21 de maio de 2011

Maternidade Ativa: Como a flor segue o sol, eu sigo meu ventre...


por Cariny Cielo

Vi este termo num livro (Quando o corpo consente) e achei o máximo. Mãe girassol: "como a flor segue o sol, eu sigo meu ventre". A medicina detesta o imaginário mágico das mãe e disseca os corpos dos bebês. Cataloga, numera, padroniza, pesa, mede, estica e puxa, palpita, define. Tudo para mostrar ingerência no invisível; para mostrar controle, no incontrolável; para racionalizar o instintivo; masculinizar o feminino. A que pretexto? Ah, sim, tranquilizar a mãe, a família, ‘ver se está tudo bem com o bebê’.

Na minha segunda e última ultrassonografia, analisando a placenta, o médico fala, num dado momento: “hum, olha que placenta interessante...” e pára por aí. Segue um silêncio, e mais outro. Eu, atônita, adormecida pelo comentário, sequer consegui tecer palavras. Acabou o exame e eu saí com o ‘interessante’ calado dentro de mim, no oco do coração de grávida. O que teria sido? O que poderia tê-lo deixado tão interessado por minha placenta? Com certeza uma anomalia, pensa minha parte ansiosa.

Os médicos adoram deformidades, calamidades, patologias. Devem amar quando encontram uma inédita... OU, com certeza estava linda e perfeita, pensa minha parte girassol. Os médicos devem ver tantos problemas que quando encontram algo perfeito, até se surpreendem. É foi isto. Sigo confiante na minha barriga, voltada ao meu ventre e não aos olhos do médico. Descobri, nesta terceira gestação, que o concreto não me seduz, não me alivia, não me preenche.

É preciso deixar que a vida corra naturalmente pois vida é assim, natural, livre, solta, não se curva a controles externos. Ocorre que a confiança, hoje, em todo processo do ciclo de vida está tão embotada que faltam gestantes que se entregam verdadeiramente a gestar. Entregam-se, ansiosas e perdidas, aos ditames dos que sabem mais, e sufocam seus instintos, suas emoções.

A maioria não vê a hora de enxergar seu bebê pela tela chuviscada do aparelho e ouvir, de uma terceira pessoa, que tudo está bem. Eu não. Definitivamente não fui feita para as praxes que transformam a gravidez e o parto num evento médico, e não num rito feminino. Eu prefiro enxergar com outros sentidos, com os olhos de mulher selvagem e ouvir, da minha essência e do meu interior, que está tudo caminhando como deve caminhar.

Teu corpo sabe mais, acredite! Teus sentidos, todos eles, estão comungando desta vida que cresce. Não se curvem às estatísticas pois a ansiedade, esta sim, fará mal ao teu bebê. Os pesadelos, estes sim, farão surgir fantasmas físicos em teu corpo.

Quantos inúmeros casos de erros, falhas, exames duvidosos vimos todos os dias. Translucência nucal indicativa de anomalia e, depois de meses de angústias e exames mais invasivos, descobre-se que era tudo um engano. Assunto esquecido! Esquecido nada, seu corpo chorou cada hora de angústia, de dúvida, de ansiedade e ficou com estas marcas. E quantas saem dos exames com atestado de 'está tudo bem' e então o bebê se vai? O que faz acontecer tudo isso? São erros? Não, é que a vida segue seu curso. Não adianta o que fazemos ou deixemos de fazer, ela seguirá seu curso...

Eu costumo dizer que gravidez é coisa de 'gente grande', ou melhor, de mulher grande. Sim, porque apostamos tudo, todas as nossas expectativas, desejos, todas as nossas feridas narcísicas, completamente no escuro. Em nenhum outro evento das nossas vidas estaremos tão de mãos, pés, ventre, entregues aos mistério puro.

Gravidez é isso mesmo. Mistério puro. E quem consegue conviver com o mistério? Quem consegue seguir olhando com os olhos do espírito e saber o que lhe espera? Quem consegue hoje, onde se sabe tudo, se vê tudo, confiar no imaginário? A maioria prefere laudos de ultrassom assinados por um profissional altamente gabaritado.

Eu prefiro a utopia, a entrega, a poesia pois sinto que isso me nutre muito mais do que exames e atestados. Porque eu sei que, no fundo, os atestados, todos eles, não me garantem nada. Mas meu coração sim, minha intuição sim... estes me garantem tudo.

E nutrindo esta confiança em mim, eu estou, aos poucos, me preparando para o momento do parto. Eu costumava achar que o parto era coisa para atletas. Depois, com as duas gestações, comecei a dizer que o parto está na mente. Mas agora, depois de tanta vivência, de tantos insigths, eu digo: o parto está no coração da mulher, mas isto é assunto para outro post.

2 de maio de 2011

Maternidade Ativa: desmame suave: a lua está mudando...


por Cariny Cielo

Filho,

Nascestes e durante meses, tudo que tu precisou foram dos meus seios fartos de leite, do sangue da vida. Após os meses simbióticos, começastes a andar, a comer, a falar... e eu, ainda alheia à tanta transformação, te mantinha ligado em mim, pelo leite. Teu irmão te empurrou mais ainda à independência com seu jeito explosivo e vivaz de ser. E tu foi...

E lá vai o ele. Deixando os peitos e seguindo para a autonomia. Ele se decide e, certo de tudo, vai. Não havia data marcada, dia certo, não marquei na agenda. Apenas deixei que fosse, na confiança de que, assim como foi seu nascimento, o desmame também seria natural, respeitoso e feliz. Um dia ainda ele pediu, aconchegou-se, mas, por alguma misteriosa razão, o mamá não seguiu adiante.

Não está dando muito tempo para que eu me dê conta de que nós estamos nos deixando, não é filho, um ao outro, e que uma nova lua está chegando no meu vínculo contigo Giordano. Talvez porque estamos na sintonia de mais uma vida a caminho, talvez porque eu ainda não tenha te olhado, de dentro pra fora até agora. Logo, tu, que me fez nascer contigo, em sua vinda ao mundo; que cicatrizou as feridas, todas elas; que me empurrou para vencer os medos, todos eles.

Minhas eternas reverências a ti, filho meu. De nobreza singular, você é do refino, do capricho. Quando te vejo, até hoje, dois anos após teu nascimento, lembro das palavras do médico dizendo que você vinha dormindo, sereno e belo. Que espetáculo de alma, tão certo de tudo.

Agora que não é mais do meu leite de que precisas, procurarei mudar minha lua, e oferecer-te o que mais necessitares e o que mais tenho... até o próximo dia mágico, na ciranda da vida...
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