25 de julho de 2012

Maternidade ativa: Dia Mundial do Perdão e a cura das feridas.


por Cariny Cielo


Hoje é o dia mundial do perdão e meu pedido de perdão vai para meu filho.



Filho querido, me perdoa?

Você me teve tão despreparada, tão alheia e perdida.

Quanto te ouvi, gritando em desespero, recém-nascido, dei-me conta de que, enfim, você havia mesmo me escolhido. E você foi tão corajoso por isto pois faltava tanto de mãe e de mulher em mim para merecer teu sorriso lindo de criança.

Perdão por não te dar o primeiro abraço assim que nascestes e por deixar te levarem de mim a caminho da solidão fria de um berço...

Perdão por não exigir que te deixassem receber o sangue que ainda vertia de mim pra ti, e que era teu por direito. Cortaram-te de mim, sem rodeios, sem simbologia, sem reverência...

Perdão pela pressa, filho, com que te manusearam, te empurraram, te vestiram, te violaram... pelo ardor do ácido nos olhos, pela angústia das sucções e injeções.

Me desculpa a sala fria e sem vida e aquela luz tão forte que feriram teus olhos que, até então, buscavam a mim, só a mim. E me perdoa por todas aquelas mãos te tocando, quando só o meu toque importava...

Perdão pelas horas eternas em que tu esperou para conhecer meu seio, saciar tua fome, de leite e de vida, enquanto eu ainda procurava os pedaços de mim que haviam se perdido.

Perdão por tudo aquilo que você teria direito e não teve por estar, eu, ainda tão ausente de mim mesma. Por não te ouvir e por não me ouvir...

Me perdoa por eu não ter sido tua no exato instante em que chegastes a este mundo. Por não ter gritado e exigido o respeito que merecias por ser meu filho.

Pelo cheirinho que não senti e o banho que não te dei...

Perdão, depois, pelas noites mal dormidas, em que te neguei comida, ainda tão distante de ti.

Pelo longo escuro da noite e aquele vazio no quarto que eu te fiz sentir. Tão vazia, eu sim, de mim mesma.

Desculpe todos os beijos que não te dei e os abraços que te neguei, quando gritavas por mim.

Quero te lembrar que isso tudo passou e, embora carreguemos nossas marcas, você estava certo em me escolher. Não posso ser mais nada que não sua mãe.

Aquela chaga nunca foi esquecida e foi ela que me impulsionou a sair da frieza e da razão e mergulhar no mar do amor.

E isso, a cada dia, ganha uma dimensão que até então eu não conhecia. Continuo te aprendendo, mas desta vez sou eu uma completa enamorada de ti...

Todo dia é de perdão e eu relembro e me liberto!

Perdoa-me, filho, tu és meu amor eterno.


Imagem: Anne Guedes. Álbum do bebê, arquivo pessoal 

23 de julho de 2012

Marcha do Parto em Casa: O que é que Rondônia tem a ver com isso?



por Cariny Cielo

O Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro editou as Resoluções ns. 265 e 266 no último dia 19. Todo o movimento nacional e internacional de humanização do nascimento está chocado com a arbitrariedade e, em tese, inconstitucionalidade e ilegalidade da norma.

Mas não estou aqui para sair fazendo discurso sobre este assunto, pois, se vc digitar no Google: cremerj + parto + casa + doula, vc consegue um banquete de informação.

Estou aqui para responder a pergunta que você que é de Rondônia pode ter feito, quando começou a ler o meu post: “o que é que eu tenho a ver com isso? Rio de Janeiro? Conselho Regional? Hein?"

Pois bem.

Um dos grandesssíssimos problemas (acabo de inventar esse adjetivo) de quem planeja melhorar qualquer coisa institucionalmente organizada (saúde, educação, política, órgãos públicos) é a falta de união para este fim. Vemos por aí que, muitas vezes, o status quo (quem fez graduação em Direito adora latim) se organiza tão bem que acaba sendo muito mais bem sucedido do que quem quer mudança. Parece que paira no ar um invisível ‘código de irmandade’ em favor de quem, por algum interesse (geralmente bem mesquinho mesmo), prefere manter as coisas como estão!

