20 de novembro de 2012

Sereias parindo em casa: como assim? Um relato de parto e uma amizade de infância...


por Cariny Cielo

Eu não tinha notícias dela havia muitos e muitos anos.

Mas ela foi uma amiga marcante de infância pela sincronia que tínhamos de ideias. Que ideias? Bom, a gente amava o mar, a natureza, adorávamos ser meninas, gostávamos de livros e de estudar coisas... ah, e queríamos ser sereia ou cientista... o que viesse primeiro. (pode rir...)

Mal sabia eu que, vinte anos depois, descobriríamos que nossa sincronia era, de fato, muito real!

Nossos últimos contatos foram trocas de cartas (sim, era na época das cartas) falando amenidades de meninas de 12 anos. Depois, caímos no esquecimento da vida adulta... Ela em Santa Catarina e eu em Rondônia.

Depois que meu Cassiano chegou por aqui, num parto em casa, por acaso, eu soube que também ela havia recém tido bebê. Fiquei curiosa e consegui o telefone...
A surpresa mais deliciosa do que conversar, adulta, com uma amiga de infância foi saber que, também ela, alguns meses depois de mim, deu à luz em casa, num magnífico parto domiciliar assistido pela equipe Hanami, em Florianópolis, sul do país.

Pois é. Eu em Rondônia e ela em Santa Catarina, separadas pelo tempo e pela distância, sem qualquer contato uma com a outra, vivemos plenamente o mesmo evento espetacular: parimos nosso filho na intimidade do lar, entre nossos sonhos e lençóis...

Fiquei emocionada quando conversei com ela pelo telefone. Talvez porque estávamos, as duas, invadidas pelo hormônio do amor, vivendo o mais feliz dos puerpérios... aquele que decorre de um parto empoderador e digno.

Hoje é aniversário desta mulher guerreira e quem acabou ganhando um presente foi eu! O privilégio de receber o relato de parto e dar publicidade a esta estória linda...

Obrigada amiga pela intimidade compartilhada com a facilidade de quem foi sempre querida, apesar do tempo e da distância!

Uma vida inteira nos separa, mas um evento no une agora e para sempre.

Tenho a honra de publicar aqui o relato do nascimento da Alice. A Larissa traz pra nós suas emoções e impressões...
A chegada dela foi linda, como foi a do Cassiano, a quilômetros de distância. E Alice significa defensora: desejo que ela seja mesmo uma defensora! Defensora desta forma de nascer!

Vamos ao relato:


"Com 13 semanas de gravidez tivemos a confirmação: “é uma menina” e não demorou muito pra escolhermos o nome, será Alice.

A sementinha de um parto domiciliar foi plantada em mim pela minha querida amiga Iara Feyer, mas desabrochou em nosso coração após uma conversa com o meu ginecologista, Dr. Marcos Leite, que nos tranquilizou e tirou todas as dúvidas. Desde então eu e meu marido Emerson amadurecemos a ideia, tiramos todas as dúvidas e preparamos tudo para este momento tão especial em nossas vidas.

Meus outros filhos, Beatriz (12 anos) e Tiago (7 anos), nos auxiliaram a escolher as músicas que ouviríamos no parto. Convidamos as amigas que gostaríamos que estivessem presentes neste momento e então tudo virou uma grande festa.

Quanto o prazo para seu nascimento chegou estava super tranquila, ao contrário das outras gravidezes, curtindo cada mexida que ela dava e confiando que ela é quem iria me dizer o momento exato pra nascer.

No dia 17 de março, já de noite senti muitas contrações de treinamento e fisgadas no colo, uma secreção avermelhada apareceu.

Mais tarde as contrações vinham com uma cólica no pé da barriga, e por serem curtas e fracas decidi que queria dormir o máximo que pudesse. E assim eu fiz, me deitei mesmo com aquela dorzinha chata e não senti mais nada.

Acordei 9 e meia e sem dor alguma, fiquei conversando na cama com o meu marido. Após uma meia hora, as dorzinhas voltaram e começaram a ficar mais fortes e regulares. Tomei um belo café da manhã e liguei para a Renata.

