma mulher solicitar o clampeamento e secção do cordão após 5 minutos, apoiá-la em sua escolha.

156 Após a secção do cordão realizar tração controlada do mesmo.

157 A tração controlada do cordão, como parte da conduta ativa, só deve ser realizada após administração de ocitocina e sinais de separação da placenta.

158 Documentar o momento do clampeamento do cordão tanto na conduta ativa quanto na conduta expectante.

159 Mudar da conduta expectante para a conduta ativa se ocorrer: - hemorragia; - a placenta não dequitou 1 hora após o parto.

160 Oferecer a conduta ativa, quando a mulher prefere encurtar o terceiro estágio do trabalho de parto.

161 Não usar injeção de ocitocina na veia umbilical rotineiramente.

162 As mulheres que apresentarem fatores de risco para hemorragia pós-parto devem ser orientadas a ter o parto em uma maternidade baseada em hospital, onde existem mais opções de tratamentos emergenciais;

163 Se uma mulher apresentar fatores de risco para hemorragia pós-parto, isso deve ser registrado no seu prontuário e cartão de pré-natal, para que um plano de assistência no terceiro período do parto seja realizado. Retenção placentária

164 Explicar para a mulher o que está acontecendo e quais serão os procedimentos necessários 165 Providenciar um acesso venoso calibroso.

166 Não usar Ocitocina IV adicional de rotina para desprendimento da placenta.

167 Usar Ocitocina IV adicional de rotina para desprendimento da placenta, se houver hemorragia.

168 Realizar exame vaginal minucioso. Oferecer analgesia para este procedimento e providenciar, se a mulher demandar.

169 Providenciar transferência antes da exploração uterina, se o parto ocorreu em uma modalidade extra-hospitalar.

170 Não realizar remoção manual ou cirúrgica sem analgesia adequada.

6.7 Cuidados maternos imediatamente após o parto
 
Observação e monitoração da mulher imediatamente após o parto

171 Realizar as seguintes observações da mulher logo após o parto: - temperatura, pulso e pressão arterial; - lóquios e contrações uterinas; - examinar a placenta e membranas: avaliar suas condições, estrutura, integridade e vasos umbilicais; - avaliação precoce das condições emocionais da mulher em resposta ao trabalho de parto e parto; - micção bem sucedida. - Transferir a mulher ou solicitar assistência de médico obstetra, se este não for o profissional responsável, se qualquer das seguintes situações forem atingidas, a não ser que os riscos da transferência superem os benefícios: - pulso >120 bpm em 2 ocasiões com 30 minutos de intervalo; - PA sistólica ≥ 160 mmHg OU PA diastólica ≥ 110 mmHg em uma única medida; - PA sistólica ≥ 140 mmHg OU diastólica ≥ 90 mmHg em 2 medidas consecutivas com 30 minutos de intervalo; - proteinúria de fita 2++ ou mais E uma única medida de PA sistólica ≥ 140 mmHg ou diastólica ≥ 90 mmHg; - temperatura de 38°C ou mais em uma única medida OU 37,5°C ou mais em 2 ocasiões consecutivas com 1 hora de intervalo; - bexiga palpável e ausência de micção 6 horas após o parto; - emergência obstétrica – hemorragia pós-parto, convulsão ou colapso materno; - placenta retida ou incompleta; - lacerações perineais de terceiro e quarto graus ou outro trauma perineal complicado.
 
Cuidados com o períneo

172 O trauma perineal ou genital deve ser definido como aquele provocado por episiotomia ou lacerações, da seguinte maneira: • Primeiro grau – lesão apenas da pele e mucosas • Segundo grau – lesão dos músculos perineais sem atingir o esfínciter anal • Terceiro grau – lesão do períneo envolvendo o complexo do esfíncter anal: - 3a – laceração de menos de 50% da espessura do esfíncter anal - 3b – laceração de mais de 50% da espessura do esfíncter anal - 3c – laceração do esfíncter anal interno. • Quarto grau – lesão do períneo envolvendo o complexo do esfíncter anal (esfíncter anal interno e externo) e o epitélio anal.

173 Antes de avaliar o trauma genital: - explicar à mulher o que será realizado e o porquê; - ofereça analgesia adequada; - assegurar boa iluminação; - posicionar a mulher de maneira confortável e com boa exposição das estruturas genitais.

174 Realizar o exame inicial de maneira gentil e sensível. Isto pode ser feito imediatamente após o parto.

175 Se for identificado trauma perineal, uma avaliação sistemática do mesmo deve ser realizada.

176 Na avaliação sistemática do trauma genital: - explicar novamente o que será realizado e porque; - providenciar analgesia local ou regional efetiva; - avaliar visualmente toda a extensão do trauma, incluindo as estruturas envolvidas, o ápice da lesão e o sangramento; - na suspeita de qualquer lesão da musculatura perineal, realizar exame retal para verificar se ocorreu algum dano ao esfíncter anal externo e interno.

177 Assegurar que o momento para essa avaliação sistemática não interfira na relação mãe-filho exceto se houver sangramento que requeira medidas de urgência.

178 Ajudar a mulher a adotar uma posição que permita uma visualização adequada do grau do trauma e para o reparo Manter essa posição apenas pelo tempo necessário para a avaliação sistemática e reparo do períneo. Se não for possível uma avaliação adequada do trauma, a mulher deverá ser assistida por médico obstetra, se esse não for o profissional que assistiu o parto. Se o parto ocorreu fora do hospital, a mesma deverá ser transferida para uma maternidade baseada em hospital.

179 Solicitar avaliação de um profissional mais experiente se houver incerteza quanto à natureza e extensão do trauma Transferir a mulher (com a criança) para uma maternidade baseada em hospital, se o parto ocorreu fora da mesma e se o reparo necessitar de avaliação cirúrgica ou anestésica especializada.

180 Documentar a avaliação sitemática e os seus resultados.

181 Tanto as enfermeiras obstétricas ou obstetrizes, como os médicos obstetras envolvidos na assistência ao parto devem estar adequadamente treinados na avaliação e reparo do trauma genital, certificando-se que essas habilidades sejam mantidas.

182 Aconselhar a mulher que, no caso de trauma de primeiro grau, a ferida deve ser suturada, a fim de melhorar a cicatrização, a menos que as bordas da pele estejam bem apostas.

183 Aconselhar a mulher que, no caso de um trauma de segundo grau, o músculo deve ser suturado, a fim de melhorar a cicatrização.

184 Durante o reparo perineal: - assegurar analgesia efetiva com a infiltração de até 20 ml de lidocaína 1% ou equivalente ou; - realizar nova dose de anestéscio peridural se a mulher estiver com catéter, ou realizar uma anestesia espinhal.

185 Se a mulher relatar alívio inadequado da dor, a qualquer momento, levar isso em consideração imediatamente e providenciar método mais eficaz de alívio.

186 Não há necessidade de sutura da pele se as suas bordas se apõem após a sutura do músculo, em trauma de segundo grau ou episiotomia.

187 Se houver necessidade de sutura da pele, utilizar uma técnica subcutânea contínua .

188 Realizar a reparação perineal usando uma técnica de sutura contínua para a camada de parede vaginal e músculo.

189 Recomenda-se a utilização de material de sutura sintética absorvível para suturar o períneo.

190 Observar os princípios básicos seguintes ao realizar reparos perineais. - Realize a reparação do trauma perineal utilizando técnicas assépticas. - Verifique os equipamentos e conte as compressas, gazes e agulhas antes e depois do procedimento. - Uma boa iluminação é essencial para identificar as estruturas envolvidas. - O trauma de difícil reparação deve ser reparado por um médico experiente sob anestesia local ou geral. - Inserir um cateter vesical permanente por 24 horas para evitar retenção urinária. - Certifique-se de que um bom alinhamento anatômico da ferida foi alcançado e que se dê atenção aos resultados estéticos. - Realizar exame retal após a conclusão do reparo em casos de trauma de difícil abordagem ou de 3o ou 4o graus, para garantir que o material de sutura não foi acidentalmente inserido através da mucosa retal. - Após a conclusão do reparo, documentar detalhadamente a extensão do trauma, o método de reparação e os materiais usados. - Dar a informação à mulher sobre a extensão do trauma, o alívio da dor, dieta, higiene e a importância dos exercícios do assoalho pélvico.

191 Recomenda-se oferecer supositórios retais de anti-inflamatórios não esteróides rotineiramente após o reparo do trauma perineal de primeiro e de segundo grau, desde que esses medicamentos não sejam contraindicados.
 
6.8 Assistência ao recém-nascido Assistência imediatamente após o parto

192 O atendimento ao recém-nascido consiste na assistência por profissional capacitado, médico (preferencialmente pediatra ou neonatologista) ou profissional de enfermagem (preferencialmente enfermeiro obstétrico/obstetriz ou neonatal), desde o período imediatamente anterior ao parto, até que o RN seja encaminhado ao Alojamento Conjunto com sua mãe, ou à Unidade Neonatal, ou ainda, no caso de nascimento em quarto de pré-parto parto e puerpério (PPP) seja mantido junto à sua mãe, sob supervisão da própria equipe profissional responsável pelo PPP. 1

93 É recomendada a presença de um médico pediatra adequadamente treinado em todos os passos da reanimação neonatal.

194 Em situações onde não é possível a presença de um médico pediatra, é recomendada a presença de um profissional médico ou de enfermagem adequadamente treinado em reanimação neonatal.

195 Os estabelecimentos de saúde que mantenham profissional de enfermagem habilitado em reanimação neonatal no momento do parto, deverá possuir em sua equipe de retaguarda, durante 24 horas, ao menos um médico que tenha realizado treinamento teórico-prático em reanimação neonatal.