Um Conselho de Medicina deveria pensar – essa é a lógica na qual acreditamos – que, se faz bem para a mulher e faz bem para o recém-nascido, tem que mudar! Mas, estão tão 'retrogradamente' organizados que sequer cogitam discutir o assunto. Olha o status quo reinando aí...

Querem um exemplo? Meu primeiro filho nasceu há cinco anos e eu, ainda grávida, virei prum médico e disse: “gostaria que na hora do parto esperassem o cordão parar de pulsar para fazer o corte, eu já li, estudei bastante a respeito e... blá blá blá”.

Como responderia um médico aberto a mudanças?
– Interessante! Onde vc leu isso? Como funciona? Vou estudar a respeito.

Ocorre que eu aprendi a duras penas que médicos, em regra – e olha que eu detesto generalizações – não são abertos a mudanças! A medicina tradicional não é aberta a mudanças. Porque? Por que eles querem manter o tal do status quo. E porque eles querem manter? Por que está bom para eles, oras!

Mas, continuando...

Como ele me respondeu?
– HAHAHAHAHAHAHAHA. De onde vc tirou isso?

Só ele achou que era piada! E a ironia que fecha com chave de ouro este meu exemplo é que, quatro anos depois, em março de 2011, a Sociedade Brasileira de Pediatria colocou como REGRA no atendimento neonatal o “clampeamento tardio do cordão”.

Aquilo que eu pedi feito esmola em 2007, virou norma médica em 2011. (Pausa para ficar com ódio!).

Logo, as mudanças só se efetivam com união efetiva dos interessados! Se, na época, eu fizesse parte, como faço hoje, de algo maior (Rehuna, Parto do Princípio) eu não pediria esmola; eu exigiria o melhor! Tolinha, eu era...

Existem médicos em todo o Brasil e mundo que estão a todo instante se questionando para oferecer o melhor para seus pacientes. E isto sim é ser ético!

E, Rondônia tem tudo a ver com isto simplesmente porque, das últimas dez gestantes que vc viu por aí, de 7 a 8 (se for em hospital particular serão 9) vão sofrer cirurgia para o filho nascer, sendo que, em regra, apenas uma vai ter realmente precisado da intervenção. E, pior, muito pior, pior demais (!), todas vão achar que a cesárea é mais segura para ela e para o bebê!!! NÃO É!!! E não precisa ficar duvidando de mim, porque não sou eu que penso isso, ta? Ou melhor, eu penso, também, mas você vai gostar de saber que isto vem da Organização Mundial de Saúde, do Ministério da Saúde, e das evidências científicas...

E você? Quer ciência ou quer conveniência? Será que seu médico sabe o que é medicina baseada em evidências científicas? Ou será que só ele também vai achar que mudar é uma piada?

Sendo você uma gestante morando em Rondônia, o assunto das resoluções do CREMERJ tem tudo a ver contigo: o que tá ruim pode piorar! Não é porque estamos em Rondônia – o Estado número 1 em cesáreas do Brasil, sil, sil – que estamos alienadas, alheias ao que é bom, ao que vem mudando a nível nacional e mundial!

Mesmo que vc não esteja grávida; ou nem queira saber de filhos; ou, ainda, que seja homem... cuidado: Mais dia, menos dia, vc pode precisar que o atendimento obstétrico de Rondônia seja melhor!!!

E, se como diz nosso amado (idolatrado salve, salve) Michel Odent: “para mudar o mundo é preciso mudar a forma de nascer”; então, para mudar Rondônia, é preciso mudar a forma como nossos rondonienses nascem...

Vai dizer que isso não tem nada a ver com você?

...

Agora é aquela hora em que vc me pergunta, empolgadíssimo, ou empolgadíssima:

– “Como eu posso participar?”