Assim que ela chegou as contrações pararam completamente, não senti mais nada. Ao me examinar constatou que já estava com 5 cm de dilatação e o colo bem macio. Só faltavam então as contrações voltarem pra valer.

Era 18 de março, domingo, um dia lindo de verão, com o céu límpido e com um brilho especial... O forte calor dos últimos dias havia finalmente dado uma trégua. Eu sentia: é hoje o grande dia, minha florzinha finalmente vai nascer.

Lá pelo meio dia as contrações voltaram, e começaram a aumentar a intensidade da dor. Pedi pro meu marido encher a piscina e colocar a água pra esquentar. Minha mãe preparava o almoço e começou então a organização da casa para o parto. A esta altura já havia ligado para a Renata novamente.

Minha amiga do peito e cunhada Denise já não cabia em si de ansiedade e já estava a caminho, junto com meu irmão Giordano.

Colocamos na sala o CD que gravamos pra este momento, e a emoção tomou conta da casa. Meu filho Tiago começou a chorar assim que a primeira música tocou, dizendo que nem acreditava que a maninha estava chegando. E eu, como uma boa gestante, chorei junto, lembrando do carinho com que selecionamos aquelas músicas, a dedicação que tivemos com a preparação do seu enxoval, seu cantinho... e por ver este momento chegar, exatamente do jeito que planejamos.

Quando a Rê chegou eu estava almoçando e a Dene e o Gi já estavam aqui, era 14:20 hrs. Não foi nem preciso me examinar pra ela ver que agora sim era pra valer. Meu marido avisou nossa amiga Juliana, a dinda Bety e a dinda Andréa, que imediatamente vieram presenciar o belo momento. O resto da equipe já estava a caminho.

A Ju ficou tão nervosa que nem se lembrava do endereço da minha casa.

As contrações já eram bem mais fortes e a Rê ensinou a Dene a massagear minha lombar com um óleo essencial de lavanda. Ela assim o fazia, com “aquela delicadeza” só dela. Nossa, como aliviava!

Pedi pra Rê ligar pra Iara e então chorei novamente. Chorei de saudades daquela que estava tão presente em meu coração, responsável por tudo o que estava acontecendo e que tinha tudo haver com aquele momento.

Quando a Rê foi escutar o coraçãozinho da Alice, a dinda Bety não aguentou, começou a chorar. Observei que ela se escondia pra que eu não percebesse, mas falei: “pode chorar cumadre”. E assim ela o fez, até o fim do trabalho de parto.

Minha filha quis presenciar o nascimento da irmã e estava conosco, auxiliando no que fosse preciso.

A casa foi tomada por uma alegria tremenda. Entre uma contração e outra dei boas risadas com o jeito alegre da Andréia, o nervosismo da Dene, o choro da Bety, as brincadeiras do Gi e a sinceridade da Ju.

Minha mãezinha querida estava auxiliando no que fosse preciso e meu marido na empreitada de encher e aquecer a piscina. O Gi ficou encarregado de tirar as fotos e filmar todo o processo.

Eram 16 horas quando a Clariana e a Vânia chegaram com todos os equipamentos para o parto. Pronto, agora não faltava mais ninguém. Neste momento as contrações estavam me partindo ao meio e já não conseguia me distrair. Pedi pra que meu marido temperasse a água da piscina logo, pois sentia que estava se aproximando o momento de conhecer minha filhinha.

Fui ao banheiro antes de entrar na piscina e o sangue lavou minhas pernas. Assustada, chamei a Clara que me tranquilizou e disse que estava tudo certo.

Então entrei na piscina. Agora éramos só nós duas, eu e a Alice, nos sintonizando pro grande momento. Já não via mais nada ao meu redor, todas aquelas pessoas já pareciam não estar mais ali. Ouvia apenas as músicas que tocavam naquele momento.

Meu marido ficou segurando a minha mão e me dando força para trazer ao mundo a nossa Alice. Minha mãe e minha filhota Beatriz ficaram próximas a mim, me acariciando e secando o meu rosto.