196 Realizar o índice de Apgar ao primeiro e quinto minutos de vida, rotineiramente.

197 Coletar sangue de cordão para análise de pH em recém-nascidos com alterações clínicas, tais como respiração irregular e tônus diminuído. Não fazer a coleta de maneira rotineira e universal.

198 Não se recomenda a aspiração orofaringeana e nem nasofaringeana sistemática do recém-nascido saudável.

199 Não se recomenda realizar a passagem sistemática de sonda nasogástrica e nem retal para descartar atresias no recém-nascido saudável.

200 Realizar o clampeamento do cordão umbilical entre 1 a 5 minutos ou de forma fisiológica quando cessar a pulsação, exceto se houver alguma contra indicação em relação ao cordão ou necessidade de reanimação neonatal.

201 A profilaxia da oftalmia neonatal deve ser realizada de rotina nos cuidados com o recém-nascido.

202 O tempo de administração da profilaxia da oftalmia neonatal pode ser ampliado em até 4 horas após o nascimento.

203 Recomenda-se a utilização da pomada de eritromicina a 0,5% e, como alternativa, tetraciclina a 1% para realização da profilaxia da oftalmia neonatal. A utilização de nitrato de prata a 1% deve ser reservado apenas em caso de não se dispor de eritromicina ou tetraciclina.

204 Todos os recém-nascidos devem receber vitamina K para a profilaxia da doença hemorrágica.

205 A vitamina K deve ser administrada por via intramuscular, na dose única de 1 mg, pois este método apresenta a melhor relação de custo-efetividade.

206 Se os pais recusarem a administração intramuscular, deve ser oferecida a administração oral da vitamina K e eles devem ser advertidos que este método deve seguir as recomendações do fabricante e exige múltiplas doses.

207 A dose oral é de 2 mg ao nascimento ou logo após, seguida por uma dose de 2 mg entre o quarto e o sétimo dia.

208 Para recém-nascidos em aleitamento materno exclusivo, em adição às recomendações para todos os neonatos, uma dose de 2 mg via oral deve ser administrada após 4 a 7 semanas, por causa dos níveis variáveis e baixos da vitamina K no leite materno e a inadequada produção endógena.

209 Ao nascimento, avaliar as condições do recém-nascido – especificamente a respiração, frequência cardíaca e tônus – no sentido de determinar se a ressuscitação é necessária de acordo com diretrizes reconhecidas de reanimação neonatal.

210 Todos os profissionais que prestam cuidados diretos no nascimento devem ser treinados em reanimação neonatal de acordo com diretrizes reconhecidas de reanimação neonatal.

211 Em todas os locais de parto: - planejar o cuidado e ter em mente que pode ser necessário chamar por ajuda se o recém-nascido precisar de ressuscitação; - assegurar que existam recursos para ressuscitação e para transferência do recém-nascido para outro local se necessário; - desenvolver fluxogramas de referência de emergência e implementá-los se necessário.

212 Se o recém-nascido necessitar de ressuscitação básica, iniciar com ar ambiente.

213 Minimizar a separação do recém-nascido e sua mãe, levando em consideração as circunstâncias clínicas. 214 Se houver mecônio significativo e o recém-nascido não apresentar respiração, frequência cardíaca e tônus normais o mesmo deve ser assistido segundo diretrizes reconhecidas de reanimação neonatal, incluindo realização precoce de laringoscopia e sucção sob visão direta.

215 Se houver mecônio significativo e a criança estiver saudável, a mesma deve ser observada em uma unidade com acesso imediato a um neonatologista. Essas observações devem ser realizadas com 1 e 2 horas de vida e depois de 2 em 2 horas por 12 horas.

216 Se não houver mecônio significativo, observar o recém-nascido com 1 e 2 horas de vida em todos os locais de parto.

217 Se qualquer um dos seguintes sinais forem observados, com qualquer grau de mecônio, o recém-nascido deve ser avaliado por um neonatologista/pediatra (o recém-nascido e a mãe devem ser transferidos se não estiverem em uma maternidade): - frequência respiratória > 60 ipm; - presença de gemidos; - frequência cardíaca < 100 bpm ou > 160 bpm; - enchimento capilar acima de 3 segundos; - temperatura corporal ≥ 38°C ou 37,5°C em 2 ocasiões com 30 minutos de intervalo; - saturação de oxigênio < 95% (a medida da saturação de oxigênio é opcional após mecônio não significativo); - presença de cianose central confirmada pela Oximetria de pulso se disponível.

218 Explicar os achados para a mulher e informá-la sobre o que procurar e com quem falar se tiver qualquer preocupação.

219 Estimular as mulheres a terem contato pele-a-pele imediato com a criança logo após o nascimento.

220 Cobrir a criança com um campo ou toalha morna para mantê-la aquecida enquanto mantém o contato pele-a-pele.

221 Evitar a separação mãe-filho na primeira hora após o nascimento para procedimentos de rotina tais como, pesar, medir e dar banho, a não ser que os procedimentos sejam solicitados pela mulher ou sejam realmente necessários para os cuidados imediatos do recém-nascido.

222 Estimular o início precoce do aleitamento materno, idealmente na primeira hora de vida.

223 Registrar a circunferência cefálica, temperatura corporal e peso após a primeira hora de vida.

224 Realizar exame físico inicial para detectar qualquer anormalidade física maior e para identificar problemas que possam requerer transferência.

225 Assegurar que qualquer exame, intervenção ou tratamento da criança seja realizado com o consentimento dos pais e também na sua presença ou, se isso não for possível, com o seu conhecimento.

 

13 de dezembro de 2017

Relato de parto da Daniele: parto normal hospitalar em Porto Velho

 

História linda da Daniele que teve seu filho Gabriel de parto hospitalar com doula, em Porto Velho.
Desfrute!




Nunca fui daquelas que sonham com casamento ou maternidade, mas quando conhecemos uma pessoa especial há uma mudança nos conceitos sobre família. Mesmo sem muitas expectativas para o crescimento de nossa família, decidimos então não nos preocuparmos com métodos contraceptivos.

Já tinha feito inúmeros testes de farmácia, inclusive na primeira semana de dezembro de 2016. E no dia 07/12/2016 resolvi fazer um beta só para provar à uma amiga que eu não estava grávida. Ao abrir o exame fiquei em choque! O chão saiu debaixo dos meus pés e senti vários calafrios pelo corpo.

Estou grávida! E agora? Como contar ao marido que ele seria o pai do ano de 2017? Resolvi então comprar algo especial e simbólico para esse momento, comprei um body branco com a oração do Santo do Anjo, embalei para presente e fiz um cartão de boas-vindas do filhote para o papai.



Lágrimas de alegria transbordaram e nossa caminhada começou. Primeiro trimestre se passou, nada de enjoos, apenas o cansaço, normal numa gestação saudável. Sempre fiz atividade física e mantive minha rotina com o personal training Fabrício Souto e decidi complementar com pilates para gestante na Clínica Vitalle sob a supervisão das queridas Maysa e Gisele. E pensando em todos os benefícios que meu corpo teria, complementei com drenagem linfática realizada pela querida Rosa Márcia.

E assim segui com minha rotina de cuidados por toda a gestação. Segundo trimestre chegou e descobrimos o Gabriel: um anjo em nossas vidas! Igual como sonhamos num belo dia de missa ao ouvirmos o sermão sobre o Arcanjo Gabriel. Nos encantamos com seu significado e decidimos que esse filho seria recebido em nossas vidas da mesma forma: como o mensageiro de Deus, um homem de Deus, portador de notícias abençoadas e servo do senhor.

Nome escolhido, faltava decidir sobre o parto. Assistimos “O Renascimento do Parto” e foi suficiente para que eu ficasse em choque na frente da TV. Quanta violência obstétrica, quanto despreparo de muitos profissionais, então ficou claro o motivo de tantas experiências ruins de parto. Conversamos com o obstetra sobre a decisão do parto, esclarecemos muitas dúvidas e medos. Seguimos assim ao longo dos meses, buscando conhecimento, histórias e conversando muito sobre tudo que aprendíamos.

Após muitas histórias e muita leitura, tomei coragem e decidi enfrentar o parto normal. Considerei importante meu filho escolher o momento do seu nascimento e os benefícios do parto normal pra nós dois. Tive 100% de apoio do meu marido e tinha certeza que estaríamos juntos em todo o processo. E assim, seguimos para o último trimestre da gestação. Chegamos no 7º mês, confesso que pensei em desistir, pois ainda estava confusa e cheia de medos, mas o medo de uma cirurgia era muito maior.

Decidimos contratar o serviço de doula para me acompanhar e apoiar nessa caminhada, então chegamos até a Talita e Helena do Grupo Araripe. Meu maior medo era desistir e pedir uma cesárea nas primeiras contrações, no fundo eu não acreditava que era capaz. E na semana 37 percebemos como o tempo passou rápido, principalmente com a chegada dos falsos pródromos e com a saída do tampão mucoso. Nos vimos atrasados com os preparativos para a chegada do Gabriel e pensamos: precisamos agilizar!