Aí vai:

1. Compartilhando este post! Espalha aí e põe lenha na fogueira...

2. Assinando o abaixo-assinado:
http://www.peticaopublica.com.br/PeticaoVer.aspx?pi=265266RJ

3. Denunciando ao Ministério Público Federal:

http://pfdc.pgr.mpf.gov.br/informacao-e-comunicacao/contato/como_encaminhar_denuncia/
“Eu quero manifestação do Ministério Público acerca das resoluções baixadas pelo CREMERJ, pois entendo que são inconstitucionais (contra a Constituição Federal) e ilegais (contra a Lei do Acompanhante) e receio que isto tenha reflexos também em meu Estado.”




QUER SE INTEIRAR MAIS? Leia as resoluções na íntegra!



Fica com medo de clicar não... dá de ler rapidinho:
http://www.cremerj.org.br/legislacao/detalhes.php?id=714&item=1

http://www.cremerj.org.br/legislacao/detalhes.php?id=715&item=1

22 de julho de 2012

Maternidade Ativa: estratégias inteligentes para 'netos irresistíveis'...


por Cariny Cielo

Eu ainda não sei se é mais difícil convencer uma vó de que ela é capaz de ficar com seus três amados netinhos em idades de 0 a 5 anos por um domingo inteiro sem enlouquecer ou aplacar a minha culpa materna... a duas são beeeeeem difíceis. Já falei por aqui sobre isto! Xô culpa e competição!

Mâââs, por achar que mãe também é gente (vc não sabia?!) e que sinto uma imensa paz interior por supor que faço direitinho toda a minha tarefa-de-casa-de-mãe (mentira...) resolvi sair sozinha com o marido por um domingo inteiro com a nossa paixão: a moto!

A estratégia para isso tudo é a seguinte:

1. coloque a roupinha mais fofa do guarda-roupa! Isto é especialmente importante para o rebento mais novo, ainda na categoria "bebê"
2. ..lamordedeus, não os mande para a casa da vovó com unhas não cortadas, cocô na fralda, barriga cheia (eles sempre tem que chegar 'famintos' para os avós se deliciarem com o apetite de leão), pés descalços e sem umas mudas de roupinhas para trocar.

3. Passe bastante hidratante - aquele que você compra e deixa no trocador para passar quando lembra ou quando dá tempo. Explico: a estratégia aqui é deixá-los irresistivelmente cheirosinhos e macios pois (eu inocentemente acredito) num momento de birra, se o vovô sentir o cheirinho ou a fofura da pela, vai relevar qualquer ataque histérico...

4. lugar de passar perfume em criança é no cabelo... a cabecinha deles fica irresistível e os vovôs adoram beijar cabecinhas de netinhos anjinhos.

5. se você achar importante (eu sempre acho, faz bem pro meu ego), fala para eles: 'obedeça o vovô', 'ouça a vovó', 'toma banho sem gritar e na hora que te chamarem', 'não briguem'... e, por favor, o mais importante de tudo na casa de vó 'RASPEM OS PRATOS'... comam tudo que a vovó oferecer, mas tem que ser com o vovô olhando!

6. comenta que eles parecem outras crianças quando ficam na casa da vovó e que sempre falam em casa que a vovó faz coisas deliciosas para o lanche.

7. tire fotos do passeio para mostrar pros rebentos quando chegar... eles adoram saber dos feitos dos pais e é ótima pedida para a estorinha da hora de dormir.

8. feito tudo isso, repita para si mesma, durante todo o passeio: "eu não sou menas main. eu não sou menas main. eu não sou menas main. eu não sou menas main. eu não sou menas main. eu não sou menas main. eu não sou menas main. eu não sou menas main. eu não sou menas main."... (500 vezes, se for preciso)

11 de julho de 2012

Puerpério: bem vindo sangue...sangue bem vindo...


por Cariny Cielo

Lá se foram nove meses do meu cisma! O nascimento, meu e do meu filho, passou como flash, num piscar de olhos. Em termos hormonais - e muitos acreditam, em termos energéticos também - o meu puerpério terminou agora, com a volta dos meus ciclos menstruais.

Menstruei orgulhosa e saudosa nove meses depois do parto e dezoito meses depois da vida se aninhar no meu útero! Orgulhosa por receber novamente os banhos de renovação que as fases dão só a nós, mulheres. E saudosa por, enfim, despedir-me daquilo que foi a verdadeira libertação da minha fêmea.

