17 de agosto de 2012

Amamentação: Por quê eu sou ativista?


por Cariny Cielo

Fui convidada a participar da Blogagem Coletiva proposta pelo blog Desabafo de Mãe em comemoração à Semana Mundial de Aleitamento Materno e pensei: Por quê alguém que não ganha absolutamente nada com algo, se dedicaria a promover este algo? Sim, pois, que eu sabia, eu não recebo uma nota de cem reais para cada peito de mãe que um bebê abocanha.

Aliás, seria imensamente mais vantajoso ser ativista da indústria de leite artificial! Eu exigiria alguns % em cada venda de leite de vaca enlatadinho e, nos dias de hoje, de fato, eu ficaria rica, pois se vende MUITO leite artificial. Eu viajaria pelo Brasil, ganharia subornos (OPS!) presentes maravilhosos, férias em resorts e iria a magníficos congressos na Europa... um luxo só.

Mas então, o que raios eu tenho na cabeça para querer tanto promover a amamentação numa era onde o que importa é o dinheiro? O filho não é meu e a mãe, muitas vezes, eu nem conheço.

Foi respondendo esta pergunta que eu me dei conta de quê espaço eu quero ocupar!

Quero chegar até a família que deseja profundamente que o bebê recém chegado mame, mas encontra dificuldades já que vive num tempo contrário ao natural. Num mundo onde, nos dizeres de Sonia Hirsch , a “saúde é subversiva porque não dá lucro a ninguém”. Numa era que dá, a todo instante, mensagens de incentivo ao consumo, ao lucro, à competição, ao espetáculo e pouco ou nada promove ao que é fisiológico, natural, verdadeiro e de qualidade.

Não me importam as mães e suas escolhas em não amamentar. (Em que pese eu entender que aleitamento materno seja questão de saúde pública – mas isto é assunto para outro post).


Mas me importa, e muito, a mãe que quer amamentar, e não tem apoio nenhum. É por ela, tudo isso! Eu já fui uma delas e, cheia de olheiras e mamilos esfolados, olhei prum lado, olhei pro outro e... nada de ajuda! Banco de Leite? Privilégio da Capital: Porto Velho, e só!

Lembro do ódio que eu tinha dos cartazes nos postos de saúde quando eu ia vacinar meu filho. “Como ela consegue e ainda faz essa cara de Diva?”. Eu segui cambaleando até acertar e, ao final, o Emiliano mamou feliz até mais de um ano, mas eu poderia ter desistido naquela noite em que se somou meu esgotamento, a dificuldade de pega dele e toda uma coletiva de imprensa me dizendo que o bebê era muito magrelinho.

A mulher que quer amamentar o filho encontra, hoje, uma verdadeira campanha contra! (E pra quem vai dizer que, ‘Imagine! Que exagero! O Ministério da Saúde promove a amamentação escrevendo isso em todas as embalagens de leite e mamadeira e fazendo belas campanhas com atrizes famosas, eu digo: “aham!”).

- Em cada farmácia e supermercado existem gôndolas de mamadeiras desenhadinhas, além de latas e latas de leite, de todos os tipos, com uma informação nutricional de dá inveja!;
- Em todo consultório tem um médico receitando o leitinho enlatado ‘caso o leite da mãezinha seja fraco’;
- Em toda família tem vovós que adorariam dar mamadeira pro netinho e, assim, se sentirem cuidando também da cria;
- Em toda cama de casal tem um marido que se sente ‘perdendo’ os peitos da mulher pro filho.
- Em todo muro tem uma vizinha dizendo que seu filho tá magro ou chora de fome;
- E, em toda mulher moderna, existe, em algum grau, uma sensação de inadequação com os processos naturais e fisiológicos femininos fruto do modelo masculino e racional em que se organizou a sociedade. Carregamos uma anti-mulher dentro de nós que diz que não vamos conseguir, que aleitar dá trabalho demais, que é dedicação demais, que é feio demais, que vai nos espoliar, nos estragar o corpo, nos privar da vida social, nos prejudicar o casamento e, finalmente, que o que é comprado é melhor, mais bonito e limpinho.

O desafio é: como convencer alguém mergulhada num universo de consumo que, durante seis meses (!), ela não precisará comprar nada, absolutamente nada para alimentar um filho? A resposta está no ativismo! Dividindo as dificuldades, espalhando as estórias reais de mulheres reais, propondo ajustes, envolvendo a família, apresentando uma nova forma de encarar as dificuldades e um jeito novo de fazer velhas coisas.

É para essas mães que eu dou uma de exagerada ativista e saio por aí ajudando mesmo, gastando do bolso, emprestando vídeos, livros, textos etc, visitando em casa, sugerindo alternativas, trocando experiências, gritando a toda voz...

É pela delícia de ver uma igual dar um passo em direção ao feminino através do aleitamento natural que eu tô aqui, sendo ativista da amamentação! Promovendo o bendito vínculo!

É por ela, é por mim, é por nós: mulheres...


Extra: O que é Ativismo?

7 comentários:

  1. Lindo, lindo, lindo!!!!
    Cariny que bela engrossada que você deu neste caldo do ativismo...Adorei! Mas fiquei com uma pulga enorme na orelha. Eu concordo que as campanhas do Ministério da Saúde precisam ser melhoradas e até pretendo tocar neste assunto no meu post, mas ao lê-la fiquei com a sensação de que você pensa coisas sobre isso e acho que essa roda pode ser uma boa oportunidade para dialogarmos isso. então a pergunta que lhe trago nesta roda é: quais ações considera importante para apoiar as mães que só podem ser feitas pelo Ministério da Saúde?

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    1. Eu estou estudando especialmente isto e só para não deixar meu 'caldo' esfriar, passo aqui para dizer que uma coisa que vejo essencial, especial, importante, decisiva: visitas na casa da mãe puérpera por agentes de saúde especialistas em amamentação! Mas, tem mais!!!

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  2. São muitas as batalhas que uma mãe tem que vencer até conseguir amamentar o seu filho em paz e quando isso acontece, chegam as críticas e os questionamentos alheios. "Até quando vai dar de mamar?", "esse menino está sugando o seu sangue". Foram comentários desse tipo que me aborreciam, mas eu não me deixei levar pela maré contrária. Parabéns, Cariny!!

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    1. Que bom que vc 'seguiu adiante'; sorte sua e do bebê! Eu ouvi muito quando amamentei grávida...

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  3. Uma ação do Ministério da Saúde que faria muita diferença na vida da puérpera é a instalação de bancos de leite em todos os municípios com mais de 50 mil habitantes, por exemplo. Em Rondônia, por exemplo, só tem banco de leite em Porto Velho.

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  4. também acho interessante ressaltar o papel de vilão das CHUPETAS...que são lindas, todo tipo de cor e modelo, parece inofensiva, mas é muito prejudicial a amamentação, primeiro porque o bebê deixa de fazer a sucção não nutritiva no seio da mãe, o que aumenta a produção de leite. Segundo porque o bebê confunde os bicos, e acaba ficando com a pega incorreta no seio da mãe, onde a mãe sofre de dor e desiste de amamentar, raros casos onde isso não acontece... monique carvalho nickinhas14@hotmail.com

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  5. Parabéns pelo texto! Ainda n sou mãe,mas sempre tive certeza que farei o que for preciso para melhor alimentar meu filho! Aleitamento materno exclusivo até o sexto mês É o que HÁ!!! Precisarei desse apoio :)

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