Chegamos na semana 38 e eu não queria que ele nascesse ainda, meu obstetra estava viajando e eu fazia questão que o parto fosse com ele. Fiquei a semana inteira de repouso absoluto para garantir que chegaríamos na 39º semana. E finalmente a semana 39 chegou. Estávamos prontos para o encontro mais importante de nossas vidas. Eu tinha certeza que Gabriel nasceria naquela semana. Retornei paras as atividades físicas pensando que isso poderia ajudar no “início do trabalho de parto”. Saiu lua, entrou lua e Gabriel não deu sinais. A frustração chegou, pois eu já sabia que tinha um prazo para parir normal. Ao entrar na semana 40 comecei a ficar ansiosa, o médico já havia conversado conosco e informado que ele só poderia esperar até o início da semana 41. Comecei a pensar o que eu poderia fazer para ajudar, pois já estava convicta de desejava o parto normal.

Não queria cesárea desnecessária, considerando que eu e meu bebê estávamos em ótimo estado de saúde. Conforme os dias iam passando a decepção se instalou e comecei a pensar que não conseguiria. Intensifiquei as atividades físicas (sempre com orientação dos profissionais que me acompanharam) e nada do Gabriel. Comecei a considerar fazer a indução do parto, mas sem muito ânimo pois não tinha planejado ou desejado que fosse assim.

Descobri a indução natural do parto usando técnicas não farmacológicas (acupressão, alimentação, massagens relaxantes e etc) e segui todas as orientações das doulas e dicas recebidas de amigas. Nada ainda. E chegou o domingo, era dia dos pais e eu completava 40 semanas e 6 dias. O dia seguinte era o limite do prazo acordado com o médico. Já estava preparada psicologicamente para decidir entre a indução ou a cesárea.

Em homenagem ao “novo papai”, decidi fazer seu bolo preferido e às 10 horas da manhã, ao me abaixar para olhar o forno, eis que veio a surpresa. Ouvi um “ploc” e em seguida um líquido escorreu pelas minhas pernas: a bolsa estourou. Até que enfim, pensei. Já estava desacreditada que esse momento chegaria, depois de muito engano (por causa dos pródromos e perda do tampão) finalmente a hora chegou.

A família ficou eufórica, mas eu respirei, mantive minha calma e segui meu dia normalmente. Resolvi descansar após o almoço, já considerando que que eu poderia ter uma madrugada bem agitada. Dito e feito: a primeira contração chegou às 17h, leve e suportável. Às 19h resolvi fazer caminhadas no condomínio com a companhia do marido, bebendo muita água e me distraindo sempre que possível. Após 30 minutos de caminhada, a dor apertou e só consegui pensar num banho bem quente.

E assim seguimos ao longo da noite, entre contrações, massagens, técnica de respiração, risadas e amor, muito amor. Ora preferia ficar embaixo do chuveiro, ora abraçava o marido, ora deitava. As contrações estavam tão arrítmicas que não conseguia identificar o quão próximo estávamos de chegar nos 10 cm de dilatação. Às 23h fomos ao consultório do médico Rodrigo Carrapeiro para realização do toque, eu acreditava que estava na fase ativa do trabalho de parto, estava sentindo muita dor. Passei mal à caminho do consultório, vomitei várias vezes, tive calafrios e já tinha me convencido que o final estava próximo. E quando o médico falou que estava apenas com 2 cm de dilatação me desesperei. Pensei: não vou aguentar!




Pedi anestesia (mesmo sabendo que não ganharia) e então me descontrolei. Precisei de muita oração para recuperar o controle da situação. Cheguei no hospital por volta de 01:00 hora e fui direto para a sala de parto normal (meu médico já havia falado com o plantonista) na companhia do meu esposo e das minhas doulas. Só aí que pude ficar mais confortável, então sentei na bola de pilates embaixo do chuveiro e namorei a água quente escorrendo pelo meu corpo. Enquanto isso pedi que enchessem a banheira de hidromassagem e comecei a me concentrar no meu mundo.

Após alguns minutos de massagens, algumas conversas e exercícios para acelerar a dilatação, resolvi entrar na banheira. A água estava perto dos 40º e finalmente a dor se foi. Que alívio! Fiquei ali por horas, me concentrando nos sinais do meu corpo, na minha decisão e no meu filho. Não sei se a reclusão no meu mundo foi tão intensa que me fizeram não mais perceber as contrações ou se de fato a dor tinha ido embora. 

Às 4h da manhã senti a primeira vontade de “empurrar” que era incontrolável, resolvi então sair da banheira e me posicionar para iniciar o expulsivo. Fiquei de pé e apoiada no espaldar fazia força para a posição de cócoras em cada contração que chegava. Já não sentia mais nenhuma dor, apenas meu corpo trabalhando para expulsar Gabriel do meu ventre. Após muitas tentativas, passei por novo toque e descobrimos que Gabriel já estava na metade do caminho. Mais força, mais concentração e mais expectativas. Estava ficando cansada já. Depois de passada 1h do último toque, ainda usando a mesma posição, um novo toque foi feito e veio a surpresa: Gabriel continuava no mesmo lugar. Não tinha descido mais nada. Veio novamente o desespero!!! E agora? Fiquei preocupada com meu filho e comecei a pensar o que eu estaria fazendo errado. 

Concluí que precisava me concentrar e fazer acontecer, afinal de contas eu tinha decidido desta forma. Respirei fundo, me empoderei totalmente do meu corpo, da minha mente, relembrei tudo que havia aprendido ao longo das 41 semanas de gestação e mudei de posição. Decidi que Gabriel deveria nascer logo e escolhi a posição de 4 apoios na bola de pilates para fazer acontecer.

Em cada contração eu controlava a respiração e executava tudo aprendido na fisioterapia com a Camilla Patriota. Assim empurrei Gabriel pro mundo. Imagino que quatro contrações depois da minha decisão, senti meu filho coroar. Que euforia, que alegria. 

Me preparei, respirei fundo e na contração seguinte Gabriel nasceu!! Às 07:50h da manhã do dia 14 de agosto de 2017, com 52 cm e 3.955kg, piscando para o mundo. Que momento único!! Nosso nascimento foi inesquecível: minha versão materna e a chegada do meu bebê. Não tem preço que pague esse momento. Quanto orgulho e alívio meu marido sentiu. Finalmente conhecer nosso filho foi inexplicável.



E quando veio a calmaria pensei: Meu Deus, eu fui capaz de parir. Logo eu! Que orgulho de mim! Não tive lesões no períneo, não passei por nenhum procedimento desnecessário, fui tratada com muito carinho por todos os profissionais que me acompanharam em toda gestação e com toda certeza digo que faria novamente. 

Considero que tive o parto dos sonhos. Aprendi nessa jornada que um bom acompanhamento, com bons profissionais fazem sim diferença na evolução do trabalho de parto, mas se você não tiver determinação, conhecimentos da sua escolha e auto-controle, a chance de você desistir é imensa. Esse com certeza foi até hoje o momento mais feminino de toda minha vida, de uma intensidade que só quem sente é capaz de descrever. Às 9:00 h eu já estava no apartamento com Gabriel em meus braços, vivenciando o amor incondicional que é a maternidade.













 
Daniele é dentista, mãe de primeira viagem do Gabriel, apaixonada por animais e casada com Theo há 5 anos. Gabriel é fruto de uma história de amor que já dura 11 anos e veio para completar nossas vidas.

9 de dezembro de 2017

Relato de parto da Mádala: parto normal hospitalar em Ji-Paraná



Faz 6 anos que pari meu último filho e tem 3 que não amamento mais. Este distanciamento de eventos femininos tão viscerais (parir, amamentar...) me faz, muitas vezes, se afastar de minha essência, já que poucas experiências são tão impactantes para nós mulheres quanto estas. Mas eu consigo trazer à tona todas essas emoções genuínas sempre que recebo presentes como este, no email partoemrondonia@gmail.com. 

O relato de parto da Mádala que trago aqui hoje me lembrou muito o relato do parto normal do meu segundo filho, que está aqui, por conta da gratidão imensa que ela deixou transbordar nas palavras... Agradecer a experiência do parto ao filho que chegou é de uma conexão tão profunda, explicada pela Ciência do Início da Vida, que chega sufoca de emoção! 

Curta esta história linda, recheada de amor e fotos!





Pois bem! Tudo começou em fevereiro de 2016, quando eu e meu então namorido Alex, descobrimos estar grávidos. Eu havia parado de tomar o anticoncepcional por quatro meses, em razão de um nódulo no seio, benigno, mas que me fez pensar em parar com o uso desse hormônio. Contudo, passados esses meses, comecei a ficar com medo de acontecer uma gravidez indesejada , e voltei a tomar o medicamento. O que eu não me atentei, foi para aquele prazo de 30 dias informado na bula dos anticoncepcionais, uma vez que já tomava há mais de cinco anos, pensei que desde o primeiro dia que tomasse a pílula já estaria prevenida. Ledo engano! Rsrs!

E aí, SURPRESA, dores nos seios, menstruação atrasada, teste de farmácia, estamos GRÁVIDOS! Foi um super susto, ainda não éramos casados, a data do casório estava marcada para maio, e além disso, meu emprego era um cargo de confiança, sem qualquer estabilidade. Chorei litros, mas depois foi só alegria, meus pais vibraram, vovó Raimunda (mãe do namorido) ficou radiante...

Primeira ultrassom, com apenas seis semanas, tudo ok! Segunda ultrassom, com 11 semanas, tivemos a triste notícia de que nosso já tão amado bebê não apresentava batimentos cardíacos. Era um aborto retido. Choramos muito. Tive que passar por uma curetagem, processo extremamente doloroso, meu coração ficou em pedaços. E então eu vi nascer em mim um desejo enorme de ser mãe. Perder aquele pequenino ser, me fez enxergar a vida de outra forma.

Eu e namorido nos casamos em maio de 2016, e nos programamos de engravidar novamente logo que eu fosse convocada para assumir o cargo de um concurso que eu havia sido aprovada. Tomei posse em setembro de 2016, e logo em seguida começamos a tentar.