Deixo pra trás meus dias de puérpera, de corpo dedicado unicamente à cria, de simbiose profunda com o universo encantado do filho recém chegado... os dias de altos e baixos emocionais, de vazio estrógeno, de noites truncadas e apetite variante... deixo uma sombra: a que enfrentei com coragem para nascer e renascer como mãe, novamente.

Recebo o cio, a enxurrada de hormônios, o viço de mulher fêmea e não mais de mulher mãe. Que venha a beleza tão lindamente projetada pela natureza, finamente desenhada pela divina força... aquela que gera, que cria! A dona do mundo. O ciclo chega assim, dizendo-me: sejas tu, mulher, fêmea! E eu sigo, criadora e criatura...

Aquilo que ouvi a vida toda que era feio, sujo, fétido... que era para esconder, disfarçar, lamentar: meu sangue! Meus sinais, minhas fases. Presa que eu era num calabouço masculino, minha única saída era lembrar, todos os meses, que havia uma mulher ali dentro... sedenta de vida! Uma "mulher brava", diria Clarissa Pinkola.

E talvez por isso eu sempre gostei de menstruar... da cor, do cheiro, das ondas de sensações que vinham com a ovulação. Não me incomodava, não me doía, não me limitava... eu não queria esconder ou mentir... era algo muito, muito simbólico para mim. Eu ainda não sabia o que o futuro me reservava mas já sentia que esse sangue era sagrado.

Essa semana precisei responder uma pergunta bem simples sobre o nascimento do meu filho caçula: "o que mais te marcou no parto?" Que difícil dizer! No entanto, de tudo que me vinha a mente, uma coisa havia em comum: as sensações corpóreas, de maneira geral, me marcaram muito. Ver, tocar, conhecer a minha placenta. Ver, tocar, sentir o cordão umbilical. O barulho que ouvi quando a bolsa d'água estourou. O bebê mexendo dentro de mim, querendo nascer, depois coroando e enfim, escorregando quentinho pro meu colo. Aquele cheirinho de bombom no quarto que perdurou por dias.

Todas sensações de carne, osso e sangue! Dizem que a placenta é nossa 'mãe interna'. E eu fiquei impressionada em ver como é grande, corpulenta, cor de sangue enegrecido...

E, por gostar sempre tanto de tudo que pertencia à minha intimidade, eu não poderia ter vivido a jornada do nascimento de outra maneira, a não ser a minha maneira!

Tinha quer ser assim... a menina que gostava do sangue que a avó insistia em dizer que ela deveria ter asco. A menina que se olhava e se investigava onde se dizia ser imoral tocar. A menina que tinha certeza que havia mais do que aquilo que o mundo apresentava como sendo das mulheres.

Não é nosso: a dor, o fardo, o peso ou a vergonha!

Nosso é o gozo, a vida, o riso solto, a renovação e a expressão...

A natureza não foi injusta com as mulheres! Quem transformou os eventos fisiológicos femininos em dores e patologias foi o modelo patriarcal que conquistou o mundo desde séculos atrás. E isso é tão forte e pujante que nós mesmas, as maiores vítimas, perpetuamos...

Menstruação não é vergonha, nem nojo. Não é para doer! Parto não é coisa de índia, é coisa de mulher. Não é para doer! Amamentar não é coisa de pobre, é natural. Não é para doer! Envelhecer não é coisa de mulher relaxada, é a ordem natural do mundo. Não é para doer! Chorar não é perder! Sentir não é ser fraco! Dar não é espoliar-se!

O que dói não é o sangramento mensal, nem a gravidez, nem o parto, nem a menopausa... dói a mulher, por querer desesperadamente ser fêmea num mundo de falos.

Hoje eu dei mais um passo na minha jornada pela mulher que nasci para ser...

Bem vindo, sangue; dores não me servem mais!





Em nota: Difícil achar uma imagem de menstruação no google! Esta, linda, e única, que achei trouxe, de quebra, uma estória interessante: veja aqui. e divirta-se com os comentários!!!
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