A Renata se pôs ao meu lado, o tempo todo, e jamais vou esquecer sua voz tão tranquila e amorosa naquele momento, dizendo “deixa ela nascer”. Lembrava-me do que fazer, como respirar e me tranquilizava. Sua presença naquele momento foi muito importante pra mim.

No intervalo de uma contração comecei a acariciar a barriga, ouvindo a belíssima música da Flávia Wenceslau (Te desejo vida). Neste momento me conectei com a minha cria, desejando a ela toda aquela poesia. E a contração veio com tudo e pensei “é agora”. Percebi que estava em outro mundo, deve ser a Partolândia, ouvia apenas as músicas que tocavam ao fundo.

Em um determinado momento abri os olhos e vi, na escada da minha casa, todas as minhas queridas amigas, sentadas, uma em cada degrau, observando o tão esperado momento. Foi a última coisa que me lembro, como um flash.

As contrações já eram muito intensas e me assustei com a bolsa que acabara de romper. Senti então que minha filhinha já havia coroado e confesso que, naquele momento, rezei pra que ela nascesse rápido. Minhas orações foram atendidas.

Senti a cabecinha dela saindo e, pela primeira vez nos três partos que tive, senti também seu corpinho se virando pra chegar ao mundo. Veio então a última contração, e senti ela escorregar de dentro de mim.

A Rê me entregou minha filhota, enfim ela chegou, da maneira como eu esperei, seguindo todos os planos pra este momento. E a alegria foi geral, todos estavam felizes e comemoravam sua chagada.

A Beatriz foi chamar o Tiago pra conhecer sua maninha e ele já veio chorando pela escada, muito emocionado com a chegada da sua tão sonhada irmãzinha. E neste momento a choradeira foi geral!

E com a minha princesinha nos braços chorei, mas chorei muito, emocionada por estar vivendo este momento tão sonhado, de ver seu rostinho pela primeira vez e vê-la com saúde.

O parto domiciliar foi pra mim muito mais do que esperava, me senti única e dona do meu parto. Sou grata as Hanamigas pelo respeito que tiveram com as minhas escolhas para este momento, por toda atenção dedicada a nossa família. Desejo a todas vocês que continuem acreditando no parto domiciliar, que possam proporcionar esta experiência a muitas mulheres.

Quero deixar aqui registrado um agradecimento especial a Renata por sua amizade, atenção e carinho que teve comigo. Suas palavras tão doces e tranquilas no momento do nascimento da minha florzinha me marcaram profundamente, espero que Deus guie teus passos pra poder auxiliar, cada vez mais, mulheres como nós.

Agradeço também a Clariana pela amizade e segurança que me passou, por sua mão tão “geladinha” no meu barrigão naquele verão tão quente (ai como era bom).

E a Vânia, por sua determinação em tornar possível este momento em nossas vidas, pelas boas risadas que demos aqui em casa nas consultas pré-parto e pela tranquilidade que passou pra minha mãe.

Sou grata também por existir aqui na ilha uma equipe tão maravilhosa, que pode nos proporcionar um parto natural e humanizado, respeitando-nos como mulher, mãe e família.

O parto da Alice foi uma experiência maravilhosa em minha vida e na da minha família e agradeço a Deus por tê-la vivido tão intensamente. Tudo foi perfeito, do jeitinho que imaginei, com todos os detalhes.

Hoje a Alice esta crescendo tranquila e com saúde, e enche a nossa casa de alegria todos os dias"


Ah, e me ajudem a dar os nomes de todo mundo na foto!!!

3 comentários:

  1. Que lindo!!! Quero um assim também...

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  2. Que lindo relato! E eita que mundo pequeno Cariny, não conheço sua amiga mas neste relato tem pessoas muito queridas a mim: Clara, Renata e Iara. Clara é prima do meu marido, Rê é casada com primo dele também e Iara, pessoa que admiro e gosto um tanto. Bjs

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  3. Nossa! Se a gente contar, ninguém acredita Cris. Você que tá aqui do meu ladinho é que identificou pessoas na foto!!!

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