Em meio a esses meses, estávamos passando pelo momento mais difícil de nossas vidas. Minha amada sogra estava lutando contra um câncer severo e raro, descoberto em junho. A perdemos no final de outubro do mesmo ano.

E assim, em meio a toda tristeza pela perda de uma pessoa tão amada, Deus nos presenteou com o sonhado positivo. Após a morte, Ele nos deu VIDA, maior motivo para seguirmos em frente.

Primeira ultrassom tudo ok. Segunda ultrassom, com 13 semanas, aquele medo enorme de acontecer um aborto retido novamente, mas fomos agraciados por fortes batimentos cardíacos. Foi quando descobrimos que teríamos um meninão, nosso Eduardo, carinhosamente apelidado de Dudu.

A partir disso comecei a pensar em que tipo de parto eu teria. Influenciada pelo estilo de alimentação que eu estava seguindo há alguns meses, baseada em menos industrializados e mais comida de verdade, decidi que não haveria melhor escolha para a minha saúde e do Dudu do que o parto natural.

Então passei a me empoderar! Comecei assistindo ao documentário ORenascimento do parto. Fiquei encantada e ainda mais consciente da minha escolha. Por meio desse filme conheci o trabalho da Dra. Melania e passei a acessar seu blog "Estuda Melania, Estuda", por meio do qual ela disponibiliza informações a respeito do parto, todas baseadas em evidências científicas. Foi quando tomei conhecimento de que, principalmente por interesses econômicos, a maioria esmagadora de nossos médicos são cesaristas, razão pela qual são realizadas muitas cesáreas desnecessárias (desnecesáreas) em nosso país.

Me empoderei e fiz o mesmo com o maridão e meus pais, que me apoiaram incondicionalmente.
Alegria enorme foi descobrir que minha ginecologista, a competentíssima Dra. Adélia F. Pompeu, na contramão dos demais profissionais da área, é a favor do parto natural humanizado, tendo, inclusive, uma sala própria para isso no hospital HCR Maternidade, em Ji-Paraná. Nunca me esqueço dela me dizendo, em uma das inúmeras consultas de pré-natal, que: "O parto está na cabeça da mulher".


Outras influências para essa decisão foram: minha mãezinha, que apesar de ter tido cesáreas (assistida por médico cesarista, infelizmente não poderia ter sido diferente), esperou pelo momento que eu e meu irmão quisemos nascer. Minha sogra, que teve os quatro filhos de parto normal.

Minha cunhada Yasmine, que também passou por essa experiência, quando nasceu nosso amado sobrinho Isaac. Minhas avós materna e paterna, que tiveram 14 e 9 filhos, respectivamente, de parto natural. Uma colega de trabalho, Mileide, cujos relatos de parto eu li, e me influenciaram muito. Minha fisioterapeuta e amiga Keila, que também optou pelo parto normal no nascimento das suas princesas. E às inúmeras mamães que redigiram os vários e vários relatos de parto que eu li e reli.

Por volta das 30 semanas de gestação, em razão de uma conversa em família, percebi que apesar de me apoiarem, maridão e meus pais não estariam preparados emocionalmente para o dia do parto, e talvez sucumbissem a uma cesárea se me vissem sofrendo. Foi quando decidi que precisava de uma Doula. Pesquisei na internet, e encontrei o nome da Layne, no site Parto em Rondonia . Entrei em contato e marcamos um encontro. Conversamos bastante, e eu e minha família gostamos muito da Layne, e então fechamos nosso contrato verbal de que ela estaria conosco nos apoiando no dia do parto.



Tive uma gestação muito tranquila. Durante o terceiro trimestre passei a ter varias contrações de treinamento (Braxton Hicks) que me assustavam muito, em razão de ser marinheira de primeira viagem, rsrs, o que fez com que me adiantasse um pouco e tirasse a licença maternidade com 38 semanas de gestação, uma vez que moro em São Francisco do Guaporé, e não queria ter Dudu por aqui, em razão da política do único hospital da cidade, onde não é permitida a entrada de acompanhante com as mulheres que estão parindo, são obrigadas a parir deitadas, e são realizados vários procedimentos desnecessários, como a episiotomia.

Então, com 38 semanas de gestação fui para Ji-Paraná, aguardar na casa dos meus pais a hora do Dudu querer nascer. A ansiedade era meu segundo nome. Então passei a fazer várias coisas que poderiam ajudar a induzir o parto de forma natural. Passei a fazer acupuntura com a Fisio e amiga da família, Juliana Oliveira. Pulava e pulava na bola de pilates. Comidas picantes, chás de canela. E nada do Dudu querer nascer. Rsrs! Poucos sinais, algumas colicazinhas que passavam rapidamente ao tomar um banho morno.

Com 39 semanas ganhei uma despedida de barriga da querida Doula Layne. Que momento maravilhoso proporcionado por ela. Ganhei uma coroa de flores feita por ela, massagem nos pés e na lombar. Rsrs! Me senti uma rainha. Maridão e meus pais participaram desse momento também.



Por fim chegou a data prevista de parto, eu me convenci que Dudu só viria depois das 42 semanas, o que fez com que ficasse menos agoniada. Me concentrei em fazer o plano de parto, onde constei tudo o que gostaria e não gostaria que fosse realizado no momento do parto e após o parto.

Já que Dudu aparentava não nascer tão cedo, meu marido, acompanhado do meu pai, retornou para São Francisco do Guaporé, a fim de olhar nossa casa e dar uma atenção para nossos cachorrinhos.

Ficamos eu e minha mãe em casa. No sábado (05/08) fomos à igreja, depois saímos para jantar com um casal de amigos da família. Tomei um pote enorme de sorvete e passei a madrugada inteira sem dormir, empanzinada, rsrsrs! Minha barriga estava enorme, se eu comesse uma ervilha a impressão é que tinha comido um boi inteiro. Rsrs!

No dia seguinte, 06/08, quando já estava com 40 semanas e 04 dias de gestação, levantei às 06 da manhã para ir ao banheiro urinar e, SURPRESA, ao me limpar percebi que saiu um pouco do tampão mucoso. Na hora fiquei super, hiper, mega, power feliz! Kkkk! Mas, logo em seguida, lembrei de alguns relatos de parto que havia lido, em que as gestantes perderam o tampão mucoso uma a duas semanas antes do parto. Resolvi me aquietar e não alardear nada para a família.

Voltei a deitar. Poucos minutos depois, comecei a sentir uma levíssima cólica, que vinha da lombar para o baixo ventre, eram as famosas contrações. Continuei quietinha, deitada. Pensando assim: Não é hoje, Mádala! Pára de ansiedade!

Quando deu umas 08 horas da manhã, percebi que as cólicas estavam ficando mais intensas, e aí comecei a cronometrar. Elas vinham a cada 15/20 minutos.

Fui para o chuveiro, fiquei debaixo da água morna caindo, e BINGO, as contrações não passaram. “Huum! Acho que realmente estou em trabalho de parto!” Rsrs!

Então me lembrei que havia lido que estimular os mamilos induz o parto naturalmente, uma vez que libera ocitocina. Peguei um gel lubrificante que havia comprado pra fazer massagem perineal, e comecei a passar nos mamilos. E não é que depois de uns cinco minutos as contrações ficaram mais intensas?! Sim! Nesse momento tive certeza, eu estava em trabalho de parto.

Liguei para o maridão super empolgada. Ele disse que já estava retornando com meu pai. Chegariam para o almoço. Em seguida, liguei para a Doula Layne, que prontamente me atendeu, e se dirigiu para a casa dos meus pais, onde eu estava.

Nisso minha mãe já estava super preocupada e querendo me levar ao hospital. Rsrs!

Por volta das 10h da manhã as contrações já estavam mais ritmadas e vindo a cada dez minutos, aproximadamente. A cada ida ao banheiro, saia mais um pouco do tampão mucoso. A única posição que me ajudava era de joelhos em cima de um colchonete apoiando os braços e tronco num banquinho à minha frente. A cada contração a Layne massageava minha lombar e fazia uma compressa morna com bolsa térmica, que me ajudavam muito.

Enquanto isso, minha mãe se controlava para me passar tranqüilidade, e se ocupava fazendo o almoço.

Ligamos para a minha ginecologista, Dra. Adélia, que me orientou ficar em casa mais um tempo, e só me dirigir ao hospital quando as contrações estivessem de 01 em 01 minuto, aproximadamente.

Liguei novamente para o maridão que ainda estava na estrada, tranqüilo e calmo, pensando ser um alarme falso. Kkkk!

Pai e marido chegaram por volta de meio dia, quando eu já estava urrando de dor. Sim, eu fui uma parturiente ESCANDALOSA! Sempre achei que sentiria as dores como uma lady, mas GRITEI feito uma condenada. Kkkkk!

Maridão ficou super preocupado e achou que devíamos seguir para o hospital. Eu concordei, pois a dor estava muito intensa. Entrei no carro do jeito que estava em casa. Por falar nisso, que terror é estar em trabalho de parto dentro de um carro. Foram 15 minutos de casa até o hospital, mas pareceu uma hora.



Enquanto isso meus pais se organizavam com as coisas que precisávamos levar para o hospital, minha mala, a mala do bebê, etc. E o almoço da minha mãe virou uma janta. Rsrs! Naquele domingo nenhum de nós almoçou.

Chegamos no hospital por volta de 12h45min. O médico plantonista fez o toque. OITO centímetros de dilatação! Estávamos quase lá!

