1 de outubro de 2011

Reflexões: Sobre partos e sobre riscos...


por Cariny Cielo

"Ah, você não tem ideia dos riscos que se corre tendo um bebê em casa". É o que se ouve por aí...

A institucionalização da cultura do 'hospital risco-zero' é tão grande que perdeu-se completamente a lógica nas análise. Quantas mulheres ouvem dos médicos, da família, da comunidade que ao se submeter a uma cesárea eletiva ela está assumindo um índice de riscos maior do que ter um parto natural em casa? Nenhuma! Ela caminha orgulhosa, certa de estar fazendo o melhor para si e para seu bebê. Não está!

Estatisticamente, os riscos de uma cesárea eletiva são cinco vezes maiores que o de ter um parto natural em casa. Interessante, não? Todos comentam horrorizados sobre a coragem de se ter um filho em casa! Mas, não se trata de coragem, se trata de bom senso. O parto resultante de uma gravidez de baixo risco será muito mais seguro em casa do que em um ambiente hospitalar.

É preciso coragem, sim, para se submeter a uma cirurgia de alta complexidade por pura comodidade, conveniência... É curioso observar que em todos os outros aspectos do tratamento humano, a opção pela via cirúrgica é sempre em último caso, depois de se tentar todas as outras formas de atuação, ao passo que, para nascer (um evento puramente fisiológico), escolhe-se logo: cirurgia!

Se as mulheres tivessem real conhecimento dos ricos, a cirurgia voltaria a ser ministrada nos índices sugeridos pela Organização Mundial de Saúde, por volta de 10-15%, e não nos assombrosos 67% que tivemos em Rondônia, por exemplo.

A distorção está em acreditar que a cirurgia é o caminho mais seguro! Não é. Talvez seja o mais cômodo para os obstetras que deixaram de ser parteiros para serem cirurgiões. Mas duvido que algum tenha coragem dizer que a cirurgia é o melhor caminho para a mãe e o bebê: se disser, está sendo, no mínimo, anti-ético.
Curioso observar que os riscos de ter bebê em casa são infinitamente menores do que sofrer um acidente de carro, mas, mesmo assim, todo mundo continua viajando e ninguém faz um testamento a cada vez que enfrenta uma rodovia para viajar. Que distorção é esta? Corre-se riscos em tudo, não existe 'risco-zero', como querem fazer crer muitos médicos. A única diferença é que, no hospital, eles estão protegidos pelo espectro: qualquer morte no hospital é fatalidade, 'tinha que ser'; ao passo que qualquer morte em um parto domiciliar será sempre negligência! Uma completa distorção de valores e de análise de riscos.
O hospital como o vemos hoje, acreditem, não é o local mais seguro para uma gestante de baixo risco ter seu bebê. É o local mais seguro para tratar do que fugir do fisiológico, mas o menos adequado para garantir a fluidez do parto. Talvez com o tempo e a melhoria da qualidade no atendimento obstétrico, o hospital passe a ser um local apto a dar assistência ao parto natural e com a garantia de atendimento médico, se necessário.

O que vem destruindo o nascimento nos hospitais é a 'manipulação' que se faz deste. É o atendimento rotineiro, é transformar a exceção em regra.
Mesmo com todas as recomendações do Ministério da Saúde e da Organização Mundial de Saúde e com as evidências científicas, ainda se faz episiotomia de rotina, corte abrupto do cordão umbilical, separação da mãe e bebê após o nascimento, posição deitada para o momento expulsivo do parto, analgesia, isolamento da mãe, enema, tricotomia, jejum, limitação de movimentos, acesso venoso, roupinha de doente, violência verbal, descaso e desamparo da gestante. E, se depois de todo esse 'kit anti-fisiológico', a mulher não conseguir parir (o que acontece na maioria dos casos) dão-lhe a cirurgia como opção salvadora! Foi assim que o Brasil conseguiu se transformar em um fabuloso 'fazedor de cesarianas"...

Em muitos lugares do mundo as mães são assistidas em casa, onde se sentem mais seguras. A propóstio, a Organização Mundial de Saúde recomenda que a gestante seja atendida onde se sente melhor. Pode ser em casa, pode ser em um hospital, pode ser em casas de parto...
Com o devido apoio e respeito a grande maioria das mulheres preferiria parir, a serem operadas. No meu caso. Eu sabia exatamente onde eu estava. Conhecia as hipóteses, as alternativas... estava em terreno seguro.

Se eu corri riscos? Sim, corri riscos.

- Muito menores do que se tivesse escolhido fazer uma cirurgia; e 
- Menores do que sofrer um acidente automobilístico

Então, eu vou continuar buscando atendimento obstétrico para meu parto no local onde me sinto mais segura, particularmente, em minha casa.

Ah, e vou continuar tendo coragem de viajar de carro pelo Brasil afora, a despeito dos terríveis números anuais de mortes e acidentes!

Não, não se trata de coragem...  Estamos falando de fé!

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