5 de abril de 2013

Maternidade Ativa: Filhos... o importante é que eles venham...

Imagem gentilmente cedida, aqui

por CarinyCielo

Existem frases que falamos, repetimos e passamos a diante sem sequer nos darmos conta de seu sentido. Uma destas frases já foi dita a mim por diversas vezes e eu já ouvi sendo dita a outras pessoas inúmeras vezes também. A frase é: “o importante é que venha com saúde”.

Quantas vezes ouvimos ou dissemos isto a alguma gestante? Na manifestação da vontade de se ter menino ou menina na hora de gestar tem residido um interesse que parece mais forte do sentido de TER um filho do que de SER mãe. E, quanto a isto, sempre fui meio rebelde (não sem causa)... pois, em resposta a esta frase clichê, eu rebatia: “Que nada. Sem saúde, você deixaria de amar?”

E mais: O que é saúde? O que é amar um filho? Onde e como você guarda sua fé? Afinal, de uma gestação, o que se espera?

Os desejos do mundo plástico nos fazem sonhar que o bebê venha com os olhos azuis de algum parente, o nariz perfeitinho de outro. Com o menino que falta pra alegrar o pai ou a menina pra mãe brincar de boneca. Com o filho a seguir a profissão de médico ou a filha a herdar as jóias da família.

Mas quais são os desejos do mundo da essência de um ser humano? Quais sãos os desejos profundos insertos na nossa alma, na nossa biologia? Qual a força e o propósito da vida?

Hoje, depois de acreditar já ter sorrido e chorado todos os risos e lágrimas do mundo virtual materno; quando eu imaginava já ter lido tudo que se refere a fé, amor e maternidade... eu conheço a Vitória..

Vitória foi uma menina que, com 12 semanas de vida intrauterina, foi diagnosticada com acrania, uma condição que, em tese, tornaria a vida fora do útero impossível. Os pais encontraram razões bastante íntimas para sustentar a manutenção desta vida, baseados em crenças pessoais da fé cristã. No entanto, não foram exatamente estas bases religiosas e os textos bíblicos transcritos que me chamaram a atenção.

A mim tocaram muito mais as palavras sinceras de uma mãe, escritas em catarse de amor e entrega, sujeita à vida e ao que a vida lhe apresentasse... me tocou o poder que a maternidade tem de invadir nosso ser e nos chamar ao amor, seja ele de que nome for. Cada mulher constrói sua jornada de mergulho em si mesma, de forma única, íntima, sem replay. Cada mulher nomeia a sua fé, mas toda fé caminha para um mesmo objetivo: a vida.

O fato é que Vitória viveu 2 anos e meio e, num vácuo de instante, conhecer esta estória me fez lembrar da frase ‘o importante é que venha com saúde’ e de todos os desdobramentos acerca da fé, do amor, da saúde, da alma, da maternidade e da essência da vida.

Dancei naquela estória e mergulhei em um sentimento genuíno. Foi empatia imediata! Foi como chegar em casa ao final de um dia. Foi ver o amor de mãe em sua forma mais nua e verdadeira, vê-lo em sua essência... aí constatei o porquê do meu sempre dissabor ao ouvir frases como ‘importante é que venha com saúde’ porque, em meu íntimo, sempre senti que, em se tratando de vida, o importante é que venha, e só! E que venha como tem que misteriosamente vir, e que venha nos arrebatando, que nos escancare, nos desfaça as máscaras e nos desvele os véus... nos exponha ao que somos e ao que não somos...

Sem vontades, sem condições, sem tempo e livre da nomenclatura de credos... o amor, como tem que ser: a serviço da vida. Vida, no caso, corajosamente assumida, acreditada e desfrutada em sua plenitude.

Vindo com os olhos azuis do avô ou não. Vindo na forma de mulher ou na forma de homem. Com o tom de pele que for... nada disto importa!

A vida deseja, apenas, vir! Que exista! Que venha... com ou sem o que chamamos de saúde. Com ou sem o que chamamos de perfeição. Com aquilo que os olhos vêem e com tudo o mais que os olhos não vêem.

Que venha o filho, o humano... que venha a alma, que encarne o espírito, fruto do ventre, a cumprir sua jornada mística e, de regalo, arrastando quem tiver por perto para um caminho irreversível: o progredir infinito...
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