A dor era realmente intensa, já não havia mais posição que aliviasse. Eu abraçava a Layne e urrava a cada contração. Coitados dos ouvidos da Layne. Rsrs!

Era um misto de sentimentos. DOR, ALEGRIA por já estar com quase toda dilatação necessária, MEDO de não aguentar a fase do expulsivo.

No elevador, subindo para a sala de parto, comecei a chorar e a murmurar. Pedia à Deus mais força, e que me guiasse para a aquilo que o meu corpo é naturalmente pronto. Lembrei das minhas antepassadas e todas aquelas que foram minhas inspirações para chegar até ali...

Chegando na sala de parto, as enfermeiras encheram a banheira, onde fiquei por cerca de uma hora. Maridão ficou na banheira comigo, segurava minhas mãos, massageava minhas costas, o companheirão que sempre foi.



Dra. Adélia chegou por volta das 13h30min. Fez o toque, DEZ centímetros de dilatação. Já estava na fase do expulsivo, eu sentia vontade de fazer força. A bolsa ainda não tinha estourado. Auscultaram o coração do nosso Dudu, tudo ótimo. Layne quis que eu bebesse um suco de laranja, dei um gole, mas nada descia, nem água.

Chegou um momento que não estava mais me sentindo bem na banheira, eu não encontrava uma posição confortável. E água morna estava fazendo com que as contrações diminuíssem. Sai da banheira. Foi quando não tinha mais posição confortável mesmo. A menos pior foi num banquinho próprio para parir. Ele parece um vaso e nas laterais tem alças para segurar enquanto se faz força.

Dra. Adélia fez mais um toque e disse: ele está quase aqui!

Enquanto isso, em meio à dor e meus gritos, eu ouvia tocar minha seleção de músicas para o parto. “Bem vindo meu novo ser, cercado de proteção, de tanto amor, tanta paz, dentro do meu coração. É como se eu tivesse esperado toda vida pra te embalar...”.


A sensação era de que minhas costas estavam abrindo, especialmente a lombar. Eu estava cansada e fazendo a força de forma errada. A Layne e as enfermeiras me orientavam para fazer força de cocô, falavam que eu estava fazendo a força com o pescoço. A bolsa ainda não havia estourado. Eu ouvia a minha volta que o bebê poderia nascer empelicado. Também ouvi meu pai dizer que a bolsa era de couro, rsrs, não consegui rir disso na hora. Rsrs.

Maridão, pai e mãe se revezavam atrás de mim, dando apoio para as costas. Layne o tempo todo ao lado segurando minha mão esquerda.



Chegou um momento que achei que não conseguiria mais. Minhas pernas tremiam, e se me oferecessem uma cesárea eu aceitaria sem pensar duas vezes. Rsrs! Com certeza eu já estava na famosa partolândia, não tinha mais consciência de quem estava atrás de mim dando apoio nas costas, e já não ouvia mais nada ao meu redor. Foi quando vi Dra. Adélia forrando um pano verde no chão, de frente a mim, e o pediatra, Dr. Freddy, sentando num banquinho ao lado. Dra. Adélia disse: FORÇA! Ele está aqui. Fiz mais três forças, senti o círculo de fogo, ele coroou ainda dentro da bolsa, e às 15h27min, do dia 06/08/2017, recebi Dudu nos braços, com 52 cm e 3,710kg.



"MEU FILHO", eu gritei!

Esperaram parar de bater o cordão umbilical e, ainda no meu colo, minha mãe o cortou. Rapidamente o pesaram e mediram. Apgar DEZ/DEZ. Enquanto isso, senti vontade de fazer mais uma forcinha, e pari a placenta. Senti amor por aquele órgão, afinal foi ele que alimentou meu bebê durante toda a gestação.



Levantei extremamente trêmula e fraca, e fui para uma maca, onde a Dra. Adélia deu uns pontinhos na pequena laceração que tive. Layne ao meu lado, ainda segurando minha mão.

Logo me entregaram Dudu no colo novamente, onde ele iniciou uma mamada despretenciosa, meio sem jeito, mas muito importante. Seguimos para um quarto, onde ficamos durante 48 horas sob observação, somente em razão das regras do hospital.



Eu estava cansada, mas falava feito uma maritaca, kkkk, e fiz questão de dar a notícia para todos os familiares com vários telefonemas. Dudu nasceu!!! Dudu nasceu!!! Parto natural!!!

Seria hipocrisia dizer que parir sem anestesia não dói. Mas dar à luz um filho de forma natural, fisiológica, sem qualquer intervenção, é uma força tão transformadora que equivale a nascer de novo. Parir é divino. É sagrado!

Para parir é preciso ter fé. Fé em Deus, em nós mesmas, na natureza, no nosso corpo, no próprio bebê (porque ele sabe nascer) e no que acreditamos.

GRATIDÃO!

À Deus, que nos permitiu conceber o Eduardo, nos guiando no caminho de um parto natural e saudável.

Ao Dudu, meu filho amado, que nasceu no tempo dele, e me fez renascer.

Ao maridão, que me apoiou nessa decisão e se empoderou comigo. Te amo ainda mais por ter aceito participar desse momento tão sagrado de nossas vidas.

Aos meus pais, minhas bases, por sempre me apoiarem incondicionalmente. Amo vocês de uma forma imensurável.

À Doula Layne, pelo profissionalismo, força e amabilidade transmitidos, antes, durante e após o parto.

À Dra. Adélia, por ser uma profissional competentíssima, e por proporcionar às mamães que acompanha a oportunidade de terem seus filhos da forma mais natural possível.

Ao Dr. Freddy, pediatra que estava de plantão no dia do nascimento do Dudu, o qual foi muito atencioso, respeitando os termos do meu plano de parto.

Às enfermeiras presentes durante o trabalho de parto.

Enfim, agradeço a todos que direta ou indiretamente influenciaram para que eu vivesse esse momento divino, espetacular e SURREAL na vida de uma mulher.









Mádala Vieira tem 29 anos e é servidora pública do Tribunal de Justiça de Rondônia. E esse é o Dudu! Contato: madalavieira@hotmail.com

4 de novembro de 2017

Relato de parto da Daieny: parto normal hospitalar em Porto Velho com doula



Eu sou a Daieny Bisinella e sempre tive um grande desejo de ser mãe, desde a infância. Quero ser a melhor mãe possível e isso inclui o parto também. Meu relato é grande! Mas a empreitada também foi... e tudo valeu a pena! ❤️❤️

Quando descobri que estava grávida fiquei atônita. Não acreditei que havia chegado o momento que sempre esperei, o momento tão sonhado. Sabia que dali pra frente começaria a grande aventura de ser mãe.

Passado o primeiro impacto, fui à obstetra para dar início ao pré-natal. Desde essa primeira consulta, meu marido, Bruno, sempre esteve junto. Na segunda consulta, comecei o assunto sobre meu desejo de ter parto normal, pois na minha cabeça sempre foi natural a ideia de que meu(s) parto(s) seria(m) normal(is).

Bom, prontamente a GO que me acompanhava disse que realizava sim e era super a favor, mas seria normal SE eu estivesse bem até lá e que eu não fizesse terror de cesárea, porque hoje em dia ela era ótima, TÃO boa quanto o normal, ela mesma teve cesárea e voltou a trabalhar após 7 dias!!!!! E isso, na opinião dela, era maravilhoso. Saí de lá com o alerta laranja ligado!

Depois disso, as próximas consultas, foram, no mínimo, negligentes, ao ponto de eu ter ficado sem consulta do quarto mês e recorrer à maternidade municipal para não ficar sem o acompanhamento adequado. Nesse período, eu já havia me informado melhor sobre gestação e parto.


No começo, as pessoas me perguntavam se realmente eu tinha coragem para me submeter a um parto normal, e o comentário clichê se repetia abundantemente: "Nossa! Como você é corajosa!". Confesso que esses pouco me abalavam, porque eu tinha muito mais medo de uma cirurgia do que da dor que todos falavam do parto normal.

Mas comecei alucinadamente a me informar e ler e pesquisar sobre parto. Uma grande amiga serviu de inspiração, pois além de me incentivar, me dar dicas sobre a importância do empoderamento da mulher, teve um parto normal humanizado após uma cesárea. Então busquei! O começo foi assistir os documentários "O Renascimento do Parto" e "Violência Obstétrica".


O primeiro me mostrou como um parto poderia ser lindo e o segundo o como poderia ser horrível. Meu marido assistiu comigo os dois, sempre achei que deveria envolvê-lo, pois com ele ao meu lado tudo seria mais fácil e, afinal, foi pra isso que nos casamos, para ficarmos unidos, principalmente nos grandes momentos.

Participamos de rodas de conversa e orientação sobre parto, conhecemos e conversamos com doulas e descobrimos o parto domiciliar, o qual criou raízes no meu coração, pois enxerguei nele a forma mais adequada de uma mulher parir e a maneira de fugir dos profissionais desumanizados do sistema.

Foi aí que decidi mudar de GO. O meu marido mesmo falava que a que eu estava ia me induzir a uma "desnecesárea". Então fomos para o segundo GO, o qual era referência em parto normal na cidade, mas confesso que, desde a primeira consulta, coisas me deram sinais de que ele não era tudo isso que falavam, mas era o que conhecia de melhor.

Comecei nessa época, por volta de 27 semanas, a fazer fisioterapia obstétrica, com a Camila Patriota Ferreira: uma maravilha! Foi de várias maneiras importante para a construção do meu empoderamento.

O tempo passava e eu me informava e aprendia cada vez mais e aumentava a minha confiança em mim mesma. Foi quando, com cerca de 32 semanas, veio a notícia de que eu não poderia parir em casa, pois, por motivos alheios a minha gestação, a empresa que realiza o parto em casa não poderia me atender. No começo tive medo. Sabia o que acontecia a muitas mulheres nos hospitais. Mas então aceitei essa mudança como parte da história da minha gestação e do meu processo de nascer como mãe, e passei a tomar as providências que eu podia para assegurar que minha filha viesse ao mundo da melhor maneira.

No sétimo mês de gestação mudei novamente de GO, por indicação. Foi ótimo, me senti mais segura. Por fim, resolvi procurar também um pediatra que fosse humanizado para acompanhar o parto.
Do oitavo mês em diante, eu já estava me sentindo completamente confiante com relação a parir. Sabia, no meu íntimo, que pariria minha filha em qualquer lugar e com qualquer profissional que fosse acompanhando. Eu tinha o poder de parir e isso não dependia de mais ninguém. Eu gostaria que tudo fosse o mais harmônico e suave possível, mas eu tinha plena convicção da minha capacidade, entendi, então, o que era o famoso "empoderamento da mulher".

Com 38 semanas e tudo ótimo, sabia que dali em diante qualquer hora poderia ser a hora, porém sempre me esforcei para controlar a ansiedade. E chegou a DPP, 24/06 e nada. Fiquei com receio, mas ainda restavam duas semanas para esperar. Quando cheguei a 41 semanas, meu receio aumentou ainda mais, pois não queria me submeter a uma cirurgia, além de ter muita vontade de viver a experiência de parir e sentir trazer minha filha ao mundo. Entretanto, também me esforçava para me preparar psicologicamente para uma possível real indicação de cesárea ou indução.

Eis que após duas semanas de pródromos, muitos alarmes falsos e muita expectativa, às 2hs da madrugada do dia 03/07/17, começo a sentir contrações. Esperei pra ver se elas cederiam e após algum tempo avisei as doulas. Eu duvidava, mas a Talita Silveira Santana, doula, parece que sentiu que a hora havia chegado, e mesmo eu dizendo pra aguardar para termos certeza, ela se pôs a caminho da minha casa e quando eu avisei que achava que ela deveria vir mesmo, ela já estava na minha porta.

Na primeira hora de contrações eu ainda duvidava de que fosse trabalho de parto, tinha receio de que elas passassem. Mas quando percebi que era de verdade, me alegrei e senti muita gratidão, tinha muita confiança que dali em diante tudo daria certo. O Bruno logo colocou as malas no carro e deixou tudo certo para nossa saída para o hospital e depois de algum tempo foi dormir para poder ficar bem durante o dia.

Foi a madrugada mais maravilhosa da minha vida, tudo muito natural, tranquilo. Passei quase todo o tempo sentada na bola, fazendo os movimentos para relaxar entre uma contratação e outra e os exercícios pra TP que aprendi na fisioterapia. A Talita esquentava uma bolsa de sementes e fazia compressas na minha lombar e pelve, e durante cada contração eu vocalizava e relaxava meu corpo, para que ele pudesse trazer minha filha a esse mundo. Conscientemente eu vivia cada contração com amor e alegria desse trabalho de parto tão desejado. Por volta de 5:30h resolvi comer algo, pois queria ficar preparada para um possível TP demorado, então pensei que seria melhor manter minhas energias carregadas.

Por volta de 6:30h o Bruno acordou. Eu estava na sala, apoiada no sofá, tirando cochilos entre uma contração e outra, por conselho da Talita (e eu cochilei mesmo!) Esperai até 7h para ligar e avisar a família que a Maria Clara estava a caminho. Depois disso, após a insistência da Talita, fui para o chuveiro quente com a bola (eu enxergava na água quente a minha maior cartada contra as dores das contrações, e como sentia pouca dor, resistia a ir para o chuveiro pois achava que ainda ia piorar muito. Mas a Talita conseguiu me convencer quando me lembrou que a água quente apressava a dilatação).

Daí em diante, logo entrei na partolândia e foi lindo. O Bruno veio ficar comigo, Talita apagou a luz, colocou um aromatizador, acendeu uma vela e nos deixou a sós. Conversávamos como dois amigos, dois namorados, e foi nosso último momento de casal antes da nossa filha. A minha impressão é de que já havia se passado muito tempo, as contrações começaram a ficar mais intensas e mais próximas.

Avisamos o GO, que disse que em breve iria a nossa casa para me avaliar. Porém, depois de pouco tempo, a Talita avisou que não havia mais tempo pra esperar, já que as contrações estavam muito próximas e que deveríamos ir até o GO logo. Eu resisti a sair do chuveiro. Estava imersa naquele momento, mas cedi e avisei, enquanto me vestia, que se eles não queriam que ela nascesse em casa, eles deveriam se apressar. Senti que minha filha estava chegando.

Entramos no carro e fomos para o hospital, vocalizei em cada contração e me agarrava ao ombro do Bruno, ele era tudo que eu queria, tudo que eu procurava naquela hora. Quando chegamos, da entrada até o consultório do GO tive duas contrações na recepção e já estava sangrando. Após a avaliação, o GO informa que eu estou com dilatação total e que, de agora em diante, deveria mudar meu padrão de respiração para fazer força.

Lembrei da fisioterapia e de como fazer a força no expulsivo. Cheguei no quarto e assim que vi a escadinha de subir na maca, instintivamente me agarrei a ela e fiquei em 4 apoios, ninguém me tirava mais dali. Bruno correu no carro para buscar a bola e o tapete de EVA, o qual foi colocado sob meus joelhos. Mandei que apagassem a luz. Daí em diante eu não vi mais nada, só Bruno do meu lado esquerdo, cuja mão eu segurei quase o tempo todo, e a Talita, que estava do outro lado e me encorajava quando eu pedia e socorro.

Após algumas contrações senti que precisava mudar de posição para que minha filha pudesse sair, então estiquei a parte de baixo das pernas e na próxima contração senti o círculo de fogo, logo após o que a cabeça da Maria Clara saiu, juntamente com um braço, na mesma posição que sempre esteve durante a gestação.

A contração passou... eu respirei... esperei... e logo veio mais uma contração e com a pouca força que eu fiz, ela nasceu! Chorou imediatamente, um choro lindo. Bruno a pegou, eu me sentei e encostei na parede e pedi minha filha. Ela veio pro meu colo, olhei-a sem acreditar. Choramos juntos, eu e Bruno, sem palavras pra expressar.



Tudo foi ótimo. Nem ela, nem eu, passamos por qualquer procedimento desnecessário: não houve corte prematuro do cordão umbilical, não foi aplicado nitrato de prata, não houve episiotomia e, ao final de tudo, períneo íntegro. Em todos os momentos ela ficou comigo ou com o pai, onde deveria ficar.

Nisso, minha noção de tempo estava completamente alterada mas, descobri depois, que chegamos ao hospital às 9:15h e a Maria Clara nasceu às 10:10h. Tudo foi muito rápido. Todos os profissionais que estiveram envolvidos foram muito respeitosos e humanizados. Me senti absolutamente dona do meu corpo e feliz por conseguir que minha filha chegasse a esse mundo com amor e respeito, no tempo dela, do jeito dela. Agradeço a Deus por essa oportunidade, ao meu marido e companheiro, Bruno, ao nosso obstetra, ao nosso pediatra e à doula querida, Talita.

Amei meu parto e foi a coisa mais forte e mais intensa que eu já vivi em minha vida, trouxe um amor que eu só imaginava que existisse.




19 de outubro de 2017

Relato de parto da Vanessa: parto na água em Ji-Paraná




Meu sonho de ter um parto natural estava engavetado desde a minha primeira gestação, onde meu desejo de parir não foi suficiente para vencer o sistema e acabei numa cesariana de indicação duvidosa após a ruptura espontânea da bolsa, com 37 semanas e 5 dias de gestação. Porém, a maternidade tem um poder curador e, quando me entreguei a ela, aos poucos, a frustração pela via de nascimento foi perdendo lugar para as inúmeras delícias de criar e amar um filho.

Quando nosso primogênito, Levi, estava com 1 ano e 7 meses, descobrimos que uma nova vida estava por vir. Foi uma grande surpresa, mas eu não imaginava que o “positivo” traria outras surpresas.

Tivemos algumas complicações de início. Sofri um atropelamento, tive descolamento do saco gestacional e sofri com os resultados de alguns laudos precipitados de ultrassonografias. Tinha muito medo de perder minha filha ou de ter um parto prematuro. Quando estava com 29 semanas fui convidada a participar de um grupo virtual de apoio ao parto humanizado e lá descobri que poderia sonhar de novo com um parto natural, mesmo após uma cesárea. Através desse grupo cheguei ao blog “Parto em Rondônia” e os relatos de parto que encontrei me encorajaram a lutar pelo vbac (do inglês 'Vaginal Birth After Cesarean' parto normal após cesárea).

Conversei com meu esposo, Anderson, que passou a sonhar junto comigo e concordamos que se tudo corresse bem na gestação, iríamos receber nossa filha da forma mais natural possível. Li tudo o que podia sobre o assunto, busquei apoio nas redes sociais, encontramos pessoas maravilhosas para nos ajudar. Minha xará Vanessa Rolim nos emprestou o filme “O Renascimentodo Parto”, que teve um grande impacto sobre nós.

Toda essa preparação foi dissipando os medos relacionados à gestação e eu passei a finalmente curtir o momento. Conhecemos nossa doula, Jeiéli Laís Borges, que passou a nos auxiliar em nossa jornada. Com 33 semanas de gestação, dei o grande passo: mudar de obstetra, pois sabia que essa era uma decisão essencial. Já na primeira consulta com a Dra. Adélia Pompeu ficou claro que a cesariana anterior não seria um impedimento. Algumas semanas depois, derrubados os medos levantados pelas ultrassonografias anteriores, confirmamos que estava tudo muito bem com a gestação e que o parto natural seria totalmente possível.

Comecei a fazer pilates com a linda Cristiely Oliveira Ecairo, que hoje se tornou uma amiga querida. Passei a fazer caminhadas com meu filho mais velho e segui normalmente a rotina de casa e trabalho. Eu e meu esposo continuamos nos preparando e fizemos nosso Plano de Parto.

No dia 16/07/2015 completamos 40 semanas e eu comemorei 31 anos de vida. Nervos à flor da pele, lágrimas escorrendo à toa e milhares de perguntas sobre “quando ela iria nascer”. A ansiedade das pessoas ao meu redor se tornou a minha ansiedade. Foi aí que minha doula teve uma ideia brilhante: a despedida da barriga. Marcamos para ela vir no sábado seguinte e aquilo me deu um novo ar e uma tranquilizada. Aproveitei para escrever uma carta de despedida para a barriga, avisando à minha pequena que já estava tudo pronto e que ela podia vir. “O amor está tão perto mas só no tempo certo vai chegar” (Música Escolhi te esperar – Marcela Taís).

Dra. Adélia havia feito o exame de toque pela primeira vez na consulta de 40 semanas e mencionou sua expectativa de que nossa princesa poderia chegar no final de semana seguinte. Deixamos uma consulta marcada para segunda-feira, dia 20/07, para reavaliar um pouco antes das 41 semanas.

Na sexta-feira, dia 17, meu tampão começou a sair, o que não quer dizer muita coisa mas já é suficiente para liberar uma boa dose de adrenalina. As contrações não ritmadas, que já vinham aumentando de duração e intensidade nos últimos dias, passaram a ser mais frequentes. Às vezes vinham a cada 20 minutos, no entanto, não se tornavam regulares. Nessa noite resolvi ir tomar um banho de piscina para dar uma acalmada e ficamos ali por algum tempo, eu, minha filha e Deus, entre as músicas da trilha do nosso parto, mergulhos, orações e contrações. O céu parecia estar muito perto.

Mais tarde, embaixo do chuveiro, comecei a ouvir uma canção que dizia “Ela é forte, só não sabia” (Menina não vá desanimar – Marcela Taís) e comecei a chorar pensando no quanto aquilo era verdade a meu respeito. O meu corpo não era defeituoso, mas perfeito e forte o suficiente para trazer uma nova vida ao mundo.

O sábado chegou e o clima na casa já tinha mudado, definitivamente. Anderson tinha marcado com a filha para que ela nascesse na segunda-feira, para que ele pudesse aproveitar melhor os dias de licença-paternidade. Fomos ao supermercado pela manhã e as contrações vinham mais fortes enquanto fazíamos compras. Depois do almoço elas deram uma acalmada e dormi bastante.

No final da tarde, quando a campainha tocou anunciando a chegada da Doula Jeiéli, senti uma contração forte e intensa. Enquanto ouvia mais uma vez nossa trilha sonora, sentindo aquele aroma gostoso de canela no ambiente, recebi escalda pés, massagem e dei boas risadas. Depois disso foi o momento de desenhar nossa bebê na barriga, tirar fotos e encher a bola de pilates, que seria minha companheira inseparável nas próximas horas.

Meu coração se tranquilizou quando a Jeiéli disse que já tinha vindo da sua cidade preparada para ficar em Ji-Paraná e que pretendia permanecer até segunda-feira. Nos despedimos e fui dormir. As contrações fizeram uma graça e sumiram no domingo, retornando só no final da tarde.

Tentei dormir na noite de domingo mas quem mandava em mim nessa hora eram as contrações. Minha filha avisava que estava mais perto e eu procurava ser forte para lhe dar as boas vindas. Às 02:00 da manhã desisti de lutar para ficar deitada e resolvi ir para o chuveiro. Coloquei música e fiquei lá o tempo que pude. Depois, voltei para o quarto e tentei dormir novamente mas sentir contrações deitada é a coisa mais insuportável desse mundo. Nessa hora até parei de monitorar o intervalo entre as contrações no aplicativo do celular. Enviei uma mensagem para a Jeiéli avisando da evolução, mas ela estava dormindo e não visualizou.

Como não dava mais para ficar sozinha, acordei o marido e lá foi ele me ajudar a passar a bola de pilates pelo box minúsculo do banheiro. Esse foi o meu momento de refrigério: ficar no chuveiro em cima da bola. Quis chamar a doula mas ele pediu para esperarmos amanhecer, o que me deixou um tanto quanto brava na hora. Resiliente, me contentei em tentar dormir em cima da bola de pilates, com o tronco apoiado na cama. Deu certo e tirei alguns cochilos entre as contrações.

Quando vi que eram 5:00 da manhã, só não gritei de alegria porque não tinha forças. O marido ligou para a doula e saiu para buscá-la. Quando a Jeiéli chegou eu estava jogada na cama, me sentindo destruída. O aroma de canela no ambiente e as mãos abençoadas da doula massageando minhas costas trouxeram um novo fôlego. Consegui dormir de verdade por algum tempo. O renovo chegou. Levantei animada e fomos tomar café.

Jeiéli foi preparar o famoso chá da Naoli (Naoli Vinaver, parteira) e eu tentei comer alguma coisa enquanto observava meu filho brincando e meu esposo todo sorridente, como se soubesse de algo que eu não sabia. Depois do parto, descobri que ele e a doula vinham conversando no carro e ela havia dito que achava que nossa menina nasceria até o dia seguinte. Ele, por sua vez, tinha certeza que sua filha seria obediente e nasceria naquela segunda-feira, conforme combinado.

A manhã seguiu com chá, massagem e casa perfumada por canela e alegria. As contrações apertaram novamente e lá fomos nós – eu e a doula – para uma nova sessão de massagem e pressão na lombar. Dessa vez a massagem parecia não ter efeito, o chuveiro parecia não funcionar e senti vontade de ir ao banheiro. Voltando ao quarto, vi uma poça de água no chão. Líquido transparente e grumoso. A bolsa rompeu! Arrumei um jeito para não ficar alagando tudo por onde passasse, pois já sabia que aquela água parece não ter fim, e segui o meu dia.

Eram 12:00 e esperei a fome chegar para almoçar, pois sabia que precisava me alimentar para encarar o que estava por vir. Almocei em cima da bola de pilates, para driblar as contrações e ganhei um novo massagista: meu filho.

Por volta das 14:00, Anderson ligou para a Dra. Adélia para informar em detalhes o ocorrido. A essa altura eu já estava tão conectada com Deus e com meu corpo que nem lembrei do episódio da primeira gestação e não tive medo de uma nova cesariana. As palavras da obstetra vieram confirmar meu sentimento de que tudo daria certo: “não precisam ter pressa, se tudo continuar como está, deixem para vir ao consultório mais tarde”. O consultório e a maternidade ficavam a 400 metros do nosso apartamento.

Nesse instante as contrações resolveram brincar de esconder e o processo desacelerou. Subi e desci as escadas do prédio, caminhei pelo estacionamento, recebi a visita da minha irmã mais nova (morrendo de medo de ela se assustar com as caras que eu fazia durante as contrações). Fiz o esposo sair de casa para comprar um guaraná, do qual só conseguir tomar um gole...

No final da tarde checamos as bolsas de maternidade e fomos para a consulta. Nosso filho ficou em casa com a Lola, minha amiga e filha espiritual. Fizemos tudo tão devagar que chegamos lá quase às 19:00, no horário da consulta. As contrações haviam retomado o intervalo de 7 minutos (estavam assim desde a madrugada do domingo). Quando cheguei à sala de espera elas desaceleram de novo. Entrei no consultório sem contrações e a Dra. Adélia me examinou, fez o toque e disse que era hora de internar.

Adrenalina correndo novamente! Recebi algumas orientações da equipe do hospital e continuei conforme meus instintos. Devido o parto humanizado ser algo novo no hospital, a equipe de enfermagem ficou tensa ao receber a cópia do Plano de parto, mesmo já tendo a assinatura prévia da minha obstetra e da pediatra. Plano de parto parece soar como processo aos ouvidos de uma instituição hospitalar mas espero que mude na medida em que as práticas hospitalares forem sendo submetidas à humanização do nascimento.

Já na suíte de parto, nossa trilha sonora começou a tocar “Quando o mundo cai ao meuredor” (André Valadão). A enfermeira conhecia a música e cantarolou junto, parece que a música serviu para quebrar o clima chato do início e nos unificar como equipe.

Uma conhecida nossa estava na recepção do hospital e, ao ver meu esposo dando entrada na minha internação, pediu para ir me ver. Ele sabia que isso estava totalmente fora de cogitação em nosso plano de parto mas ficou sem jeito de dizer não. Quando ele subiu, a conhecida foi atrás e fez aquela cara de horror ao me encontrar. Que dó, que pena, finalizando com a frase: “ih, o primeiro foi cesárea, então esse não vai vir normal, não”. Diante de tal afirmação, apenas sorri, confiante e me senti grata quando ela foi embora.

Ficamos na suíte apenas eu, Anderson e nossa doula. Meu esposo já estava cansado da jornada e tentava se distrair um pouco no celular, o que me fazia querer atirar o aparelho pela janela. Fiquei um tempo na bola de pilates, quando os plantonistas do hospital vieram se apresentar.

O momento não era muito propício e eles logo foram embora. Decidi ir para o chuveiro, mesmo com uma enfermeira dizendo que aquilo poderia atrasar o trabalho de parto e, conforme diziam meus instintos, saí de lá com o trabalho de parto realmente engrenado. As contrações vinham uma atrás da outra, tão próximas que a doula nem quis cronometrar o intervalo.

Passei a pedir pressão no quadril constantemente. Jeiéli já não dava conta de pressionar sozinha e meu esposo começou a ajudá-la. A contração vinha e cada um pressionava de um lado. Agachei ao lado da banheira e me senti menos desconfortável durante as contrações. Ouvi o som dos sapatos da Dra. Adélia e me senti um pouco temerosa, pois sabia que ia rolar o exame de toque e, se eu pudesse abolir alguma coisa da experiência do parto, certamente o tal toque seria eliminado.

O exame foi feito comigo na banqueta de parto. Essa parte não foi legal. Continuei na banqueta e a Dra. disse que a bebê teria que nascer até meia-noite. Conversando depois, ela me explicou que a frase seria para expressar que, com aquele andamento do TP, se não nascesse até meia-noite é porque tinha algo atrapalhando o parto. Na hora, porém, ouvir o até meia-noite me deixou nervosa por alguns segundos. Eram por volta de 22h. Respirei fundo, relaxei o máximo possível e sorri para mim mesma dizendo em pensamento: sim, ela nascerá até meia-noite.

Dra. Daniele, pediatra do hospital com quem eu havia conversado sobre meu plano de parto dias antes, era a plantonista da noite (Yesss! Deus é perfeito!) e passou no quarto para ver como estava o TP. Ao me ver ali na banqueta, não conseguiu disfarçar a empolgação e soltou um “mas já?”. Dali em diante foi tudo muito rápido. Equipe enchendo a banheira. Eu sentindo os puxos, tentando escolher entre banqueta ou banheira e minha filha querendo muito vir ao mundo. Dra. Adélia perguntou ao Anderson se ele entraria na banheira e já deu a roupa para ele trocar, sem nem dar tempo de ele pensar (sou grata a ela por isso, pois se ele tivesse tempo de pensar, teria desistido).

No plano de parto eu havia decidido que escolheria o lugar e posição de parir durante o TP, da maneira que me sentisse mais confortável, por isso os puxos me pegaram de surpresa e eu até esqueci que o parto na água era o meu sonho acalentado e engavetado. Dra Adélia auxiliou minha memória me convidando a ir para a banheira, que daria tempo de eu entrar lá.

Entramos na água, eu e Anderson. A iluminação da suíte não ajudava muito e me senti incomodada quando tiveram que ascender as luzes. O silêncio também não estava absoluto como eu queria, mas tentei ir ouvindo nossas músicas e me concentrando no momento. Foram dois ou três puxos e, no último, às 23:45, Ana Leticia veio numa força só, ao som de “pra maior festa da vida quem convida é o amor”.









Ela veio virada para mim, saindo da água na minha direção e com o bracinho estendido como que pedindo para eu pegá-la. Minha emoção não me deixou ser tão rápida. Dra Adélia a amparou pelas costas para que ela chegasse na minha perna e daí eu a peguei. Quentinha, com aquele cheiro inesquecível, de olhinhos abertos, serena, sem chorar.

Éramos nós quatro na água: Deus, Ana Leticia, eu e o pai. A equipe assistia do lado de fora. Ninguém tocou nela enquanto estava no meu colo. Dra. Daniele pediu para que eu visse se ela estava respirando. Ficamos ali, com o tempo suspenso, aproveitando o momento. Depois que o cordão parou de pulsar, meu esposo foi pego novamente de surpresa com a pergunta se queria cortá-lo. Entre o medo e o desejo, ele optou por fazê-lo.

Senti um novo puxo e imaginei que era a placenta que nasceria. Com o auxílio da equipe, Anderson e Ana Leticia saíram da água primeiro, em seguida eu saí para a expulsão da placenta. Fui para a mesa para ser examinada. Tive alguma laceração e precisei de pontos. Enquanto isso, minha filha estava no berço ao meu lado, sendo aquecida e vestida com a roupa que escolhi, recebendo os primeiros cuidados com todo o respeito, sob o olhar dos pais, sem intervenções desnecessárias.

De volta ao meu colo, ela mamou como quem já nasce especialista no assunto. A vitamina K foi aplicada gentilmente pela pediatra durante a mamada. Dra. Daniele e a enfermeira Daiane estavam ali para orientar a pega correta. Anderson e Dra. Adélia elogiavam a obediência da Ana Leticia por ter nascido antes da meia-noite.

Após a sutura (sim, essa parte é bastante incômoda mas a equipe ajudou muito a suavizar o processo), fui ao banheiro tomar um banho rápido. Daiane estava ali me encorajando e pronta a dar apoio caso eu pedisse. Jeiéli seguia nos observando e dando o suporte necessário. De banho tomado e vestida com minha própria roupa, senti uma fome do tamanho do mundo inteiro e pedi um lanche.

Fomos para o nosso quarto e optei pelo suporte da cadeira de rodas no trajeto, pois estava cansada da longa maratona. Nos despedimos da nossa doula e ficamos ali na atividade que Ana Leticia mais gosta até hoje: mamar.

Há dois anos essa princesa alegre, bagunceira e cheia de personalidade chegou na nossa família e meu coração transborda de amor, de gratidão a Deus, ao meu esposo e a todos que fizeram parte desse momento. No dia 20/07/2015, às 23:45, Ana Leticia nasceu e eu renasci como mulher e como mãe.


por Vanessa, esposa do Anderson, mãe do Levi, da Ana Leticia e esperando a Liz. 





2 de outubro de 2017

Projeto Doulas Voluntárias em Ji-Paraná





Radiante com a notícia que recebi - em primeiríssima mão - de que o hospital público de Ji-Paraná agora conta com projeto de doulas voluntárias, abro espaço para que a idealizadora do projeto, Doula Layne, nos conte como tem sido a experiência.

O Doulas Voluntárias é uma sementinha que lancei com muito amor em 2014, em Cacoal, e já tenho dados frutos em outras cidades do país!

O serviço voluntário é legítimo, amparado por lei e costuma ser excelente ferramenta de melhorias. Em se tratando do trabalho de doulas, ainda pouco comum no brasil, o serviço voluntário ganha aspectos positivos com relação à mutualidade, ou seja, benefícios para ambas as partes. Ganha a doula com experiência e vivências únicas relacionadas à realidade obstétrica do local e ganha a unidade de saúde e, mais ainda, as usuárias do serviço de saúde por poderem dispor de um serviço da mais alta qualidade e com resultados comprovadamente positivos.

Vamos ouvir a idealizadora do projeto em Ji-Paraná:



"Desde quando conheci o trabalho das Doulas, em 2015, me capacitei e mergulhei profundamente nesse universo do parto e nascimento, logo tive a oportunidade de acompanhar alguns partos em hospitais particulares de Ji-paraná, e comecei a perceber o quanto faltava (e ainda falta) levar informações sobre parto e apresentar o trabalho das doulas para nossa cidade.

Foi quando eu encontrei no blog Parto em Rondônia, uma matéria Doulas Voluntárias, desenvolvido pela doula de Cacoal Cariny Cielo, que com grande generosidade disponibilizou para que outras profissionais de outras cidades pudessem utilizar.

Então iniciei as adaptações para trazer o projeto para Ji-Paraná. A ideia ficou pausada por quase um ano, até que iniciei um estágio do meu curso de Psicologia nas UBS (unidade básica de saúde).

Levando informações importantes para as gestantes, como o trabalho das doulas, técnicas utilizadas para o alivio da dor do parto, vínculos afetivos desenvolvidos durante a amamentação entre outros.

Foi aí que despertou ainda mais o desejo de estar ao lado dessas mulheres na hora do nascimento dos seu filhos e ter a oportunidade de demostrar na pratica o trabalho da Doula no parto e pós parto, apresentar não somente para as gestantes, mais toda a equipe multidisciplinar da maternidade do Hospital Municipal de Ji-paraná.

Depois de algumas poucas alterações no projeto anterior, surgiu o "Projeto ReNascer": Doulas voluntárias de Ji-Paraná.

Entrei em contato com o enfermeiro Rafael Pappa, chefe da maternidade do HM que, com gentileza, recebeu o projeto e apresentou a direção do hospital, o qual aprovou, para que eu e outras Doulas, cadastradas no projeto possam atuar na maternidade.

Estou atuando duas vezes na semana na sala de pré-parto, ajudando as mulheres que desejam o acompanhamento da Doulas. Proporcionando um apoio continuo emocional e físico durante o parto, para seja o mais tranquilo possível, em um momento que é tão importante para uma família.



Levar um atendimento de respeito a essas mulheres com um toque de carinho, massagem, um olhar de tranquilidade e no final de cada parto essas mulheres segurar seu filho e logo te olhar com gratidão não tem preço, me emociono a cada parto e nascimento.

Quero aqui agradecer à Cariny Cielo que idealizou o projeto e o disponibilizou para que outras Doulas possam ajudar outras mulheres também, ao enfermeiro Rafael Pappa e toda a equipe da maternidade do Hospital Municipal de Ji-paraná que me recebeu com tanto carinho."


Gostou da novidade?
Você é Ji-Paraná e fez parte do projeto? Conta pra nós como foi!

Elaine Regina é Doula em Ji-Paraná, Educadora perinatal eAcadêmica do curso de Psicologia da UNIJIPA. Contato: <laineregina250543@gmail.com>


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